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Potencialidades e limitações no “recreio ideal” para o

Parte II – Investigação

2.4. Apresentação e discussão dos resultados

2.4.4. Potencialidades e limitações no “recreio ideal” para o

Dada a possibilidade de desenvolver o projeto de intervenção no mesmo campo da presente investigação, procurou-se em primeiro lugar identificar as potencialidades/fragilidades que o espaço de recreio tinha e, em segundo lugar, construir alguns materiais com base nas respostas dadas pelas próprias crianças sobre como imaginavam o seu “recreio ideal” desenvolvendo atividades que

69 incidissem em práticas de uma educação ao ar livre. As atividades desenvolvidas foram pensadas numa vertente pedagógica, ou seja, com vista a contribuir para o desenvolvimento das crianças nas suas variadas vertentes: físicas, sociais, cognitivas e emocionais. Os materiais que foram construídos pelas crianças e, posteriormente, introduzidos no espaço de recreio para o seu manuseamento, constituíram assim uma forma de recriação do espaço exterior (Anexo XXX). Desta forma, importa refletir sobre as potencialidades e limitações de alguns materiais recriados e das atividades desenvolvidas (Quadro 5).

Quadro 5:

Atividades desenvolvidas no âmbito do projeto: “Brincar e explorar fora de portas”:

Atividade Breve descrição

I Jogo do bowling

Inicialmente foi mencionado que algumas crianças imaginaram o seu “recreio ideal” com bolas e jogos, por isso, pensou-se em construir o presente jogo, por corresponder às respostas das crianças e reunir condições para ser utilizado no espaço exterior. Começou por existir uma conversa para descobrir se as crianças conheciam o jogo, e como é que este se jogava. A fase seguinte foi de elaboração, tendo-se passado para a sua construção. Os materiais utilizados foram dez garrafas de plástico (aproveitou-se para falar sobre a importância de reutilização de alguns materiais recicláveis), que foram pintadas por dentro pelas crianças com diversas cores à sua escolha. Após a pintura, existiu a necessidade de colocar alguma quantidade de areia no interior das garrafas para não serem facilmente levadas com o vento. A bola para lançar sobre as garrafas foi oferecida pela própria investigadora. O principal objetivo do jogo consistia em lançar a bola em direção às garrafas e tentar derrubar o maior número das mesmas. Através do jogo foi possível trabalhar diferentes áreas de conteúdo, nomeadamente o domínio da Educação Física (diversos tipos de movimento) e Matemática (contagem crescente) e a Área de Formação Pessoal e Social (negociar, respeitar o outro).

II Exploração da casinha

A atividade partiu da mesma lógica que a anterior, sendo que foi aproveitada uma casinha da madeira existente no espaço de recreio para introduzir alguns materiais novos, como: baldes com areia, caixa com solo, baldes pequenos, garrafas de plástico, caixas de plástico de vários tamanhos, pás recortadas em garrafas de plástico (importância de fazer objetos e brinquedos a partir dos materiais reciclados), tampas das garrafas e tampas dos baldes, colheres, copos de plástico, conchas, folhas e uma mesa. A atividade consistia em as crianças explorarem e integrarem os novos materiais no seu brincar, atribuindo aos objetos disponibilizados diferentes significados e funções. O principal objetivo da atividade era aproveitar o espaço existente, introduzindo materiais novos com a finalidade de enriquecer o brincar das crianças, favorecendo oportunidades para desenvolvimento da imaginação (faz de conta), criatividade e partilha.

III Brincar com os carros

Baseado nas respostas das crianças, procedeu-se à construção de carros utilizando os materiais reciclados como caixas grandes de cartão. Num primeiro momento, existiu a conversa com as crianças de forma a introduzir a atividade e de seguida mostraram-se alguns exemplos de carros feitos em cartão. Realizou-se uma votação dos carros que as crianças queriam construir, e ainda se discutiu a forma como pretendiam pintar, decorar, acrescentar algumas partes aos carros (espelhos, rodas, volante). Finalizando a construção, procedeu-se à experimentação, utilizando o espaço exterior. Num primeiro momento as crianças exploraram os carros de forma livre e depois foram convidadas a percorrer um percurso simulado, relacionado com a segurança rodoviária e aplicação de regras de trânsito simples, preparado anteriormente. As crianças em pequenos grupos, tinham que passar pelo percurso delimitado, seguindo o percurso enunciado por mim, respeitando e aplicando as regras de trânsito simples (antes, existiu uma conversa prévia ao fim de familiarizar as crianças com o assunto), como em situação de passadeira, perante um semáforo, etc. A atividade tinha com principais objetivos contribuir para o desenvolvimento das habilidades motores, familiarizar com as regras de segurança rodoviária simples, construir materiais potenciadoras das experiências diversificadas.

70 I. Potencialidades e limitações do jogo bowling para o desenvolvimento das

crianças

Procurou-se construir jogos e recursos recorrendo aos materiais recicláveis fomentando, assim, práticas pedagógicas mais sustentáveis e amigas do ambiente. Foi possível verificar que o presente jogo (Figura 53) pode potenciar o desenvolvimento de diversas capacidades nas crianças: motoras tais como, agarrar/apanhar a bola, lançar a bola em posição às garrafas, baixar-se; capacidades sociais, pois as crianças estavam em pequenos grupos e por isso, negociavam entre eles a ordem de quem iria lançar a bola em primeiro lugar, tinham que esperar a sua vez, respeitar a vez do outro e trabalhar em grupo. As crianças começavam a criar estratégias para poder derrubar o maior número de garrafas, como por exemplo chegar um pouco mais à frente, colocar a bola no chão e lançar a bola com toda a força em direção às garrafas, que evidencia o desenvolvimento do pensamento da criança (capacidades cognitivas). O facto de ser um jogo, enquanto atividade lúdica, proporcionou vários momentos de alegria, que contribuiu para o bem-estar das crianças (capacidades emocionais). O jogo possibilitou integrar outras Área de Conteúdo e Domínios, como o caso da Matemática, pois à medida que as crianças derrubavam as garrafas, procedeu-se a sua contagem. Dentro das limitações encontram-se as condições atmosféricas adversas e o facto de o jogo não poder ser realizado por um grande número das crianças ao mesmo tempo.

II. Potencialidades e limitações na exploração da casinha para o desenvolvimento das crianças

A casinha de madeira do espaço exterior fascinou sempre as crianças e despertava o seu interesse para realizar diferentes jogos e brincadeiras, porém verificou-se que as brincadeiras realizadas eram sempre muito semelhantes. Por isso, de forma a enriquecer o brincar das crianças, foi pensado introduzir alguns objetos e materiais (Figura 54). O facto de introduzir elementos como “solo” e “areia” fez todo o sucesso da atividade, pois todas as crianças tinham presente estes elementos no seu brincar (para fazer sopas, bolos, gelados, sumos). Verificou-se que partir do espaço da casinha, juntamente com os materiais inseridos, podem ser desenvolvidas as mais variadas capacidades humanas: a imaginação (brincar ao “faz de conta”, atribuir novos significados e sentidos aos objetos disponibilizados); trabalhar em grupo (preparar um bolo em conjunto e convidar os amigos para cantar os parabéns); adquirir conhecimentos sobre o espaço (esvaziar e encher diferentes recipientes) e das propriedades dos materiais. Pode contribuir para a expansão do vocabulário e para o desenvolvimento da motricidade fina (misturar, encher e esvaziar, abrir e fechar). No

71 que se refere às limitações identificadas, destaca-se a impossibilidade de os materiais e objetos introduzidos, ficarem sempre dentro da casinha; visto que o estágio foi realizado durante o inverno, não foi possível introduzir elemento “água”, mas considera-se que este pode proporcionar brincadeiras ainda mais ricas.

III. Potencialidades e limitações do brincar com os carros

Quanto ao material construído com as crianças, verificou-se que pode contribuir para o seu desenvolvimento pessoal e social. A presente atividade (Figura 55) mobilizou diferentes áreas de conteúdo referidas nas Orientações Curriculares (Conhecimento do Mundo, Área da Formação Pessoal e Social e Área de Expressão e Comunicação), que por sua vez possibilitaram desenvolver variadas capacidades. No que se refere às habilidades motoras, implicou diversos tipos de movimento: saltar, correr, andar, mudar de direção, contornar obstáculos. Contribuiu para o aprofundamento dos conhecimentos da área do Conhecimento do mundo envolvente: regras básicas da segurança rodoviária, reutilizar os materiais recicláveis para construir objetos; para a dimensão social e na ajuda ao outro: as crianças interagiam entre si, indicavam e incentivavam outras crianças a reagir de forma correta. No que respeita o desenvolvimento cognitivo, foram observadas situações imaginárias, como é o caso de brincar aos polícias e de raciocínio: perante o sinal vermelho que comportamentos que os peões devem ter e os carros. Importa referir que apesar do material construído ser em forma de carros, e atendendo a distinção anteriormente verificada inerente as brincadeiras com materiais para um determinado género, nesta atividade tal não se verificou, pois tanto os meninos como as meninas brincaram e exploraram os carros no percurso planeado. Durante a exploração, predominava o clima de muita alegria e satisfação, que evidenciou o bem-estar das crianças, podendo concluir que o presente material pode ser potenciador de grandes descobertas e aprendizagens, onde as crianças, num clima de divertimento, ao brincar, podem desenvolver as mais variadas capacidades. No que se refere às limitações, visto que os carros foram feitos a partir das caixas de cartão, estas não apresentam longo período de uso, sendo que os mesmos podem ser danificados em qualquer momento. Os cintos que eram usados para colocar o carro nos ombros das crianças, por vezes caiam, pelo que era necessário o auxílio do adulto para as colocar novamente no sítio. Por fim, não existiu espaço para guardar os carros no espaço exterior, por isso, os mesmos eram guardados dentro de sala.

Relativamente aos materiais e às atividades desenvolvidos no âmbito do projeto, concluiu-se que utilizando materiais simples e recicláveis, pensados numa vertente pedagógica, é possível criar oportunidades ricas para o desenvolvimento das

72 crianças. Verificou-se que, para além das atividades oferecerem desafios motores (saltar, correr, andar, lançar, manusear), contribuíram para momentos de interação, ajuda ao outro, respeito pelo outro, trabalho em grupo (dimensão social); promoveram o faz de conta, pensamento estratégico (desenvolvimento cognitivo), proporcionando ainda um clima de divertimento, de bem-estar (dimensão emocional), a par de diversas aprendizagens. No livro de Bilton et al. (2017) reconhece-se a importância de introduzir materiais para enriquecer o brincar das crianças, tendo por base os comportamentos e interesses manifestados.