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O movimento da natureza e da humanidade no curso da vida: quando os deseducados

A natureza é uma mãe incansável, inquieta e instável, com sua inclemência implacável, e indiferente ao sofrimento pode, também, ao mesmo tempo ser protetora, rígida e criativa, por isso uma educadora excepcional.

Na sua inquietude e criatividade deu origem à vida de forma revolucionária pela combinação dos elementos inorgânicos, sem vida, e a formação de seres, com vida. A vida, por sua vez, segue tal qual a sua criadora, em permanente processo de transformação, dando um salto para o ser social, o mundo humano, que só pode se comportar como sua progenitora ao atuar com seu corpo social, ao mesmo tempo em que não se separa de sua composição orgânica (LUKÁCS, 2010).

É com a natureza em movimento e com o ser humano em mobilização pelo curso da vida que falaremos sobre educação, a partir da qual os deseducados podem e devem, em determinadas circunstâncias, educar os educados.

É bem possível e aceitável a um leitor mais agoniado logo se perguntar: Como é isso? Como os deseducados podem educar os que já são educados? Não seria o contrário?

Não podemos responder a essas indagações com duas ou três palavras. É preciso esforço e paciência, pois na trilha ou no desenrolar desses eventos por onde os ditos não educados, os deserdados, estando a comer o pão que o diabo amassou são forçados a enfrentar os educados, os proprietários, processo em que ora se pode passar por clareiras, ora se deparar com veredas tão estreitas que o maliçal exigirá carne e sangue dos deseducados, sendo que muitos deixarão até os seus ossos pelo caminho diante da espinhosa tarefa de educar os já educados, no intento de mudar o modo de vida e edificar uma nova época.

Como dissemos, para responder, não o faremos com duas ou três palavras, mas sim, como diz o matuto, com um bocado delas e pedimos que não deixe nenhuma cair ao chão, e, se por ventura alguma escapulir, pegue de volta pois poderá fazer falta.

Começamos com a fala de um velho agricultor, que costumava lançar três palavras na mesma direção, porém, cada uma com mais profundidade do que a outra no sentido de desvelar a realidade: ―olhe, repare e entenda‖. Essas palavras nos ensinam não só a olhar, mas, também, a irmos um pouco mais fundo para o que estamos tentando compreender e pela necessidade transformar. Isso não é ciência? De certa forma, há pelo menos dois campos num processo de ensino-aprendizagem ou, se preferir, na grande escola da luta de classes. Um dos educados, os proprietários, e o outro, dos deseducados, os deserdados. Gostaríamos de pedir paciência para o conto de três histórias simples, mas que, para nós, servem como exemplos e até como forma de colocar os primeiros dormentes por onde assentaremos os trilhos do caminho que percorreremos. Essas histórias envolvem um operário da linha férrea, um agricultor e um soldado raso.

Morando à beira da estrada de ferro Fortaleza-Baturité, era comum amanhecer com o tinir das marretas movidas pelos braços dos homens a armar as tendas de acampamento em que os operários que faziam a manutenção dos trilhos se abrigavam. Victor Damázia, sujeito pacato e devoto do catolicismo, era um desses operários que em suas memórias guardava muitas histórias da vida dura desses homens rudes e embrutecidos pela faina diária. Certa vez, contou que bem próximo do meio dia, sol a pino, antes do almoço, um jovem engenheiro, educado nas leituras, chamou a atenção de um operário que trabalhava com uma picareta. Este, com o sangue quente, com fome e zangado, agrediu-o, dando-lhe uma picaretada, quase pondo fim a sua vida. Quando o mestre encarregado das turmas, um velho

operário reuniu-se com os responsáveis pelas equipes, disse: o momento para chamar a atenção de um homem é quando este está de barriga cheia, pois, com fome, todo homem se torna perigoso. Esse fato simples nos remete à ideia contida na Ideologia Alemã, de Marx e

Engels, de que a História da Humanidade será diferente quando houver comida, bebida, moradia, roupa e calçado em quantidade e qualidade o suficiente para todos, quando as condições objetivas possam, promovidas pelo conjunto da humanidade, satisfazer não só a fome material dos homens, mas também, de certa forma, a espiritual.

A pedagogia do mestre que se educou vivenciando uma realidade tenaz de homens embrutecidos, onde a força física no manejo de marretas, trados e trilhos, dormentes e troias, eram incontornáveis. Pôde, também, aprender na prática que não é em qualquer momento e de qualquer jeito que se ensina ou se aprende, isto é, é preciso considerar os pressupostos necessários para que haja disposição dos sujeitos envolvidos nos processos de trabalho e educação, pois, por onde corre a necessidade de aprender, passa também a necessidade de ensinar.

Na agricultura de subsistência, onde o manejo da enxada, da foice, do facão e do machado é um pressuposto inexorável no preparo da terra para plantar, o que também exige cuidados simples com as sementes ao enterrá-las, garantindo o seu nascimento e os seus primeiros dias de crescimento sem que nenhum dano lhe aconteça logo após a semeadura,

inimigos visíveis e invisíveis rodam a plantação, e as sementes sob a terra sofrem o ataque de

pássaros e insetos, portanto, é preciso pastorá-los e espantá-los. A funda6é um instrumento bem útil nessa atividade que precisa ser mantida do nascer ao pôr do sol, todos os dias, até que as sementes germinem, cresçam e não possam mais ser arrancadas por eles.

A vida ensina, desde cedo aprendemos na roça a manusear com destreza o machado, a foice, o facão e a enxada, armar quixó, arapuca, forjo, pescar de anzol, landuar, choque e jiquí, atirar com espingarda socadeira, baladeira e funda. No roçado semeávamos os grãos de arroz, milho e feijão e espantávamos os pássaros. Um dia, soubemos que o dono do roçado vizinho havia utilizado veneno junto às sementes para matar os pássaros. Aprovamos a ideia, muito mais cômodo do que ficarmos andando o tempo todo pelo roçado atirando pedras nas aves para espantá-las. Ao sugerirmos para o nosso pai a mesma ideia, ele nos olhou sério com ar de reprovação e encerrou o assunto com uma negativa em um mover de cabeça.

Homem de poucas palavras que nos remete a Fabiano, personagem de Vidas

Secas, e nos impõe do passado um ato educador para o futuro. Ao reprovar o envenenamento

dos pássaros indefesos, ele nos dizia, com uma dimensão pedagógica, de uma educação com o respeito à vida e ao mesmo tempo de tolerância pela coexistência com os diferentes, até mesmo com aqueles que em um primeiro momento parece nos importunar. Essa busca por

facilidades é legítima, porém, realizar atalhos pode ser perigoso, embora, às vezes, pelas circunstancias, sejamos forçados a isso, contudo, há de se levar em conta o que registrou Trotsky frente à batalha para dar vida à IV Internacional, quando isso lhe impunha o peso implacável do fracasso das três primeiras.

Olhar a realidade de frente; não procurar a linha de menor resistência; chamar as coisas pelo seu nome; dizer a verdade às massas, por mais amarga que seja; não temer obstáculo; ser rigoroso nas pequenas coisas como nas grandes; ousar quando chegar a hora: tais são as regras da IV Internacional. Ela mostrou que sabe ir contra a corrente. A próxima onda histórica haverá de erguê-la até seu cume. (TROTSKY, 2008, p.75).

Para encerrar com a nossa tríade de histórias contaremos a do soldado raso, que nos remete à importância das pequenas coisas e dos pequenos feitos. Segundo ele, ao ser solicitado para uma ocorrência policial e em diligência numa viatura cujo limpador de para- brisa se encontrava danificado, sendo que o problema já havia sido detectado, mas, tomado como insignificante, até mesmo com o registro da fala dos parceiros: o limpador de para-

brisas é só um pequeno detalhe. Por ironia do destino, essa diligência passou a ser uma

perseguição que foi interrompida tão logo se iniciou uma chuva, obrigando-os a encostar o carro. Não deixa de ser verdade que em um objeto tão grande como um carro, no qual uma peça fora dele e de uso pouco frequente não seja, por vezes, considerada apenas um detalhe em dias comuns, porém, em dias em que a temperatura muda e chove, aquilo que era apenas um detalhe passa a se afirmar como um dos elementos fundamentais do conjunto, ou seja, de todo carro.

Um velho estrategista de muitas e longas batalhas já havia alertado para a importância dos detalhes em eventos de grande monta.

[...] Coisas mínimas sem grandes coisas é o que mais abunda na vida humana. Mas em história não se fazem nunca grandes coisas sem pequenas coisas. Mais exatamente: as pequenas coisas, numa grande época, quando integrado numa grande obra, ‗deixam de ser pequenas coisas‘. Entre nós, trata-se da construção da classe operária, que, pela primeira vez, constrói para si e segundo o seu próprio plano. [...] (TROTSKY, 2009, p. 9).

Como bem assegura um ditado popular, não se tropeça em montanhas. É preciso, antes de tudo, situar os conceitos de educados e deseducados, pois, não se trata de um simples posicionamento de letras, ou de querer obter um cavalo aparando as orelhas de um burro. Nesse sentido, nosso enfoque será a luta de classes como motor da História da Humanidade e não só isso, mas com a classe operária como sujeito das revoluções. ―[...] A Revolução, antes de tudo, conquistará para cada indivíduo, em duras lutas, o direito à poesia, e não somente ao

pão‖ (TROTSKY, 2013, p.182). Ou seja, a revolução não trará somente substância para o corpo pulsar vivo, trará também, acalanto para o espírito que alimentará a paz e a liberdade para a humanidade.

Marx e Engels iniciam essa constatação quando dos primeiros levantes autônomos dos tecelões de seda de Lyon, na França, no início dos anos 1830 do século XIX. ―Os trabalhadores de Lyon acreditavam estar perseguindo apenas propósitos políticos, pensam ser apenas soldados da república, quando, na verdade, eram soldados do socialismo‖ (2010 p.48- 49).

Destaca-se essa constatação de que há um elemento essencial na luta dos operários que passa pelo poder econômico e pelo político, mas que procura ir além, e, com sua força, possibilitar a compreensão das ideias e dos fatos determinantes da realidade e da existência humana. ―Somente no socialismo um povo filosófico encontrará a práxis que lhe corresponde, ou seja, somente no proletariado encontrará o elemento ativo da sua libertação‖ (MARX; ENGELS, p. 45-46).

Marx e Engels asseguram que somente pela classe operária, os ―deseducados‖, do ponto de vista da burguesia, os ―educados‖, podem encontrar os elementos que lhes darão substância para compreender que há um distanciamento do exercício da cidadania, pois, ser humano não se resume a ser considerado cidadão. Da mesma forma, que a vida humana não se molda pelo exercício do poder e sim pela sua liberdade em plenitude com a compreensão de suas necessidades. Portanto, ser educado ou deseducado em uma sociedade dividida em classes tem a ver, de certa forma, com a localização de classe e que, portanto, a indagação de quem pode educar precisa de uma compreensão materialista histórico-dialética, ou seja, é preciso considerar matéria em movimento no tempo e no espaço, em suas contradições em um eterno devir.

O mundo objetivo é produto da atividade humana e ao mesmo tempo do pensamento, do momento ideal da prática dos homens. Um picareta nas mãos de homens com fome, com sede e com raiva podem se destinar a outros fins que não socar pedras para baixo dos dormentes ou abrir sulcos na terra. Afugentar os pássaros ou envenená-los são circunstâncias bem diferentes adotadas pelo comportamento humano. A invenção da agricultura não traz, a priori, o uso indiscriminado de venenos. Dirigir um carro em dias de sol é bem diferente do que dirigi-lo em dias de chuva, a luz e a escuridão nos dão diferentes contornos da realidade.

As circunstâncias modificadas levam, forçosamente, a pensamentos e a ações também modificados. Assim, em uma organização social que se pauta e se move pela divisão de classes, pela propriedade privada, pela exploração de uma minoria sobre uma maioria, ser educado pode significar adotar uma postura de defesa da manutenção dessas condições. Ao mesmo tempo em que para aqueles que se colocam contrários a essa forma societária, educado ou deseducado, passam por defenderem a manutenção dessa exploração ou ser contrários. Resistir a esse modelo de sociabilidade, portanto, para os proprietários, educados são aqueles que adotam uma postura de harmonia com os seus interesses, enquanto os deseducados seriam aqueles que não se permitem se moldar a esse modelo de organização social e são levados pelas suas condições objetivas a ter que reagirem a isso, agindo criticamente sobre a realidade que lhe impõe a qualificação de deseducados. Essas circunstâncias serão levadas a ferro e fogo, tanto para assegurar aos educados essa visão, como aos deseducados a aceitação dessa realidade desumana.

Agora esclarecido quem são considerados os educados e deseducados pelo critério da luta de classes e pela localização da classe operária na produção das condições de existência e, ao mesmo tempo, da sua condição de explorada e junto a isso a sua prática revolucionária por ter que se levantar contra essa exploração. Percorremos um momento da história em que essa prática revolucionária foi levada a cabo até a vitória, em que operários, camponeses, soldados e todo o povo pobre do campo e da cidade se lançaram em luta para poder dirigir os seus destinos.

Essa vitória teve espaço geográfico delimitado, contudo, podemos compará-la a um fenômeno como a queda de uma pedra na água que gerando uma propagação de ondas, e, dependendo do tamanho da pedra e da quantidade de água, passa a impulsionar outros corpos, os quais, por sua vez, podem impulsionar outros, e assim por diante.

Esse fenômeno social, que passou para a História da Humanidade como Revolução Russa, ocorrendo em 1917, mas que, de certa forma, teve como raízes a Comuna de Paris em 1871, ainda hoje fazem suas ondas ecoarem pelos corações e mentes dos homens e mulheres que acreditam não em organizar uma nova humanidade sob um novo capitalismo, mas um mundo onde não haja mais capitalismo, propriedade privada e nem exploração, onde todos possam saborear o pão e a poesia com liberdade de escolha, como pode e deve ser uma vida em uma sociabilidade pautada pela repostas às necessidades e às possibilidades humanas.

Podemos, com paciência, afirmar que não há verdade absoluta, como também não há liberdade absoluta, e assim também dizer que não existe uma educação em absoluto.

Compreender que é preciso diferenciar, dimensionar, analisar e comparar as coisas e os fatos nos imprime uma localização não só espacial, mas também temporal o que significa um esforço para a compreensão da história humana em seus diversos contextos: escravidão, servidão e trabalho assalariado. Olhar, reparar e entender, não só a sociedade, mas também a natureza, na sua eterna inquietude do devir, ajuda-nos rumo a uma educação humana natural, mas socialmente constituída.

Ora, se os suricatos, valendo-se somente de seus instintos na condição de animal precisam, e até conseguem, diferenciar o alerta de perigo emitido pelo Drongo7, que mesmo sendo um sinal de alerta para fugir de possíveis predadores que se avizinham, pode ser um alarme falso para afastá-los da comida conseguida por eles. Esses pássaros, às vezes de forma oportunista, conseguem até imitar uma sentinela, dando, assim, mais veracidade à aproximação do perigo, que pode ser falso, mesmo reunindo elementos de verdade.

Se os seres desprovidos de consciência necessitam, dentro dos seus limites, de certa forma se educar frente às mudanças do mundo sensível, os seres humanos, que são dotados de consciência e vontade, precisam, com certeza, de uma maior desenvoltura para garantir a sua existência em um mundo em permanente mudança. Somente as mudanças permanecem, porém, isso não é condição absoluta, pois, se assim fosse, como recorrer à lei da identidade que nos ajuda em nossa compreensão prática e teórica do mundo? Saber diferenciar coloca, ao mesmo tempo, saber identificar. Isso, às vezes, pode não ser uma tarefa fácil de ser executada, sendo necessário não só um guia teórico, mas ações práticas, a partir das quais sujeito e objeto serão postos em confronto no mundo real.

Tomemos a indagação do velho Hegel em sua obra A Fenomenologia do Espírito, sobre quem é o escravo, o senhor de escravo que nada sabe fazer, ou escravo que tudo faz para o seu senhor? Essa resposta não pode ser encontrada somente no mundo do sujeito pensante, no mundo ideal, mas, sobretudo, no mundo do sujeito atuante, o mundo real, na ação prática dos homens. Não estamos desvinculando a prática da teoria, contudo, nos apegamos à máxima: o critério da verdade é a prática.

Se as massas estão dispostas a construir um mundo à sua imagem e semelhança e se dispõe a fazê-lo não por ter em mente um plano já elaborado, mas sim, porque o velho mundo em decadência não lhe serve mais, não vai se atirar nessa batalha hercúlea de mãos

vazias, e, quanto mais toma chegada dos desafios para pôr em prática tal tarefa, seus

7 Ave que tem capacidade de imitar a voz de várias espécies de animais com intenção de roubar sua comida ou

destacamentos mais avançados vão tomando a dianteira na conquista da consciência da necessidade de se organizarem social e politicamente. Movidos pelo pulso vivo da realidade e suas contradições, em que os avanços ora são em milímetros, ora se dão em léguas em uma confusão de fases diversas em que os elementos carcomidos pela ferrugem do tempo se conservam e, ao mesmo tempo são superados pelos modernos avanços da cultura e da produção material, no seio dessas massas, os oprimidos e anônimos são os mais firmes impulsionadores dessas mudanças, tão logo a superação do velho se torne inadiável.

A função do partido como instrumento da tomada do poder, a forma mais bem elaborada de organização, vinda do seio das massas e levada a cabo pelos seus líderes, precisa ser devidamente compreendido, até porque a energia das massas que são lançadas ao assalto ao poder, tende a se dissipar, chegando ou não aos fins que lhe deram impulso, aos intentos pretendidos. Cabe ao partido uma resultante das massas com uma composição de sua vanguarda, analisar, comparar, fazer previsões e se preparar para o combate, e assim intervir com táticas que serão experimentadas e testadas sob os efeitos das mudanças de consciência em movimento ao se confrontarem com as circunstâncias objetivas. ―Contudo, os processos que ocorrem na consciência das massas não são nem autônomos e nem independentes. Independente da ira dos idealistas e ecléticos, a consciência é, todavia, determinada pelas circunstâncias [...] (TROTSKY, 2007, p. 11).

As circunstâncias em que ocorre a Revolução Puritana liderada por Oliver Cromwell, com seu exército formado por artesãos e camponeses nos anos 1640 do século XVII, são diferentes das circunstâncias em que se dá a Revolução Francesa no final do século XVIII, com destaque para os Sans-Culottes, de Paris. Contudo, ambas as revoluções tentam implantar o Parlamento. Em uma luta encarniçada contra o absolutismo monárquico, pretendem governar através do Parlamento. Essa era a bandeira levantada pela nova classe liberal, a burguesia. ―[...] Era a luta da burguesia em ascensão, sobretudo das suas classes médias, contra a nobreza, a burocracia e a coroa feudais. [...]‖ (TROTSKY, 2011, p.22).

Já as circunstâncias em que ocorre a Revolução Russa, no século XX, em um país com 150 milhões de habitantes, são bem mais diversas das que marcaram as de suas irmãs mais velhas. Na Inglaterra, século XVII, e na França, século XVIII, não havia, ainda, um proletariado industrial concentrado em grandes cidades, a exemplo de Petrogrado e Moscou. O surgimento da classe operária modifica as circunstâncias, que por sua vez modificam intensamente o comportamento social da classe, seus métodos de luta, sua organização, suas estratégias, seus fins, agora posto pela nova classe que encabeça a revolução. Uma revolução