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A imponente construção que majestosamente ocupa um lugar privilegiado na parte alta da cidade de Viana do Castelo é amplamente conhecida como o Asilo de Nossa Senhora da Caridade ou vulgarmente apelidado de o edifício da Caridade. Sob o seu aspecto militar, higienicamente traçado, visualmente simétrico como conviria a qualquer instituição de cariz prático a proporcionar uma dinâmica de funcionalidade, esconde-se uma História semelhante a muitas outras. Referimo-nos ao destino dado à maioria dos mosteiros e conventos portugueses. Enormes complexos, somatórios de elementos arquitectónicos de várias épocas, que foram murchando roídos pelas traças dos tempos, alimentadas pela inexorável voracidade do progresso.

Não parece ser do conhecimento de muita gente que ali existiu um mosteiro de religiosas beneditinas. Para os que sabem, poucos são os que olham o edifício com a certeza de aquele não foi um simples reaproveitamento, como aconteceu com a maioria das instituições monásticas. Quase sempre as mudanças de destino mutilaram os espaços físicos, alterando-lhes completamente o sentido. Do que permaneceu encarregaram-se depois as ideias patrióticas, extirpando dos restos mortais tudo o que fosse contrário ao conceito subjacente da politica em vigor. Ficaram umas tantas coisas mumificadas, confinadas e espartilhadas, transformadas nos mostruários da mania das arqueologias que grassou no século XIX. Depois na centúria seguinte a concepção de património edificado fez o resto e no Portugal de hoje procura recolher-se alguma coisa que ainda retenha a alma primitiva, que a documentação esparsa traduz a sua imensa angústia.

A ideia de mudança é própria do Homem na sua eterna procura de melhor, do mais belo e sobretudo da competição. A segunda metade do século XIX primou pelo cientismo e a preocupação pela saúde do corpo deparou-se com aquela imensidão de dependências com telhados esburacados, paredes em ruína, soalhos comidos e podres inimigos naturais da nova filosofia higiénica. E eram tantos os edifícios e todos semelhantes que não lhes pareceu que o desbaste fizesse algum mal, para além de limpar também as peias da alma.

construindo mitos e lendas a partir de fragmentos dispersos que se vão descobrindo no passado comum. Essas fantasias tornam-se o cimento aglutinador que causa grandes males onde depois se não podem aplicar nem pequenos remédios.

Vem isto a propósito do que aconteceu ao referido mosteiro de beneditinas de Santa Ana ou Santana de Viana do Castelo. Naquele bonito e harmonioso conjunto nada é o que foi. Depois do aturado estudo a que nos propusemos não é sem alguma angústia que contemplamos a fachada sul que se estende ao longo da rua da Carreira (dos Bombeiros), resguardada pelo gradeamento que a não esconde dos olhares dos passantes. Sentimos o apelo silencioso daquela igreja que atrás da parede imaculadamente branca, rasgada pelo imponente pórtico ladeado pelas elegantes aberturas joaninas nos quis contar a sua odisseia.

A realidade é que todo o conjunto não passa de uma cenografia montada e remontada, calculada em vários projectos até à consumação do que melhor parecesse e servisse a nova funcionalidade. Nada restou da primitiva planificação. Isto no sentido literal da palavra, porque as vicissitudes de Santa Ana começaram com a sua própria existência, nascia o século de ouro português.

Coexistiu a sua fundação com uma nova politica régia que teve nele profundas influências processuais e lhe ditou o destino.

Pouco chegou até nós da sua primitiva face. As notas para a execução da obra perderam-se ou talvez nem fossem mais que o que está registado nos Acórdãos da Câmara1. Para sorte nossa houve interessados locais que apesar de imbuídos de ideias de época, deixaram pistas que ajudam a remontar o percurso perdido .

Luís Figueiredo da Guerra foi um deles. Em finais de 800 desempenhava a função de juiz e era aparentado com as melhores famílias vianenses. Razões que a oportunidade proporcionou ao seu engenho de estudioso e artista plástico, para estruturar os elementos, que apesar de se encontrarem agora sincopados e incompletos na maior parte, pelas muitas mãos por onde passaram, permitiram dar uma forma ao amontoado de informações. A sua curiosidade pela História em geral e pela de Viana em particular

foi uma preciosa ajuda neste estudo. Não afirmamos ser esta a única visão do problema, mas parece-nos fazer sentido à luz dos elementos históricos conhecidos.

O mosteiro foi decidido no início do século XVI e foi tomando forma ao longo das décadas seguintes. Nos primeiros anos limitou-se ao essencial para a vida quotidiana de algumas senhoras que não encontravam de outro modo e no seu ambiente familiar, instalações condignas à sua “opção” de vida.

Não nos iremos deter em aspectos ligados à fundação intimamente ligados à primeira construção, embora tenhamos que voltar a referir alguns. É ponto assente que as obras terão começado em 1510. Figueiredo da Guerra diz que viu a escritura firmada em 2 de Julho daquele ano. Faltam-nos documentos originais mas iremos socorrermo-nos das notas daquele estudioso que diz te-las feito a partir de um Livro de Receita/Despeza “da

obra que se fez no mosteiro de Santa Anna, arrabalde da villa de Vianna”2.

1.1 – A Primeira Fase - o século XVI

Afirma ele que o contrato foi feito com Pêro Galego e naquela data. Na realidade só encontramos o seu nome em 1529, em 3 de Junho3, quando há ordem expressa para abrir os alicerces. O hiato leva-nos a pensar que o mosteiro foi uma coisa, executá-lo foi outra. De resto em 1511, logo no inicio do ano Gonçalo Afonço, carpinteiro da Porta das Atafonas (ou da Piedade) é encarregado de madeirar o que estava feito. Isto quererá dizer ter sido este artífice a dar início às obras, fazendo um dormitório, corredor e “coro

do corpo da ditta igreja”, porque esta parte era realmente feita de madeira com estuque

e enchimento, o chamado tabique. Para a estrutura forneceram os encomendantes o tijolo. F.Guerra informa-nos de que “a casa primitiva tinha um pequeno dormitório e a

tribuna ocupava o actual coro e corpo da igreja”4

Quando o mosteiro recebeu as rendas de Valboa e Loivo no concelho de Cerveira, que a provisão papal de 1530 lhe providenciou5, puderam então as religiosas lançar-se em

2 AMVC. Esta informação encontrámo-la no projecto de publicação para o “Aurora do Lima”,

Janeiro/Fevereiro 1908. O referido Livro de Recita/Despesa estará em parte incerta. Por outro lado “Os

Acórdãos” que apresentamos em Anexos, Documento 1 não estarão completos, pelo que aquele

investigador acrescentou na margem as datas de 21 de Janeiro e 2 de Junho de 1510, retiradas do documento original.

3

AMVC, Arquivo não classificado Figueiredo Guerra, Acórdãos, fl.5, Anexos, doc.1 4

GUERRA, Figueiredo, Memoria sobre o convento de Sant’Anna de Vianna do Castelo, in Aurora do Lima, 29.11. 1908.

empreitadas mais substanciais. Deixaram o controlo da Câmara e passaram para a tutela do arcebispo de Braga, que apadrinhando a fusão dos três cenóbios os perfilhou na obediência beneditina, deixando o de Viana o burel franciscano, como era vontade dos fundadores. Em 1533 tinha ou começava a ter uma igreja nova feita de cantaria, em moldes bem manuelinos que talvez acusasse o plateresco. O financiamento iria ficar assegurado porquanto lhes anexaram S.Martinho da Gandara (Ponte Lima) em 1537, Lara (Monção) em 1545 e S.Paio da Oliveira (Braga) em 1562.

Nesta altura os biscainhos estavam por todo o lado e o legado entre famílias era decisivo. Paulo Varela diz que “no Norte de Portugal, a arquitectura mantém a

continuidade gótica do início do século XVI até ao século XVIII”6. A estrutura medieval continuaria com os vários cambiantes. Os testemunhos dos canteiros galegos e biscainhos são facilmente identificáveis dos dois lados da fronteira.

Nos primórdios o mosteiro não era mais que um pano singelo, voltado ao sul, praticamente paralelo ao Lima que se estenderia, nesse tempo bem à vista. Dizia a escritura que o edifício teria 25 palmos de alto “uma pequena casa … e a capella

oitavada de pedra de esquadria muito bem feita, com sua tribuna ou coro, à razão de 300 reis por braça de 10 palmos, tudo de boa pedra e cal fina”7. Seria levantado para cima da rua da Oliveira “em terreno cedido por Pêro Pinto, cavalleiro e almoxarife

n’esta villa”8

. A fechar o limite norte da cidade, tornar-se-ía polo de desenvolvimento na nova perspectiva urbanistica iniciada com a edificação dos Paços do Concelho. Este ainda de recorte gótico, recentemente construído (1507) serviu já para que os homens bons da vila tomassem a decisão que deu início a Santa Ana.

O mosteiro construído de tijolo, madeira e barro compunha-se de um dormitório e de uma pequena capela. Ninguém fala de refeitório mas subentende-se que aquele espaço coberto incluiria toda a área de serviço. A ala sul do claustro ficava assim delineada e

6 GOMES, Paulo Varela, Arquitectura, Religião e Politica em Portugal no século XVII- a planta

centrada, FAUP, Porto, 2001, p.230

7

GUERRA, F.da, Memoria sobre o convento….., Aurora do Lima, 1908, p.135

para lá davam “as frestas do dormitorio e da crasta de tijollo.”9 Esta “única galeria de

colunnas”10

conduziria ao Capitulo11.

9

AMVC, Arquivo não classificado de F.Guerra, Notas Avulsas. Aquelas frestas da crasta deveriam ser as do corredor.

PLANTA 1, Planta parcial do Mosteiro de Santa Ana de Viana do Castelo no século XVI (Hipótese a partir de dados da Documentação)

H

G

F

E

D

C

B

A

E

N S E O Legenda: A – Igreja;

B – Coro (primitiva capela); C – Dormitório;

D – Corredor de acesso ao claustro; E – Circulação do claustro;

F – Casa do Capítulo; G – Sacristia;

H – Torre; I – Portaria.

PLANTA 1a, Planta parcial do Mosteiro de Santa Ana de Viana do Castelo no século XVI (Hipótese a partir de dados da Documentação)

A

F

G

7 6 5 4 2 3 1 2 7 12 10 9 8 11 11 12 13 14 15 16 N S E O Legenda: A – Igreja; 1 – Abóbada e Fecho; 2 – Fechos da Abóbada; 3 – Altar Mor - Imagens;

4 – Arco ogival com grade – Igreja/Coro; 5 – Pórtico com arco canópial;

F – Casa do Capítulo;

6 – Abóbada do Capítulo;

7 – Sepulturas parede do Capítulo (norte e sul); 8 – Parede norte da igreja (interior vista para norte); 9 – Parede norte da igreja (exterior vista para sul); 10 – Porta do Capítulo;

11 – Colunas de fuste liso (tal como no claustro); 12 – Relógios de sol;

14 – Carneiro;

15 – Sepulturas do claustro/capítulo; 16 – Sepulturas no claustro;

Depois das anexações de Valboa e Loivo (1528/29) a vida do mosteiro reorganizou-se e tomou novo rumo. As obras que terão marcado passo avançaram então em terreno firme, para a concretização da igreja. O monarca era D.João III mas a influência biscainha estava já fortemente enraizada. A renascença demorou-se pouco em Viana, deixando marca, embora fugaz, na fachada de alguns edifícios já reconhecidamente manuelinos, onde o gótico tende a ordenar-se de forma simétrica. Dois exemplos evidentes demonstram no entanto que a arte de cunho italiano esteve presente: a casa dos Luna defronte da matriz decorada com elementos clássicos e sobretudo a Misericórdia, projecto extravagante no contexto, que se assemelha a um desenho de Francisco de Holanda para um sacrário12.

“Duas pequenas pias e dous frisos pura renascença, dignos de serem moldados em

gesso…”13. Os frisos deveriam ser mais que os dois, facilmente encontráveis nos entablamentos e vergas das portas. No entanto o gótico permaneceu nas formas estruturais. A porta do Capitulo apresentava um arco ogival, ladeado das duas aberturas “constitucionais”e toda a estrutura da igreja insere-se sem dúvida naquele programa arquitectónico. No lugar da primitiva tribuna abriu-se um enorme arco apontado, gradeado, que passou a separar o coro da área sacra de planta centrada (Planta 1 a, 4)

Faremos aqui um parêntesis relativamente aos indícios classicistas. As pias e os frisos parecem resumir tudo quanto F.Guerra encontrou nas ruínas do mosteiro mas, esqueceu- se ou não sabia que, ao registar a existência de um conjunto modelado que encontrou sobre a porta do Capítulo, estava provavelmente a indicar um importante elemento renascentista. Tal como tudo o que foi encontrado e que fazia sentido para aquele historiador, foi por seu próprio concurso exposto no pórtico manuelino, ultimo vestígio completo da construção primieva. Aquela composição está na face anterior do referido arco e compõe-se “de um vulto de Christo de uma suave expressão e correctamente

modelado lembra o Beau Dieu de Amiens, aos lados ajoelhados dois anjos chamam com suas tubas para o Juízo Final”14. Investigamos a referida obra impressa15 que realmente lembra a de Viana. Esta é um “sudário” como diz o historiador, uma Verónica dizemos nós e talvez fosse a intenção de quem a esculpiu. Iconograficamente é de tipo medieval, mas o que nos interessa é o material utilizado. Provavelmente será pedra

12

GOMES, Paulo Varela, o.c.,p.155 13

GUERRA, F.da, Memoria sobre…..Aurora do Lima, 1908. 14 AMVC, Arquivo não classificado de F.Guerra, Notas Avulsas

d’Ançã, originaria de Coimbra muito procurada por estes tempos (século XVI) na Galiza para obras monásticas e afins, para onde seguia de barco, passando em Viana. Com a pedra viajavam os respectivos canteiros, alguns especialistas de nomeada, que espalharam a técnica da escola coimbrã, tanto em Portugal como do outro lado da fronteira. Recordamos que um deles era precisamente Nicolau Chanterene que esteve em Santiago Compostela na primeira metade de 500 e foi posteriormente um dos preferidos de D.João III. Era exímio na anatomia humana “senhor de uma insuperável

técnica de baixo relevo, possuía também um significativo cabedal de ciência da arquitectura, como provou na miniaturada dos seus retábulos ou nas suas estruturas fundamentais”16

. Arriscamos inclusivamente que o primeiro retábulo de Santa Ana poderia ter sido de material pétreo à semelhança dos Passos da Paixão do claustro do Silêncio de Coimbra. Da mesma escola seria o desaparecido retábulo do mosteiro de Monchique no Porto, executado na época em que Diogo de Castilho andou na Invicta, no cenóbio beneditino de S.Bento de Ave Maria, contemporâneo do de Viana do Castelo17.

Também na esteira destes enigmas fica a escultura de vulto redondo de Santa Catarina, executada, no dizer de F.Guerra, em mármore e gótica que estava no claustro18. Esta peça consta do Inventário com o nº215, catalogada como sendo pedra d’Ançã19. Foi levada para o museu das Belas Artes (Nacional de Arte Antiga) onde sob o nº144 consta ser de alabastro com restos de policromia e de fabrico inglês do século XV20. Não duvidamos da taxionomia museológica, mas poderia ela ainda ser produto do tempo. Qualquer dos três materiais tem a mesma composição química, o calcário, assentando a diferença na sua génese. Mas a referida escultura, com tamanho razoável, 970 mm21, é efectivamente do sec.XV e lembra pela expressão doce a oficina de Mestre Pêro de Coimbra. O mistério no entanto permanece não tanto na origem mas no doador. O mosteiro não existia nesse período mas pode ter sido peça salva dos iconoclastas ingleses. Como e quando Santa Catarina aportou no claustro de Santa Ana?22

16 DIAS, Pedro, Pedra d’Ançã, a escultura de Coimbra e a sua difusão na Galiza, in Do Tardo-Gotico ao Maneirismo- Galiza e Portugal, Fund.Calouste Gulbenkian, Fund. Pedro Barrie de la Maza, 1995, p.22 17 Temos esta indicação pelo Padre Manuel Pereira Novais no seu Anacrisis Historial (II parte) 18 AMVC, Arquivo não classificado de F.Guerra, Notas Avulsas

19

IANTT, AHMF, Inventário Geral, Cx.2050, Anexos, doc.5 20

MOSTEIRO DE S.BENTO DA VITÓRIA, 400 anos, Catalogo de Exposição, Porto, s/d, p.148. 21 Idem, Ibidem.

Até quase meados do século XVI o mosteiro resumiu-se àquele pano contínuo sem nada de notável, em volta do qual se foi construindo, aumentado e amontoando construções de forma caótica, como normalmente acontecia em edificações deste género.

António Machado Villasboas, apoiando-se num tombo da Câmara afirma que “…o novo

mosteyro que foy dedicado a Gloriosa Sancta Anna por estar naquelle sitio huma ermida desta grande Sancta”. Temos dúvidas, embora fossem comuns este tipo de

iniciativas. O único vestígio de beatério assenta em Maria Dias, “beatta” que deu uma esmola para a construção e da qual se retiraram os 6 500 reis, o pagamento a Gonçalo Afonso, carpinteiro23. Parece desde já uma quantia avultada para uma mulher despojada, como se entenderia uma enclausurada. Deve ter havido confusão de interpretação.

Como nada restou que aclarasse o percurso construtivo e nem os registos de Figueiredo da Guerra dão grandes esclarecimentos, caminharemos sobre as poucas informações do quotidiano, tentando perceber como avançou o projecto, mesmo à custa de algo pré existente. A única certeza fica expressa numa carta que ele enviou à ultima abadessa, sua parente, solicitando o Livro das Abadeças para completar um estudo onde diz: “a

construção primitiva que limitava a um pequeno dormitório, onde hoje é a casa da roda e corredor que vai ao claustro”24

. Este corredor conduzia, para nascente, à porta principal do coro.

A verdadeira história da arquitectura do mosteiro de Santa Ana começaria então de forma evidente com a construção da capela. Ela sim da autoria de Pêro Galego que tinha já provas dadas pelo menos na matriz de Caminha onde se anuncia o renascimento. Se tivesse sido começada pela época da escritura estaria apenas alinhavada. Parece-nos no entanto ser mais provável o seu início em 1529, em Junho, quando se firma o contrato e se abrem os alicerces com o lançamento das primeiras pedras.25 Figueiredo da Guerra dá uma achega “havíamos dito que a capella principiara no reinado d’el-rei D.Manuel

como consta do contracto lançado no pergaminho nº [não tem] da pasta do archivo camarario, todavia o cofre do nosso concelho exhausto não permittia senão obras de

23 AMVC, Arquivo não classificado de Figueiredo da Guerra, Acórdãos, acórdão 1, fl.1vº, Anexos, doc.1. Figueiredo da Guerra tem a mesma opinião, in Archivo Viannense, p.139.

24

AMVC, Arquivo não classificado de F.Guerra, Carta de F.Guerra dirigida à abadessa de Santa Ana, doc.manuscrito, s/d.

primeira necessidade…”26

. Por sua vez as religiosas queriam libertar-se da tutela concelhia, aceitando a troca proposta pelo arcebispo. A data inscrita na porta, 1533, pode ser a conclusão de toda a obra, como pode ser o fim de uma das fases, inicio de outra. Aquele investigador vianense dá uma informação que nos deixa intrigados “os

bocetes da abobada medeiam entre o anno de 1530 e 1533…”27

. Como descobriu isto, haveria alguma data que não mencionou?

O ano de 1529 foi o da falecimento de António Correia, então já funcionário régio e cujo último acto em prol da comunidade religiosa fora impetrar as Bulas de anexação de Loivo e Valboa. Reproduzimos de seguida dois extractos que nos parecem originais ou treslados deles e que vão naquele sentido: “O Núncio do Reyno Martinho de

Portugal passou Breve para que metessem de posse dos bens que forão da abbadeça dona Brites de Sousa que avia renunciado ao dito cargo e mandou e fis juis executar no tesoureiro e mestre escola de Braga, foy dado em 10 das kalendas de Novembro de 1528 e dis ser procurador do dito mosteiro António Correa da Ordem de Cristo e menistro d’el-rey”28

O outro parágrafo diz “O mesmo Dom Martinho Nuncio por seu

Breve passando as sextas nonas de Outubro de 1529 no sexto anno do pontificado de Clemente 7º do qual se colhe que a abbadeça de Loivo, Francisca da Novoa, se sahira do seu mosteiro e viera pera Vianna sem ordem para isso, pello que a manda absolver e unir o dito mosteiro no de Vianna por morte dos comendadores Pedro de Sá e Pêro Francisco e dis hera procurador das freiras de Santa Anna o mesmo Antonio Correa bacharel….” 29

. O papel desempenhado por este personagem não ficou por aqui, deve ter sido muito mais relevante, sobretudo na ligação a Santa Clara de Vila do Conde e decisivo na escolha de Margarida de Sousa (ver a fundação).

Dobrada a meia centúria a igreja estava já edificada e pronta. Em Viana o interior da capela dos Camarido, na matriz, poderá dar-nos uma ideia de como foi a abóbada e respectivos arranques da igreja do mosteiro de Santa Ana (fotgs.1,2,3). Quanto ao número de dependências, o mosteiro já teria três dormitorios porque a população

26 AMVC, Arquivo não classificado de F.Guerra, Notas Avulsas. 27

Idem, Ibidem.

28 Idem, Ibidem. Na margem foi escrito “aqui dis que D.Margarida era da Ordem de São Bento”. A letra é a mesma mas a tinta mais desmaiada. Esta Brites de Sousa não era a de Santa Ana, isto porque as datas

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