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A perspetiva do Quadro Europeu Comum de Referência para as Línguas e do Plan Curricular

1.2. A componente lúdica no Processo Ensino-Aprendizagem

1.2.3. A perspetiva do Quadro Europeu Comum de Referência para as Línguas e do Plan Curricular

Mediante os princípios mencionados anteriormente, não esqueçamos o Quadro Europeu Comum de Referencia para as línguas (QECR),um dos documentos orientadores que serve de nível de referência internacional para avaliar o nível de compreensão e expressão orais e escritos numa língua, para assegurar o reconhecimento mútuo das qualificações, a harmonização de programas de línguas, ou ainda a definição de orientações curriculares; e também o o Plan Curricular del Instituto Cervantes.

Publicado em 2001, pelo conselho Europeu, o representou para os profissionais que trabalham na área das línguas, um guia indispensável, que lhes possibilitou o enquadramento dos conhecimentos e necessidades dos seus aprendentes de acordo com os níveis de proficiência estabelecidos:

O Quadro Europeu Comum de Referência (QECR) fornece uma base comum para a elaboração de programas de línguas, linhas de orientação curriculares, exames, manuais, etc., na Europa. Descreve exaustivamente aquilo que os aprendentes de uma língua têm de aprender para serem capazes de comunicar nessa língua e quais os conhecimentos e capacidades que têm de desenvolver para serem eficazes na sua atuação. (Conselho da Europa, 2001:19).

Neste documento encontramos sistematizados princípios metodológicos desenvolvidos ao longo de vários anos pelos investigadores do Conselho de Europa, que assentam claramente numa perspetiva de ensino da língua centrada na ação, no desenvolvimento de tarefas, na presença da cultura da língua aprendida, e na necessidade de responsabilização do aluno no seu processo de aprendizagem.

O principal objetivo do QECR é que o falante/aluno desenvolva a sua competência comunicativa, isto é que ele seja capaz de satisfazer todas as necessidades comunicativas, não só na língua materna, como também na língua meta.

Assim, ao convencionar os seus princípios de atuação na perspetiva defendida pela Abordagem Comunicativa, o QECR pretende que se estabeleça dentro da sala de aula situações concretas de comunicação, através de um uso efetivo, autêntico e verdadeiro da língua. Para isso, nada melhor do que a componente lúdica, que, ao invés de um simples exercício, estimula, motiva, descontrai o aluno que, sem perceber, coloca em prática as suas habilidades comunicativas, de

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uma maneira natural e eficaz, originando assim numa situação real de comunicação. A aprendizagem tornar-se-á, nestes moldes, mais significativa, e o aluno cumprira objetivos concretos, utilizando para isso estratégias necessárias à comunicação e interação com os seus pares.

Alias, ao longo deste documento são várias as alusões e os capítulos que remetem para o vocábulo “jogo” e aconselham vivamente a sua utilização, a fim de desenvolver a capacidade comunicativa do aluno: “O uso da língua como jogo desempenha frequentemente um papel importante na aprendizagem e no desenvolvimento da língua” (Conselho da Europa, 2001:88). Neste contexto, o QECR propõe variadíssimos jogos, classificando-os como jogos sociais de linguagem, atividades individuais e jogos de palavras:

Jogos sociais de linguagem:

- orais (histórias erradas ou “encontrar o erro”; como, quando, onde, etc.); - escritos (verdade e consequência, a forca, etc.);

- audiovisuais (loto de imagens, etc.);

- de cartas e de tabuleiro (canasta, monopólio, xadrez, damas, etc.); - charadas, mímica, etc.

 Atividades individuais:

- adivinhas e enigmas (palavras cruzadas, anagramas, charadas, etc.); - jogos mediáticos (TV e rádio: “Quebra-cabeças”, “Palavra Puxa Palavra”);  Trocadilhos, jogos de palavras, por exemplo:

- na publicidade, p. ex.: da proteção ambiental: “um cigarro mal apagado pode apagar a floresta”; - nos títulos de jornais, p. ex.: a propósito do lançamento de um CD dos Beatles perto do Natal, “Noite consolada”;

- nos graffiti, p. ex.: “Quem não tem nada não tem nada a perder”

(Conselho da Europa, 2001:19)

Porém, o QECR defende também no capitulo 4, ponto 4.3.5. – Usos estéticos da língua- onde recomenda a utilização de simulações e dramatizações, as canções, a audição de textos criativos, os textos literários, como histórias e contos, que permitam desenvolver capacidades como a memorização, a improvisação, a concentração, a audição, a escrita, a interação e promovem a consolidação de conteúdos previamente adquiridos, a comunicação ou ainda a aproximação à cultura meta, num ambiente divertido e relaxado.

Este tipo de exercícios, como refere o Quadro Europeu Comum de Referencia para as línguas (2001:194) pode também desempenhar um papel motivador” porque permitem formular

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“objetivos transitórios, definidos em termos de tarefa a realizar no que diz respeito à aprendizagem”. Por meio da concretização destas tarefas, o discente desenvolverá então as suas competências gerais.

Quanto ao Plan Curricular del Instituto Cervantes (PCIC), cuja publicação contém os princípios orientadores e os conteúdos sistematizados para o ensino da língua espanhola como língua estrangeira, que servem de ferramenta valiosa para os docentes desta disciplina em todo o mundo, também ele, à semelhança do QECR, concedeu ao lúdico um papel importante. Segundo o PCIC, o jogo permite o desenvolvimento da criatividade, da cooperação, possibilita a prática livre e simultaneamente controlada da língua, desinibe, motiva, desenvolvendo não só a competência linguística como também a competência sociocultural (Instituto Cervantes, 2006, versão eletrónica).

Assim, o Plan Curricular del Instituto Cervantes cataloga vários tipos de jogos que considera relevantes para a aprendizagem da língua espanhola, tendo em conta o objetivo previamente estabelecido. De entre eles destacamos: os jogos de observação e de memória, direcionados param a prática controlada do léxico; os jogos de lógica e de dedução, indicados para aprendizagem e aperfeiçoamento da gramática; e os jogos com palavras, recomendados param a prática de atividades orais e escritas.

Em suma, não existem pretextos para não usar a componente lúdica pois ela constitui um excelente recurso no que toca à aprendizagem de uma língua estrangeira, não se trata de um mero passatempo que serve unicamente para divertir mas sim de uma atividade séria, pois: “Ningún intento será en vano a la hora de convertir el aula de clases en un espácio para el descubrimiento y la solidariedade, el conocimiento, el respeto a las ideas y la diversidad, la formación de ciudadanos críticos y útiles a la sociedad” (Chacón, 2008).