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Foto 9 Cascata das Andorinhas

2 CAPÍTULO I DESENVOLVIMENTO, REGIÃO E REGIONALIZAÇÃO NA

2.5 O Papel do Planejamento e a Mesorregião

Uma primeira definição oficial de Mesorregião, pode ser assim apresentada:

...uma área individualizada, em uma Unidade da Federação, que apresenta formas de organização do espaço geográfico definidas pelas seguintes dimensões: o processo social, como determinante, o quadro natural, como condicionante e, a rede de comunicação e de lugares, como elemento da articulação espacial. Estas três dimensões possibilitam que o espaço delimitado como mesorregião tenha uma identidade regional. Esta identidade é uma realidade construída ao longo do tempo pela sociedade que ali se formou (IBGE,1990).

As mesorregiões criadas pelo IBGE, não são entidades políticas, nem administrativas, sendo usadas geralmente para fins de estudos e de estatísticas.

Já do ponto de vista léxico, Mesorregião é uma “extensão territorial com características próprias (físicas, econômico-sociais, humanas, etc.), mas em nível não tão avantajado quanto o das macrorregiões” (HOUAISS, 2009).

Conforme Bandeira, 2004, em documento do CEDEPLAR/UFMG, o Ministério da Integração Nacional, em 2003, por intermédio de suas Secretarias de Política de Desenvolvimento Regional, e de Programas Regionais, publicou o documento “Política Nacional de Desenvolvimento Regional – Proposta para Discussão”, no qual se recomendou um novo enfoque para as iniciativas federais relativas ao desenvolvimento regional, com o objetivo de redução das desigualdades regionais. O documento sugere que as Mesorregiões tenham preferência para as ações de intervenção:

As ações serão portanto desenvolvidas preferencialmente à escala mesorregional. (...) A idéia é consolidar os Programas Mesorregionais dentro de uma agenda preestabelecida de ações, que inclui, prioritariamente: infraestrutura clássica de média e pequena escala, apoio à inovação e suas práticas em arranjos produtivos locais, capacitação de mão-de-obra, apoio à ampliação dos ativos relacionais e oferta de crédito para as unidades produtivas. O apoio ao Programa Mesorregional parte do consenso construído pelos atores locais em torno de um plano de desenvolvimento, que deve sinalizar ao Ministério da Integração Nacional e demais unidades do Governo o mix particular de ações a serem apoiadas. (BRASIL, 2003, p. 35).

Já há algum tempo, autores importantes vinham destacando a crescente heterogeneidade estrutural das macrorregiões, que as tornava cada vez menos adequadas para servirem como referência exclusiva das ações de desenvolvimento regional. A opção prioritária por essa escala intitulada “mesorregional” parece consolidar de forma definitiva uma tendência observada, desde meados da década de noventa, tanto na literatura sobre o desenvolvimento regional no Brasil, quanto na própria prática das políticas públicas relacionadas com o tema.

ARAÚJO (2000) colocou que no âmbito da administração federal, já em 1995 em um documento a Secretaria Especial de Políticas Regionais, do Ministério do Planejamento e Orçamento, havia a afirmação de que, nas novas políticas regionais que viessem a ser adotadas no País, deveria ser considerada a incorporação ao processo de planejamento de uma pesquisa aprofundada de esquemas de regionalização. Esta necessidade se dava em função do fato de que as atuais macrorregiões do país, com

grande extensão geográfica, não davam mais conta das diferenças inter-regionais. Para as Secretarias de Políticas de Desenvolvimento Regional, e de Programas Regionais essa heterogeneidade, que foi apontada por Tânia Bacelar de Araújo, (ARAÚJO, 2000), tem características físicas e econômicas que não permitem uma intervenção mais apropriada dos programas governamentais, desde a década de 1970.

O Governo fez, para fins de planejamento, a divisão em sub-regiões, áreas-programa e áreas de desenvolvimento local, para as quais pudessem ser definidos programas governamentais mais adequados às especificidades de cada segmento do espaço regional. Ao tomarem como referência essa nova escala territorial menos abrangente – e ao privilegiarem ações voltadas para a articulação e para o empowerment dos sujeitos locais, que criam condições para a mobilização do potencial endógeno dessas regiões – as novas políticas mesorregionais se distanciaram do paradigma tradicionalmente seguido pelas políticas regionais brasileiras. Uma nova política de regionalização passou desde a década de 1950 com a SUDENE, e posteriormente as outras superintendências, a ser apoiada exclusivamente na escala mesorregional e centrado na oferta de incentivos e/ou na transferência de recursos públicos para as áreas menos desenvolvidas.

Durante a década de noventa, em algumas das unidades da Federação, pôde ser observada uma preocupação similar no sentido de valorizar escalas territoriais mais próximas do nível local – e mais adequadas para a articulação de sujeitos e sua mobilização endógena. Algumas administrações estaduais se preocuparam em definir novas escalas territoriais para sua atuação, empreendendo esforços (nem sempre bem sucedidos) no sentido de implantar instâncias administrativas intermediárias, em nível regional.

A escala macrorregional, tradicionalmente utilizada como referência exclusiva para as ações federais de desenvolvimento regional, ao implicar em territórios excessivamente heterogêneos, dificulta uma adequada mobilização potencial endógena dos territórios. A valorização de escalas menos abrangentes que as tradicionalmente adotadas deve ser entendida como parte de um processo de ajuste das políticas regionais brasileiras ao

novo paradigma dominante na área, que passou a enfatizar a importância da dinâmica interna das regiões – inclusive em termos políticos e sociais – como um elemento determinante do seu potencial de desenvolvimento.

A importância que passou a ser atribuída aos fatores endógenos, a partir dos anos oitenta, chega a caracterizar uma nova ortodoxia na questão regional. Contribuíram para a ascensão desse “novo paradigma”, por um lado, o interesse despertado pelo sucesso de algumas regiões, como os distritos industriais da “Terceira Itália” e, por outro, a insatisfação com os resultados das políticas “tradicionais” de desenvolvimento regional, que vinham sendo adotadas desde o final da Segunda Guerra Mundial.

ASH AMIN, (1998), registra que até recentemente as políticas de desenvolvimento regional adotadas tanto nos países desenvolvidos quanto nos do terceiro mundo eram, em regra, padronizadas, focalizadas em influenciar as decisões de localização das empresas, baseadas em incentivos fiscais e financeiros, e dirigidas exclusivamente pelo Estado. As avaliações mostraram que os efeitos dessas políticas foram modestos no sentido de estimular melhorias continuadas.

Optamos neste trabalho, na escala mesorregional, pela Média Mogiana, em São Paulo, e pelo Sul do Estado, em Minas Gerais, sem os limites das definições oficiais, conforme explicado na metodologia. Buscamos entender sua formação histórica em comum e características homogeneizantes que nos possibilitaram sua definição como Mesorregião da Mogiana. Buscamos sua inter-relação com o meio físico, econômico e social no processo de transformação de Poços de Caldas em um polo mesorregional.