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3.3 Memória e cotidiano no Bairro Lagoinha

3.3.2 Mobilizações e lideranças

3.3.2.1 O Movimento Lagoinha Viva

O Movimento Lagoinha Viva possui registro público como associação da Lagoinha e é presidido por Teresa Vergueiro Silva63. O movimento, de acordo com Silva (2015b. Informação verbal), surgiu no dia 5 de setembro de 2013 diante do anúncio de interesse de implantação do Centro Administrativo Municipal entre as Ruas Além Paraíba e Bonfim, a partir de uma reportagem que foi divulgada em jornal. Assim, a ameaça de desapropriação pelo poder público dos quarteirões compreendidos entre essas ruas motivou a mobilização dos moradores do bairro contra essa proposta.

A respeito da participação dos moradores do bairro no Movimento Lagoinha Viva, Paulo Pontes64 (Informação verbal) ressalta que tem ocorrido de forma proporcional aos interesses envolvidos: “Olha, naturalmente que essa participação está muito ligada ao interesse. Então quando veio a questão do Centro Administrativo, por exemplo, as audiências públicas, a Teresa conseguiu que elas fossem feitas no bairro” (PONTES, 2015. Informação verbal). Sendo assim, em 2013 a participação foi mais intensa diante da ameaça de desapropriação em massa para a implantação do Centro Administrativo. Sobre o envolvimento dos moradores contra o decreto de desapropriação, Silva (2015b. Informação verbal) coloca que:

Nós conseguimos uma coisa que foi um fato inédito. Aliás, foi uma das coisas que fez com que o prefeito repensasse a postura dele, porque nós juntamos numa quadra aqui da igreja seiscentas pessoas. Mais de seiscentas pessoas, ‘né’ [sic] [...]. Pela consciência que nós tivemos, as pessoas vieram em adesão. Então profissionais, comerciantes do bairro, empresários, a FAFISA, o UNI-BH vieram junto com todo o grupo. Todos os peixeiros, todos os moveleiros da Itapecerica. Então o movimento tem um caráter e uma posição muito bem colocada dentro do bairro, ‘né’ [sic]? Porque a gente nem sabia que tinha tanta associação, a gente nunca viu [...] uma consciência comunitária, política e democrática tão grande [...] (SILVA, 2015b. Informação verbal).

63 Maria Teresa Vergueiro Silva é carioca, presidente do Movimento Lagoinha Viva. Mudou-se para o

bairro em 2012, mas já frequentava a região há 25 anos.

64 Paulo Pontes é arquiteto, faz parte do grupo de trabalho da OUC ACLO e atua como consultor no

Em relação às mobilizações, Silva (2015b. Informação verbal) pontua a pouca adesão dos moradores nos processos participativos:

Foram dois anos participando de grupo de trabalho. [...]. Em horários que eu te falo, confesso que não são horários bons, entendeu?[...] Não foi fácil, mas eu acho que as pessoas poderiam fazer mais questão de estar nesses momentos. [...] Quer dizer, para mim é único. E não vi uma participação jovem (SILVA, 2015b. Informação verbal).

Silva (2015b. Informação verbal) afirma ter participado de todas as reuniões e grupos de discussão a partir da OUC ACLO. Para ela, essa conquista de espaço nos debates é fruto de sua dedicação:

Então assim, hoje, por exemplo, tem gente que fala assim: “Ah, mas você se dá muito bem com a prefeitura, você faz parte do grupo de trabalho”. Falei: “Mas eu conquistei esse espaço”. Mas eu não conquistei esse espaço para ficar bem com a prefeitura. Eu conquistei esse espaço para poder ser ouvida como cidadã, que é o que me interessa. Porque se eu não for ouvida, então não há democracia, não há a participação popular. E para eu ser cidadã e ser democrática é isso (SILVA, 2015b. Informação verbal). Tanto a Teresa Vergueiro Silva quanto o arquiteto Paulo Pontes tem participado ativamente das audiências regionais, dos grupos de trabalho e oficinas por meio do Movimento Lagoinha Viva. Pontes (2015. Informação verbal) ressalta a importância de ter retorno financeiro a partir de sua proposta para requalificação da Lagoinha, já que a execução demandaria um maior número de profissionais e tem como prazo dois anos para finalização.

Então eu na verdade tenho participado mais agora na Operação Urbana Consorciada. [...]. Já nas audiências regionais, nos grupos de trabalho, nas oficinas e eu sempre estou lá como arquiteto do movimento Lagoinha Viva. Os profissionais da prefeitura na secretaria de planejamento me conhecem como arquiteto do movimento Lagoinha Viva e uma das coisas que eu tenho proposto e tenho solicitado à Teresa é que se resolva a questão financeira, do pagamento desse projeto (PONTES, 2015. Informação verbal).

Para Silva (2015b. Informação verbal), é relevante a mudança na postura do poder público da proposta da OUC denominada Nova BH - em que foram registradas denúncias junto ao Ministério Público sobre as irregularidades no processo participativo, para a OUC ACLO. Para ela, o corpo técnico tem sido solicito as demandas colocadas pelos moradores sobre a necessidade de melhorias no bairro, desta forma vê a operação como algo positivo e necessário.

Eu vejo a operação de forma muito positiva. Não só para a Lagoinha, mas para toda a Belo Horizonte. Se for bem construída a operação, da forma que está sendo colocada junto à comunidade [...] com o número maior de participantes moradores do que própria prefeitura, eu entendo que a gente vai ter uma grande operação, uma grande mudança positiva para a cidade de Belo Horizonte. [...] é uma grande chance da Lagoinha realmente ter a sua revitalização (SILVA, 2015b. Informação verbal).

Ainda assim, Silva (2015b. Informação verbal) coloca que falta o direcionamento da atuação do poder público para políticas públicas tendo em vista a concentração de moradores de rua, a insegurança proporcionada no acesso ao Centro a partir da passarela e a presença de dependentes químicos no bairro. Ressalta ainda o esforço do corpo técnico da prefeitura na condução do processo participativo da OUC ACLO, alegando ter participado das reuniões de discussão e entendimento da operação e de fazer parte do grupo de trabalho durante as audiências públicas realizadas. Contudo, destaca que falta o esforço do poder público na divulgação da OUC ACLO para participação das comunidades que serão afetadas pela operação nas reuniões públicas.

Arquiteto do Movimento Lagoinha Viva, Pontes (2015. Informação verbal) recorda que quando participava do Café com Prosa65 foi solicitado a propor um projeto de requalificação do Bairro Lagoinha. A primeira proposta foi encaminhada em 2012 ao Café com Prosa, onde foi definido um perímetro que incorporava a porção Oeste do bairro.

Pontes (2015. Informação verbal) enfatiza que a partir do seu projeto a transposição entre o Centro e o Bairro Lagoinha seria feita não por uma “esplanada”, conforme proposta definida pela OUC ACLO, mas por um equipamento urbano de uso misto com área comercial, salas e espaços corporativos e comunicação social.

Pontes (2015. Informação verbal) reconhece que algumas de suas propostas foram incorporadas com a OUC ACLO, uma delas consiste em instalar na Rua Itapecerica, no imóvel conhecido como Casa da Loba, o Museu do Cotidiano. Essa ideia surgiu a partir do conhecimento de um senhor em Belo Horizonte que coleciona vários objetos, mobiliários, materiais que fizeram parte da história de Belo Horizonte. Tendo em vista a riqueza do acervo, na visão de Paulo Pontes, essa proposta pode ser articulada como uma continuidade ao Museu de Artes e Ofício.

65 Sobre o Café com Prosa, Gonçalves (2015. Informação verbal) menciona que o projeto surgiu em

2010 por meio da atuação do Vicariato Episcopal para a Ação Social e Política e era voltado à discussão dos interesses da comunidade para a região da Lagoinha, com o intuito de constituir uma ponte para reivindicação junto ao poder público. O projeto teve duração até 2012 e contribuiu para promover junto aos moradores, comerciantes e transeuntes no Bairro Lagoinha interação social e conformar uma rede de participação. A partir das reuniões que ocorriam semanalmente o Café com Prosa se tornou um atrativo político, dessa forma a partir dele surgiram lideranças que hoje atuam no bairro e adjacências.

Associado a isso, poderia ser pensado uma articulação com o SENAI para oferta de cursos profissionalizantes.

Ademais, é importante mencionar que o Movimento Lagoinha Viva tem exercido um papel importante nas mobilizações contra as ações destrutivas do poder público e na reivindicação de melhorias para a Lagoinha, constatado pela participação ativa da liderança nas discussões da OUC ACLO e pela incorporação de propostas de interesse histórico-cultural do bairro no plano urbanístico da operação.