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CAPÍTULO III – MITOS HERÓICOS E A PEDAGOGIA

3.1 OS SÍMBOLOS COMO INSTRUMENTOS CONSTRUTORES

3.1.1 Caxias – O Patrono

3.1.1.2 O Pantheon de Caxias

O translado dos restos mortais de Caxias e sua esposa ocorreu em uma glamurosa cerimônia (Anexo G) que mobilizou toda a guarnição do Rio de Janeiro. O acontecimento foi documentado em fotos, que hoje são encontradas no Arquivo Histórico do Exército (AHEx). A cerimônia de exumação dos restos mortais (Anexo H) de Caxias e de sua esposa, Anna Luiza de Loreto Viana Lima, se deu na manhã do dia 23 de agosto de 1949, estando presente ao ato autoridades militares e familiares do duque.

Depositados em uma urna especial, os ossos são transportados inicialmente para a capela do cemitério, sendo vigiado por guardas até a manhã do dia 24. Após as 9:00 h, os despojos são transladados sobre os ombros de soldados do 1º Batalhão de Guardas, em uniforme de parada, até um carro que os transportou para a Igreja de Santa Cruz dos Militares. Nesse local realizou-se uma missa solene (Anexo I) e uma vigília cívica, composta por quatro oficiais e dois sargentos, e que perdurou até as 8:00 h do dia 25 de agosto. Na manhã do dia 25 (data do nascimento de Caxias), reiniciou-se o translado dos restos mortais para o Pantheon. O Cortejo foi seguido por uma carreata composta por civis e militares do Exército, Marinha e Aeronáutica.

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Pantheon = Panteão: monumento para perpetuar a memória de homens ilustres e que em geral contém seus restos mortais (PANTEÃO, 2006).

Neste mesmo dia foi finalmente inaugurado o monumento a Duque de Caxias - O Pantheon, com a colocação dos restos mortais do duque e de sua esposa.

Na cerimônia última deste evento (Anexo J), encontravam-se presentes militares e políticos, que, ao som de canções, viram Mendes de Morais, Prefeito do Distrito Federal, após um caloroso discurso, entregar o Pantheon ao Exército. A manutenção da obra ficaria, a partir daquela data, a cargo da prefeitura e sua guarda sob responsabilidade do Exército.

O monumento, que é revestido com mármore branco, serve de base para uma estátua esculpida pelo artista Rodolfo Bernadelli60. Na obra, Caxias aparece montado em um cavalo, que, segundo seus idealizadores, lembra sua entrada triunfal em Assunção após a vitória sobre Solano Lopes. Nos degraus mais baixos do monumento, que tem uma altura aproximada de dez metros, estão afixados desenhos em baixo relevo, feitos em placas de cobre, que simbolizam a tomada da ponte de Itororó e a entrada do Exército brasileiro no Paraguai.

Ao adentrar o QG, tem-se a sensação que o mundo ficou para trás, num pátio ladeado nos quatros cantos por prédios que abrigam as diversas repartições administrativas, e perde-se a visão da paisagem do lado de fora. As representações artísticas que rememoram os patronos estão presentes nas diversas salas e corredores que abrigam a administração do CML, e da 1ª RM – Primeira Região Militar (Anexo K).

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Apesar de nascido no México, Rodolfo Bernadelli se formou e lançou suas obras no Brasil. Naturalizou-se brasileiro em 1874. Em companhia da família (foi irmão dos também artistas Henrique Bernardelli e Felix Bernardelli), deixou seu país natal em 1866, passando pelo Chile e Argentina e fixando moradia no Rio Grande do Sul. De lá se mudou para o Rio de Janeiro, onde freqüentou entre 1870 e 1876 aulas de escultura e de desenho de modelo vivo. Viveu alguns anos na Europa, estudando em Roma. De volta ao Brasil, passou a atuar como professor de escultura estatuária na Academia Imperial de Belas Artes e como diretor na recém-criada Escola Nacional de Belas Artes, que chefiou por 25 anos. Deve-se a ele a construção do atual edifício. Um dos nossos maiores escultores, deixou uma extensa produção, entre obras tumulares, monumentos comemorativos e bustos de personalidades. Executou as estátuas que ornamentam o prédio do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, o Monumento a Carlos Gomes em Campinas, uma estátua de Dom Pedro I para o Museu Paulista da Universidade de São Paulo na cidade de São Paulo e uma estátua de Pedro Álvares Cabral. Parte considerável de seus trabalhos foram doados para a Pinacoteca do Estado. (RODOLFO..., 2008).

É impossível ao soldado, uma vez ou outra, no dia-a-dia da rotina de trabalho, não se achar viajando no tempo, ante às obras sempre colocadas em lugares estratégicos, à visão das pessoas que ali transitam. O exemplo é o quadro pintado por Miranda Júnior, exposto na parede do antigo gabinete do Ministro, em cores vivas, onde Caxias, Ministro da Guerra de 1855, aparece de pé, impecavelmente fardado, em pose ereta, segurando uma planta, e tendo ao seu redor: Porto Alegre, o militar que se destacou na Guerra do Paraguai; Osório, Patrono da Arma de Cavalaria; e Polidório, comandante da Escola Militar da Praia Vermelha. O artista sugere que Caxias esteja discutindo com seus auxiliares a construção da escola militar.

Outro trabalho que chama a atenção dos que transitam no palácio é o vitral que se encontra no saguão de entrada. A obra, pela sua dimensão (13 metros de altura), abrange dois andares, e mostra o “Duque de Caxias em Itororó”. Ao subir ou ao descer, o soldado certamente irá se impressionar com a magnitude da obra. A luz vinda de fora projeta no vitral a sua claridade, causando sensação de vida à paisagem ali retratada.

No Salão Nobre do palácio, em outros cinco vitrais colocados no teto, segue-se o mesmo objetivo. Neles são representados: “A Batalha de Guararapes”, “A Defesa das Fronteiras”, “A Batalha do Avaí”, “A Proclamação da República” e “A Pátria Brasileira”.

A beleza arquitetônica do palácio, que já mereceu estudos de diferentes especialistas da arte, deve ser entendida muito mais do que como resultante de um concurso onde participaram renomados artistas. Um olhar perspicaz perceberá que a glorificação é parte de um culto simbólico estrategicamente construído. Muito mais do que objetos de decoração do local, as obras destinam-se a inculcar no homem os valores de uma ética.

As obras de escultura e os monumentos de exaltação ao duque e aos patronos não se restringem ao PDC ou à cidade do Rio de Janeiro. O busto de Caxias, em arte tridimensional, está presente em todo o território nacional, seja no pátio do quartel ou nas praças das cidades, as quais normalmente levam também o seu nome. Por

obrigatoriedade do regulamento, toda unidade militar do Exército tem que possuir um quadro com o retrato do duque. No entanto, será muito difícil encontrar um quartel do Exército onde não se veja também o busto de Caxias e do patrono da Arma a qual pertence aquela organização militar.

Quem entra em uma instituição militar certamente vai se deparar com esculturas ou quadros colocados em lugar de destaque. Em geral o vulto aclamado está impecavelmente fardado, com olhar voltado para o horizonte, transparecendo o “ar de vitorioso”, chamando a atenção dos que por ele passam. No peito ostenta as medalhas, representando as honrarias que recebeu ao longo de sua carreira ou no pós-morte. Legendas são colocadas abaixo da peça onde consta o posto, o nome do homenageado e a posição que ocupa no culto à sua personalidade.