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O papel do ambiente e sua influência sobre as formas de vida

Atualmente, e principalmente desde o advento da Ecologia enquanto ramificação do saber biológico, cuja premissa – muito pertinente – é de que a vida (os vivos) deva ser estudada em uma perspectiva sistêmica, observando assim as trocas, os fluxos possíveis de energia e matéria que acabam por percorrer essa grande e complexa trama relacional. A integração entre as formas de vida, o estudo dos nichos ecológicos, da etologia dos diferentes grupos e a verificação exata da posição das espécies em diferentes níveis das relações tróficas, nos permite conhecer mais dos organismos vivos, em sua interação – em seu modo de vida ativo – em uma ordem que é da relação, e não mais apenas fixo (estático) emoldurado no imenso quadro da classificação biológica20.

Mesmo assim, muito antes da Ecologia se constituir como conhecimento Biológico, como uma Ciência Biológica propriamente dita e ampliar a análise sobre os elementos da biodiversidade, Darwin21 já havia ressaltado o papel do ambiente

como elemento determinante na evolução das espécies. Segundo a sua teoria da evolução, são as distintas pressões seletivas exercidas pelas condições ambientais sobre os vivos que permitem a continuidade da existência de formas de vida cada vez mais aptas, adaptadas a realizar suas funções biológicas em um determinado meio.

Ainda, nesse momento de minha escrita, é preciso ressaltar a existência de algumas importantes condições que possibilitaram ao conhecimento biológico trilhar seu caminho, atingindo assim seu status epistemológico atual onde se pode perceber um acúmulo do saber biológico. Nas observações que seguem acerca

20 Aqui não pretendo diminuir a importância tanto da Taxonomia quanto da Sistemática na integração

dos saberes sobre os vivos, mesmo porque inegavelmente esses dois ramos do conhecimento biológico são essenciais para o conhecimento estrutural das mais distintas formas de vida e para o estabelecimento das relações de parentesco entre esses seres. O que pretendo reafirmar é que o deslocamento da perspectiva de análise dos elementos da biodiversidade, no sentido da emergência de um olhar ecológico, foi um ganho para a compreensão acerca das formas de vida, das possibilidades de vida, não mais apenas em um patamar individualizado – do ser isolado -, mas um ganho na percepção do cientista que pode analisá-lo sob um prisma mais completo e complexo, executando suas funções biológicas seja perante seus iguais, seja perante outras espécies ou frente ao meio, ao ecossistema que ajuda a manter.

21 Charles Robert Darwin (1809

dessas condições de possibilidade, o papel do ambiente se perceberá muito evidenciado em sua interface com os organismos vivos tanto no que tange a sua influência seletiva sobre essas formas de vida quanto como o lugar que permite à biodiversidade estabelecer uma série de relações ecológicas.

Se foi a partir do desenvolvimento da Taxonomia e da Sistemática que a História Natural fez nascer uma vontade de saber sobre os vivos, foi com Cuvier22 e seus estudos de anatomia comparada, e mais tarde com o próprio Darwin – e sua teoria da evolução – que a possibilidade da vida foi atribuída às questões inerentes ao ambiente. Essa ligação, principalmente pós-Darwin, se dá de maneira lógica, sendo para a Biologia moderna, vida e ambiente, indissociáveis: um interferindo sobre o outro.

Originam-se nas semelhanças anátomo-fisiológicas observadas por Cuvier entre os séculos XVIII e XIX, e logo em seguida explicadas pelo Darwinismo e seu evolucionismo, os elementos que impulsionaram o conhecimento biológico a trilhar o caminho da aceitação de que a vida e a Terra co-evoluem. Adiante, no século XX, veremos a Genética confirmando tal hipótese, principalmente no que diz respeito à variabilidade, a seleção de estruturas mais adaptadas ao meio e à própria Ecologia em uma perspectiva mais ampla e sistêmica. Aqui se nota um aprimoramento nos modos de se compreender a vida, suas diferentes formas, de se estudar os vivos.

O fato é que, se desconsiderado o fator ambiental, todo e qualquer conhecimento que possa ser produzido a partir dos saberes sobre os vivos deve ser desconsiderado em face de sua incompletude. Se conhecer os seres em sua individualidade é uma condição essencial, em um mesmo patamar de importância, temos que é necessário estudá-los na relação tanto com seus iguais quanto naquelas estabelecidas frente às outras espécies. E ainda, somando-se a isso, os modos como ele se utilizam do ambiente – como vivem – e, a partir disso, a quais tipos de influências ambientais estão expostos? A quais pressões seletivas?

Ao perceber a importância do conhecimento dos elementos ambientais, a Biologia se aproxima mais de seu objetivo que é compreender a vida, não abstrata, mas uma vida em andamento, ativa, em ação. Durantes as minhas leituras – todas direcionadas à análise dos livros didáticos - percebi que muitos dos autores, em seus textos, se preocupam com essa aproximação vida/ambiente. Alguns, inclusive,

têm tamanho cuidado que propõe outra maneira de iniciar o livro: trabalhar já de antemão elementos de Ecologia. O que antes, inicialmente e, via-de-regra, era explorado superficialmente apenas com a apresentação dos níveis de organização tanto moleculares quanto ecológicos, justificando a relação entre vida e ambiente, agora – por alguns – passa a ser colocado de maneira mais clara, destacada e apontada com o devido cuidado, atenção e relevância.

Além disso, outra maneira de formatação da distribuição do conteúdo que corresponde a uma maneira mais ―clássica‖, no sentido daquilo que se costuma observar com certa frequência, é a opção de exploração das condições que tornaram possíveis a vida na Terra, mas até mesmo antes disso: o que tornou o universo possível? E, a partir daí, quais eram as condições ambientais da Terra primitiva e como se deu o surgimento do primeiro ser dotado de vida?

Como veremos na sequência, algumas teorias do meio científico são trabalhadas pelos livros didáticos de Biologia no sentido de elucidar os possíveis modos de surgimento da vida, mas antes delas serem citadas - e as devidas considerações resultantes de meu olhar analítico sobre esses livros serem expostas e debatidas - é preciso considerar que uma explanação acerca da origem do universo é de grande utilidade para que se possa posteriormente compreender como esse entendimento facilita a lógica de um raciocínio ―linear‖, sequencial, como a que tenho percebido analisando os livros de que disponho.

12.2 A teoria do Big Bang e sua contribuição para a compreensão do