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1.2. A componente lúdica no Processo Ensino-Aprendizagem

1.2.5. O papel do professor no âmbito da componente lúdica

“A curiosidade que me move, que me inquieta, que me insere na busca, não aprendo nem ensino”. (Paulo Freire)

O jogo como Metodologia de Ensino é, como corroboramos anteriormente, utilizado desde a Antiguidade e defendida por conceituados filósofos e educadores como Aristóteles e Platão e caraterizado como um instrumento eficaz e prazeroso. Apesar das inúmeras fases por que passou, o seu caráter educativo evoluiu consideravelmente e a forma como é encarado hoje em contexto de sala de aula difere substancialmente dos tempos da Escola Tradicional, em que era aceite como tempo de recreação. Esta mudança trouxe consigo outras alterações inadiáveis e urgentes, no que toca ao papel do professor mas também do aluno.

Doravante, a atuação do professor deixou de ser o foco principal do processo de ensino- aprendizagem, transferindo esse papel ao aluno que tem o dever de participar ativamente de todo o processo. A sua função resume-se a ser um facilitador, motivador, guia dos seus

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aprendentes, fornecendo-lhes todos os elementos necessários para que este seja o condutor e construtor do seu próprio saber, podendo atuar de forma satisfatória:

El profesor es la persona que atenta a las necesidades lingüísticas de sus alumnos, motiva, suscita, confía en su capacidad, da pistas para que ellos mismos induzcan las reglas y resuelvan las dudas, se interesa por cómo lo han hecho y sugiere nuevas formas de hacer (Sonsoles, 2001: 6-17)

Na realidade não se trata de transmitir apenas o saber, mas antes de construir um saber com os alunos, de partilhar conhecimentos, de delinear as estratégias mais prometedoras para a aprendizagem em curso, como destacou Perrenoud: “L’enseignant doit s’attacher à rendre l’élève actif dans la construction de son savoir, l’amener à se poser des questions, ses questions, à comprendre ses démarches, à s’approprier des connaissances nouvelles en les intégrant à ses acquis antérieurs” (citado em Azevedo, 2000: 30).

Nesta perspetiva, o professor assume o papel de assessor, intermediário, delegando ao seu aluno um papel central: o de agente ativo que assume a responsabilidade da sua aprendizagem, aquele que se coloca numa atitude investigativa, heurística, crítica, argumentativa e criativa (Azevedo, 2000: 29-32). Por isso, e como mencionou Sonsoles Fernández (2001: 6-17) o aprendiz não “espera a que le den consignas de lo que hay que hacer, cómo y cuándo, sino que se esfuerza, valora sus propias dificultades, solicita ayuda, evalúa los diferentes recursos, asume la responsabilidad de su proprio aprendizaje”.

Apesar disso, e para que a aprendizagem seja realmente efetiva através do jogo é fundamental que se estabeleça entre ambos um relacionamento focado no respeito mútuo, na amizade, na confiança e que o professor tenha em conta fatores como o nível de conhecimentos dos alunos, a idade, os seus interesses, as suas necessidades, as suas aptidões e o contexto no momento de planificar atividades lúdicas (Labrador e Morete, 2008:80). Assim, aquando dessa planificação, que deve ser cuidada e pensada atempadamente, o docente deverá estar ciente de que o sucesso da atividade e as metas que com ela pretende alcançar, será determinada não só pelos aspetos sugeridos anteriormente, mas também pela definição dos seus objetivos e das suas regras que deve impor de uma forma clara e concreta aos aprendizes; pela adequação desses mesmos objetivos aos conteúdos previstos, para que permitam a revisão, consolidação das destrezas linguísticas a praticar; pela seleção criteriosa de todas as atividades lúdicas; pela eficácia e utilidade de cada atividade no processo de ensino-aprendizagem dos alunos e ainda

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pela dinâmica de grupo que pretende criar de modo a possibilitar uma maior interação, socialização e responsabilidade entre os estudantes.

De facto, não podemos correr o risco de verem no jogo uma perda de tempo, um momento inútil e fútil, pois não se trata de jogar só por jogar, mas sim mostrar ao aluno de que, por meio do lúdico, é possível aprender, evoluir e progredir.

Cumpre ainda observar que, no decorrer de todos estes comportamentos, o professor deve certificar-se de que todos, sem exceção alguma, compreenderam os procedimentos a seguir para que a atividade se desenvolva sem interrupções e para que possam, tal como é desejado, atingir o objetivo proposto. Por outras palavras, é tarefa do professor explicar a atividade e, se necessário, exemplificar para que os alunos saibam o que fazer previamente, é ele quem dita as regras, quem determina qual a melhor técnica, segundo as circunstâncias e metas participativas de cada grupo, é ele quem seleciona os objetivos específicos e dá orientações. O êxito ou fracasso da atividade dependem, deste modo, da preparação e das habilidades do docente e das características do grupo. É imprescindível que os estudantes sintam que o professor foi capaz de explorar e adaptar as atividades lúdicas às situações cotidianas, próprias do seu dia-a-dia.

Deste modo, sentir-se-ão motivados, entusiasmados, quererão envolver-se e participar mais, já que internamente, se encontram mobilizados por estratégias externas, isto é, ferramentas sedutoras usadas para mobilizar a turma, que lhes proporcionarão, de uma maneira mais animada, o gosto pela aprendizagem dos conteúdos do programa e o pedido da repetibilidade que os alunos solicitam no final de cada atividade lúdica, como sinónimo de prazer (Silva, 2011: 196).

Aliada a esta motivação, a interação, a comunicação, a reflexão e ainda a aplicação dos conteúdos aprendidos e o estabelecimento de relações entre os novos e velhos conhecimentos serão também mais evidentes.

Obviamente, tudo isso exige do docente uma atenção redobrada, na medida em que na

aula de aplicação de cada jogo, ele deve observar atentamente todos os detalhes necessários para fazer uma avaliação coerente de todos os seus elementos, diagnosticar dificuldades, considerando todos os imprevistos que ocorram dentro da sala de aula.

Assim, mais do que organizador, motivador, facilitador, negociador, observador, intermediário, o professor é ainda um avaliador que, valorizando a realidade de cada aluno, deve criar meios, novos caminhos que os despertem e que sirvam para promover a autoestima, favorecer o

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desenvolvimento da linguagem, por meio de uma participação ativa do aprendente na aquisição de uma segunda língua, e em prol de uma aprendizagem significativa.

Em suma, o papel do professor no jogo, embora se converta num papel secundário, requer da sua parte esforço, exigência e seriedade, corroborando assim o pensamento de Sonsoles Fernández já exposto anteriormente, segundo a qual, a adequação e aplicação de um jogo se pode tornar numa missão muito mais trabalhosa do que a elaboração de um simples exercício extraído de um manual. Tudo deve ser previamente planificado, pensado e ponderado, para que os discentes não o contemplem como um exercício desprovido de seriedade, de importância, e de saber.