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O papel do professor de educação especial na Escola Inclusiva

Capítulo I Revisão da literatura

4. EDUCAÇÃO ESPECIAL

4.1. O papel do professor de educação especial na Escola Inclusiva

O professor de educação especial constitui-se um importantíssimo recurso no caminho da escola inclusiva, dada a sua especialização e conhecimentos técnicos aprofundados nas Necessidades Educativas Especiais. Com a sua colaboração com o professor de ensino regular, na elaboração dos planos educativos individuais e na transformação da sala de aula, em termos materiais e conceptuais, para que esta responda à diversidade discente de forma eficaz através de metodologias ativas e aprendizagens significativas para todos.

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Apesar do tema Inclusão ser amplamente discutido e, de forma geral, aceite por todos os agentes educativos como necessário e benéfico a todos, a verdade é que ainda se encontram com frequência casos de turmas com crianças com NEE em que o professor de ensino regular delega a responsabilidade da aprendizagem dessas crianças no professor de educação especial que trabalha mais de perto com as mesmas, dentro ou fora da sala e da turma. “O professor da turma delega no professor de educação especial a responsabilidade no atendimento do aluno com NEE e o professor de educação especial emerge como professor técnico (…)” (Ventura, 2009, p. 11).

O mesmo autor (2009, p. 39, citando Barrow, 2000), afirma que “o conceito está teoricamente esclarecido, mas que a prática, a sua implementação e o envolvimento das escolas, é que não é suficientemente claro e consolidado”. Da globalização e a facilidade de mobilização das pessoas nacional e internacionalmente, física ou virtualmente, resulta uma sociedade plural e diversa, quer seja numa questão de género, classe social, religião, etnia ou cultura, a que corresponde também uma escola com uma grande diversidade de alunos, com ou sem NEE. O desafio que se impõe à escola de modo a incluir todos não “pode ser objeto apenas dos serviços de educação especial” conforme está previsto na Declaração de Salamanca (1994, p. 19) em que:

É claramente assumido que a preparação adequada de todo o pessoal educativo constitui a pedra de toque na promoção de uma escola inclusiva. Lidar com a diversidade discente é um dos maiores desafios atuais da escola que ou “se torna um lugar de inclusão social e plural e de promoção de igualdade de oportunidades ou é um lugar de discriminação e exclusão. (Debate Nacional sobre Educação, 2007, citado por Ventura, 2009, p. 35)

Hoje em dia, o Professor de Educação Especial ainda é visto como um professor de apoio que trabalha com a criança com NEE, individualmente e fora da sala, em vez de estar a colaborar diretamente com o professor titular num contexto inclusivo.

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Em Portugal, com a publicação do Despacho-Conjunto nº 105/97 encontra-se um sistema educativo que integra o ensino regular e o ensino especial num sistema educativo único e são criadas as Equipas de Coordenação dos Apoios Educativos (ECAE) no sentido de dar apoio às escolas e aos docentes. No entanto, Ventura (2009, baseando-se no trabalho de Lima-Rodrigues, 2007) refere que o investimento que é feito na Educação Especial é um mau investimento, na perspetiva da UNESCO, já que não nos devemos debruçar em encontrar soluções para alunos “diferentes” mas em encontrar soluções para todos os alunos com as suas diferenças.

Ainda Ventura (2009, referindo Mastropieri & McDuffie, 2007), indica o co-

teaching como metodologia promotora da Escola Inclusiva em que o professor

da turma e o professor de educação especial estão, em simultâneo, na sala com todos os alunos. Os modelos de co-docência identificados por vários autores, referidos por Mastropieri e McDuffie, revelam algumas variações: um líder e um assistente; docência em paralelo (Hazlett, 2001); alternância na docência (Curtin, 1998) e a station teaching (Tarrant, 1999) ou seja uma equipa de docência com os alunos em grupos de trabalho, na sala de aula.

O primeiro modelo, líder e assistente, é o mais frequente em que, normalmente, o professor titular assegura a turma e o professor de educação especial é responsável pelas adaptações curriculares e pelo apoio individual. A docência em paralelo ocorre quando os dois professores ensinam os mesmos conteúdos a grupos diferentes, frequentemente em salas diferentes. O ensino em alternância e o ensino em estações são considerados pelos autores como trabalho em equipa em que, no primeiro caso, forma-se um grupo mais pequeno na turma que trabalha com um dos professores durante um período de tempo, noutro local; no segundo caso, a turma é dividia em pequenos grupos (estações) e a co-docência assegura o trabalho com os vários grupos.

Os resultados da investigação evidenciam benefícios para os envolvidos e consideram que este processo de colaboração traz resultados académicos e sociais. O professor considera que ganha capacidades no controlo da sala de aula e na adaptação do currículo, bem como na partilha de novas ideias. Para o aluno sem necessidades educativas especiais, as vantagens verificam-se mais

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ao nível das competências sociais do que das competências académicas. O aluno com necessidades educativas especiais desenvolve trabalho mais intenso e a aprendizagem comportamental com os pares.

Embora se possa configurar como uma solução eficaz na busca da Inclusão, a co-docência, para resultar, necessita de apoio administrativo, na busca do par pedagógico eficaz, tempo para planear e tempo para formação por parte dos professores e não podemos esquecer que a profissão de professor sempre foi solitária e o professor de ensino regular toma a turma como sua e vê-se como seu líder.

Austin (2001, citado por Ventura, 2009) na sua investigação sobre as crenças dos professores acerca da co-docência, identifica três modelos: o consultor, o treinador e o colaborador. No consultor, o professor de educação especial é consultor do professor de ensino regular em áreas como as adaptações curriculares, o apoio no desenvolvimento de competências deficitárias e na avaliação diferenciada. O treinador, em que ambos partilham o ensino, cada um responsabiliza-se pelas áreas em que é especialista. Por último, o colaborador é o modelo mais recomendado pela literatura e consiste na presença, em simultâneo, do professor da educação especial e do professor do ensino regular. Partilham a tarefa do planeamento de todo o processo de implementação e de avaliação. Considera-se o modelo mais eficiente pela contribuição e responsabilização de ambos os intervenientes.

Ventura (2009, p. 59) refere que “na opinião de Austin, é fundamental o treino dos professores para a co-docência. Os professores com prática de co-docência consideram que os alunos têm grandes vantagens quer nas competências académicas, quer nas competências sociais” e, citando Burstein et al., 2004, refere que “o sucesso das escolas inclusivas passa por um sistema único de educação, com forte colaboração entre o professor de ensino regular e o professor de ensino especial, de pendor compreensivo e integrado, tendo em vista todos os alunos”. Também sublinha a importância do cross de lines, ou seja, o trabalho em conjunto, em colaboração entre os dois docentes.

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