• Nenhum resultado encontrado

3. Variação e mudança linguística

3.4. O Parâmetro do Sujeito Nulo no Espanhol

No quadro abaixo, podemos observar o paradigma verbal do espanhol (E),

constituído pelos sete pronomes sujeitos e sete desinências.

1

a

sing.

Yo

Cant - o

2

a

sing.

Cant - as

Vos

Cant - ás

3

a

sing.

Él/Ella/Usted

Cant - a

1ª plur.

Nosotros

Cant - amos

2

a

plur.

Vosotros

Cant - áis

3

a

plur.

Ellos/Ellas/Ustedes

Cant - an

Quadro 3. Paradigma verbal e flexional do Espanhol

Devemos destacar que a segunda pessoa vos + a sua flexão verbal é uma

característica de algumas variedades do espanhol da América e também sofre

variações nas diferentes falas, inclusive no que se refere a prestígio. O fenômeno,

denominado voseo, pode ser encontrado especialmente no Rio da Prata

(Argentina, Uruguai e partes do Paraguai), em alguns países do Caribe e América

Central e no Chile, com uma extensão de uso bastante diferenciada e

aceitabilidade relativa em alguns casos. Em relação ao paradigma verbal do

espanhol uruguaio, devemos destacar que no Uruguai, se usa o denominado

voseo híbrido

20

, que significa o emprego alternado de duas formas:

1. pronome sujeito tú + o verbo voseado

tú sos una persona bárbara.

2. pronome sujeito vos + verbo voseado

Vos sos una persona bárbara.

A língua espanhola licencia a ausência de pronomes sujeitos devido a que

20 Cabe lembrar, que este chamado voseo híbrido deve-se ao fato que no Uruguai o voseo foi muito combatido e reprimido.

Nesse sentido, se explica em parte o voseo híbrido. Por outro lado, acreditamos que na região fronteiriça, este voseo “tuteante”, como poderíamos também denominá-lo, deve-se atualmente ao contato com a forma Tu do PU. Ou seja, que aqui teríamos um hibridismo como conseqüência do contato de línguas.

possui um sistema flexivo "rico", isto é, as desinências do verbo permitem

distinguir as diferentes pessoas do seu paradigma verbal.

Fernández Soriano (1999:1224) afirma que:

El español permite omitir los pronombres de sujeto, esto es, junto a una oración como Ella

ha venido existe la posibilidad de la paralela sin pronombre, Ha venido. Así, nuestra

lengua difiere de otras, como el inglés, que sólo permiten, con verbos conjugados, construcciones en que el sujeto aparece expresado (He saw her). Esta posibilidad, que se da también en italiano y en otras lenguas no emparentadas, se ha puesto en relación con la riqueza que presenta el paradigma verbal, es decir, con el hecho de que la desinencia flexiva del verbo permita, por sí sola, distinguir entre las distintas personas gramaticales.

A ideia. compartilhada pela gramática tradicional

21

, conforme a mesma

autora (1999:1225), é que “(…) en estas oraciones la flexión ‘contiene en sí’ al

sujeto, posee sus rasgos. [...]. La naturaleza pronominal de la flexión verbal de

persona hace, así, que la aparición de un sujeto expreso no sea necesaria en

ciertos casos.” A autora apresenta exemplos de sujeito nulo em todas as pessoas

do paradigma verbal espanhol e ressalta que as frases não são impessoais, dado

que o sujeito nulo é o argumento predicado pela ação verbal e que possui um

conteúdo semântico concreto. Vejamos os exemplos apresentados pela autora

(1999: 1224):

Trabajo de nueve a cinco todos los días. Trabajas de nueve a cinco todos los días. Trabajaø de nueve a cinco todos los días. Trabajamos de nueve a cinco todos los días. Trabajáis de nueve a cinco todos los días Trabajan de nueve a cinco todos los días.

A respeito do parâmetro pro-drop, Fernández Soriano (1999:1225) diz:

En lenguas como el español existen pronombres fonéticamente nulos, cuyo contenido se recupera a través de su relación con un elemento, en este caso afijado al verbo, que contiene rasgos de personas (y quizá otros). Ciertas lenguas permitirán la aparición en posición de sujeto de pronombres vacíos, siempre que se cumplan ciertos requisitos, entre

21 Fernández Soriano refere-se a autores que também compartilham a mesma idéia, como Seco (1988), Gili Gaya (1943),

los que está su adecuada identificación. (p.1225)

O espanhol apresenta três tipos de sujeitos não explícitos (F

ERNÁNDEZ

S

ORIANO

, 1999: 1225):

1. Argumentais. Sujeitos elididos + um verbo não impessoal; a referencia

pode ser indefinida e de quantificação existencial; contrastam com as

construções com pronomes expressos (são os mais frequentes):

Llaman a la puerta. / # 22 Ellos llaman a la puerta

2. Quase–argumentais. São os verbos meteorológicos e outros de terceira

pessoa (terciopersonales); o sujeito pode materializar-se em expressões

idiomáticas, porém nunca aparece como pronome:

Llovieron piedras Llueve una lluvia finita.

3. Expletivos ou sem nenhum conteúdo. São os sujeitos das orações

impessoais não meteorológicas. O espanhol não tem pronomes explícitos

que funcionam como expletivos tal como o inglês (it/there) ou francês (il),

por esse motivo, não aparece jamais um pronome nessas construções.

Ө hay moscas en el jardín. Ө es necesario trabajar más. Ө parece que estamos cansados.

Outra característica dos sujeitos pronominais do espanhol a que se refere a

mesma autora é que a flexão verbal de pessoa tem a propriedade de não excluir a

referencia de objetos [- animados]. Cabe ressaltar aqui, que os sujeitos

pronominais plenos do espanhol remetem exclusivamente a pessoas, por

esta razão, nesses casos, o pronome sujeito está ausente. No inglês, essa

referencia é realizada através de um pronome neutro it. Conforme vimos antes, o

PB também apresenta este uso, fazendo a referencia a objetos [– animados] por

meio de um pronome pleno:

He visto el coche de Juan. Ө tiene un color muy bonito. I have seen John´s car. It has a very nice color.

Vi o carro do João. Ele tem uma cor muito bonita.

Em espanhol, há contextos em que o sujeito pronominal deve estar

presente:

a. quando o sujeito é foco oracional e, por conseguinte, deve ter um

acento contrastivo e não pode recair sobre morfemas flexivos:

- Quién ha sido?

– He sido yo./ *23__ He sido.

b. não pode haver um sujeito elíptico se há complementos apositivos,

adjetivais ou oracionais, neste caso, em que o sujeito pleno é

obrigatório, também se aceita como referente um objeto inanimado.

solo lo hiciste/*__ Solo lo hiciste.

Él mismo lo ha resuelto./*__ Mismo lo ha resuelto.

Tú, que tienes dinero/*__, que tienes dinero, podrás venir. Tus observaciones son todas ellas falsas.

A maioria dos gramáticos tradicionais coincide em que a presença de um

pronome explícito na posição de sujeito é “supérflua” e considera que ela deriva

de três fatores: a redundância, a ênfase e a ambigüidade (F

ERNÁNDEZ

S

ORIANO

,

1999).

Vimos algumas das restrições de aparecimento dos pronomes expressos e,

em relação a isso, Fernández Soriano (1999:1227), afirma que “no hay

alternancia entre el uso y la omisión de los pronombres sujeto. Pero, además,

todo parece indicar que un pronombre tónico no es ‘redundante’, sino totalmente

imposible en algunos casos.” Algumas orações que são perfeitas no inglês ou no

francês, no espanhol, um falante nativo não as aceitaria:

Yo me vestí y después yo fui a recoger a mi hijo, pero yo llegué tarde.

Para essa autora, não podemos falar de uma livre alternância nem de uma

opcionalidade, uma vez que o pronome aparece quando é necessário e essa

necessidade deriva muitas vezes da configuração sintática. Ela sugere que os

dados devem ser analisados minuciosamente e devem existir fatores estritamente

gramaticais que determinem a sua presença. No entanto, quando aparece um

pronome tônico em espanhol costuma-se atribuir a sua presença a fatores de

natureza mais discursiva, tais como o contraste ou a inviduação:

lo sabías.

Yo ya lo he terminado.

A respeito das propriedades do parâmetro pro-drop (C

HOMSKY

, 1981),

tratadas na seção anterior, elas também se aplicam ao espanhol. Vejamos

algumas delas, com os seus respectivos exemplos, (L

ICERAS

,1992):

1.

Presença de sujeitos nulos:

___ salieron por aqui.

2.

Não requer a presença de expletivos como él, tal como ocorre

com il ou it do francês e do inglês, respectivamente:

___ llueve.

3. Ausência de efeito that-t: permite relativizar e enfocar como

perguntas os sujeitos das orações subordinadas:

¿Quién has dicho que va a ganar?

4.

Inversão livre do sujeito em orações simples:

Ha llegado Juan.

5.

Possibilidade de mover um elemento através de uma cadeia de

subordinação (extração do sujeito a distancia):

CAPÍTULO IV

A žente se expresa cum us dois idiomas žunto ... y tein cosas que se entenden y pode falá ao mesmo tempo os dois idiomas... por ejemplo... voy no mercado y digo así me dé un quilo de choriso... en bes de disé quilo de salsiša... en bes de disé un quilo de masa eu digo me dé un quilo de fideú

Inf.B5 L41-46

ANÁLISE LINGUÍSTICA DOS PRONOMES SUJEITO NO

PORTUGUÊS URUGUAIO

Por meio da análise linguística da amostra em estudo, procuramos

observar quais propriedades linguísticas apresentam os pronomes pessoais em

posição de sujeito no PU. Com base na Teoria de Princípios e Parâmetros

(C

HOMSKY

,1981) e na Sociolinguística Variacionista (W

EINREICH

,L

ABOV

eH

ERZOG

,

1968), passamos a analisar o preenchimento e não preenchimento dos pronomes

sujeito, assim como determinar quais são os fatores linguísticos e sociais

condicionantes dessas realizações. Cabe ressaltar que para a seleção dos fatores

linguísticos condicionantes nos baseamos fundamentalmente nas pesquisas

realizadas a respeito do Sujeito Nulo do PB e PE realizadas por Duarte (1995,

2003).

Para recordar o já dito na parte dedicada neste trabalho à metodologia,

para a quantificação dos dados, realizamos a contagem das ocorrências dos

sujeitos nulos e preenchidos. Para o cálculo das porcentagens e média de uso,

utilizamos o programa estatístico Statistical Package for the Social Sciences 15

(SPSS®). Para saber se algum dos fatores extralinguísticos selecionados (idade e

sexo) estaria favorecendo a regra do preenchimento ou apagamento do sujeito,

aplicamos o Teste ANOVA. Este teste estatístico realiza uma análise de variância,

isto é, compara as médias dos grupos em análise, de um fator para uma variável

dependente quantitativa em relação a outra variável de fator independente. Com a

análise da variância, procuramos observar se as diferenças entre as médias das

amostras são estatisticamente significativas.

Documentos relacionados