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O PAPEL DA EDUCAÇÃO NOS TEMPOS DEMOCRÁTICOS

Como já foi exposto no primeiro capítulo, Tocqueville é, par excellence, o pensador da democracia. Não é um pedagogo ou um teórico da educação38. Mas, apesar disso, empreendeu boas reflexões sobre o tema da educação e da instrução pública. O capítulo presente aborda a relação entre democracia, moral, educação/instrução e liberdade estabelecidas pelo autor.

Segundo Tocqueville, as eras democráticas influenciam também, como não poderia deixar de ser, a instrução dos povos. Como um fato total, a democracia influencia inclusive a literatura.

Nas democracias, é muito necessário, pois, que todos os homens que se ocupam da literatura tenham recebido uma educação literária e, entre aqueles que têm algumas tintas de belas-artes, a maior parte siga uma carreira política ou abrace uma profissão da qual não se podem desviar senão temporariamente, para gozar furtivamente dos prazeres do espírito. Por isso, não fazem de tais prazeres o encanto principal da sua existência, mas os consideram como um descanso passageiro e necessário, no meio dos trabalhos sérios da vida: tais homens jamais poderiam adquirir o conhecimento bastante profundo da arte literária, para sentir as suas delicadezas; as pequenas nuanças lhes escapam. Tendo apenas um tempo demasiado curto para dedicar às letras, desejam aproveitá-lo por inteiro. Amam os livros que se obtêm sem dificuldade, que se lêem depressa, que não cheguem a exigir pesquisas doutas para serem compreendidos. Pedem belezas fáceis, que se entregam espontaneamente e das quais se possa gozar no momento; precisam, antes de tudo, do inesperado e do novo. Habituados a uma existência prática, cheia de lutas, monótona, precisam de emoções vivas e rápidas, de claridades súbitas, de verdades ou de erros brilhantes, que os tirem momentaneamente de si mesmos e os introduzam de repente, como que violentamente, no meio do tema (1987, p. 358)39.

38 “Tout ce qui se raporte à l’instrution publique n’a, à primière vue, qu’une importance minuere dans

l’oevre d’Alex de Tocqueville. L’auteur de La Démocratie em Amérique ne fut, Il est vrai, ni un pédagogue ni un théoricien de l’enseignement [...]” (Chabot, 1996, p. 211).

39 “Passaria eu além do meu pensamento, se dissesse que a literatura de uma nação é sempre

subordinada ao seu estado social e à sua constituição política. Sei que, independente dessas causas, há várias outras que dão certo caráter às obras literárias; estas, porém, parecem-me as principais” (Tocqueville, 1987, p. 359).

A instrução dos homens democráticos é diferente da dos homens dos séculos aristocráticos. Quando muda o estado social, mudam os objetivos e interesses da educação. Assim,

[é] isto que se faz entender bem. Um estudo pode ser útil à literatura de um povo e em nada ser apropriado às suas necessidades sociais e políticas. Se nos obstinássemos a ensinar apenas as belas-letras, numa sociedade onde cada qual fosse habitualmente levado a fazer violentos esforços para aumentar a sua fortuna ou para mantê-la, ter-se-iam cidadãos muito educados e muito perigosos, pois, dando-lhes o estado social e político, todos os dias, necessidades que a educação nunca os ensinaria a satisfazer, perturbariam o Estado, em nome dos gregos e dos romanos, em vez de fecundá-los para a sua indústria (Tocqueville, 1987, p. 360)40.

Então, para a segurança relativa do Estado, se faz necessária uma instrução, para a massa da sociedade, é claro – pois Tocqueville acha que aqueles indivíduos “destinados” às belas-letras devem ter seu espaço garantido em qualquer sociedade –, mais adequada ao mundo moderno. O que seria essa instrução?

É evidente que, nas sociedades democráticas, o interesse dos indivíduos, tal como a segurança do Estado, exige que a educação do maior número seja científica, comercial e industrial, antes que literária41. O grego e o latim não devem ser ensinados em todas as escolas; mas é importante que aqueles que, por natureza ou por fortuna, são destinados a cultivar as letras ou predispostos a apreciá-las, encontrem escolas onde possam se tornar perfeitamente senhores da literatura antiga e imbuir-se inteiramente do seu espírito. Algumas excelentes universidades valeriam mais, para alcançar esse objetivo, que uma infinidade de maus colégios, onde mal feitos estudos superficiais impedem fazer bons estudos necessários (Tocqueville, 1987, p. 360-361).

40 Em um artigo para a Revista Brasileira de História da Educação, Josefa Eliana Souza mostra que

as idéias do pensador francês sobre educação repercutiram aqui no Brasil. A historiadora mostra como o deputado alagoano Tavares Bastos as assimilou.

41 “Não seria possível que essa visão [a visão aristocrática da ciência] fosse a mesma nas nações

democráticas. A maior parte dos homens que compõem tais nações é muito ávida de prazeres materiais e presentes, assim como está sempre descontente com a posição que ocupa, e sempre em liberdade para deixá-la, só pensa nos meios de modificar a sua fortuna e fazê-la crescer. Para os espíritos movidos por uma tal disposição, todo método novo que conduz por um caminho mais curto à riqueza, toda máquina que abrevia o trabalho, todo instrumento que abrevia o custo da produção, toda descoberta que facilita os prazeres e os aumenta, parece o mais magnífico esforço da inteligência humana. É principalmente por esse lado que os povos democráticos se apegam à ciência, as compreendem e honram. Nos séculos aristocráticos pedem-se às ciências os prazeres do espírito; nas democracias, os do corpo” (Tocqueville, 1987, p. 348).

É possível notar, na passagem acima, que Tocqueville não acredita que todos devam ter uma educação uniforme. O autor chega a ser pragmático nessa questão. A instrução deve estar voltada para as questões práticas do mundo. O pensador francês teme, e por isso une segurança do Estado com instrução, que ocorram fatos como os da Revolução Francesa, quando o povo foi instigado por intelectuais através de algumas obras de filósofos42. Nem todos os indivíduos estão preparados para as belas-letras43. Reconhece que, no mundo moderno, a agitação dos indivíduos é tão grande que sobra pouco tempo para a meditação. Esse fato desfavorece, é claro, os estudos aprofundados.

Nada é mais necessário à cultura das altas ciências ou da porção elevada das ciências do que a meditação, e nada há de menos próprio à meditação que o interior de uma sociedade democrática. Numa tal sociedade não se encontram, como os povos aristocráticos, uma classe numerosa que se mantenha em repouso, porque se acha bem, e outra que não se abale porque não espera ser melhor. Todos se agitam: uns porque desejam atingir o poder, outros, apoderar-se da riqueza. No meio daquele tumulto universal, daquele choque repetido de interesses contrários, daquela marcha contínua dos homens para a fortuna, onde encontrar a calma necessária às profundas combinações da inteligência? Como deter o pensamento sobre dado ponto, quando ao redor tudo se movimenta, e quando se é pessoalmente arrastado e agitado dia a dia na corrente impetuosa que desloca todas as coisas? (Tocqueville, 1987, p. 346).

42 “Não foram tão-somente suas idéias que os escritores forneceram ao povo que fez a Revolução:

deram-lhe também seu temperamento e seu humor. Sob sua longa disciplina, na ausência de outros condutores, no meio da profunda ignorância da prática na qual se vivia, toda a nação, ao lê-los, acabou contratando os instintos, o tipo de espírito, os gostos e até os defeitos naturais daqueles que escrevem, de tal maneira que, quando teve que agir, transportou para a política todos os hábitos da literatura” (Tocqueville, 1982, p. 147). Também, em uma carta a Guizot, escreve Tocqueville: “¿Cómo, Señor, ha podido usted poner en duda en una frase mi simpatía por el pueblo, cuando una gran parte de mi obra está precisamente consagrada a mostrar bajo nuevas luces, más verdaderas y vivas, el género particular de opresión que sufría y sus miserias, y a hacer comprender cómo la mala educación que el poder real y las clases altas le han dado explicaba esas violencias?... [soy] un amigo no sólo sincero sino también ardiente de lo que usted mismo considera las principales conquistas de la Revolución, la libertad política y todas las libertades particulares que esa palabra contiene, la abolición de todos los privilegios de casta, la igualdad ante la ley, la libertad total de culto, la simplicidad em la legislación” (Ver Nolla, 1992, p.15-16).

43 Para Tocqueville, o problema de se encontrar uma sociedade de homens esclarecidos é o fato de

haver povo ou, em outras palavras, indivíduos que trabalhem. O tempo para o ócio parece fundamental para o pensador francês. Como se pode notar nesta passagem: “A facilidade maior ou menor que o povo encontra para viver sem trabalhar constitui pois o limite necessário dos seus progressos intelectuais. Esse limite acha-se situado mais longe em certos países, mais perto em outros; mas, para que de modo algum existissem, seria que o povo de modo algum tivesse que ocupar-se dos cuidados materiais da vida, vale dizer, que não fosse o povo. Por isso, é tão difícil conceber uma sociedade onde todos os homens sejam esclarecidos [...] (1987, p. 153).

Mas Tocqueville sabe que, nas eras democráticas, é cada vez maior o número de instruídos. Sabe que o interesse mudou. Da mesma forma que as virtudes públicas podem nascer de interesses materiais nos tempos democráticos, como explicou o pensador em sua doutrina do interesse bem compreendido, o apego às ciências terá um número cada vez maior de indivíduos. “Aliás, eu creio nas altas vocações. Se é fato que a democracia não leva os homens a cultivar a ciência pela ciência, por outro lado, aumenta imensamente o número daqueles que as cultivam [...]” (1987, p. 349). E, tendo uma multidão de homens disponíveis para a ciência, não é impossível de acreditar que “[...] não venha nunca a nascer, de tempos em tempos, algum gênio especulativo inflamado apenas pelo amor à verdade” (idem, p. 349).

Para Helena Esser dos Reis (2004, p. 7-8), Tocqueville tem consciência de que a instrução pode superar preconceitos e costumes opostos à liberdade, pois a ignorância facilita o caminho para a servidão44.

Tocqueville afirma que “a concentração dos poderes e a servidão individual crescerão nas nações democráticas não somente em proporção à igualdade mas em razão da ignorância”. Eis porque considera a instrução escolar uma condição necessária para a formação de cidadãos: à medida que as condições sociais se nivelam e cada um torna-se tão forte e capaz quanto qualquer outro, para pensar e julgar por si mesmo acerca de todas as questões que lhe concernem, mais vale que todos possam dispor de luzes e costumes que os auxiliem a bem julgar e bem agir (idem, p. 8)45.

Mas não se pode esquecer que apenas a instrução pública não é capaz de impedir os abusos de um poder tirânico. Tocqueville mesmo se revolta contra esse

44“Quando os homens que vivem no seio de uma sociedade democrática são esclarecidos,

descobrem sem dificuldades que nada os limita, nem os fixa, nem os força a contentar-se com a sua sorte atual. Por isso, todos concebem a idéia de aumentá-la e, se são livres, procuram todos fazê-lo, mas nem todos conseguem da mesma maneira. A legislatura não mais concede privilégios, é verdade, mas a natureza os dá. A desigualdade natural é muito grande e as fortunas se tornam desiguais, desde o momento em que cada qual faz uso de todas as suas faculdades para enriquecer” (Tocqueville, 1987, p. 343).

45 “Os partidários da centralização, na Europa, afirmam que o poder governamental administra melhor

as localidades do que elas próprias o poderiam fazer: talvez seja isso verdadeiro, quando o poder central é esclarecido e as localidades não têm o mesmo saber, quando ele é ativo e elas inertes, quando tem o hábito de agir e elas o de obedecer. Compreende-se mesmo que quanto mais aumenta a centralização, mais cresce essa dupla tendência, mais se tornam evidentes a capacidade de uma parte e a incapacidade da outra. Nego, porém, que tal se dê quando o povo é esclarecido, despertado para os seus interesses e habituado a meditar, como se faz na América. Estou convencido, pelo contrário, que neste caso a força coletiva dos cidadãos terá sempre mais poderes para prodizir o bem-estar social do que a autoridade do governo” (Tocqueville, 1987, p. 76, grifos

“pensamento mágico” que vê na educação pública o único caminho para o mundo livre.

A educação pública era a única garantia que inventaram contra o abuso do poder porque, como diz ainda Quesnay, “o despotismo é impossível numa nação esclarecida”. Diz um outro dos seus discípulos: “Atingidos pelos males que o abuso da autoridade traz, os homens inventaram mil meios totalmente inúteis e deixaram de lado o único verdadeiramente eficaz, que é o ensino público geral e contínuo da justiça por essência e da ordem natural”. É com a ajuda dessa embrulhada literária que querem suprir todas as garantias políticas (Tocqueville, 1982, p. 156).

Para Tocqueville, além de não ser suficiente a instrução pública, ela também pode ser contrária à liberdade humana. Pode criar uma uniformidade entre os homens. Moldar o espírito dos cidadãos.

Segundo os economistas, o Estado não deve unicamente comandar uma nação, também deve formá-la de uma certa maneira; cabe-lhe moldar o espírito dos cidadãos em acordo com um determinado modelo que se propôs de antemão; é seu dever enchê-lo com certas idéias e fornecer ao seu coração certos sentimentos que julga necessário. Na realidade não existem limites aos seus direitos nem ao que pode fazer; não forma simplesmente os homens, quer transformá-los; talvez, se o quisesse, poderia fabricar outros! “O Estado faz dos homens tudo o que quer”, diz Bodeau. Esta frase resume todas as suas teorias (Tocqueville, 1982, p. 157).

Nesse sentido, a “democracia”, o mundo democrático, também deve ser “educado”, para que os “bons costumes” democráticos reinem. E esse foi um dos objetivos de Tocqueville ao escrever A Democracia.

Educar a democracia, reanimar, se possível, as suas crenças, purificar seus costumes, regular os seus movimentos, pouco a pouco substituir a sua inexperiência pelo conhecimento dos negócios de Estado, os seus instintos cegos pela consciência dos seus verdadeiros interesses; adaptar o seu governo às condições de tempo e de lugar, modificá-lo conforme as circunstâncias e os homens – tal é o primeiro dos deveres impostos hoje em dia àqueles que dirigem a sociedade (Tocqueville, 1987, p. 14).

Para o pensador francês, a educação e a liberdade, nos Estados Unidos, adequaram-se bem à moral e à religião. De um lado, porque as religiões fornecem à multidão soluções para as questões do dia a dia. De outro, porque a multidão encontra segurança e um fundamento último para as suas ações. E este fundamento é importante, pois dá aos indivíduos hábitos, idéias e sentimentos que os preparam

para viver em liberdade (1987, p. 242)46. Mas a liberdade entra nos corações

humanos. Se Tocqueville, no Ancièn Regime, se nega a explicar o que é a liberdade – apenas afirma que quem a experimenta sabe o que significa –, também não acredita que seja possível ensinar os homens a tornarem-se livres.

A liberdade não pode ser ensinada, mas Tocqueville não nega que possa haver certos hábitos, e mesmo uma instrução, que ajudam a preparar os corações a ela. Se não fosse assim, por que Tocqueville acreditaria tanto na participação dos indivíduos na vida pública? Afinal, é participando também da legislação que o americano aprende a conhecer as leis e é governando que se instrui na forma de governo. Não basta apenas ensinar os homens a ler e escrever para fazer deles cidadãos.

Os verdadeiros conhecimentos nascem da experiência e, se os americanos não tivessem sido habituados a governar-se, os conhecimentos literários de muito pouco serviriam47 (1987, p. 234). Contudo, adverte Tocqueville (1987, p. 234): “Não se poderia ter dúvidas de que a instrução do povo, nos Estados Unidos, serve poderosamente à manutenção da república democrática. Creio eu que assim há de ser em toda parte onde não se separe a instrução que esclarece o espírito, da educação que regula os costumes”.

Então, conforme Helena Esser dos Reis (2002, p. 52),

46 “Mas é nas prescrições relativas à educação pública que, desde o princípio, se vê surgir à mais

pura luz o caráter original da civilização americana. ‘Visto – diz a lei – que um dos principais projetos desse antigo instigador Satanás é manter os homens privados do conhecimento das escrituras... persuadindo-os a não usar as línguas, e a fim de que a sabedoria não fique enterrada nos túmulos de nossos pais, na igreja e na comunidade, e tendo o Senhor a assistir os nossos cometimentos...’. seguem-se disposições que criam escolas em todas as comunas e obrigam os habitantes, sob pena de pesadas multas, a encarregar-se do seu sustento. Nos distritos mais populosos, são, pela mesma forma, fundadas escolas superiores. Os magistrados municipais devem cuidar para que os pais enviem seus filhos às escolas; têm o direito de impor multas àqueles que se recusam a fazê-lo; e caso continue a resistência, a sociedade, substituindo à família, lança mão da criança e arrebata aos pais o direito que a Natureza lhes havia concedido mas do qual faziam tão mau uso. O leitor terá observado, sem dúvida, o preâmbulo dessas determinações: na América é a religião que conduz ao saber; é a observância das leis divinas que conduz o homem à liberdade” (Tocqueville, 1987, p. 40- 41).

47 “Aquí, tenemos que llamar la atención sobre el entusiasmo que Tocqueville sentía por el

autogobierno local del que fue testigo de primera mano en las poblaciones de Nueva Inglaterra. Las instituciones municipales, creía Tocqueville, constituían la fuerza de las naciones libres. Las reuniones de los ayuntamientos eran a la libertad lo que las escuelas a la educación. El autogobierno local era una escuela de democracia. Se permitia que los individuos practicasen el arte del autogobierno y, a través de él, que trascendiesen la estrechez de sus propios intereses y llegasen a valorar las exigencias del bien común. Lo que sorprendía a Tocqueville era que todos los aspectos de la vida local contribuían a esta democracia local llena de vitalidad” (Jennings, 2007, p. 61).

[a] tarefa pedagógica impõem-se. Faz-se necessário educar o indivíduo independente da sociedade igualitária para a vida política; isso supõe mais que a prática cega (ou mecânica) de seus deveres cívicos, supõe desenvolver o entendimento e os costumes a fim de orientar o seu julgamento. [...] A instrução propriamente dita, por meio da qual os Homens adquirem conhecimentos, ao mesmo tempo que informa sobre situações vividas, relações econômicas, avanços científicos, os esclarece e lhes possibilita superar idéias e preconceitos opostos à democracia. Há uma correlação direta entre a instrução dos indivíduos e sua capacidade de fazer escolhas políticas esclarecidas.

Parece que Tocqueville reconhece, ou melhor, crê em uma correlação entre a educação/instrução dos indivíduos e suas capacidades de fazer escolhas políticas esclarecidas48.

Para Tocqueville, há uma diferença entre educação e instrução. Tocqueville utiliza o conceito de educação de uma forma bem mais ampla, relacionando este à conduta moral. A instrução é a aquisição de um tipo específico de conhecimento. “Nos collèges donnent l’instruction, [...], mais quoi qu’on fasse, ils ne peuvent donner l’éducation. L’éducation, la culture de l’âme, l’enseigment du devoir, la préparation aux difficultés et aux chagrins de la vie, tout cela est audessus dês leçons dês collèges” (Tocqueville apud Chabot, 1997, p. 238).

A instrução, por outro lado, é condição necessária, mas não suficiente. É preciso que a instrução caminhe junto com os bons costumes de um povo. No caso do povo dos Estados Unidos da América, a instrução se adequou bem ao espírito de participação política. Além de não tentar sobrepor-se à moral religiosa.

A importância que Tocqueville atribui à moral e à religião faz com que veja com bons olhos a sobreposição destas à liberdade e à educação:

Na Nova Inglaterra, onde a educação e a liberdade são filhas da moral e da religião, onde a sociedade, já antiga e acomodada desde muito tempo, pôde formar para si máximas e hábitos, o povo, ao mesmo tempo que escapa a todas as superioridades [...], habituou-se a respeitar as superioridades intelectuais e morais e a submeter-se a elas sem desagrado: por isso, vê-se que a democracia na Nova Inglaterra faz melhores escolhas que em qualquer outra parte. Pelo contrário, à medida que se desce para o sul, para os Estados onde o laço social é menos antigo e menos forte, onde a instrução se acha menos difundida, e onde os princípios da moral, da religião e da liberdade combinaram-se menos feliz, percebe-se que os talentos e as

48 “Dans la démocratie en Amérique, Tocqueville avait reconnu l'existence de corrélations entre

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