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Capítulo I – Enquadramento Teórico 16 

4.  Modelos e processos: evitar o mimetismo, fomentar a criatividade 33 

4.2.  Processo do TPC, para pensar e aplicar 38 

4.2.1.  O momento da prescrição 39 

A fase dianteira deste processo, o momento da prescrição, ocorre na escola, tratando-se do momento em que o professor apresenta as tarefas aos alunos. Contudo, este procura antes planeá-las para que estas sejam atribuídas de modo correto, seguindo traços e objetivos específicos. Por isso, acreditamos que, enquanto futuros professores, a prescrição das tarefas não é de todo um processo simples. É sob este signo que pretendemos esclarecer algumas dúvidas mais recorrentes, principalmente as que advêm dos estudantes mais jovens. São eles, tal como nós já fomos, os que mais se queixam de que os professores só mandam TPC porque é fácil mandar. Hoje, depois de começarmos a “atravessar o rio e quase a chegar ao outro lado da margem”, compreendemos que os professores prescrevem TPC por várias razões, como anteriormente mencionado.

Antes de refletirmos sobre a preparação dos trabalhos para casa, consideramos interessante a seguinte noção de Mourão. Era oportuno que, antes de se prescrever os TPC, a escola, em concordância com os professores das diferentes áreas disciplinares, elucidasse os encarregados de educação sobre o compromisso e os seus benefícios. Assim, estes, conseguiam acompanhar os seus educandos ao nível da realização do TPC (“apoio estratégico e emocional”) ou na promoção de um ambiente adequado à sua realização (2009, p. 46).

Como acabámos de observar, e facilmente percebemos pelas Figuras (1, 2 e 3), o momento da prescrição do TPC corresponde à 1.ª fase (“Initial classroom phase” de Coulter; “Initial classroom factors” de Cooper; e “Learning environment / teacher / characteristics of the homework assignments” de Trautwein el at.) dos modelos de TPC. Todavia, há uma preparação prévia pelo professor.

No primeiro modelo apresentado por Cooper, em 1989, este já compilava uma série de características que exibiam ter influência nos TPC, como “their length, purpose, skill area, degree of choise and individualization, and completion deadlines, and the social

context in which homework was to be performed”18, correspondente às características de

preparação dos trabalhos para casa (Cooper, Jackson, Nye, & Lindsay, 2001, p. 185). Por conseguinte, é consoante estas características e ao nível da turma e dos alunos, como é sugerido no modelo de Cooper e no de Trautwein et al., que o professor deve construir as tarefas escolares (Nunes, Cunha, Mourão, & Nunes, 2014, p. 58). Deste modo, um professor consciente de todas estas implicações será capaz de apresentar a uma turma ou a um grupo de alunos trabalhos para casa adequados às suas necessidades, considerando o sucesso escolar destes.

Como Mourão refere, esta primeira fase é um “circuito fechado”, onde o professor vai estabelecer determinadas normas como a tipologia das tarefas e os prazos para iniciar e terminá-las (2009, p. 45). Há autores que defendem que “completar uma quantidade razoável de TPC diariamente pode ajudar os alunos a desenvolver competências que facilitem a aprendizagem” (Nunes, Cunha, Mourão, & Nunes, 2014, p. 59). Todavia, quando pensamos em prescrição diária, não se trata, de certo, pelo mesmo professor, nem na mesma disciplina. Caso esta situação acontecesse seria esgotante para o aluno, como para o professor. Assim, tendo em consideração as várias disciplinas e atividades escolares que os alunos integram, são sugeridos, como tempo convencionado para a realização dos TPC, “uma média de 10 minutos por cada ano de escolaridade” (Nunes, Cunha, Mourão, & Nunes, 2014, p. 59). Deste modo, estamos a referir-nos à quantidade de TPC e ao tempo que um TPC pode demorar a ser realizado. São duas variáveis que devem ser ponderadas pelos professores.

Epstein e Van Voorhis mencionaram que quanto maior o número de TPC os alunos realizarem, melhores serão os seus rendimentos académicos (2001, p. 181). Por outro lado, há estudos (e. g. Keith) que indicam que o tempo aplicado na realização do TPC está relacionado com desempenho escolar (Doyle & Barber, 1990, p. 16). Todavia, não podemos entender o tempo de realização proposto pelo professor e o tempo que o aluno utiliza para realizá-los o mesmo. Há alunos que devido às suas dificuldades, motivações, apoios ou materiais disponíveis demoram mais ou menos tempo. O professor

             

18 “O seu comprimento, objetivo, área de especialidade, grau da escolha e individualização, prazos de

apenas tem a capacidade de estimar o tempo de realização de uma tarefa. O único tempo que é possível definir assertivamente é o de prazo de entrega.

Relativamente à ideia anterior, Mourão (2009, p. 48) não a acompanha na sua totalidade. A autora considera que é “importante que o professor calcule adequadamente o tempo médio que o aluno necessitará para realizar a tarefa”. Porém, acreditamos que ao circunscrever a realização de uma tarefa a um tempo estimado estamos a criar tensão sobre os alunos, produzindo indiretamente uma sensação de desconforto.

Será que podemos fazer uma diferenciação entre tempo de realização e prazo de realização? Sim. Dentro de um prazo de realização de um TPC, o aluno pode distribuir tempos para o realizar. Um prazo é uma data-limite e o aluno pode usar todo o tempo dessa data para desenvolver a tarefa ou aproveitar-se de um período mínimo. A diferença é que a data-limite é estipulada pelo professor, enquanto que a gestão do tempo utilizado desse prazo é determinada pelo aluno.

Todavia, se a quantidade de trabalho para casa proposta for exagerada pode provocar atitudes e comportamentos negativos da parte dos alunos, não realizando as tarefas propostas (Mourão, 2009, pp. 48-49).

Também, antes de prescrever os TPC, os professores devem traçar os objetivos das tarefas, percebendo qual o seu propósito. Epstein e Van Voorhis (2001, p. 181) mencionaram algumas das razões pelas quais os professores prescrevem TPC, como “practice, preparation, participation, personal development, parent-chil relations, parent- teacher communications, peer interactions, policy, public relations and punishment”19. Os

autores consideram que há TPC que servem para dar oportunidade aos alunos de praticar os conteúdos aprendidos em sala de aula, de modo a “increase speed, demonstrate mastery, retain skills, review work and study for testes”20 (p. 181). Há professores que

prescrevem TPC para a preparação dos alunos para os conteúdos da aula seguinte (p. 181). No seguimento do objetivo anterior, também é uma forma de promover a participação dos alunos nas aulas, como por exemplo, para a discussão de tópicos que              

19“Prática, preparação, desenvolvimento pessoal, relação pai-filho, comunicação pai-professor, interação

entre pares, política, relações públicas e castigo” [tradução nossa].

20 “Aumentar a rapidez, demonstrar domínio, preservar habilidades, rever o trabalho e estudar para os

serão abordados (p. 181). Os autores ainda apresentam como objetivo o desenvolvimento pessoal do aluno através dos constructos da autorregulação e da autoeficácia desenvolvidas durante o processo de realização dos TPC (p. 181). Os objetivos de prática, preparação, desenvolvimento pessoal são considerados objetivos instrutivos. Enquanto que, os restantes, são considerados objetivos não-instrutivos (Mourão, 2004, p. 45).

Além de delinear os propósitos dos TPC, o professor também deve variar o tipo de atividade e esta tem que ter qualidade. Relativamente a este último aspeto, Nunes et al., referem que esta “resulta da conjugação das diferentes características do TPC com o tipo de alunos e turmas que o professor tem à sua responsabilidade” (2014, p. 63). Assim, o professor deve procurar conhecer os alunos para adaptar as tarefas propostas e, se necessário, individualizar a tarefa.

Por fim, para concluir a primeira etapa deste processo, o momento da prescrição, o professor deve transmitir claramente os objetivos dos TPC, o formato em que estes devem ser realizados, definir o momento da entrega e, se possível, disponibilizar materiais suficientes para a sua realização (Nunes, Cunha, Mourão, & Nunes, 2014, p. 64). Desta forma, o professor permite a instrumentalidade necessária para que o aluno compreenda a tarefa.