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O papel da psicologia organizacional no gerenciamento contemporâneo

A psicologia das organizações e seu papel na gestão do capital intelectual

3.1 O papel da psicologia organizacional no gerenciamento contemporâneo

A psicologia organizacional, ou a psicologia das organizações, tornou-se nas últimas décadas uma das áreas de maior aplicação, exatamente por representar um elo entre as formas de trabalho, as pessoas e as empresas. À medida que o mundo demanda novas formas de estabelecer relações sociais, as relações de trabalho também mudam, exigindo da psicologia organizacional adequações para melhor responder aos novos moldes e estruturas profissionais.

Já que o objetivo da psicologia é estudar o indivíduo e o impacto de suas relações sociais sobre ele e a sociedade, fica clara a finalidade de incluir essa área de conhecimento nos interesses de gestão das empresas. Na contemporaneidade, o trabalho passou

66 Psicologia das organizações: desafios da gestão contemporânea a ser uma das principais fontes de vínculo social, além de uma demonstração de status e utilidade. Podemos considerar o trabalho como uma referência do indivíduo em seu grupo, tendo em vista que, por meio dele, o indivíduo pode encontrar satisfação, realização e singularidade.

O trabalho, para os indivíduos, passa a se referir à construção de qualidade de vida, independência, sucesso e referência de boas relações. Em contrapartida, as empresas passam a ter um foco contínuo em lucro e competividade.

É nesse cenário que a psicologia organizacional se destaca, uma vez que a interação entre pessoas e empresas se tornou mais do que objeto de estudo: um objetivo de vida na sociedade contemporânea.

O trabalho nos desafia diariamente com o surgimento de profissões, necessidades e modelos mentais inéditos. Isso porque, somos uma sociedade “nômade” que muda constantemente de pensamento.

Eis o movimento incessante dessa sociedade: construir e descontruir nossas estruturas culturais, fomentando o crescimento de pessoas e organizações.

É fundamental que o profissional de psicologia, para garantir seu escopo de atuação nesse contexto, esteja atento às relações sociais e aos sinais das empresas sobre sua forma de orientar e gerir o trabalho, como as doenças e o estresse ocupacionais, os modelos de liderança e os indicadores de bem-estar no ambiente laboral.

A relação entre a psicologia das organizações e o mundo contemporâneo está na base dos desafios da gestão empresarial.

Por isso, “o psicólogo [...] [nesse contexto] vivencia uma realidade de desafios à sua prática e ao seu compromisso social” (BORGES;

MOURÃO, 2013, p. 38). Devemos considerar que as empresas são o principal ambiente onde ocorre a manifestação relacional do trabalho, de modo que gerenciá-las é muito mais que apenas implementar planos; envolve também promover o crescimento e o bem-estar das pessoas e dos processos.

A psicologia das organizações e seu papel na gestão

do capital intelectual 67 Domenico De Masi, em sua obra A sociedade pós-industrial (2000, p. 59), alerta que “a sociedade industrial produzia sobretudo meios de produção, bens a serem consumidos, capital. A sociedade pós-industrial produz sobretudo, conhecimento, administração de sistemas, capacidade de programar a mudança”. O autor, ao longo da obra, ainda faz uma referência direta à importância dos modelos gerenciais e da inovação como vantagem competitiva, compreendendo que o foco está sobre a estrutura gerencial e a resolução dos conflitos que encontramos no cotidiano.

A velocidade das mudanças que a sociedade contemporânea sofre impacta diretamente no exercício profissional, o qual, por sua vez, passa a exigir novas habilidades. O psicólogo das organizações é convocado a resolver muitas das dificuldades que surgem desse contexto, como os desvios de função, o aumento da carga de trabalho e a multifuncionalidade – capacidade de o indivíduo desempenhar várias funções.

O profissional de psicologia que atua na relação das pessoas com as empresas, portanto, deve saber que um dos grandes desafios a serem vivenciados é o dilema ético. Deve, sobretudo, reconhecer os valores das empresas descritos em suas políticas e identificar se são convergentes aos de seus colaboradores.

Dessa forma, considerando que o gerenciamento, ou o ato de se fazer gestão, é a prática profissional que executa as políticas deter- minadas pela organização, buscando avaliar os indicadores que corroboram com os objetivos listados, entende-se como necessárias as três dimensões dos modelos de gestão. Vejamos cada uma delas, segundo Borges e Mourão (2013, p. 123-125):

gestão da produção: compreende a forma como os processos de produção e distribuição estão organizados em uma empresa.

Esse modelo depende do produto ou serviço envolvido, e de que forma a tecnologia é aplicada na manufatura e cadeia de distribuição;

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organização do trabalho: é um dos fatores na produção. Por meio da organização, define de que forma o conhecimento é aplicado e gerenciado na organização, individual ou em grupos;

relações de emprego: remetem às políticas institucionais que norteiam o relacionamento de pessoas e grupos envolvidos na produção. Incluem os processos de recrutamento, seleção e desenvolvimento de pessoas, uma vez que visam direcionar as habilidades individuais para as práticas organizacionais específicas.

Quando alteramos os modelos de gestão ou buscamos outros mais contemporâneos, afetamos diretamente os processos internos em que as pessoas estão envolvidas, desde seus aspectos motivacionais até os conhecimentos na prática profissional. O papel do psicólogo das organizações no gerenciamento é o de facilitar à gestão o desenvolvimento de suas metas, por meio de estruturas bem pautadas em conhecimento e ações sistematizadas.

Como lembram Nonaka e Takeuchi (1997, p. 22), “à medida que o conhecimento e a inovação se tornam mais importantes para o sucesso competitivo, a crescente insatisfação com as estruturas orga-nizacionais tradicionais não deve ser uma surpresa”. A necessidade de nos reinventar se tornou uma força motriz para novos modelos de gestão e, igualmente, para novos modelos mentais.