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Parte II – Estudos Empíricos Fundamentação do método

6. Recolha de dados

Segundo Ackroyd e Hughes (1992 citado por Reis, 2010) as entrevistas permitem que o investigador tenha acesso a relatórios verbais fornecidos pelos respondentes e que as mesmas contêm uma riqueza de informação impossível de recolher se utilizadas outras técnicas.

Existem três tipos de entrevista: a entrevista não estruturada, a entrevista estrutu- rada e a entrevista semiestruturada. Optou-se por este último tipo de entrevista porque possibilita ao investigador a construção de um guião26 com perguntas suficientemente abertas para que o entrevistado possa exprimir o seu ponto de vista sem estar agarrado a um tema ou pergunta específica.

Considerando que se pretendia neste estudo aceder aos discursos construídos so- bre as perceções de sucesso dos alunos do PCA e os significados associados a este, op- tou-se pela narrativa de histórias de vida e o instrumento que se configurou mais ade- quado para a recolha de dados foi a entrevista qualitativa que, devido à sua natureza, “proporciona maior profundidade” (Fontana & H.Frey, 1994).

Foi utilizada uma versão adaptada de um guião proposto de Dan McAdams (2001) para a condução da “construção narrativa de histórias de vida”. Segundo McA- dams, a nossa compreensão do mundo constrói-se e expressa-se através da construção de histórias, devendo a identidade ser definida como uma história de vida ou uma “nar- rativa internalizada do self”. Na sua perspetiva, a constante construção de narrativas pelos indivíduos pressupõe a utilização não apenas do que designa por “pensamento paradigmático”, empírico e racional, mas também do “pensamento narrativo”, através do qual damos significado ao mundo com base nos nossos objetivos, desejos e necessi- dades (McAdams, 2000, p. 623). O guião proposto pelo autor para a construção de his- tórias de vida fundamenta-se no pressuposto do pensamento organizado narrativamente. A sua estrutura apela à construção de histórias, que devem incluir contextos, persona- gens, acontecimentos iniciais, reações e consequências.

A pesquisa qualitativa preocupa-se com os indivíduos e com uma realidade que não pode ser quantificada, respondendo a questões muito particulares. Assim sendo, uma investigação que priorize a informação do entrevistado exige uma aproximação do

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pesquisador com os pesquisados, para que se estabeleça uma relação de confiança, valo- rizando-se mais o processo do que o produto e preocupando-se em retratar as perspeti- vas dos participantes.

Para a realização das entrevistas foram previamente elaborados guiões e proto- colos de entrevista, no qual está presente uma lista de perguntas orientadas para os te- mas e dimensões de análise que se pretendia que os entrevistados abordassem. No caso da entrevista aos alunos utilizou-se um instrumento desenvolvido no âmbito do projeto de investigação. Uma vez realizadas e gravadas, todas as entrevistas foram fiel e inte- gralmente transcritas, mantendo-se o anonimato do entrevistado, por razões éticas e profissionais. No caso dos alunos os nomes atribuídos são fictícios.

Esta opção prende-se com a convicção de que a entrevista permite uma avalia- ção prévia e o questionamento dirigido especificamente à pessoa entrevistada. A entre- vista representa uma técnica fundamental, no sentido de nos revelar a perspetiva e as representações dos sujeitos acerca da situação. Merriam (1990), por exemplo, ressalta a importância desta técnica para a obtenção dos pensamentos dos sujeitos em relação a uma determinada realidade. A entrevista propícia aos entrevistados, o enquadramento das suas experiências, sentimentos e perspetivas. A entrevista foi então utilizada para “recolher dados descritivos na linguagem do próprio sujeito, permitindo ao investigador desenvolver intuitivamente uma ideia sobre a maneira como os sujeitos interpretam as- petos do mundo” (Bogdan & Biklen, 1994, p. 134).

Neste estudo, a entrevista semiestruturada pareceu ser a opção mais aconselhá- vel. Se o entrevistado não abordasse espontaneamente alguns temas do guião, o entre- vistador poderia colocar ao entrevistado questões por si previamente definidas, o que neste caso se revelou importante, atendendo à idade dos alunos que foram entrevistados. As entrevistas foram individuais e decorreram na escola, em salas disponíveis e em horários que não prejudicassem o trabalho dos alunos. Cada entrevista demorou cer- ca de 30 a 60 minutos. Os entrevistados falaram livremente, usando as palavras que de- sejaram (Quivy, 2005). De um modo geral, os alunos interagiram de forma natural, co- locando questões, reagindo e interagindo com grande naturalidade durante a sessão.

Para efetuar a análise das transcrições, procedeu-se inicialmente a uma leitura atenta das mesmas com o intuito de encontrar palavras ou frases ligadas à problemática em estudo e que se destacassem no discurso dos entrevistados.

O resultado dessa análise foi estruturado em grelhas. As palavras ou frases pro- feridas pelos entrevistados constituíram indicadores que permitiram interpretar as con-

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ceções que os mesmos revelaram relativamente aos assuntos abordados, salvaguardan- do-se, a subjetividade das inferências feitas pela investigadora. Refira-se, por um lado, que alguns dos temas foram estabelecidos a priori na medida em que estavam associa- dos à formulação das questões que configuravam o problema de modo mais específico. Por outro lado, recorreu-se a um processo indutivo, a partir do qual se foram acrescen- tando novas categorias à medida que a análise se foi desenvolvendo de forma sistemáti- ca e num processo de comparação constante com as que já tinham sido identificadas.

Documentos

Os documentos produzidos pelas escolas são importantes fontes de informação para os investigadores que podem por este meio “ter acesso à perspetiva oficial bem como às várias formas como o pessoal da escola comunica” Neste estudo de caso, a recolha de documentos privilegiou os documentos oficiais do agrupamento/escola e que podemos definir como sendo do âmbito da comunicação externa (Bogdan & Biklen, 1994) e que permitiram obter informações relevantes para uma melhor compreensão do fenómeno a investigar.

Destacam-se, de entre outros, os seguintes documentos: Regulamento Interno; Projeto Educativo; Legislação sobre Percursos Curriculares Alternativos (Despacho Normativo nº 1/2006); Projeto da turma de Percursos Curriculares Alternativos (PCA); Projeto Curricular da turma de PCA; Processos individuais dos alunos da turma de PCA; Atas de reuniões do Conselho da turma de PCA; Avaliação intercalar dos alunos da turma de PCA; pautas de avaliação de final de período.

Perante a complexidade e diversidade dos documentos a analisar, foi necessário separar o essencial do supérfluo e descobrir o sentido que os documentos tinham no processo da investigação. Apesar de a sua análise não ter obedecido a um esquema es- truturado, possibilitou uma contextualização do campo em que se insere a escola, tendo esses documentos analisados a função de poderem “completar as informações obtidas por outras técnicas” (Ludke & Marli, 1986).

Foi seguido um conjunto de normas e princípios que possam conferir um carác- ter íntegro ao trabalho, tais como a proteção da identidade dos participantes, o tratamen- to respeitoso dos sujeitos por parte do investigador, a negociação da autorização para a realização do estudo e a autenticidade na apresentação dos resultados. Foi com base nestas preocupações que a investigação foi feita, tendo havido ao longo de todo o pro-

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cesso o cuidado de manter comportamentos e procedimentos que assegurassem a ido- neidade da investigação.

Antes de se avançar para o próximo capítulo é necessário fazer uma advertência. Esta dissertação não tem a pretensão de estudar este fenómeno em toda a sua complexi- dade, sendo apenas um estudo de caso de uma situação em concreto. Apesar dessas li- mitações, os processos acima descritos permitirão obter dados fidedignos e relevantes para a compreensão do problema central em causa: a importância da relação pedagógica para a promoção do sucesso dos alunos do Percurso Curricular Alternativo.

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VI – Apresentação e Análise dos Resultados do Estudo

Neste capítulo apresenta-se a descrição e análise interpretativa dos resultados, procu- rando-se dar resposta às questões de investigação, bem como compreender o significado que os alunos deste estudo atribuem à relação pedagógica.

Tornou-se pertinente analisar as seguintes dimensões:

a) Concetualizações diferenciais que os atores envolvidos no estudo atri- buem ao percurso escolar;

b) Forma como a escola promove a inclusão e a igualdade de oportuni- dades;

c) Relevância da relação pedagógica no sucesso escolar, bem como o in- centivo para a escola.