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O município de Laranjal do Jarí

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Este trabalho foi desenvolvido no extremo sul do Estado do Amapá, no município de Laranjal do Jari, distante a 265 km da capital Macapá. Paixão (2008, p.81) afirma que “das terras pertencentes ao município quase 100% foram destinadas a parques, reservas e áreas privadas, restando apenas 32 km² consideradas patrimônio do município”. O município está localizado em área de fronteira entre os estados do Pará e do Amapá, sendo separado pelo rio Jari.

Oficialmente, o município de Laranjal do Jari nasceu a partir da lei nº 7.639 de 17 de dezembro de 1987. Contam os mais velhos moradores da região, que às margens do rio Jari havia alguns pés de laranjas plantados, e quando as pessoas iam colhê-las se referiam ao local como laranjal, daí o nome Laranjal, em associação à plantação da fruta e Jari em consonância ao nome do rio que banha o trecho sul do Estado. Entretanto, há outras versões que tentam explicar a origem do nome da cidade. Uma delas diz que o nome foi importado de Santarém, interior paraense.

A extensão territorial do município é de 31.170,3 km², entretanto 80,71% é composta por unidades de conservação e 12,% é de área indígena.

Segundo Clareto (2003, p.74), antes ao surgimento da cidade com tal nome, “a mesma era conhecida como Beiradão”.8 Pois, após a instalação de um mega empreendimento dentro da floresta amazônica, e que ficou conhecido como “Projeto Jari”, do lado paraense, no final dos anos de 1960, iniciou-se um grande processo de migração para a região. Pessoas vindas do nordeste, principalmente Maranhão, Piauí e Ceará e de outros estados do norte. Entretanto, com o surgimento do Projeto nos arredores da região, originou-se, também, uma aglomeração sobre palafitas às margens do rio Jari. Inicialmente, segundo historiadores locais, era um lugar muito violento e, devido a algumas outras mazelas registradas, o local foi chamado de “a maior favela fluvial a céu aberto de mundo”, famosa pela prostituição e desprovida de condições básicas de saneamento e salubridade.

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Beiradão é um vocábulo que apresenta em seu bojo sentido polissêmico em Laranjal, mas, também éreconhecido como o nome dado à cidade de Laranjal do Jari, quando das suas origens. Contudo, atualmente o uso do termo é evitado pela população local por ser considerado pejorativo.

28 De acordo com Paixão (2008, p.78), o “Beiradão era uma ocupação desordenada que se fortaleceu em áreas impróprias para habitação”. No início, após a implantação do projeto o Beiradão amargou sérios problemas com a ausência de saneamento, enfrentando precárias condições de salubridade; esgoto a céu aberto; alta densidade de resíduos sólidos e lixo sem coleta regular; ausência de mobilidade e acessibilidade urbana; e, principalmente, as arriscadas circunstâncias de habitabilidade, que se enraizaram ao longo de décadas.

Segundo a mesma autora, as pessoas que lá moravam, eram trabalhadores que vinham em busca de emprego no Projeto Jari, como não havia lugar para todos, muitos, sem condições de voltar aos seus locais de origem, acabavam ficando e ocupando um local para morar provisoriamente, nas margens opostas ao Pará, no lado do Estado do Amapá.

De acordo com Clareto:

No lado paraense, onde ficava o projeto Jari tinha toda uma infraestrutura composta por escolas, supermercados, rede de esgoto, coleta de lixo, igrejas, clubes, hospitais etc. Enquanto na margem oposta, onde estava Laranjal do Jari, não havia nada disso. O estilo norte americano na arquitetura é muito presente. A vila, conhecida como Monte Dourado, estava dividida em áreas que possuíam a infraestrutura compatível com o “nível” do funcionário na empresa. (2003, p.86)

As casas eram amplas, de alvenaria, com dois quartos ou mais, sala, cozinha, garagem, um quintal grande com muitas árvores frutíferas e um jardim na frente. Eram casas, segundo os padrões da época, de alto nível.

A Figura 2 mostra uma casa, construída pelo projeto Jari, para abrigar os funcionários e suas famílias, em Monte Dourado, no lado paraense. Elas apresentam o aspecto de residência no estilo americano, sem grades nas portas ou janelas, um jardim na frente, e muitas árvores ao fundo, fazendo um imenso contraste com as construídas no Jari, do lado amapaense.

Fonte: Arquivos do Projeto Jari – 1981.

Figura 2 - Casa em Monte Dourado/PA, construída pelo projeto Jari

29 As famílias que moravam do lado paraense não atravessavam para Laranjal do Jari, pois havia certo medo devido a falta de segurança existente no lado Amapaense. Os imóveis em Monte Dourado eram cedidos para uso do empregado e sua família enquanto durasse o contrato de trabalho, após o término deste, caso não fosse renovado o contrato de trabalho, o imóvel revertia ao patrimônio da empresa. Às despesas com água, e luz eram, integralmente, de responsabilidade do Projeto Jari. Que também, fornecia aos seus colaboradores cesta de alimentos.

Conforme Paixão (2008, p.90), em contra partida as casas em Laranjal do Jari eram feitas de madeira retirada da floresta, “elas iam sendo construídas às margens do rio Jari, sobre esteios, que eram fixados no chão”. Após o processo de fincar uma espécie de quadro modular, que daria origem a casa, levantava-se as paredes e o teto, o teto era coberto com telhas de amianto. Todas eram ligadas por passarelas feitas de madeira. Como não havia coleta de lixo, nem sistema de esgoto todos os descartes eram jogados diretamente no rio.

A Figura 3 nos mostra como a casa ficava após pronta. De aspecto humilde, mas local de abrigo de centenas de famílias durante o auge do projeto Jari, no lado paraense, durante os de 1969 à 1982. Podemos ter uma visão geral sobre as residências no lado paraense e no lado amapaense.

Fonte: Arquivos da Prefeitura do Jari – AP - 1982

Como podemos notar havia e há desproporcionalidade no modo de vida das pessoas de ambos os lados, quando comparamos as construções do lado paraense, onde fica o projeto Jari e o lado amapaense, onde hoje está situada a cidade de Laranjal do Jari, percebemos a discrepância de relações de poder econômico existente no local. Notamos a completa falta de

30 planejamento urbanístico no lado amapaense.

Com base em Ferreira (2008, p.149) para o qual o “planejamento é um instrumento básico de orientação, através da sistematização de ações que devem fazer parte das decisões dos agentes públicos ou privado”, este instrumento expressa um conjunto de ações que podem ser trabalhadas durante um determinado período, trazendo na sua essência a visão de futuro, por isso, não pode ser imediatista, porém deve assegurar os caminhos de desenvolvimento a médio e longo prazo de uma cidade. Em um município como um percentual baixo de terras para serem usadas no perímetro urbanístico, os planejamentos que visem a expansão no entorno da cidade necessitam de estudos longos e autorização de vários órgãos ambientais para poderem se concretizar.

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