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4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.4 Estratégias de acompanhamento e de adesão

4.4.7 O papel da família no acompanhamento do idoso portador de HAS

A participação da família no tratamento do idoso portador de HAS é vista, pelos enfermeiros, como muito importante para sucesso no controle da PA e do quadro apresentado pelo idoso. Quando a família é ativa e participativa no tratamento do idoso há melhora clínica e redução de intercorrências relacionadas à HAS.

A contribuição da família é de extrema importância [...]. Quando a família tá mais presente, tá mais participativa, cê percebe uma melhora clínica, percebe uma adesão melhor ao tratamento, [...] então você percebe que não tem tanta intercorrência com aquele idoso, aquele idoso é uma situação mais controlada, entendeu. [...] Eles não apresentam tantas intercorrências, pico hipertensivo, essas coisas. E11

Em um estudo realizado por Barreto e Marcon (2014) com portadores de HAS a família foi apontada como uma aliada fundamental no tratamento desta condição de saúde. Os sujeitos participantes do estudo percebiam a família como facilitadora na adesão aos tratamentos, bem como exercia forte influência sobre a adoção de práticas de autocuidado, como a realização de atividade física e adoção de dieta adequada à condição de saúde.

Frequentemente os enfermeiros procuram buscar os familiares para participarem mais ativamente do tratamento do idoso portador de HAS, contudo são os filhos quem mais se corresponsabilizam pelo cuidado do idoso.

[...] sempre tentamos mostrar pra eles é que eles tem que ter, né, essa parceria né, a família tem que apoiar, tem que ajudar porque não adianta nada a gente pedir pro idoso não comer, por exemplo, comida gordurosa e a família né, vai e faz lá né, uma comida gordurosa e aí é o quê que a gente pede também pra não fazer, por exemplo, alimentação separada, porque se faz alimentação separada ele vai achar que ele tá diferente. Na verdade essas boas práticas, elas são pra todos né, até mesmo porque se tem um hipertenso ali a chances se os outros não cuidarem do estilo de vida é desenvolverem também, então a gente pede muito essa parceria, apoio com a família. E1

[...] sempre tem a participação da família e eles geralmente, os familiares, são bem presentes, procuram saber, trazem, inclusive os filhos que são mais jovens e já tem uma formação melhor de hoje em dia e tal, eles têm mais assim, que procuram mais e falam “você podia ir lá, que ele não vem aqui”, então acaba que ajuda muito são os familiares. E3

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Normalmente é um filho, um dos filhos que tem uma afinidade maior né, que, por, os portadores de hipertensão, a maioria são idosos então um dos filhos que assume essa responsabilidade, os, alguns que participam né. E6

Segundo Silva, Vicente e Santos (2014) o enfermeiro que atua na AB tem condições de oferecer suporte à família porque conhece a realidade vivenciada pelo idoso e seus familiares, assim como conhece e tem acesso à rede de apoio que existe no território para realizar atenção no domicílio. Desta forma, pode facilitar que se estabeleça vínculo entre os envolvidos com o serviço de saúde para proporcionar ao idoso uma assistência contextualizada e integral.

Nesta busca de parceria com a família, os enfermeiros a orientam sobre a alimentação do idoso portador de HAS e prática de atividade física.

[...] a gente orienta a família, porque a família é a cuidadora do idoso, então precisa orientar também, e muitas vezes é a família que faz os alimentos, então ela tem que ser orientada a cuidar dos alimentos. E8

[...] a gente aproveita pra falar focado pra ele também né, fala com o filho, “óh cê cuida dele, fala da alimentação, cê fica de olho né, com tá sendo a alimentação, se tá praticando atividade física”. Pra o filho ajudar também né, nessa realização da prática de exercício físico [...] E9

Mais uma vez aparece claramente que as orientações aos sujeitos centram-se na alimentação e atividade física, em alguns momentos isso também ocorre com o tratamento medicamentoso, contudo, o processo fisiopatológico, fatores de risco, sinais e sintomas, parecem ignorados.

Sabe-se que o conhecimento em relação à condição de saúde precisa ser integral, e compreender como a HAS se desenvolve pode ajudar para que os idosos entendam a necessidade da adoção de dieta restritiva de sódio, da atividade física regular e do tratamento medicamentoso, por exemplo. Os idosos parecem ser orientados quanto aos meios de controle e finalidade, mas também precisam ter compreensão do “porque” das medidas prescritas.

Porém, é preciso que o enfermeiro também conheça a capacidade de entendimento do idoso portador de HAS de modo que as orientações façam sentido, da mesma forma a inclusão da família é importante nesse processo para também compreender o desenrolar da condição de saúde do idoso.

Conforme Camacho e Coelho (2010) as políticas de saúde dão destaque à família como sendo o primeiro suporte ao qual seus membros recorrem para colaboração na resolução de problemas. No tratamento de condições crônicas, a família pode participar desde a preparação das refeições, do lazer, até auxiliar na rotina do tratamento medicamentoso e nas consultas com os profissionais para avaliar o estado de saúde de seu ente.

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Pelo relato dos enfermeiros, os familiares participam do tratamento dos idosos portadores de HAS de várias maneiras, demonstram preocupação com o estado de saúde do idoso, solicitam visita domiciliar e participam quando acontece a visita, ajudam a tomar os medicamentos corretamente, acompanham até a UBS, participam da consulta e orientam sobre a alimentação.

[...] participam é, igual, por exemplo indo nas consultas, né, pra ter aquele, a orientação, pra eles pegarem a orientação pra poder tá ajudando o idoso na hora, em casa na hora do cuidado. E2

[...] tem hora que liga, ou vem aqui no posto (familiares) pra saber como é que tá, ou se ele (idoso) tiver algum problema, solicita uma visita domiciliar, caso o hipertenso não queira vir, a gente faz uma visita. [...] E5

A família, ela ajuda mais no intuito de supervisão, de cuidados básicos, [...] a gente observa que a família ela está atuando ali de forma ativa, [...] E8

Olha, a maioria deles participam assim, em questão da medicação, dando a medicação e levando, né, na Unidade. E orientando também em relação a alimentação. E10

Apesar de verificada a participação dos familiares, em alguns momentos, no tratamento dos idosos portadores de HAS, observou-se relatos de resistências por parte de parcela das famílias.

Não são todas que participam, né, a gente pede e solicita [...] E2

[...] Tem gente que não adere ao tratamento, aí o familiar fica na calma, no canto dele, não dá ajuda também. E5

[...] mas também tem aquela pequena parcela dos idosos que a família não tem tanto cuidado, que a gente tem que estar mais em cima cobrando mais. E8

[...] muitas vezes eles vêm sozinhos. Então tá faltando isso aqui na Unidade Básica de Saúde, a família participar também da vida né, dessa pessoa idosa que tá com hipertensão, tá faltando isso. E9

Os enfermeiros indicam que em muitos casos se verifica a baixa adesão de familiares nas atividades de grupo e de educação em saúde, porém quando presentes são participativos e relatam as experiências vivenciadas com os idosos portadores de HAS.

A participação da família é pouca, normalmente eles vêm mesmo se precisar acompanhar né, o idoso, aí quando eles vêm, eles participa ativamente ali, eles perguntam, às vezes falam “oh lá em casa pai é assim, assim, mãe é assim, assim né”, então vão no diálogo mesmo com a gente ali. [...] se for uma visita a gente pede pra essa pessoa (responsável) está lá também né, pra poder conversar, saber como funciona. E7

Quando o familiar do idoso portador de HAS procura a Unidade de Saúde é sondado pelo enfermeiro sobre o tratamento medicamentoso e alimentação, que tendem a confirmar o cumprimento do tratamento.

[...] quando vem aqui (na Unidade) eu peço pra falar (da medicação). Tá tendo alimentação? Eu pergunto pro filho quando vem trazer, e aí alimenta bem? Eles fala que sim. Tá tomando a medicação? Eles falam que sim [...]E9

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Os hábitos alimentares da família de idosos portadores de HAS precisam ser adequados para facilitar o controle dos níveis da PA, pelo idoso, por ser uma forma de motivação e incentivo, porém os enfermeiros indicam que em sua experiência que alimentação feita na casa do usuário não atende as recomendações do tratamento. Esse comportamento remete ao pensamento de pouca responsabilização da família pelo tratamento do idoso, ou também desconhecimento, por parte dos familiares, sobre a HAS.

[...] é mais o próprio familiar que vem a mim ou até o próprio paciente chega e que fala sobre alimentação, que não vai dar conta. Tem um paciente aqui perto mesmo que ele fala que ele não consegue aderir cem por cento porque a mãe já faz uma comida mais salgada [...] E5

Conforme Lopes e Marcon (2013) a adoção de uma dieta saudável é importante para toda a família porque previne ou retarda o aparecimento de condições crônicas nos componentes da família que são saudáveis e promove o controle da PA entre aqueles que possuem alguma condição crônica de saúde.

Há situações em que os familiares têm dificuldade de se responsabilizar e cuidar do idoso portador de HAS e parecem entender que o sujeito é responsabilidade exclusiva do sistema de saúde.

[...] Eu cobro muito essa presença dos filhos, porque eu noto as vezes que a população ela quer depositar a responsabilidade total na gente e isso não pode ser assim, a família ela tem que se responsabilizar pelo paciente também, eu tento muito mostrar isso também, eu ligo mesmo para o familiar, [...] E4

Conforme Brasil (2014b) o cuidado com o idoso tem início com a corresponsabilização dos profissionais da AB e aqueles atuantes em outros pontos de atenção, de forma que os profissionais possibilitem as articulações para ampliar o alcance das ações desenvolvidas pela rede de atenção à saúde.

Nesse sentido, o foco do cuidado de enfermagem junto ao idoso deve ser em ajudar e capacitar o usuário e a família para que mutuamente possam superar as necessidades de seus integrantes (MARCON et al., 2005, OLIVEIRA; TAVARES, 2010). Assim, é notória a necessidade de também haver corresponsabilização da família com os cuidados dos idosos portadores de HAS, pelos profissionais do serviço de saúde.

Em situações extremas de não participação de familiares no tratamento do idoso portador de HAS e esgotadas as possibilidades de conversas com o profissional de saúde, a situação de negligência familiar é informada a outras instâncias de controle para resguardar a saúde do idoso.

[...] sempre busco trazer esse familiar para próximo do idoso, então a gente conversa, e tem que ser uma conversa bem aberta, às vezes você precisa ser bem direto para eles entenderem que eles têm que participar, eles têm que ajudar, né?

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[...] assim, às vezes existe a dificuldade, mas a gente tenta primeiro entrar em contato, mostrar a importância dessa responsabilidade pelo idoso, e quando não acontece, a gente busca outras formas, assistência social, assistência jurídica para tentar resolver. E4

O Estatuto do Idoso, lei 10741 de 01 de outubro de 2003, assegura atenção integral à saúde do idoso usuário do SUS e garante acesso universal e igualitário às ações e serviços de saúde para a prevenção de agravos, promoção da saúde, proteção e recuperação da saúde, com atenção especial às doenças prevalentes nesse público. Garante ainda que nenhum idoso poderá ser vítima de negligência, sendo obrigação da família e da sociedade em geral, garantir que o idoso tenha prioridade em uma série de direitos, dentre eles, à saúde, alimentação, e convívio familiar e comunitário (BRASIL, 2003b).

A criação de vínculo com a família do idoso portador de HAS parece ser entendida como uma estratégia para acompanhamento e tratamento dos idosos. Apesar de haver algumas resistências por parte de familiares, essa estratégia tem sido efetiva pelas diversas manifestações de participação de alguns membros da família envolvidos no tratamento. Nesse caso, os familiares são visto como aliados dos profissionais de saúde e também precisam ser orientados e empoderados para auxiliar os cuidados com o idoso.

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