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O Modo Narrativo

No documento 2015SimoneSimoesOliveira (páginas 40-43)

ENUNCIADORES CARACTERÍSTICAS

3.2.5 O Modo Narrativo

Charaudeau (2012a) analisa o modo de organização narrativo primeiramente pela tradição escolar e depois pela semiótica narrativa. Pela tradição escolar, no exercício de produzir textos para contar histórias, na definição de textos narrativos e na pedagogia da explicação de textos. Pela semiótica narrativa, nasce uma nova reflexão chamada de “análise estrutural da narrativa”. Contar, conforme esse autor, não é somente descrever uma sequência de fatos ou acontecimentos, mas, para que uma sequencia de acontecimentos contados se transforme em uma narrativa, é preciso inventar-lhe um contexto. As narrativas constituem-se pelos actantes (papéis da história), pelos processos (unem os actantes entre si) e pelas sequências (integram actantes e processos numa finalidade narrativa).

No texto “Introdução à Análise Estrutural da Narrativa”, Barthes et al. (2011, p. 19) escrevem: “inúmeras são as narrativas do mundo”. Esse é motivo suficiente para que tantas pesquisas ocorram acerca deste tipo de texto. Estruturalistas, formalistas e especialistas em análise do discurso vêm, há muito tempo, dando suas contribuições para estabelecer quais critérios devem definir a produção de um texto narrativo, e outros estudiosos na área da psicologia, da sociologia, da antropologia e de todas as outras ciências humanistas contribuem para a definição dos parâmetros que orientam a produção das narrativas. O fato é que, através deste tipo de texto, a humanidade

transfere os mais diversos tipos de conhecimentos para seus contemporâneos e também para gerações futuras, e é capaz de sentir e de fazer sentir as mais diversas emoções que incluem o medo, a alegria, a tristeza, a ansiedade, a euforia, entre outros.

Dentro da narrativa encontram-se estruturas que podem misturar ou confundir textos meramente narrativos com textos descritivos e explicativos. Conforme

Charaudeau (2012a, p. 342),

a narrativa tem uma necessidade de uma definição muito fina para não confundir uma receita de cozinha com uma fábula e para distinguir os momentos narrativos de um discurso de seus momentos explicativos ou descritivos.

Ao considerar que há vários modelos de gênero narrativo: a novela, a lenda, a fábula, o conto, a crônica, o romance e tantos outros que podem eventualmente aparecer imbricados em outros modos de organização do discurso, é importante conceber que cada um desses textos possui estruturas que são comuns a todos eles e ao mesmo tempo estruturas que são peculiares a cada um deles.

No caso desta pesquisa, trabalharemos com a lenda que é um gênero que pode misturar fatos reais com situações imaginárias, algumas delas impossíveis de acontecer no mundo real. As personagens desse gênero também podem pertencer ao mundo imaginário criado pelo autor. Há mulas-sem-cabeça, bichos falantes, caiporas, sereias e muitos outros seres que não conhecemos no mundo real, mas que já ouvimos muitos “causos” sobre eles.

Segundo Charaudeau (2012 a), contar não é somente descrever uma sequência de fatos ou acontecimentos como dizem os dicionários, mas para que haja narrativa é preciso um contador, investido de uma intencionalidade, isto é de querer transmitir alguma coisa a alguém (destinatário). Contar representa uma atividade constante e infinita; a da resposta às perguntas fundamentais que o homem se faz: “Quem somos? Qual é a nossa origem? Qual é o nosso destino? Dito

de outro modo: “qual é a verdade de nosso ser?”.

Os modos descritivo e narrativo se entrelaçam em muitos momentos de produção de encenação comunicativa, a fim de atribuir sentidos às historias que nascem quer do imaginário e se tornam ficção, quer da realidade e se tornam fatos.

o descritivo faz-nos descobrir um mundo que se presume existir como um estar-aí que se apresenta como tal, de maneira imutável. Em um mundo, que necessita apenas ser reconhecido, basta ser mostrado. O narrativo, ao contrário, leva-nos a descobrir um mundo que é construído no desenrolar de uma sucessão de ações que se influenciam umas às outras e se transformam num encadeamento progressivo.

Charaudeau (2012a) menciona que ainda que reconheçamos os actantes da narrativa isso não significa afirmar que podemos reconhecer quais são os papéis narrativos desses actantes, a não ser que conheçamos o contexto da narrativa. Comenta, ainda, que é conveniente mantermos a distinção entre actantes e personagens para poder observar melhor o jogo de correspondências que pode estabelecer-se entre um e outro e, ainda, exemplifica que um papel de agenteagressor, por exemplo, pode ser exercido por um bandido, por um padre, um cúmplice ou um mestre cantor.

Esse teórico comenta que o modo de organização narrativo apresenta sequências e princípios, a saber: a) Princípio da Coerência que considera que as ações desempenham um papel narrativo ora de abertura, ora de fechamento. b) Princípio da Intencionalidade que aborda que sucessão de ações deve ser motivada, atribuindo-lhe finalidade. c) Princípio de Encadeamento que é composto pelos princípios de coerência e de intencionalidade, gerando estruturas complexas. d) Princípio de localização que tem uma forte incidência sobre a organização lógica, na medida em que intervém para estabelecer pontos de referência à organização da trama narrativa.

De acordo com a Teoria Semiolinguística apresentada por Charaudeau (2012a), quem conta uma história não é quem escreve (um livro) nem quem é (na vida). Não se pode confundir o indivíduo que é o ser psicológico e social com o autor que é quem escreveu a história. Da mesma forma, não se pode confundir o indivíduo com o leitor real em que ele se torna. Portanto, toda narrativa depende de uma encenação narrativa que articula um espaço externo ao texto, onde se encontram os dois parceiros da troca linguageira (autor e leitor) e um espaço interno ao texto, onde se acham os dois sujeitos da narrativa: o narrador e o leitor-destinatário.

Vejamos, na Figura 3, o dispositivo da encenação Narrativa proposto por Charaudeau (2012a), no qual o narrador (autor) estabelece contato com o leitor (destinatário) através da histórias que podem ser reais ou inventadas:

Figura 3- Dispositivo de Encenação Narrativa

No documento 2015SimoneSimoesOliveira (páginas 40-43)