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O papel do brincar para o desenvolvimento das crianças

Parte II – Investigação

2.4. Apresentação e discussão dos resultados

2.4.3. O papel do brincar para o desenvolvimento das crianças

O recreio constitui um lugar que apresenta muitos estímulos, experiências, descobertas e aprendizagens. O facto de ser um ambiente livre, um espaço favorável para realização dos mais variados tipos de jogos e brincadeiras, de relações com os outros e com a natureza, contribui para o desenvolvimento das mais variadas capacidades nas crianças. Para além de detetar como as crianças utilizam o espaço exterior, foi relevante também perceber, como as brincadeiras realizadas podem contribuir para o seu desenvolvimento. Foram realizadas duas observações (primeira no dia 3 de janeiro de manhã e correspondente ao quadro 3, e segunda no dia 17 de janeiro de 2019 da parte de tarde, correspondente ao quadro 4) com o intuito de verificar se eventualmente existiam algumas mudanças no comportamento das crianças, tendo por base os quatro domínios da grelha de observação. Na primeira observação estavam presentes 15 crianças, já na segunda 21 crianças. O tempo de observação foi de 1 minuto para cada uma das crianças. De seguida apresentam-se os resultados obtidos, acompanhados de uma interpretação.

Quadro 3

Implicações da brincadeira no recreio para o desenvolvimento das crianças (observação realizada de manhã).

Quadro 4

Implicações da brincadeira no recreio para o desenvolvimento das

crianças (observação realizada de tarde).

Dimensões Componente Frequência

Dimensão física

Salta (força) 10 crianças Corre (velocidade) 14 crianças Movimenta-se (resistência) 14 crianças Alcança (flexibilidade) 4 crianças

Outro 1 criança cansava-se com facilidade nas atividades que implicavam movimento, portanto sentava-se muitas vezes.

Dimensão social

Interage 14 crianças

Não interage 1 criança

Conflito 0 crianças

Outro 1 criança interagiu somente com o adulto

Dimensão cognitiva

Responde aos estímulos 14 crianças Não responde aos estímulos 1 crianças

Atento 13 crianças Criativo 3 crianças Outro 0 crianças Dimensão emocional Calmo 7 crianças Agitado 8 crianças Nervoso 0 crianças Passivo 0 crianças Agressivo 0 crianças Outro 0 crianças

Dimensões Componente Frequência

Dimensão física

Salta (força) 10 crianças Corre (velocidade) 12 crianças Movimenta-se (resistência) 21 crianças Alcança (flexibilidade) 0 crianças

Outro 0 crianças

Dimensão social

Interage 20 crianças

Não interage 0 crianças

Conflito 0 crianças

Outro 1 criança: existiu a interação somente entre o adulto e a criança

Dimensão cognitiva

Responde aos estímulos 21 crianças Não responde aos estímulos 0 crianças

Atento 15 crianças Criativo 0 crianças Outro 0 crianças Dimensão emocional Calmo 18 crianças Agitado 3 crianças Nervoso 0 crianças Passivo 0 crianças Agressivo 0 crianças Outro 0 crianças Legenda: Dimensão física

Salta - elevar-se do chão com esforço Corre - anda com velocidade

Movimenta-se - desloca-se pelo espaço mudando de lugar

Alcança - atinge os objetos estendendo o braço ou pondo-se no bico dos pés

Dimensão cognitiva

Responde aos estímulos - reage aos estímulos, dando uma resposta Não responde aos estímulos - não reage aos estímulos, não existe resposta Atento - presta atenção

Criativo - cria, inventa novos objetos Dimensão

social

Interage - comunica com os outros

Não interage - não comunica com os outros Conflito - desentendimento entre as crianças

Dimensão emocional

Calmo - tranquilo, não apresenta alterações frequentes nos seus movimentos, não grita Agitado - muito energético

Nervoso - irritado, tenso, apresenta movimentos convulsivos, não naturais

Passivo - não participa nas brincadeiras dos outros, nem brinca sozinho, não é ativo Agressivo – apresenta comportamentos violentos: ex: bate os colegas

A frequência com a qual os dados são apresentados é superior ao número das crianças observadas, devido à alteração das ações e movimentos efetuados durante um minuto de observação.

Quanto aos dados recolhidos, é possível compreender, no que respeita a dimensão física, que todas as crianças manifestaram movimentos corporais, exceto uma que na primeira observação se sentou para descansar, referindo que estava cansada (trata-se de uma criança que aparentemente apresentava alguns problemas de mobilidade e de equilíbrio, no entanto ainda não tinha sido diagnosticada). As componentes “movimenta-se”, na primeira observação (N=14), “corre” (N=14) e “salta” (N=10) bem como na segunda observação (N=21; 12 e 10), obtiveram um maior número ocorrências, ao contrário da componente “alcança”, que se apresenta com o número inferior e somente visível na primeira observação. Ao praticarem as diferentes ações e movimentos, as mesmas desenvolvem as suas habilidades motoras, que evidencia, mais uma vez, o facto de o espaço exterior ser um lugar favorável ao desenvolvimento das capacidades físicas. Assim, Bilton (2010) no seu trabalho defende que as crianças ao serem ativas, melhoram as suas habilidades motoras, desenvolvem a coordenação, equilíbrio, consciência corporal, fortalecem os músculos, aumentando a sua resistência e a flexibilidade e até melhoram as suas funções cardiorrespiratórias.

Na dimensão social, as interações entre as crianças foram bem visíveis nas duas observações, estando presentes nas brincadeiras das crianças. Na primeira observação num total de 14 crianças estavam em interação e na segunda, 20 crianças. Somente uma criança não interagiu na primeira observação e uma das crianças nas duas observações interagiu essencialmente com o adulto. Nas duas observações não foram detetadas situações de conflito, podendo afirmar que o espaço de recreio e as brincadeiras que são desenvolvidas nele podem contribuir para o desenvolvimento das interações positivas entre as crianças e entre a criança e o adulto. Na mesma linha de pensamento, Bilton et al. (2017) encaram o espaço exterior como um contexto social rico, dando lugar ao desenvolvimento da interação e a partilha entre as crianças. Os mesmos autores mencionam que a cooperação nas crianças surge de forma espontânea e assumem-na como estratégia para alcançar metas comuns.

No que se refere à dimensão cognitiva, os resultados indicam que somente na primeira observação uma das crianças não respondia aos estímulos, na segunda, tal não se verificou, sendo que todas as restantes responderam a estímulos (14 crianças na primeira observação e 21 na segunda observação). Por outro lado, a

68 componente criatividade, foi observada com menor frequência, e é mais visível na primeira observação (3), ao contrário da segunda. A maior parte das crianças permaneciam atentas (13 e 15 crianças) durante as brincadeiras no exterior.

Verificou-se nas duas observações que as crianças ao brincar no recreio eram mais calmas do que no espaço interior (7 crianças na primeira observação e 18 na segunda), isto no que concerne a dimensão emocional. Porém, teve lugar alguma agitação por parte das crianças, que foi possível compreender em ambas das observações (8 na primeira e 3 na segunda), sendo uma situação espectável nesta fase etária, quando se dirigem para o espaço exterior. É possível compreender que durante o período da tarde as crianças estiveram menos agitadas do que de manhã, supõe-se que se poderá dever à hora da sesta e do lanche, e por estarem já no final do dia. Não foram detetados estados emocionais de agressividade, nervosismo e neutralidade por parte das crianças, durante os vários momentos de observação, o que denota a existência de equilíbrio emocional. Ainda assim, ao contrário do espaço interior, as minhas notas de campo mostram que as crianças se sentiam mais entusiasmadas, mais alegres. Ao ar livre, era possível ouvir alguns gritos cheios de contentamento e observar as expressões nas suas caras com grandes sorrisos, as vozes das crianças repletas de felicidade e as suas bochechas coradas decorrentes da sua atividade. Verificou-se ainda que ao ar livre as crianças tendem ser menos conflituosas, em relação ao ambiente fechado, os dados que obtive testemunham esse mesmo facto. O trabalho desenvolvido por Williams-Siegfredsen (2005), evidencia que o contacto diário com o espaço exterior, pode contribuir para a redução do stress e conflitos, tal como foi possível verificar neste contexto de estudo. Não existiu grande alteração nos comportamentos das crianças durante o período de tarde e de manhã. Em suma, o espaço de recreio pode surgir como um lugar favorável ao desenvolvimento de capacidades motoras, cognitivas, sociais e emocionais. Na mesma linha de pensamento, Calado (2016), no seu trabalho, compreende o recreio como parte integrante da vida das crianças, considerando-o importante para o desenvolvimento das capacidades acima mencionadas.

2.4.4. Potencialidades e limitações no “recreio ideal” para o desenvolvimento das