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2.3 CONTROLES NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

2.3.4 Controle Externo Stricto Sensu

2.3.4.1 O Parecer Prévio emitido pelo Tribunal de Contas do

O Parecer Prévio emitido pelo Tribunal de Contas quando da apreciação das contas anuais do chefe do Poder Executivo "é uma peça técnica, instrumento de apreciação das contas que dará suporte para o julgamento delas pelo Poder Legislativo" (GUERRA, 2005, p.172).

Verifica-se que a definição de parecer prévio, atribuída por Guerra (2005), nada mais é que uma síntese do que prevê a legislação nacional sobre a matéria, pois o artigo 71, inciso I, da CF/88 e o artigo 75 da Constituição do Estado do Paraná dispõem que o controle externo realizado pelo Congresso Nacional será exercido com o auxílio do Tribunal de Contas da União, ao qual compete a apreciação das contas anuais prestadas pelo presidente da República, mediante parecer prévio (BRASIL, 1988; PARANÁ, 1989).

Corroborando, Castro (2003, p.26) enfatiza que:

O Supremo Tribunal Federal mantém o entendimento, quanto à forma de apreciação e seus aspectos, de que: "A apreciação das contas anuais da chefia do executivo constitui uma das mais elevadas atribuições do Tribunal de Contas, a quem compete examiná-las de forma global, mediante parecer prévio, no que concerne aos seus aspectos de legalidade, legitimidade e economicidade". Destaca, ainda, que o parecer prévio se trata de "[...] pronunciamento técnico, sem conteúdo deliberativo, consubstanciado em parecer prévio, destinado a subsidiar o exercício das atribuições fiscalizadoras do Poder Legislativo".

No mesmo sentido, a Lei de Responsabilidade Fiscal, em seu artigo 56, dispõe que as contas prestadas pelo chefe do Poder Executivo receberão parecer prévio da respectiva Corte de Contas, acrescentando, em seu artigo 58, que nela deverão constar as questões atinentes à arrecadação, sua previsão, as providências adotadas no âmbito da fiscalização das receitas e combate à sonegação, as ações de recuperação de créditos e demais medidas para incremento das receitas tributárias e de contribuições (BRASIL, 2000).

Alicerçado nos dispositivos legais citados e na Constituição Estadual, o Tribunal de Contas do Estado do Paraná, da mesma forma, elenca em sua Lei Orgânica, Lei Complementar 113/2005, como primeira atribuição, a de apreciar as

contas prestadas anualmente pelos chefes dos poderes executivos, regulamentando o dispositivo na seção II de seu Regimento Interno (RI), que trata "Das Contas dos Prefeitos Municipais" (PARANÁ, 2005).

Nesta seção II resta definida (artigos 215 e 216) a abrangência da matéria analisada na prestação de contas anual, a qual inclui a gestão orçamentária, contábil, financeira, patrimonial e operacional, bem como a atuação do controle interno.

Essa mesma seção do RI autoriza, ainda, a edição de Instruções Normativas (IN) pela Corte de Contas Estadual com o fito de definir a forma da prestação de contas, a sua composição e a instituição da agenda de obrigações municipais, que consolida prazos e compromissos, cujos critérios são tratados como "escopo de análise da prestação de contas anual" (PARANÁ, 2006).

Assim, para cada exercício financeiro analisado o Tribunal de Contas do Estado do Paraná edita uma instrução normativa indicando os documentos que deverão ser apresentados pelas entidades, e outra que define o escopo de análise da prestação de contas daquele exercício financeiro, conforme o quadro a seguir:

Genericamente, os principais documentos exigidos são: a) ofício de encaminhamento da prestação de contas; b) formulário de dados de prestação de contas municipal; c) índice com denominação de paginação dos documentos; d) certificação do contador;

e) cópias dos extratos bancários;

f) documento emitido pelos bancos com descrição das contas da entidade, saldo e tipo de conta; g) extratos bancários de janeiro do exercício seguinte ao da prestação de contas em que ocorram as

conciliações bancárias e regularização de valores;

h) declaração de inexistência de agência de banco oficial no município;

i) razão contábil, onde constem os lançamentos das regularizações dos valores conciliados; j) certificado de regularidade previdenciária;

k) certificado de regularidade dos recolhimentos INSS e FGTS;

l) peças contábeis e os demonstrativos contábeis: Balanço Orçamentário, Financeiro e Patrimonial, Demonstração das Variações Patrimoniais, Demonstração da Dívida Fundada, Demonstração da Dívida Flutuante, Publicação das Demonstrações Contábeis no Diário Oficial do Município e/ou em outro jornal de circulação;

m) relatório e parecer do controle interno; n) atos de remuneração dos agentes políticos; o) resolução do conselho de saúde;

p) parecer do conselho municipal de saúde;

q) laudo atuarial com vigência aplicável ao exercício.

Quadro 9 - Documentos Exigidos pelo TCE/PR nos Processos de Prestações de Contas Anuais

Observa-se, pelo quadro acima, que para a análise da prestação de contas anual dos prefeitos municipais o TCE/PR se limita aos aspectos formais, em conformidade com as normativas da Corte de Contas, e encaminhamento de documentos que demonstrem a conformidade orçamentária, contábil, financeira e o cumprimento das exigências da Lei de Responsabilidade Fiscal (PARANÁ).

Denota-se ainda, por meio da leitura das instruções normativas, que, nesta função de apreciar a prestação de contas anual dos prefeitos municipais, o Tribunal de Contas do Estado do Paraná deixa a cargo exclusivamente do controle interno de cada município a avaliação da efetividade dos planos, programas e políticas de governo, confiando fidedignamente nos dados avaliados pelos órgãos de controle interno, em que pese o Regimento Interno prever em seus artigos 215 e 216 que a análise das prestações de contas anuais deve incluir a gestão operacional (PARANÁ).

Nos termos do caput, do artigo 23, da Lei Complementar 113/2005 (PARANÁ, 2005), o Tribunal de Contas emitirá parecer, no prazo máximo de 1 (um) ano a contar do seu recebimento, sobre a prestação anual de contas do Poder Executivo Municipal, e, conforme a redação do artigo 17 da Lei Complementar 113/2005, ao apreciar estas contas, o Tribunal de Contas emitirá parecer prévio recomendando a regularidade, a regularidade com ressalva ou irregularidade delas, definindo, quando for o caso, a responsabilidade patrimonial dos gestores, ordenadores de despesas e demais responsáveis pelos bens e valores públicos (PARANÁ, 2005).

Contas regulares são aquelas que expressam "de forma clara e objetiva, exatidão dos demonstrativos contábeis, legalidade, legitimidade e economicidade dos atos de gestão dos responsáveis" (CHAVES, 2009, p.356), ou seja, são aquelas contas que não possuem quaisquer vícios.

As contas serão apreciadas com ressalva quando "evidenciarem impro- priedade ou qualquer outra falha de natureza formal de que não resulte dano ao erário" (CHAVES, 2009, p.356). Estas desconformidades não podem caracterizar uma ilegalidade nem tampouco acarretar débito.

Ainda, sobre a apreciação das contas do executivo municipal, Chaves (2009, p.356) menciona que a emissão de parecer prévio pela sua irregularidade ocorrerá quando da comprovação das seguintes ocorrências:

1. Omissão no dever de prestar contas; 2. Prática de ato de gestão ilegal, ilegítimo, antieconômico, ou infração à norma legal ou regulamentar de natureza contábil, financeira, orçamentária, operacional ou patrimonial; 3. Dano ao erário decorrente de gestão ilegítimo ou antieconômico; 4. Desfalque ou desvio de dinheiros, bens ou valores públicos.

Observa-se que o Tribunal de Contas do Estado do Paraná prevê ainda, em seu artigo 16, §3.º, que as contas poderão ser julgadas irregulares no caso de "reincidência no descumprimento de determinação de que o responsável tenha tido ciência, feita em processo de tomada ou prestação de contas" (PARANÁ, 2005).

Sinteticamente, em se tratando de parecer prévio emitido pelo Tribunal de Contas Estadual, conforme enfatiza Andrada e Barros (2010, p.70), ele "se difere do julgamento das contas pelo Poder Legislativo porque é concebido para ser uma apreciação técnica e apolítica dessas contas, o que lhe confere caráter imparcial de elevado status constitucional".

Em que pese tal afirmação, não se pode deixar de mencionar que empiricamente verifica-se que estes pareceres emitidos pela Corte de Contas do Estado do Paraná, embora predominantemente técnicos, não estão imunes a influências de cunho político, existindo em casos assemelhados decisões diferentes.

Feitas as considerações e observações sobre a apreciação e emissão do parecer prévio (técnico) pelo Tribunal de Contas do Estado, cumpre, na seção seguinte, verificar como realmente se processa o efetivo julgamento das contas municipais anuais dos prefeitos junto às Câmaras Municipais.