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Parte I – Enquadramento teórico

4. O papel crucial da relação pedagógica

Os professores que oferecem um ensino diferenciado centram-se no papel de treinadores e atribuem aos alunos o máximo de responsabilidade sobre o seu processo de aprendi- zagem e ensinam-nos a lidar melhor com as situações. O ensino diferenciado exige que os docentes concebam a sala de aula como local privilegiado de ensino e aprendizagem (Tomlinson, 2008, p. 35).

As relações humanas são peça fundamental na organização escolar. A relação pedagógica envolve interesses e interação, sendo este o expoente das consequências do que se desenrola na escola.

O modo de agir dos professores na sala aula reflete os seus valores perante a vi- vência em sociedade. Durante a atividade letiva, o docente, sem se aperceber, está a dar um pouco de si, passando para os alunos, aquilo que ele é. Estabelecer relação de afeti- vidade, confiança, empatia e respeito é determinante para garantir que os alunos adqui- ram as competências, estando estes mais motivados para o processo ensi- no/aprendizagem (P. S. e. Silva, 2007).

O facto de o professor manifestar interesses, ter capacidade de ouvir, refletir e discutir facilita o processo de aprendizagem por parte do aluno que estará mais atento e apto para aprender. A relação professor/aluno não deve ser uma relação de imposição, mas sim uma relação de cooperação, de exigência mútua de respeito e de crescimento.

O discente deve ser levado em consideração como um sujeito interativo e ativo no processo de construção de seu próprio conhecimento, assumindo o professor um pa- pel fundamental nesse processo. O professor e os colegas formam um conjunto de me- diadores da cultura que possibilitam progressos no desenvolvimento humano e escolar da criança.

Nas turmas de Percurso Curricular Alternativo o professor é, numa perspetiva construtivista, considerado como o ator facilitador do sucesso de aprendizagem destes alunos: “O professor será cada vez menos mero transmissor de informação e/ou de co- nhecimento, para se transformar de forma crescente num tutor das aprendizagens pesso-

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ais e grupais (R. V. d. Silva & Silva, 2004). A aprendizagem é uma atividade multidi- mensional que não deixa de lado nada que diga respeito à pessoa de cada aluno, pois a cada um mobiliza na sua inteireza pessoal, para conseguir progredir nas aprendizagens propostas pela escola e pelos professores. Aliás, estes modelos de ensino e de aprendi- zagem só são eficazes se inseridos numa escola que os enquadra e potencia, ou seja, escolas com o foco na melhoria dos processos pedagógicos porque focada nos resulta- dos dos alunos, que se debruça sobre eles, que organiza a escola e se ocupa com os pro- gressos dos alunos, de cada um e de todos (Azevedo, 2011a).

Tendo em conta que a sociedade está a mudar e os alunos também, a escola tem de estar preparada para dar resposta às exigências da comunidade envolvente. Cada um de nós, individual e coletivamente, tem o dever cívico de participar na procura de res- postas alternativas e de enfrentar os problemas que vão surgindo. Os novos ambientes de aprendizagem que estão a surgir no âmbito da Sociedade do Conhecimento caracteri- zam-se por uma mudança no paradigma do conceito de educação, num determinado período da vida, para a aprendizagem ao longo da vida. É importante num PCA os pro- fessores estarem atentos às mudanças que vão operando, às dificuldades e avanços que se vão verificando.

Precisamos cuidar dos percursos escolares de cada um dos alunos como o má- ximo de cuidado que uma escola tem de desenvolver e aplicar. O magno objetivo social e político é o de construir passo a passo, mas com determinação uma “escola organizada de tal maneira que cada aluna se encontre o mais frequentemente possível numa situa- ção de aprendizagem fecunda para si mesmo” (Perrenoud, 2006).

Os professores não são a única fonte de informação, nem detentores únicos do conhecimento, para este passar a ser distribuído e partilhado. Estas mudanças nos papéis dos professores e, por consequência, nas suas competências, obrigam a repensar estas últimas através de uma atualização permanente ou mesmo da sua reformulação, que se torna ainda mais premente quando se tratada inclusão de alunos em risco de abandono escolar (Gonçalves, 2006). Segundo Azevedo (2011) a diferenciação pedagógica é as- sim entendida como uma otimização das aprendizagens enquanto desenvolvimento da inteligência profissional e da criatividade dos docentes e das equipas docentes e enquan- to capacitação progressiva dos alunos.

O professor deve promover os comportamentos positivos e o bom aproveitamen- to, mostrando-se compreensivo e exigente com o aluno perante algum comportamento inadequado.

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Este tem de gerir adequadamente as situações difíceis, dialogando com o aluno, chamando a atenção e aplicar uma medida sancionatória.

A gestão de sala de aula passa por uma boa relação pedagógica entre aluno e professor: um professor paciente e vigilante, que imponha regras e normas de compor- tamento, mas que compreenda o carácter único de cada aluno (Marzano, 2005). O espa- ço da sala de aula deve ser o lugar onde os professores e alunos gostem de estar, com ordem e disciplina, apelando ao sentimento de confiança e recorrendo ao trabalho coo- perativo.

Dar a estes jovens em risco de abandono escolar uma oportunidade para se senti- rem envolvidos num projeto de grupo ajudará nos momentos de partilha entre os cole- gas e professores, eliminando a “tradicional escolaridade” exclusivamente centrada em saberes disciplinares proclamados, sem ter em conta os alunos, na sua diversidade.

Feita a análise da problemática da diferenciação pedagógica e da criação dos Percursos Curriculares Alternativos percebe-se que este modelo de ensino vai ao encon- tro da diferenciação pedagógica. Aqui aplicam-se respostas adequadas a cada jovem, relativamente ao seu nível de desempenho e aprendizagem, desenhando programas que satisfaçam as suas necessidades educativas e permitindo que superem as suas dificulda- des. Deste modo, espera-se que o professor consiga gerir as matérias curriculares, os saberes já realizados, as expectativas dos alunos e os tempos a disponibilizar para tudo isto.

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Parte II – Estudos Empíricos. Fundamentação do