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A TEORIA SEMIOLINGUÍSTICA E OS MODOS DE ORGANIZAÇÃO DO DISCURSO

No documento 2015SimoneSimoesOliveira (páginas 30-34)

A Semiolinguística, de acordo com Charaudeau (2012 a), constitui-se em uma ciência cujo objeto de estudo é o do que fala a linguagem através de como fala a linguagem, um constituindo o outro (e não um após o outro). O projeto semiolinguístico, segundo esse autor, deverá responder às questões fundamentais que sustentam toda a teoria da significação, a saber: o que conhecemos do signo e como ele pode ser definido? O conceito de comunicação é pertinente em um tal projeto? O que é a competência linguageira e quais são seus componentes? O que é analisar um texto de uma maneira mais geral e qual comentário é possível fazer sobre os atos de linguagem?

Freitas (2008, p. 265) comenta que “a teoria semiolinguística assume uma perspectiva multifacetada, alimentando-se de categorias oriundas de diferentes campos de conhecimento – daí o seu caráter interdisciplinar –, as quais se transformam e migram para um modelo estritamente linguageiro”.

Em muitas situações de uso e de estudo da língua há certa imprecisão entre nomenclaturas referentes a gêneros e tipos de texto, que neste trabalho vamos chamar de modos de organização do discurso. Esses desencontros aparecem, inclusive, em livros didáticos utilizados em larga escala por escolas da educação básica. Mas é necessário que se faça distinção entre o que é gênero e o que é modo de organização do discurso, a fim de favorecer o entendimento de como a língua se estrutura e também saber fazer uso dessa organização para os contratos comunicativos que construímos nas interações que ocorrem no dia a dia. Ao

8 As análises dos copora de pesquisa se respalda, principalmente, nos estudos da Semiolinguística e os Modos de

compartilhar práticas sociais, os indivíduos o fazem pela constituição de contratos de comunicação, o que apresentaremos na próxima seção.

3.2.1 O Contrato de Comunicação

A noção de contrato, conforme Charaudeau (2012a), está associada ao fato de que os indivíduos pertencentes ao mesmo corpo de práticas sociais estejam suscetíveis de chegar a um acordo sobre as representações linguageiras dessas práticas sociais. Há a suposição, por parte do sujeito comunicante, de que o outro, no processo comunicativo, possui uma competência linguageira análoga à sua. Sant´Anna (2014, p. 26) comenta que

um ato de linguagem pressupõe uma intencionalidade, a dos sujeitos falantes, que deve ser percebida pelos parceiros de uma troca. Em decorrência, esse ato depende da identidade dos parceiros, visa a uma influência e é portador de uma proposição sobre o mundo. Além disso, realiza-se num tempo e num espaço determinado, o que é comumente chamado de situação discursiva.

Desse modo, a Semiolinguística analisa os textos (atos de linguagem) não apenas do ponto de vista do sujeito comunicante, nem se restringe ao ponto de vista do sujeito interpretante, mas pretende alcançar os possíveis interpretativos que surgem no ponto de encontro dos dois processos: o de produção e o de interpretação. De acordo com Charaudeau (2005, p. 17), “um ato de linguagem depende da identidade dos parceiros, visa a uma influência e é portador de uma proposição sobre o mundo. Além disso, realiza-se num tempo e num espaço determinados, o que é comumente chamado de situação”.

Como podemos observar, a produção do ato de linguagem está atrelada a várias condições, as quais interferem diretamente em sua constituição e, por conseguinte, em seu resultado.

Nesse sentido, Moura (2008, p. 24) aponta que

ao mostrar os princípios de alteridade e de pertinência Charaudeau (2001) constata que, para que um ato de linguagem tenha validade, é necessário que os parceiros reconheçam um no outro o direito à fala, além de terem em comum o mínimo de saberes postos em troca durante o ato.

Conforme o exposto, um ato de linguagem só poderá constituir-se se levar em conta o referencial (contexto) e os parceiros de comunicação com seus saberes

compartilhados para que se realize proposições sobre o mundo. Dessa forma, a Figura 2 pode nos auxiliar na compreensão desse processo linguageiro.

Figura 2- Dispositivo de Encenação da Linguagem

Fonte: Charaudeau (2012a, p. 77)

O dispositivo apresentado por Charaudeau (2012a) expõe as relações de interação entre sujeitos sociais que levam em conta os espaços internos e externos às produções de seus discursos. Ambos são importantes para o sucesso da comunicação.

Pauliokonis (2000, p. 90) comenta que

dentro do quadro que permite focalizar a problemática da produção de sentido, pode-se situar e definir o texto como uma forma de comunicação interativa que se subordina a certas condições particulares da situação, a saber: a identidade dos participantes (quem?), a finalidade do ato (o quê? e para quê?), a cumplicidade e o reconhecimento dos papéis recíprocos do Eu e do Tu (como? e por quem?.

Dentro dessa proposta, entendemos que os papéis sociais dos participantes do ato comunicativo exercem função determinante para os resultados obtidos na produção do ato comunicativo.

A Figura 2 expõe, através da imagem construída por Charaudeau (2012 a), a negociação estabelecida no processo comunicativo que torna enunciador e receptor legítimos no processo de troca permeado por um código comum a ambos, sendo essa a principal condição para que os enunciados compartilhados possam produzir sentidos.

Vejamos o que aborda Charaudeau (2012a, p. 74) a respeito dos modos de organização da língua, em seus elementos norteadores para a compreensão da distinção aqui apontada:

os procedimentos que consistem em utilizar determinadas categorias de língua para ordená-las em função das finalidades discursivas do ato de comunicação podem ser agrupados em quatro modos de organização: o enunciativo, o descritivo, o narrativo e o argumentativo. [...] O modo enunciativo tem a função particular de organização do discurso (...) é por isso que se pode dizer que esse modo comanda os demais.

O que Charaudeau (2012 a) chama de modos de organização do discurso, outros autores chamam de tipologia textual. Através desses modos, todas as produções linguísticas se organizam e, delas, originaram-se tanto os gêneros que já circulam há muito tempo nos processos de interação verbal, como também os gêneros novos, que surgem em função das novas formas de comunicação. Alguns desses modos podem inclusive se misturar. No caso da lenda, gênero a ser trabalhado nesta pesquisa, há muitas sequências de descrição e de narração acontecendo concomitantemente, já que, além de contar os fatos, os autores de textos narrativos precisam descrever os ambientes onde os fatos ocorrem e as características das personagens.

Para que possamos compreender como se determina um modo de organização do discurso, três aspectos devem ser levados em consideração segundo Charaudeau (2012a, p. 204): “o de lugar de construção de sentido do texto, o de grau de generalidade das características que definem a classe e o do modo de organização discursiva dos textos”. Os três aspectos apontados pelo teórico estão interligados e constituem os pré-requisitos para que se possa classificar um texto desse ou daquele modo.

No Quadro 1, denominado “Modos de organização do discurso e Gêneros Correspondentes”, expomos os gêneros estudados neste trabalho, que serão abordados na próxima seção.

Quadro 1- Modos de organização do discurso e características correspondentes MODO DE ORGANIZAÇÃO DO DSICURSO GÊNERO TEXTUAL

No documento 2015SimoneSimoesOliveira (páginas 30-34)