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Finalmente, como temos vindo a remeter em páginas passadas, o presente capítulo procura debruçar-se sobre as pessoas relacionadas com o mosteiro, independentemente da profundidade dos laços. Ou seja, consideraremos os religiosos que nele habitavam, desde o abade, seus monges e outros dependentes, assim como elementos externos, como os benfeitores – nos seus diversos graus – ou como as comunidades da região onde este cenóbio se localizava, enquadrando a evolução social e cultural adjacente à instituição.

A presente organização prende-se com uma visão do topo para a base, primeiro dentro de portas, ou seja, caracterizando desde o abade aos habitantes menos considerados de um mosteiro, às relações com as comunidades envolventes dentro de uma organização social, começando pelos benfeitores até aos habitantes comuns das suas uillae e outros espaços nas redondezas.

4.1. Os abades

Sobre os abades vacaricienses, há que notar a existência de um estudo algo exaustivo sobre os mesmos por Mário de Gouveia intitulado “Abaciológio do mosteiro de S. Vicente de Vacariça (séc. XI)”468, no qual se incluem todas as referências a qualquer

abade ou superior do cenóbio. A verdade é que, face ao conteúdo dos documentos e sua crítica, pouco mais poderemos acrescentar.

Como enfatizámos abundantemente ao longo deste trabalho, a maioria dos documentos – e, como tal, também a maioria das referências documentais – ocorrem no âmbito de transacções de património (sobretudo fundiário), o que nos limita, em muito, na aproximação de um ponto de vista ascético à comunidade, nomeadamente às relações de poder entre os mais variados membros desta, da religiosidade ou das penitências aplicadas (junto com eventuais processos). A grande excepção é, claro está, o pacto promovido pelo abade Tudeíldo, em meados do século XI. Não obstante, o conteúdo daí adquirido, ainda que da máxima relevância, acaba somente por se circunscrever ao período que

468 Vide Má rio de Gouveia , “Aba ciológio do Mosteiro de S. Vicente da Va ca riça (séc. XI)”, op. cit., pp.

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imediatamente se segue e, rapidamente, nos coloca de novo na obscuridão em muitos pontos, como, por exemplo, na ascensão ao assento abacial.

Se aquele promove a sucessão por nomeação, a verdad e é que para qualquer um dos demais não temos notícias, sob qualquer forma, o que deixa em aberto o carácter da ascensão ao lugar mais destacado da comunidade469. Se, pelo menos para a maior parte

da sua história, este cenóbio foi de carácter livre, poder-se-á assumir que, em conformidade, tais desígnios tenham decorrido entre a nomeação directa pelo antecessor ou a eleição. Aquela decorreria certamente de uma percepção por parte do abade de que ele, com este cargo, possuía os direitos dominiais da instituição, o que o levava a escolher um sucessor de forma a legar esta470.

Somente para este mosteiro, Mário de Gouveia identifica, com um elevado grau de certeza, sete abades, mas apresenta a possibilidade, embora com reservas, de também João ter desempenhado as funções abaciais, ainda que de forma interina471.

De seu nome André, o primeiro abade conhecido é mencionado naquele que é também o primeiro diploma conhecido do mosteiro que regia (LP 126). Além deste, que corresponde à doação do diácono Sandino, somente mais três documentos o mencionam, com um deles a ser um mal datado (LP 91, de 1020), pois no ano apresentado já a instituição se encontrava regida por outro superior. A real extensão do seu governo, como tal, deixa-nos interrogações, na medida em que o seu provável sucessor só é mencionado dez anos depois da sua última alusão segura, em 1006472.

De nome Emiliano, o segundo abade conhecido não terá permanecido mais que uma década no assento abacial, na mais generosa das hipóteses, pois temos a garantia que t erá falecido – ou sido substituído – em janeiro de 1018, entre os dias 13 e 30 desse mês,

469 “Les règles mona stiques a nciennes se préoccupent toujours de l’élection a bba tia le, en vue de ga ra ntir,

a uta nt que possible, le meilleur choix. Ma is il a rrive solvente que les circonsta n ces imposent a ux moines des systèmes três différents de ceux que les règles prévoient. Dans la Péninsule, c’est la désignation par la communauté, l’évêque, l’abbé prédécesseur ou les patrons; parfois, seuls les moines appartenant à la famille pa trona le peuvent être ca ndida ts. Da ns le diocèse de Porto, comme nous le verrons, les pa trons tiennent le rôle prépondérant.”, vide José Mattoso, Le Monachisme Ibérique…op. cit., pp. 195-196.

470 Vide idem, ibidem, p. 199.

471 “Aqueles que desempenha ra m esta função e que se encontra m historica mente documentados são, por

ordem cronológica de outorga do diploma que a testa pela primeira vez essa condiçã o: André (1002)7, Emiliã o (1016), Tudeíldo (1018), Flórido (1 036), Alvito (1047), Ra miro (1086) e Sa lomã o (1090). Todos estes a ba des surgem na documentação conserva da no LP da Sé de Coimbra como superiores hierá rquicos da comunidade monástica. O único caso que suscita reservas é o de João (1047).”, vide Mário de Gou veia, “Abaciológio do Mosteiro de S. Vicente da Vacariça (séc. XI)”, op. cit., pp. 59-60 e 74-75.

472 Vide a s menções a os a ba des: André no LP 72(1006), 91(?-1016), 126(1002) e 135(1005); o sucessor,

Emilia no, no LP 122(1018), 123(1018) e 124(1016). Como se pode ver, existe um hia to na significa tivo nos documentos com menções a os superiores va ca ricienses, dificulta ndo a delimita çã o dos a ba ciados, vide LP, n.ºs 72, 91, 122, 123, 124, 126 e 135, pp. 119, 144 -145, 186-189, 191-193 e 207-208.

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quando é identificado pela primeira vez à frente da congregação o abade Tudeíldo (LP 129/161).

Ora, será este o grande nome do mosteiro e das suas dependências para as próximas décadas, com quase três decénios de um abaciado no qual promoveu de forma muito significativa a expansão fundiária, com as novas influências sociais que consegue aproximar e promover. Além do lado patrimonial, as relações monásticas e ascéticas entre os cenóbios sobre o qual exercia domínio também são de ressalvar, certamente resultado da sua transferência do Entre-Mondego-e-Vouga para a região da Maia, por virtude do perigo provocado pelas incursões islâmicas473, como já tantas vezes aludimos.

Assim, devido à distância face aos “seus frades”, não admira que outro nome tenha surgido para se constituir como o superior da Vacariça, todavia sob a dependência daquele. Este foi Flórido474, que aparece já em 1036 intitulado por abade, mas que conjuga

com a forma “prepósito” ao longo do seu governo475. Mesmo o sucessor de Tudeíldo em

Leça, o presbítero Randulfo, somente uma vez aparece designado como abade após a morte do seu tio e antecessor no cenóbio mais setentrional (LP 188), apesar de ser mencionado em seis documentos enquanto superior desta comunidade476.

Desta forma, cremos que esta forma de tratamento no documento em questão reflete uma ideia da dinâmica organizativa da “federação”, na medida em que remete o portador, em termos práticos, para uma restrição das suas prerrogativas em matérias não só temporais, nomeadamente na gestão do património, como, sobretudo, espirituais, que estaria sempre, pelo menos até à sua morte, nas mãos de Tudeíldo.

473 Por outro la do, poderemos interroga r-nos sobre o rea l pa pel deste a ba de na Va cariça a pós o seu abandono

pa ra outra possessã o. De fa cto, a sua interferência nos documentos vacaricienses esta ndo desloca do é muito reduzida ou inexistente, como a lerta C.J. Bishko no a rtigo sobeja mente cita do, vide C.J. Bishko, “Portuguese pactual monasticism in the eleventh century: the case of São Salvador de Vacariça”, op. cit., p. 145.

474 Que se deve identifica r com o fra de Flórido que confirma o docu mento LP 142 de 1021, vide LP, n.º

142, p. 221.

475 Ta lvez por se tra ta r de um documento em que está pa tente o ca rá cter de submissã o fa ce a Tudeíldo –

claro com a inclusão daquele entre os “fratribus meis” –, o líder de toda a “federação”, aquele apareça com uma intitula çã o ma is modesta, vide LP, n.º 138/150, pp. 214/241. Este ca rgo tem uma tra diçã o própria , que a dvinha da s a ntiga s norma s moná stica s, desde a Regula Benedicti à s de tra diçã o frutuosia na (Regula Monachorum e Regula Communis). Embora diferindo muito pouco da s prová veis origens dos preceitos sobreviventes a té a o século XI, estes pa recem a centuar uma especia liza ção do ca rgo, sobretudo em matérias de gestã o huma na e pa trimonia l dos bens, fa ce à dimensã o de índole espiritua l do a ba de, todavia respondendo sempre pera nte este último. O ca so ma is pa ra digmá tico desta situa ção para a nossa cronologia é o ca so de Sã o Sa lva dor de Cela nova e o seu prepósito Crescónio, vide J.M. Andra de Cerna das, Aproximación a la figura…op. cit., pp. 280-282, o que poderá servir de modelo pa ra o ca so va ca riciense, a inda que o tivéssemos de o considera r numa forma muito menos difere ncia da.

476 A ser usa do um, o título ma is comum continua a ser o de presbítero, vide LP, n.ºs 114/154, 188, 195,

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Contudo, esta dinâmica não deve ter perdurado muito tempo, dado que a morte do superior da federação deve ter ocorrido pouco depois de o pactum ter sido firmado, como mencionámos no capítulo anterior quando nos debruçámos sobre este diploma organizativo da comunidade.

O próprio abade Flórido também deverá ter tido um abaciado algo curto, pelo menos quando comparado com o seu antecessor e, igualmente, o sucessor. A última referência a este ocorre em 1057, aquando o seu envolvimento na aquisição de salinas em Esgueira (LP 110), quando quem lhe sucede já tinha sid o várias vezes mencionado como líder da congregação. O dito autor Mário de Gouveia resolve isto propondo retirar uma década à data atribuída no diploma, o que colocaria a última menção a 19 de novembro de 1047477.

Esta hipótese obrigaria à atribuição da sua morte ao período que decorre entre esta data e 20 de dezembro, quando aparece, com alguma margem de segurança, outro nome à frente da comunidade, Dom João (LP 86)478. Com outro nível de incerteza – pois implica

acrescentar um ano à datação originalmente grafada no Livro Preto (de 1046 para 1047) –, há, por sugestão do mesmo autor, a hipótese de o sucessor Alvito ter ascendido ao sólio abacial por se assumir como tal, num outro documento, nesse mesmo dia479. Em 1082,

governando este, por virtude do sobejamente mencionado litígio entre a Vacariça e João Justes, recua-se a Flórido para mencionar que testou a herdade de Monsarros ao mosteiro que dirigiu (LP 53).

Aparecendo designado este Alvito como o líder vacariciense ainda na década de quarenta, percebemos que terá sido o abade com maior longevidade desta instituição – além de estender claramente os seus poderes às outras comunidades, como se verifica com a intitulação de abade de Leça (LP 210) –, pois o seu abaciado poderia ir desde Dezembro de 1047 (LP 88) – de acordo com o autor que temos vindo a seguir – até, pelo menos, 25 de março de 1086 (LP 101)480. Contudo, como tantas vezes já fizemos questão

477 Vide Má rio de Gouveia , “Aba ciológio do Mosteiro de S. Vicente da Va ca riça (séc. XI)”, op. cit., p. 69. 478 Como já a ludimos a nteriormente, possivelmente sob a forma de governo interino a té que um outro

membro a ssumisse definitiva mente a sucessã o. Este Dom Joã o ta lvez se identifica sse com o Joã o Mides que gra fa e confirma o LP 189 de 1032, qua ndo sã o doa das a lguma s proprieda des a Tudeíldo e a o Mosteiro de Leça , como sugere a quele a utor, vide idem, ibidem, p. 75. Na documenta ção vacariciense e dos seus dependentes, o nome Joã o va i a pa recendo com a lguma regula rida de. É igua lmente possível que se identifica sse com este religioso o presbítero do mesmo nome que confirma , dita ou la vra os documentos LP 134, 185 e 190, respectiva mente, entre 1019 e 1038, vide LP, n.ºs 134, 185 e 190, pp. 206, 294 e 303. 479 Vide LP, n.º 141, p. 219. Ele a pa rece em outubro do mesmo a no com o presbítero e prepósito do abade

Flórido da Va ca riça , o que sugere uma rela çã o de proximida de em termos de responsa bilida des a ssumidas pera nte o seu líder religioso, vide LP, n.º 130/132, pp. 199/203.

480 Ou seja , qua se qua tro déca da s como líder desta congrega çã o – a inda que sem gra nde reflexão na

documenta ção persistente – e, supõe-se, como líder má ximo da “federa ção” monástica ou, pelo menos, do que sobra ria dela .

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de mencionar, tal diploma deixa muitas dúvidas acerca da sua autenticidade481. De

qualquer forma, existem garantias da sua sobrevivência além do processo que envolveu o seu cenóbio e João Justes (LP 53 e 75), como aludimos supra. Sabemos igualmente que no dia 11 de agosto daquele ano já encabeçava a congregação Ramiro (LP 372), o que possivelmente colocaria a sua morte entre os cinco meses que medeiam estas duas datas. Entra-se, assim, nos últimos anos de São Salvador e São Vicente da Vacariça, não só como comunidade livre, mas, também, como uma instituição monástica em funcionamento. São igualmente contemporâneos de grandes mutações nas estruturas monásticas da Hispania cristã, potencialmente visíveis em alguns diplomas vacaricienses mais tardios482. Por exemplo, Alvito, o antepenúltimo líder conhecido, assistiu enquanto

governava o cenóbio, a estas transformações, desde regionais às peninsulares, como Coyanza, a expansão no Ocidente de Fernando I de Leão (incluindo a conquista definitiva de Coimbra), o governo de Sesnando Davides, a restauração da diocese coimbrã ou, até, o Concílio de Burgos, em 1080, que consagrou a substituição do rito hispânico pelo romano no Imperium de Afonso VI de Leão e Castela.

Foi, por exemplo, com Ramiro que começam a disseminar-se designações e intitulações alternativas a “abade”, sendo a mais célebre e comum a de “prior”483,

ocorrendo para o nosso caso pelas primeiras vezes em 1087 e 1088, nos LP 33 e 398, respectivamente.

Contudo, o abade Ramiro não deverá ter permanecid o muito tempo à frente da congregação, embora seja difícil a definição da janela temporal do seu governo, sobretudo quanto ao seu término. O último diploma em que este participa data de julho de 1093 (LP 131), mas o seu sucessor já aparece como líder da Vacariça em agosto de 1090 (LP

481 Toda via , pode nã o implica r a coloca çã o de todo o document o em ca usa, nomea damente a da tação, caso

a ssuma mos que existe um pré-existente.

482 “Com Alvito, Ra miro e Sa lomã o – ou seja , os três a ba des que a ntecedera m a extinção do mosteiro de

Va ca riça –, o a ba de é ta mbém identifica do como clérigo, ma is concreta mente como um presbítero ou, mais ta rde, como um prior. O número de a ba des que desempenharam funções como clérigos foi, pois, menos significa tivo do que o rela ciona do exclusiva mente com o desempenho de funções a bacia is: verifica -se na documenta ção va caricense uma cla ra prima zia do exercício da funçã o a ba cia l sobre a funçã o clerica l. Este fa cto, conjuga do com a cronologia ta rdia da s referência s documentais, sugere uma ma ior proximida de de Ra miro e Sa lomã o, os dois últimos a ba des do Mosteiro de Va ca riça , à s directrizes da reforma religiosa ocorrida na Hispâ nia cristã nos fina is do século XI, que pa ssou a preconiza r o a la rga mento da s funções clericais no seio das congregações religiosas tradicionais à figura abacial.”, vide Mário de Gouveia, “Abaciológio do Mosteiro de S. Vicente da Vacariça (séc. XI)”, op. cit., p. 61.

483 Pa ra o Ocidente peninsula r, pa ra outra s la titudes, a sua ocorrência pa rece ser ta mbém coeva, mesmo

pa ra a s ma iores ca sa s moná stica s, vide J.M. Andra de Cerna da s, Aproximación a la figura…op. cit., pp. 286-287. Pa ra este a ssunto, vide José Ma ttoso, “O mona quismo tra diciona l em Portuga l no século XII”, op. cit., pp. 174-181.

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255)484. Dada a ocorrência de quatro documentos nos quais Salomão toma o lugar mais

alto naquele cenóbio antes daquela data, o mais provável passará por um erro de datação do LP 131, que deveria ter ocorrido anos antes do atribuído.

Foi com este último superior que se deu a transferência para a esfera diocesana, permanecendo como dependente do bispo, primeiro de Crescónio e, depois, Maurício Burdino. Tal relação de dependência é visível em vários documentos que sucedem a 1094, desde à casa-mãe, até a dependentes como Leça, como já tantas vezes aludimos.

Segundo Mário de Gouveia, no mesmo artigo que temos vindo a citar extensivamente, o nome deste abade Salomão aparece nas subscrições de dois documentos do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, no cartulário Livro Santo (LS 166 e 167). Estes dois diplomas são de 1137, o que se torna problemático, dada a falta de evidência de persistência do mosteiro vacariciense para meados do século XII, assim como a inexistência de quaisquer referências para esta personagem durante quase quatro décadas, para voltar a emergir como testemunha na documentação de outra comunidade religiosa. Creio que poderemos pensar na possibilidade de se tratar de uma outra pessoa e estar-se perante um caso de erro na atribuição da identidade

Vejamos, então, infra, um tabelamento dos líderes monásticos em questão, sistematizando alguns dos dados e informações dadas sobre estes indivíduos, embora de forma indiscriminada.

Tabela 9 – Abades do Mosteiro de São Salvador e São Vicente da Vacariça.

484 O mesmo a contece em 1091, 1092 e em fevereiro de 1093, nos documentos 160, 550 e 41,

respectiva mente, vide LP, n.ºs 41, 160 e 550, pp. 72, 259 e 734. Tabela 9

Abade Governo Dignidade Fonte –

Documento (Ano) André 1002-[1006-1016] Aba de: 91; 126; 135. LP – 72(1006);

91(1020); 126(1002); 135(1005).

Emiliano [1006-1016]-1018 Aba de: 122; 123; 124. LP – 122(1018); 123(1018); 124(1016).

Tudeíldo 1018-1046 Aba de: 109; 115/140; 120; 121; 129/161; 134; 137/148; 138/150; 142; 143; 144; 145; 147; 152; 153; 157; 184; 185; 186; 189; 190; 192; 198; 353; 359; 362/511; 363; 367; 369; 516; 520; 521. LP – 109(s.d.); 115/140(1040); 120(1018); 121(1019); 129/161(1018); 134(1019); 137/148(1045); 138/150(1053/1045); 142(1021); 143(s.d.); 144(1023); 145(1034); 147([1027-1037]); 152(1044); 153(1045);

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Como tínhamos vindo a adiantar, as referências, menções e envolvimento dos abades na comunidade que os rodeia é notoriamente mais visível no abaciado de Tudeíldo, que enquadra a esmagadora maioria das alusões documentais, apesar de nem ter tido o governo mais longo de todos os superiores. Isto decorrerá, sobretudo, de um laborioso projecto pessoal e não necessariamente de uma tendência de diferenciação da congregação ou da sua organização com o avançar dos anos e décadas (sucedendo-se, na verdade, o inverso nos anos que lhe seguem), como se verifica noutros casos, reflectindo- se numa maior disponibilidade documental.

Observa-se, igualmente, a diversificação das dignidades pelas quais os superiores do mosteiro se intitulavam, demonstrando, provavelmente, uma maior abertura a influências externas – e não necessariamente uma filiação ou aceitação total destas –, nomeadamente fruto dos contactos com as novas tendências religiosas no Ocidente da Península Ibérica,

157(1032); 184(1035); 185(1038); 186(1038); 189(1032); 190(1034); 192(1045); 198(1039); 353(1032); 359(1025); 362/511(1037); 363(1041); 367(1037); 369(1046); 512(1041); 516(1035); 520(1046); 521(1043).

Flórido 1036(?)-1046-1047 Aba de: 84; 93/146; 110; 127; 130/132; 146. Prepósito: 138/150. Fra de: 142. LP – 53(1082)(?); 84(1043); 93/146(1036); 110(1057); 127(1041); 130/132(1047); 138/150(1053/1045); 142(1021).

Alvito 1047-[1082-1086] Aba de: 53; 75); 88; 101; 104; 114/154; 136; 141; 210; 334; 542. Presbítero: 130/132. Prepósito 130/132. LP – 53(1082); 75(1082); 88(1057); 101(1086); 104(1084); 114/154(1055); 130/132(1047); 136(1053(?)); 141(1046); 210(1075); 334(s.d.). DC – 542 (1077). Ramiro [1082-1086]- [1090?] Aba de: 131; 372. Prior: 33; 398. Ducator: 131. LP – 33(1087); 119[1087-1091]; 131(1093); 372(1086); 398(1088).

Salomão 1090-[1099-?] Aba de: 125; 174; 255. Prior: 41; 160; 550. Presbítero: 160; 173. Reitor: 173. LP – 41(1093); 77(1098); 108(1099); 125(1099); 160(1091); 173(1094); 174(1095); 255(1090); 550(1092).

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assim como, paralelamente, a possibilidade de se ver elementos da comunidade a escalarem a hierarquia interna.

4.2. Os monges

4.2.1. A organização monacal

A comunidade como uma unidade jurídica responsável, definida e estratificada encontra-se em formação ao longo do período sobre o qual nos debruçamos, só se encontrando maturada, para estas latitudes, num período bem mais tardio. Como tal, indícios desta consciência unitária não são comuns (ou inexistentes) de se identificar na documentação485. Estamos perante, ainda, uma concepção de poder estreitamente ligada

à pessoa do abade, como líder temporal e espiritual do cenóbio, estando os monges a ele estreitamente submetidos, embora, para finais do século XI, já se denotem alguns indícios de transição486.

Esta comunidade enquadrava um número indeterminado de indivíduos487, que,

logicamente, não estariam todos numa mesma categoria de envolvimento ascético, com

485 “Au début de la Reconquête on employa it souvent le terme collatio pour désigner la communauté,

surtout lorsqu’elle se réunissa it en a ssemblée. Il exprima it la reunion des frères, plutôt que le groupe comme entité responsa ble. On trouve le même mot et ses synonymes da ns les documents de Leça : congregatio, collegio; ils y sont toujours employés a vec un déterm ina tif: fratrum, monachorum, etc.

Vers la fin du XIe s. et a u début du XIIe, la communa uté est designee pa r des expressions comme omnes

fratres ou l’énuméra tion des diverses ca tegories de moines qui la composent. Les mots qui désignent l’emsemble sont ceux-là même qui désignent l’habitation des moines: monasterium, cenobium, acisterium, etc. Lorsqu’on se réfère à une entité responsa ble, on nomme le sa int a uquel l’a utel est dédié. Les coutumes clunisiennes introduites à cette époque ne semblent pas avoir eu d’influence dans ce domaine.”, vide José