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1. As origens de um mosteiro

1.1. A conjuntura histórica

1.1.2. O monaquismo hispânico na “Idade Média Central”

Os mosteiros surgiram a partir de inícios do século IV d.C. na sequência dos chamados Padres do Deserto no Oriente do então vigente Império Romano – com um dos mais célebres a ser a figura de Santo Antão. Foi, então, no Alto Egipto, uma das regiões mais remotas da metade nascente desta formação política que, pela mão de Pacómio, se associa à presença de uma regra monástica178. Esta visão ascética rapidamente se espalha pelo

176 Vide José Ma ttoso, Ricos-homens…op. cit., p. 34.

177 Vide Ma ria de Lurdes Rosa , “A força dos ritos na identifica çã o comunitá ria : os moçá rabes e Coimbra e

a introduçã o da liturgia roma na (1064-1116)”, História Religiosa de Portugal. Direcçã o de Ca rlos Moreira de Azevedo, vol. I – Formação e Limites da Cristandade. Coordena ção de Ana Ma ria C.M. Jorge e Ana Ma ria S.A. Rodrigues, Rio de Mouro, Círculo de Leitores, 2000, pp. 433 -440.

178 Vide Sa muel Rubenson, “Asceticism a nd mona sticism, I: Ea stern”, The Cambridge History of

Christianity. Ediçã o de Augustine Ca sida y e Frederick W. Norris, vol. II – Constantine to c. 600, Nova Iorque, Ca mbridge University Press, 2014, pp. 646 -650.

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mundo mediterrânico, nomeadamente na sua porção ocidental, onde despontou com a orientação de nomes como João Cassiano ou, mais tarde, São Bento de Núrsia, com este a ser considerado o pai do monaquismo ocidental. É, então, neste contexto de expansão pelo Mediterrâneo, num período de fragmentação do Império do Ocidente – enquadrando as influências germânicas – que estas tendências entram na Hispânia e influenciam os próprios padres hispânicos (como Santo Isidoro, São Leandro ou São Frutuoso) a abraçarem estas disposições e formularem as suas próprias regras.

Estas corresponderão aos preceitos com maior projecção na Península Ibérica na Antiguidade Tardia e Alta Idade Média179, até que, em forja desde a segunda metade do

século XI, a beneditinização erradicou aquelas, ainda que a regra composta por São Bento de Núrsia fosse conhecida pelos monges ibéricos, como veremos de seguida. Entretanto, vejamos algumas das características-chave das normas enunciadas e a sua conjugação com a sociedade hispana.

A Regra de Santo Isidoro (Regula Isidori)180 data do século VII d.C., quando este era

bispo de Sevilha181. Como veremos, o espírito legislador dos bispos face aos mosteiros

era, para estas cronologias, muito acentuado, estando o monaquismo directamente associado a estes eclesiásticos. A mesma vem na sequência de uma outra regra, a do seu irmão, São Leandro, De institutione uirginum et contemptu mundi, destinado ao monaquismo feminino. Escreve Antonio Linage Conde – num artigo comparativo entre as várias regras hispânicas e a Regula Monachorum – que o rigorismo da regra (mas ao mesmo tempo “macia”), a vivência comunitária, a sua organização interna, a definição do espaço, papel social e atenção aos bens materiais, entre outras características, teria nas antigas influências pacomianas a mais copiosa fonte do bispo hispalense182. Vê-se, no

entanto, aquilo que nos parecem ser as influências de uma envolvência mais refinada como seria a Bética e a cidade de Hispalis, em contraste com as regras que 179 Ainda que a lgo desa ctua liza da, corresponde a uma síntese completa do monaquismo na Península Ibérica

sob um ponto de vista dia crónico o a rtigo de Ma ur Cocheril, “Le mona chisme hispa nique des origines au XIIe siècle”, Études sur le Monachisme en Espagne et au Portugal . Roma , Société d’Editions «Les Belles

Lettres», Livra ria Bertra nd, 1966, pp. 13-156.

180 Vide Julio Ca mpos Ruiz e Isma el Roca Melia (ed.), “Regla de Sa n Isidoro”, Santos Padres Españoles.

Reglas Monásticas de la España Visigoda, Los Tres Libros de las «Sentencias» , Introduções, versã o e notas de Julio Ca mpos Ruiz e Isma el Roca Melia , Ma drid, Editoria l Ca tólica , 1971, pp. 90-125.

181 Vide Justo Pérez de Urbel, Los Monjes Españoles en la Edad Media, 2ª Ediçã o, Ma drid, Ediciones

Ancla , 1945, pp. 232-254 e Ma ur Cocheril, “Le mona chisme hispa nique des origines a u XIIe siècle”, op.

cit., pp. 41-43.

182 Vide A. Lina ge Conde, “En torno de la Regula Monachorum y sus Rela ciones com otra s Reglas

Moná stica s”, Bracara Augusta. Revista Cultural da Câmara Municipal de Braga , vol. XXI, tomo I, n.ºs

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desenvolveremos mais adiante, nascidas em ambientes menos diferenciados como era o Norte e o Noroeste da Península Ibérica.

Numa obra intitulada de Santos Padres Españoles, uma edição compilada das regras de São Leandro, Santo Isidoro e São Frutuoso, na introdução, de autoria dos editores à norma aqui tratada, lê-se que “(…). Según se expresa el legislador, se propone en esta suya escoger unas cuantas normas de las reglas de los Padres antiguos y exponérselas en lenguaje sencillo para que tengan un orden de vida que mantenga las promesas de su profesión. Se trata de una acomodación de las reglas de Pacomio, Casiano, Augustín, para los que no se sienten con fuerzas para la austeridad y perfección de éstas. (…).”. Supõe- se, assim, um monaquismo pré-existente sem uma observância fixa nas latitudes da província eclesiástica onde exercia a primazia e na qual pretendia uniformizar de uma forma eclética e adaptada183, eventualmente para uma maior agregação em torno da

mesma pela base do compromisso.

Também do século VII d.C., depois da passagem no século anterior de São Martinho de Dume pela sede bracarense, influenciada pelos velhos padres tradicionais que carregavam uma forte virtude ascética, surge, pela mão de São Frutuoso, a Regra com o seu nome ou Regula Monachorum184, além da sua associação à Regula Communis, típica

do Norte e Noroeste da península. A rudeza e preferência pelas zonas ermas, que para estas latitudes correspondiam sobretudo ao bosque (em associação ao deserto), são marcas claras dessa concepção da vivência religiosa.

Ao contrário da maioria dos autores185, que associam o monaquismo frutuosiano e

respectiva regra à antiga Galécia, Justo Pérez de Urbel divergiu e escreveu que a sua origem se situa na região natal do santo, El Bierzo (em Leão)186, no limite Este da

província eclesiástica que veio a liderar.

Isto implicaria uma grande diferença nas dinâmicas que mais tarde viriam a verificar- se durante o processo da “Reconquista” (envolvendo nomes como São Rosendo), como

183 Vide Julio Ca mpos Ruiz e Isma el Roca Melia (ed.), “Introdución a la «Regla de Sa n Isidoro»”, op. cit.,

p. 82.

184 Vide idem, ibidem, pp. 137-162.

185 Vide C.J. Bishko, “Episcopus sub regula or Episcopi sub regula ? St. Fructuosus a nd the mona sticized

episcopate in the peninsular West”, Bracara Augusta. Revista Cultural da Câmara Municipal de Braga, vol. XXI, tomo I, n.ºs 47-50 (59-62), Ja neiro-Dezembro de 1967, pp. 63-64.

186 Vide Justo Pérez de Urbel, “Ca rá cter y supervivencia del Pa cto de Sa n Fructuoso”, Bracara Augusta.

Revista Cultural da Câmara Municipal de Braga , vol. XXII, tomo II, n.ºs 51-54 (63-66), Ja neiro-Dezembro

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o anterior processo do “despovoamento” e de migrações para o Norte peninsular. Ao invés de uma influência tradicionalmente galega nos futuros espaços de Leão e Castela, pela mão de políticas repovoadoras das posições setentrionais do rei Afonso I das Astúrias – e até anteriormente em momentos anteriores à invasão islâmica –, por exemplo, teria ocorrido exactamente o contrário187. Uma “frutuonização” da Galiza desde o Norte

central após as grandes presúrias que teriam lugar a partir do século IX d.C. e que seria compatível com a maior quantidade de testemunhos para este último espaço face à área galega. Diz mesmo que “(…). No hay indicio ninguno de que el gran fundador de monasterios y padre de monjes hubiera unificado la observancia monacal en las tierras de su jurisdición imponiendo en ellas la legislación de Bierzo. (…)”188. Vê-se, assim, uma

disparidade das opiniões sobre uma questão tão complexa como esta, de resposta nada fácil e que requer um grande conhecimento da documentação existente para a exposição de uma hipótese verosímil, unindo os diversos pontos em cronologias espaçadas no tempo que carecem de conexão e consistência documental.

Também associada a uma tradição frutuosiana está a Regula Communis, cuja compreensão da relevância para o monaquismo hispânico, sobretudo ocidental, é essencial, pela marca na sociedade, assim como pela relação com as outras regras e na evolução para a benedictinização já no século XI.

A Regula Communis189 é, pela sua estrutura e suposta longevidade, uma das mais

relevantes regras hispânicas. Foi tradicionalmente atribuída a São Frutuoso, mas, entretanto, reconhecida como demasiado redutora esta concessão da “paternidade”, uma vez que se admite a sua influência, mas dentro de um contexto mais diversificado e complexo, envolvendo outros abades e possíveis discípulos. Escreve Linage Conde que “(…) en la RM [Regula Monachorum] haya encarnado la obra constructiva del Bracarense como monje fundador y abad. Y lo que de él haya en la RC [Regula Communis] sea su aportación práctica y realista, al monacato vivo de su epoca, desde fuera y en los tempos de su episcopado”190. Como se pode observar pela afirmação que

acabamos de citar, a “regra comum” implica uma aproximação prática e realista à

187 No enta nto, José Ma ttoso apelida estes desentendimentos de “(…) pequena s nua nces e rectifica ções nem

sempre aceites por especialistas.”, vide José Mattoso, “Sobrevivência do monaquismo frutuosiano em Portuga l dura nte a Reconquista ”, Obras Completas. José Mattoso, vol. 9 – op. cit., p. 11.

188 Vide Justo Pérez de Urbel, “Ca rá cter y supervivencia del Pa cto de Sa n Fructuoso”, op. cit., p. 234. 189 Vide Julio Ca mpos Ruiz e Isma el Roca Melia (ed.), “Regla Comum”, op. cit., pp. 172-209.

190 Vide A. Lina ge Conde, “En torno de la Regula Monachorum y sus Rela ciones com otra s Reglas

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sociedade galaica em meados do século VII d.C., levando à origem do famoso pactualismo que marcará o monaquismo hispânico. Destaca-se o acordo entre o abade e os monges, o dito “pacto”, para o funcionamento do cenóbio e concedendo a hipótese de os religiosos puderem denunciar um abade que considerem abusivo e atente contra as suas liberdades.

A sua subsistência é um dos ponto-chave do monaquismo da “reconquista”, do avanço cristão pela presúria e conquista que se faz em direcção ao Sul islâmico. O período mais paradigmático desta sobrevivência corresponde, sem qualquer dúvida, ao governo do abade-bispo São Rosendo – à boa maneira gótica do século VI e VII –, na actual província de Ourense, ao longo de parte significativa do século X, com a fundação do poderosíssimo Mosteiro de São Salvador de Celanova. Como tal, não é de admirar o interesse que suscita a diversos autores na compreensão deste longo processo, com a necessidade do estudo da mesma regra para o melhor conhecimento das instituições dos séculos IX a XI d.C. e a sua recuperação da observação de preceitos regulares autóctones, mas antigos191.

Como aconteceria mesmo no período hispano-godo, onde o sincretismo entre diversas regras era uma realidade – como já supra-referido quanto às influências externas na elaboração de orientações de normas nativas –, o mesmo acontece após o surgimento das normas hispânicas e a invasão islâmica, sendo ainda visíveis até ao processo que vai levar à beneditinização em larga escala dos territórios cristãos, que se começa a imprimir progressivamente a partir de meados do século XI.

É, então, neste contexto que prolifera a chamada Regula mixta que, como o nome indica, corresponde à ideia da inexistência de uma observância fixa, mas antes um manancial de directrizes regulares das quais o abade poderia escolher para inspiração (ou adaptações consoante vicissitudes regionais, entre outros aspectos a considerar)192. Tais

191 Vide idem, Las Orígenes del Monacato Benedictino em la Península Ibérica , 3 volumes, Fuentes y

Estudios de Historia Leonesa, n.ºs 9, 10 e 11, Leã o, Centro de Estudios e Investiga ción “Sa n Isidoro”,

Consejo Superior de Investiga ciones Cientifica s, 1973, vol. I, vol. I, pp. 291 -342; Justo Pérez de Urbel, “Carácter y supervivencia del Pacto de San Fructuoso”, op. cit., pp. 226-242; idem, Los Monjes Españoles…op. cit., pp. 433-450; idem, “Vida y caminos del Pacto de San Fructuoso”, Revista Portuguesa de História, t. VII, Coimbra , 1963, pp. 377-397; Amâ ncio Isla Frez, La Sociedad Gallega en la Alta Edad Media, Ma drid, Consejo Superior de Investiga ciones Científica s, 1992, pp. 17-48; José Ma ttoso, “Sobrevivência do monaquismo frutuosiano em Portugal durante a Reconquista”, Obras Completas. José Mattoso, vol. 9 – op. cit., pp. 11-20 e idem, “Sã o Rosendo e a s correntes moná stica s da sua ép oca”, ibidem, pp. 20-35.

192 Vide idem, “O mona quismo ibérico e Cluny”, Obras Completas. José Mattoso, vol. 9 – op. cit., p. 35 e

idem, “A introduçã o da Regra de Sã o Rosendo na Península Ibérica ”, Obras Completas. José Mattoso, vol. 9 – op. cit., p. 45.

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escolhas seriam suportadas com a existência do codex regularum, isto é, o “códice das regras” que, grosso modo, correspondia a uma compilação de normas e preceitos legisladores da vida monacal. A sua larga existência é documentada em mosteiros de espaços muito diversificados na Península, indicando que a sua operacionalidade era total. Vários são os autores que estudaram esta questão da circulação dos manuscritos, sendo exemplos disso mesmo José Mattoso ou Díaz y Díaz193.

Como se pode ver, esta fórmula monástica teria mesmo um peso significativo, não desprezável, e que reunia, considerando a história política e cultural da península para a Alta Idade Média, as condições estruturais indicad as para o seu florescimento, nomeadamente com a desagregação das estruturas durante longos períodos para várias latitudes dentro da Hispânia.

Já aqui, ao longo das diversas considerações tecidas, se apresentaram algumas das questões envolvendo a transição para uma cronologia mais avançada, nomeadamente quanto à persistência ou a “migração” das regras de tradição e carácter frutuosiano, como são as Regula Monachorum e a Regula Communis, fazendo-se menção a duas hipóteses apresentadas por académicos de prestígio para as áreas em discussão.

Independentemente das teses sobre o pioneirismo regional, para as quais pouco poderemos contribuir e que não dizem respeito à temática que nos motiva, não parece existir grandes dúvidas que existiu uma reestruturação da sociedade, incluindo a organização monástica, com o processo de “povoamento” e presúria de zonas mais meridionais vindo do Norte, fosse ainda no período do reino das Astúrias, fosse no já mais complexo e vasto reino de Leão. Assim, não surpreende que a procura do estabelecimento de unidades mais organizadas partisse da iniciativa das elites nortenhas, fosse uma elite guerreira, fosse religiosa, muito influenciada pelo fenómeno da migração moçárabe (muitos deles clérigos) desde meados do século IX d.C.194.

193 Vide idem, “Condições económica s e socia is da circula çã o de códices na Península Ibérica ”, Coloquio

sobre Circulación de Codices y Escritos entre Europa y la Península en los Siglos VIII-XIII. Actas, Sa ntiago de Compostela , Universida d de Sa ntia go de Compost ela , 1988, pp. 135-155 e “A cultura moná stica em Portuga l (875-1200)”, op. cit., pp. 209-232; M.C. Día z y Día z, “Codices y fra gmentos de codices”, Memoria Ecclesiae III. Iglesia y Cultura en las Edades Media y Moderna. Santoral Hispano -mozarabe en España, Acta s del Congresso celebra do en Burgos (27 a l 29 de julio de 1990), edición dirigida y prepa rada por Augustín Hervia Ba llina , Oviedo, Asocia ción de Archiveros de la Iglesia en Espa ña , Ca sa de la Iglesia , 1992, pp. 31-44.

194 “Os moçá ra bes fundaram a s sua s comunida des moná sticas no Norte, fora m reforça r o clero leonês,

a sturia no, ga lego ou ca stelha no, penetra ra m na corte régia a stur-leonesa , inspira ra m muitos escritos cristã os, trouxera m livros, cultiva ra m a s sua s tra dições em meio nortenho. Fora m os principa is

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Advêm, então, deste período e com estes protagonistas, a maioria das grandes instituições monásticas que serão a chave para o processo da estruturação social e económica do espaço, do desenvolvimento dos meios culturais ou, em parte, da ocidentalização da Península e sua consequente abertura ao resto da Europa que se regia por condições similares.

Entre aqueles protagonistas estava São Rosendo195. Da família dos presores e condes

de Coimbra, este homem foi a figura religiosa mais importante do Noroeste peninsular do século X d.C. e um dos maiores promotores e protectores do monaquismo na região, sendo, além de bispo, o fundador e abade do Mosteiro de São Salvador de Celanova – um abade-bispo tal como a tradição regional pré-invasão196 –, que foi a grande unidade

monástica da Galiza para esta cronologia. Além deste cenóbio e seus dependentes, a sua influência propagou-se um pouco por todo o território ocidental do reino de Leão, conhecendo-se a sua acção, para latitudes mais meridionais, em outras fundações como a de Guimarães ou Lorvão. Associa-se a esta personalidade uma sequência à tradição frutuosiana, todavia reformada e adaptada aos novos tempos, não obstante que tais apontamentos sejam somente de carácter especulativo com base em alguns elementos não necessariamente vinculativos, como as reuniões sinodais de abades, a federação e visões partilhadas quanto aos mosteiros dúplices ou traditio197. Combateu o estabelecimento de

mosteiros familiares e a secularização do património monástico, garantido pela privatização e patronato, mas apoiou a tuitio de instituições femininas198. Por outro lado,

preserva dores do código visigótico e dos seus princípios legisla tivos, da s colecções de a cta s de concílios, de textos isidoria nos. Inspira ra m na corte a stur-leonesa a ideia de ela ser a herdeira legítima da corte visigótica , prepa ra m a a dopção da Regra de S. Bento por comunida des que mais ta rde entra ram em contacto com Cluny, cultivaram o latim e a liturgia solene de tradição hispânica. (…).

Assim, pode-se dizer sem receio que a s emigra ções de moçá ra bes pa ra norte prepa ra ra m a s sínteses cultura is que depois se fizera m em conta ctos de massa , com as emigra ções de clérigos e ca va leiros do Norte em sentido contrário”, vide José Mattoso, “Os Moçárabes”, Fragmentos…op. cit., pp. 23-24. Já Ann Christys escreve que “The majority of foundation or refoundation cha rters from these monasteries [que a pa recem a ssocia dos a o processo que expansão cristã do reino da s Astúria s e, depois, Leã o] do not mention a ny men from a l-Anda lus, a nd their signa tories ma y ha ve been Asturia n. It is likely tha t those clerics who ca me north to join them would ha ve been a ttra cted by the ca rrot of mewly -endowed monasteries ra ther than driven by the stick of persecution. They would ha ve been educa ted men, ca pa ble of pa rticipa ting in the cultura l life of the christia n kingdoms, including the writing of ha giogra phy.”, vide Ann Christys, Christians in al-Andalus. 711-1000, Nova Iorque, Routledge, 2002, p. 94.

195 Sobre Sã o Rosendo, ver a obra de Emilio Sá ez, op. cit.. 196 Vide Ama ncio de Isla Frez, op. cit., pp. 82-84.

197 Vide José Ma ttoso, “Sã o Rosendo e a s correntes moná stica s da sua época ”, Obras Completas. José

Mattoso, vol. 9 – op. cit., pp. 28-29 e idem, “Sobrevivência do mona quismo frutuosia no em Portuga l durante a Reconquista”, Obras Completas. José Mattoso, vol. 9 – op. cit., pp. 12-18.

198 Vide José Ma ttoso, “Sã o Rosendo e a s correntes moná stica s da sua época ”, Obras Completas. José

Mattoso, vol. 9 – op. cit., pp. 29-32. Vide a inda sobre os mosteiros fa milia res e a rela çã o com o a scetismo no feminino José Orlandis, “Los monasterios familiares en España durante la Alta Edad Media” e “Los

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diferencia-se pela constituição de grandes abadias ao invés da rudeza requerida na tradição frutuosiana ou pela solenização da liturgia, como aponta Mattoso num artigo notável que trata de São Rosendo e as correntes monásticas no seu tempo199, onde também

procura indicar alguns elementos beneditinos na sua prática ascética.

No entanto, não se conhecem exemplos de pactos directamente associados ao santo celanovense, ainda que indícios de pactualismo tenham perdurado na documentação deste cenóbio, como foi o caso do exemplar do Mosteiro de Santa Eulália200. Também seu

coetâneo, a sugestão de um pacto em Guimarães201, com o qual tinha relações próximas.

Todavia, segundo Bishko, apenas quatro subsistiram no Ocidente peninsular (i.e. da região galaico-portuguesa), um deles do universo vacariciense – o sobejamente conhecido “pacto de Tudeíldo” –202, resultados algo desoladores para um espaço que se assumiu

como vital na formulação e propagação desta Regra203, uma posição, contudo, que o