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4 OS SENTIDOS DA INTEGRAÇÃO CURRICULAR

5.3 O CURSO TÉCNICO EM AGROPECUÁRIA NO CAMPUS CATU:

5.3.10 O mundo do trabalho e a inserção do técnico em agropecuária

Apesar de não ser este o objeto do nosso estudo, é importante destacar que após a pesquisa em fontes primárias sobre o município de Catu, ficou demonstrado que a base econômica do município está centrada, principalmente, nas atividades petrolíferas e de comércio, estando o setor agropecuário ocupando a terceira posição no PIB municipal. Desse modo, cabe-nos registrar que, dos docentes pesquisados, 62.5% afirmaram desconhecer qualquer pesquisa institucional sobre a ocupação atual dos egressos do curso de Agropecuária.

Questionados ainda sobre terem conhecimento de qual segmento empresarial contrata os egressos do curso de Agropecuária, na região de Catu e municípios circunvizinhos, 56,25% afirmaram ter essa informação, quando citaram empreendimentos, como: Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola S.A (EBDA), Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), Associações de Agricultores, Empresas Petrolíferas da Região, Fundação José Carvalho, Copener Florestal Ltda., FERBASA, fazendas agrícolas, laticínios e abatedouros, empresas de alimentos, quase na totalidade, fora da Região de Catu.

Diante do exposto, consideramos que, pelo fato de ser um curso antigo, cuja tradição vem do século passado, deveria haver uma preocupação institucional sobre a relevância desse curso para região na atualidade.

5.4 O QUE PENSAM OS TÉCNICOS-PEDAGÓGICOS SOBRE A INTEGRAÇÃO NO CURSO TECNICO EM AGROPECUÁRIA INTEGRADO

Além dos docentes vinculados ao curso Técnico em Agropecuária Integrado, foram entrevistados dois profissionais que fazem parte da Equipe Técnico-Pedagógica do Campus, um com formação em Pedagogia e o outro com formação em Letras Vernáculas.

Os cargos nos quais ingressaram na Instituição, através de concurso público, são, respectivamente, o de Pedagogo e o de Técnico em Assuntos Educacionais, sendo que este último, tem como requisito de formação, as diversas Licenciaturas.

O roteiro da entrevista foi elaborado a partir dos resultados obtidos nos questionários aplicados com os docentes, e teve como objetivo obter maiores informações sobre o curso em pauta, no sentido de melhor compreender a formação do Técnico em Agropecuária no

Campus Catu, já que os profissionais que compõem a Equipe Técnico-Pedagógica

configuram-se como mediadores no processo de ensino e aprendizagem. Priorizamos as seguintes questões:

• entendimento sobre o ensino integrado;

• considerações sobre os entraves a realização da integração curricular;

• ações realizadas pela equipe pedagógica para estabelecer a integração do currículo.

Sobre o entendimento de ensino integrado o Técnico-Pedagógico 2 afirma que:

[...] no ensino integrado o estudante cursa duas formações no mesmo currículo. Além de relacionar o Ensino Médio com o Técnico, tem esse momento da formação integral do aluno, para que ele possa tanto ingressar no mundo do trabalho, como dar continuidade nos estudos. É o ensino para que ele tenha uma formação para a sua vida, seu desenvolvimento, para participação política. Tem a questão do quadro de disciplinas também, onde se pode superar essa divisão entre conhecimentos gerais e técnicos. Com os estudos e as leituras que fiz, pude entender também a relação que se estabelece entre trabalho e educação. (Técnico-Pedagógico 2)

Quanto ao maior entrave a efetivação da integração curricular no Campus, os Técnicos-Pedagógicos destacam a falta da visão integradora do conhecimento, por parte dos docentes, e a falta de uma melhor estruturação do curso e do currículo do curso de Agropecuária, pois conforme declarações desses profissionais,

[...] os antigos (docentes) não querem abrir mão da carga horária, porque acham que é importante e às vezes eu acho que não é. Tem muitas disciplinas que poderiam ser fundidas. Seis horas? Que instituição é essa que contrata um professor quarenta horas para dar seis horas? Isso não existe. Eu acho isso um absurdo, entendeu? Existe muita dificuldade para o professor abrir mão da carga horária dele. Isso ia ser bom para os alunos porque não iriam ficar tão sobrecarregados de disciplinas. (Técnico-Pedagógico 1)

Aqui no Campus eu percebo duas questões que eu poderia estar citando: uma questão que é operacional mesmo, que é a falta da coordenação propiciar esses momentos para planejar atividades conjugadas e integradoras. Outro aspecto é a falta de entendimento sobre o que viria a ser uma proposta integradora de currículo. Assim, o entrave está nessas duas questões, uma operacional e outra conceitual. (Técnico-Pedagógico 2)

As falas dos Técnicos-Pedagógicos indicam que, no Campus, prevalecem os interesses particulares, em detrimento de um melhor funcionamento do curso. Observamos também que não existem ações sistemáticas para estimular situações onde os docentes possam planejar conjuntamente, pois, conforme já relatado, o momento de planejamento regular acontece apenas durante a Jornada Pedagógica, que ocorre antes do inicio do ano letivo.

Quanto a razão da não realização do planejamento compartilhado afirmaram que:

[...] a gente tenta viu? Mas o que eu vejo é que esses momentos não acontecem aqui neste Campus. E, muitas vezes, eu me pergunto o que é que eu vim fazer aqui. E porque esses momentos não acontecem, qualquer reunião que a direção ou a coordenação faz, vira um momento de ‘lavagem de roupa suja’, com relação a essas questões pedagógicas, por demorar demais para acontecer. [...] Então, eu vejo o planejamento só no começo do ano, na Semana Pedagógica. Acabou a Jornada (Pedagógica), eu não vejo planejamento por área, das exatas com as humanas, a integração. (Técnico-Pedagógico 1)

[...] o ano passado a gente teve mais esforços nesse sentido. Precisamos realizar capacitação pedagógica para as reuniões de área e dar uma regularidade nesse trabalho. A gente deu inicio a esse trabalho, mas tivemos que parar por causa da prioridade na elaboração dos projetos dos cursos novos do Campus, pois tivemos que focar as nossas ações nos grupos de trabalho. Depois veio a greve. Esse ano, as quartas-feiras, que eram reservadas para as reuniões, estão sendo ocupadas pela reposição de aulas. (Técnico-Pedagógico 2)

[...] agora a gente está tentando fazer isso nos sábados letivos, porque eles não gostam de vir dia de sábado, ai estamos tentando fazer um sábado por área, tentando fazer a integração, vamos fazer de linguagem, só de linguagem, depois só de exatas, só de humanas, só da área técnica, um sábado para cada área. Nesse primeiro momento não tem a integração das áreas. [...], é o primeiro passo. A coisa mais difícil do mundo é reunir os professores. Se você falar que vai fazer uma reunião para falar sobre integração, os professores não vêm. (Técnico- Pedagógico 1)

Apesar de considerarmos um começo, no sentido da realização do planejamento, deve- se manter a proposta de alcançar o planejamento do currículo numa perspectiva de totalidade, pois, caso contrário, se manterá a fragmentação.

Entendemos, diante do exposto, que além da falta da compreensão do docente em relação à importância dos momentos de planejamento compartilhado, a questão também está relacionada à falta do entendimento de que a atuação do docente não está limitada às atividades em sala de aula. Nesse sentido, é importante destacar que, com raras exceções, os docentes efetivos dos Institutos Federais ingressam no cargo de Dedicação Exclusiva.

Quanto ao tempo de permanência semanal do docente no Campus, os Técnicos- Pedagógicos informaram que é uma média de três dias por semana. Em vista disso, no sentido da perspectiva do desenvolvimento de um curso integrado, um dos Técnicos-Pedagógicos declarou:

[...] eu acho que não se consegue não. O professor teria que vir aqui um dia só para isso, pelo menos um turno. Acho que no começo, tinha que ser toda semana, depois poderia ser de quinze em quinze dias. Eu acho que primeiro tinha que ser por área, para fortalecer, e depois, quando as ideias estivessem maduras, tinha que ser o grupão, para fazer o planejamento por série. Isso seria bom para ajudar a organizar a vida deles (dos professores) porque a gente sabe que tem professor que não sabe fazer (a integração). (Técnico-Pedagógico 1)

Em relação ao plano individual do componente disciplinar, os Técnicos-Pedagógicos afirmaram que não existe uma normatização quanto a obrigatoriedade da elaboração e entrega deste documento, entretanto, “existe uma demanda, um pedido, mas nada formalizado”. Os entrevistados declararam que na Semana Pedagógica se estabelece um prazo para a entrega, contudo não ocorre essa entrega de forma sistematizada.

Cabe destacar que o procedimento de entrega do planejamento do componente disciplinar é de suma importância para que a Equipe Técnico-Pedagógica possa realizar uma compatibilização dos conteúdos e metodologias propostas com o PPC, além de facilitar a proposição de atividades integradoras do currículo.

Considerando que alguns dos docentes não tiveram acesso ao PPC, perguntamos se era dada alguma orientação a esse respeito e obtivemos como respostas: “a gente entrega a ementa da disciplina, mas o projeto do curso, não”. A orientação é dada “de forma muito pontual. Quando o professor chega, ele é atendido por alguém da equipe, mas nem todos têm essa preocupação. Não existe um procedimento formalizado”.

Por fim, cumpre-nos destacar que, no nosso entendimento, todas as questões levantadas durante a entrevista com os Técnicos-Pedagógicos, são decorrentes, também, da falta um planejamento próprio das ações da Coordenação Pedagógica, e mais ainda, da ausência de uma definição sobre as competências desses profissionais, enquanto mediadores do processo educativo no Campus.