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Projeto Jari

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Um dos principais empreendimentos localizado no sul do Amapá é o Projeto Jari, uma fábrica de produção de celulose em pasta instalada às margens do rio Jari, no lado paraense, cujo objetivo inicial era produção de celulose para abastecer o mercado internacional na área de produção de papel à base de celulose e também foi a forma que o governo viu para fomentar o desenvolvimento industrial da região. Um investimento de bilhões de dólares feitos pelo visionário americano Daniel Keith Ludwig deu origem ao mega empreendimento, durante o Governo Militar no Brasil. A dimensão da área adquirida para instalação da indústria era gigantesca, do tamanho da Bélgica.

Entre os anos de 1967 a 1982, o empresário americano adquiriu uma grande área das terras do município, mas especificamente às margens do rio Jari, no lado pertencente à região do Estado do Pará, na época, mesmo sob a desconfiança dos militares e de certa parcela da sociedade, que temiam pela soberania nacional sobre aquela área inabitada da floresta amazônica, ele iniciou o seu mega projeto agroflorestal e industrial, fazendo surgir milhares de vagas em emprego formal na região, provocando com isso intenso processo migratório para o local, em vários períodos ou ciclos de produção.

Segundo Ferreira (2008, p.79) “Ludwig foi um dos homens mais ricos na época, o investimento na construção de uma usina de celulose, no meio da floresta amazônica, era um dos maiores do planeta”. Além da extração da celulose, havia a proposta de cultivar o maior arrozal do mundo dentro do perímetro do projeto, sem falar que a maior das reservas de caulim da terra estava no meio de seu empreendimento. E por ser uma propriedade privada, todas as etapas de negociação entre os militares e o empresário era envolto em grandes mistérios e segredos. Devido à localização geográfica deste empreendimento, o governo da época o isentou de vários impostos, normalmente cobrados a outras empresas, tais isenções enquadravam imposto de renda, imposto de exportação, impostos estaduais, dentre outros, por um período de dez anos.

A ideia inicial era que, além do Projeto Jari, outros investimentos pudessem surgir no decorrer dos anos seguintes, incentivados pela iniciativa do americano. Então foram construídos portos, ferrovias e mais de nove mil quilômetros de estradas.

Ferreira (2008) acrescenta que a desconfiança dos militares e da sociedade foi superada, considerando que a geração de renda e o povoamento provocado pelo empreendimento poderiam compensar as isenções e o risco de um investimento estrangeiro

31 dentro da região amazônica. Considerando que todos os investimentos que seriam feitos em infraestrutura, em plena Amazônia, já eram suficientes para justificar a isenção, por um determinado período de alguns impostos.

Dessa maneira o Vale do Jari tornou-se uma alternativa de chances para dias melhores na vida de milhares de trabalhadores. Mesmo com todos os problemas surgidos, advindos da instalação da empresa na região o governo militar continuou acreditando que os investimentos seriam bons e que dariam retorno ao país. Entretanto não foi o que aconteceu. Com o surgimento desse empreendimento apareceu também, toda uma cadeia de ações que transformou os lugares próximos em bolsões de pobreza.

Ferreira (2008) descreve que com a instalação de uma economia de escala na região ocorreu uma sequência de ações que trouxeram à população local problemas sociais e ambientais nunca vivenciados. Um contraste da ocupação do Vale do Jari acontece no encontro do capital produtivo exógeno com a cultura ribeirinha do caboclo da Amazônia, que levou a suplantar vidas que não se adaptaram à situação imposta. A falta de preparo intelectual e profissional dos que estavam e dos que chegaram ajudou na afirmação da contradição não ocorreu uma miscigenação e sim uma imposição sobre a cultura local. O processo de urbanização se deu de forma mal planejada.

Na Figura 4 temos a fábrica do projeto em funcionamento. Podemos notar que sua instalação está às margens do rio Jari, construída propositalmente para facilitar o escoamento da produção por via fluvial.

Fonte: Arquivos da empresa Jari Celulose – 2000.

Conforme indica Nascimento (2005, p.48), mesmo com todos os incentivos, o empreendimento faliu, fazendo com que Ludwig desistisse do negócio no início dos anos 80.

32 Assim, “em 1982, o projeto Jari, foi vendido ao empresário Augusto de Azevedo Antunes, associado à 21 outras empresas”, as quais ficaram no comando até início dos anos de 1990. Em 1991 a Companhia teve mais uma vez seu controle acionário repassado para outra empresa. Desta vez foi para a multinacional Companhia Auxiliadora de Empresa de Mineração (CAEMI), que passou a controlá-la. No inicio do ano 2000, o grupo Orsa tornou- se parte majoritária, quando esta foi vendida pela CAEMI. Hoje o empreendimento chama-se Jari Celulose Papel e Embalagens S.A e pertence a este último grupo. Após estudos de viabilidade de mercado ela não só se mostrou economicamente viável como também, em 2004, recebeu certificação pelo “Forest Stewardship Council”.

De acordo com Paixão (2008), a despeito de tal empreendimento, a fábrica de celulose do Projeto Jari, é importante tecer considerações acerca de alguns aspectos. Mesmo estando instalada na outra margem do rio Jari e, portanto, no Distrito de Monte Dourado, Estado do Pará, hoje produz expressivo movimento econômico em Laranjal do Jari. O comércio de varejo funciona intensamente atendendo a todo o Vale do Jari, gerando postos de trabalhos. Parte da mão-de-obra contratada direta ou indiretamente pela empresa mora na cidade que fica do lado amapaense.

Segundo o Grupo Orsa, atualmente há o direcionamento de 1% de todo faturamento bruto da empresa investido em ações sociais, como contra partida, através de projetos executados pela Fundação Orsa nos municípios que compõem o Vale do Jari – Laranjal do Jari, Vitória do Jari no Amapá e Almeirim, Monte Dourado no Pará. Eles informaram que a empresa participa da comercialização de produção de celulose, com um ativo financeiro que representa 15% do mercado interno e 3% do mercado mundial de celulose.

A produção da Jari Celulose, Embalagens e Papel S/A está distribuída em extração de celulose, de produtos da floresta, estes incluem produção madeireira e não madeireira, de minério de caulim e de processamento da silvicultura.

Contudo existem outros empreendimentos em execução dentro do Vale, podemos citar alguns deles: a construção da usina hidrelétrica de Santo Antônio do Jari, pela empresa portuguesa EDP; a construção do linhão de energia de Tucuruí, que proporcionará ao Amapá energia elétrica gerada por hidroelétricas, em substituição às termos elétricas.

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