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4 A NOÇÃO VYGOTSKYANA DE ZONA DE

5.3 As rodas de leitura e a ZDP

5.3.1 O papel da linguagem na formação de conceitos

Toda ação humana supõe uma mediação, do mesmo modo a aprendizagem se faz com a mediação pela interação com o outro, na interação social, na qual as palavras são empregadas como meio de comunicação ou de interação. A essa mediação, Vygotsky e seus discípulos denominaram de sociointeracionismo.

A mediação é realizada por signo, palavra e símbolo, segundo o autor russo. Nesse processo, a mente forma os conceitos pela mediação dos signos, sendo a linguagem o meio ou o modo mais importante que os seres humanos possuem para formar conceitos e

aprender. As formas conscientes do homem aparecem impulsionadas e moldadas pela mediação da linguagem: não pensamos sem palavras. (MARTINS; MOSER, 2012)

Na perspectiva de Vygotsky, Luria e Leontiev (2014), os conceitos de mediação e de ação mediada são essenciais para compreender o significado ou processo da aprendizagem. Se falarmos de meios, significa que o acesso do homem ou de sua mente ao mundo não se dá de modo direto, mas por uma mediação que lhe permite um acesso indireto.

Toda ação humana supõe uma mediação, do mesmo modo a aprendizagem se faz com a mediação pela interação com o outro, na qual as palavras são empregadas como meio de comunicação ou de interação.

Vygotsky (1993), na medida em que vê o aprendizado como um processo profundamente social, enfatiza o diálogo e as diversas funções da linguagem na instrução e no desenvolvimento cognitivo mediado. Nesse processo, a mente forma os conceitos pela mediação dos signos, sendo a linguagem o meio ou o modo mais importante que os seres humanos possuem para formar conceitos e aprender. As formas conscientes do homem aparecem impulsionadas e moldadas pela mediação da linguagem: não pensamos sem palavras.

Vygotsky (1993) afirmava que um claro entendimento das relações entre pensamento e linguagem é necessário para que se entenda o processo de desenvolvimento intelectual. Dessa maneira, neste trabalho procuramos compreender essa relação e o processo de formação de conceitos na mente das crianças da faixa etária eleita por nós. Encontramos em Martins e Moser (2012) que a linguagem não é apenas uma expressão do conhecimento adquirido pela criança. Existe uma inter-relação fundamental entre pensamento e linguagem, um proporcionando recursos ao outro. A linguagem, desta forma, possui um papel essencial na formação do pensamento e do caráter do indivíduo. A função da linguagem que importa valorizar, segundo Vygotsky (1993) é a de um instrumento de aprendizagem, o que implica desde cedo a valorização da relação dos alunos sobre uma dada situação do mundo em estudo, como ponto de partida para a construção do conhecimento, que é nosso objetivo com as rodas de leitura utilizando textos de divulgação científica. Não há como pensar se não utilizarmos, sempre, palavras ou imagens.

Para Vygostky (1993), o significado de um dado conceito (ou situação) é resultante da interação com os outros (professor ou alunos), mediada através da linguagem que é o meio pelo qual se estimula os alunos a refletirem e explicarem, de modo a compreenderem,

como é que as suas experiências e o seu conhecimento contextualizado se integram num sistema mais amplo.

O autor dedicou particular atenção à aprendizagem de conceitos e às relações entre conceitos espontâneos (senso comum) e científicos. Segundo ele, a aquisição de conceitos espontâneos tem por base abstrações realizadas sobre os próprios objetos, mas, a aquisição de conceitos científicos parte do sistema de conceitos existente.

Segundo ele, o conhecimento conceitual do aluno resulta da interação entre o conhecimento comum e o conhecimento a que tem acesso via instrução. Porém, nem sempre essa interação é fácil, como verificamos nas rodas de leitura em que o conhecimento comum e o conhecimento científico apresentaram-se aos alunos quase sempre como contraditórios, dada a distância existente entre eles.

Devem-se oferecer possibilidades aos alunos de pensar, refletir desde cedo sobre os temas das ciências, buscando estratégias de trabalho mais adequadas para atingir esse objetivo. Através da mediação com o grupo, é possível ao mediador favorecer o processo de formação de conceitos, que é o resultado de uma atividade complexa, em que todas as funções intelectuais básicas tomam parte. Porém, todas as funções se tornam insuficientes sem o uso da palavra, como o meio pelo qual conduzimos as nossas operações mentais, controlamos o seu curso e as canalizamos em direção à solução do problema que enfrentamos. Aprender a direcionar os próprios processos mentais com a ajuda de palavras ou signos é uma parte integrante do processo de formação de conceitos.

Acreditamos que nas rodas de leitura de textos de divulgação científica, a criança, ao tomar contato com palavras novas que pertencem ao universo das ciências, em um primeiro momento, a apreendem, depois desenvolvem uma generalização, para posteriormente substituí-la por generalizações de tipos mais elevados – processo este que acaba por levá-la à formação dos conceitos científicos. Ao colocá-las em contato com esse universo, pela via da linguagem das ciências, estamos inserindo-as em uma prática de alfabetização e letramento científico.

Segundo Vygotsky (1993), o desenvolvimento de um conceito científico, geralmente começa com sua definição verbal e com sua aplicação em operações não- espontâneas – ao se operar com o próprio conceito, cuja existência na mente da criança tem início a um nível que só posteriormente será atingido pelos conceitos espontâneos.

De acordo com o autor, embora os conceitos científicos e espontâneos se desenvolvam em direções opostas, os dois processos estão intimamente relacionados. É preciso que o desenvolvimento de um conceito espontâneo tenha alcançado um certo nível

para que a criança possa absorver um conceito científico correlato. Ao forçar a lenta trajetória de um conceito cotidiano para cima, através das discussões que se estabelecem na roda, o mediador está abrindo o caminho para o desenvolvimento de um conceito científico, favorecendo a criação de uma série de estruturas que lhe dão corpo e vitalidade. Os conceitos científicos fornecem estruturas para o desenvolvimento ascendente dos conceitos espontâneos das crianças em relação à consciência e ao uso deliberado.

Considerando que a evolução dos conceitos científicos não nega a existência de um processo de desenvolvimento na mente da criança em idade escolar, e que são processos que não caminham separados, os conceitos científicos parecem constituir o meio no qual a consciência e o domínio se desenvolvem, sendo mais tarde transferidos a outros conceitos e a outras áreas do pensamento. E que, os conceitos científicos e espontâneos das crianças se desenvolvem em direções contrárias: inicialmente afastados, a sua evolução faz com que terminem por se encontrar, sendo esse o ponto fundamental da teoria de Vygotsky nas rodas de leitura de ciências; a mediação que se estabelece é um componente fundamental para diminuir a distância entre os conceitos espontâneos e os científicos, favorecendo a sua aproximação.

Para Vygotsky (1994) a transmissão racional, intencional de experiências e de pensamentos a outrem exige um sistema mediador, que tem por protótipo a linguagem humana nascida da necessidade do intercâmbio durante o trabalho.

Para que esse processo ocorra, é fundamental a figura do professor como mediador, pois ele é um elo entre o aluno e o conhecimento.