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O Parlamento do MERCOSUL em atividade: constituição, estrutura

O Parlamento do MERCOSUL, como se viu, não se encontrava presente originariamente na estrutura institucional do MERCOSUL conforme estabelecido no Protocolo de Ouro Preto, documento que fundou as funções, atribuições e o organograma institucional do Bloco. O PARLASUL, conforme o exposto e apresentado, sucede qualitativamente a Comissão Parlamentar Conjunta, cujo papel constitucional era o de ‘representar os Parlamentos dos Estados-Parte no âmbito do

MERCOSUL’ (Protocolo de Ouro Preto, art. 22). Na realidade a Comissão

Parlamentar Conjunta essencialmente procurava abreviar os trâmites internos em cada Estado-Parte para a entrada em vigor das normas derivadas do Conselho Mercado Comum, além de incentivar uma cultura política integracionista entre as sociedades políticas nacionais.

Conforme o discorrido mais acima, em dezembro de 2006 o Protocolo Constitutivo do Parlamento do MERCOSUL entra em vigor, instituído como um órgão unicameral e de representação das populações do Mercado Comum do Sul. Assim, conforme seu artigo primeiro:

ARTIGO 1 Constituição

Constituir o Parlamento do MERCOSUL, doravante o Parlamento, como órgão de representação de seus povos, independente e autônomo, que integrará a estrutura institucional do MERCOSUL.

O Parlamento substituirá à Comissão Parlamentar Conjunta.

O Parlamento estará integrado por representantes eleitos por sufrágio universal, direto e secreto, conforme a legislação interna de cada Estado- Parte e as disposições do presente Protocolo.

O Parlamento será um órgão unicameral e seus princípios, competências e integração se regem de acordo com o disposto neste Protocolo.

Protocolo Constitutivo

O protocolo fundacional assevera ainda que o Parlamento do MERCOSUL tem entre suas atribuições: zelar pela observância às normas do Bloco; velar pela manutenção da democracia em especial pela cláusula democrática expressa pelo

Protocolo de Ushuaia; elaborar um relatório anual sobre a situação dos direitos humanos nos países signatários do Tratado de Assunção; efetuar pedidos de informações e requerer a visita ao seu plenário de representantes dos órgãos dos MERCOSUL para acompanhar o processo; organizar audiências públicas e encaminhar petições populares ao CMC; emitir declarações, recomendações e relatórios sobre questões vinculadas ao desenvolvimento do processo de integração; acelerar o trâmite para a internalização de normas; propor projetos de norma para o MERCOSUL para serem apreciados pelo CMC; elaborar estudos e anteprojetos de normas nacionais, orientados à harmonização das legislações nacionais; fomentar o desenvolvimento de instrumentos de democratização representativa e participativa no MERCOSUL. Além de outros dispositivos que o integram de maneira mais orgânica à estrutura institucional do Bloco e o caracterizam como parte consultiva relevante da tomada de posição com relação ao processo de integração.

Nos artigos cinco e seis, o Protocolo estabelece a maneira pela qual se dará a forma de integração e de eleição do PARLASUL. Sendo que no artigo cinco fica clara a iniciativa de superar o déficit democrático do Bloco a partir da composição do parlamento respeitando um formato de representação cidadã (CAVALCANTI et al., 2010). Enquanto no artigo seis faz referência ao meio para se alcançar esta representação - a representatividade dos diferentes segmentos da sociedade e a criação de uma data eleitoral comum em todos os Estados para o endosso do sufrágio, nas palavras deste artigo no documento:

Eleição

1. Os Parlamentares serão eleitos pelos cidadãos dos respectivos Estados- Parte, por meio de sufrágio direto, universal e secreto.

2. O mecanismo de eleição dos Parlamentares e seus suplentes reger-se-á pelo previsto na legislação de cada Estado-Parte, e que procurará assegurar uma adequada representação por gênero, etnias e regiões conforme as realidades de cada Estado.

3. Os Parlamentares serão eleitos conjuntamente com seus suplentes, que os substituirão, de acordo com a legislação eleitoral do Estado-Parte respectivo, nos casos de ausência definitiva ou transitória. Os suplentes serão eleitos na mesma data e forma que os Parlamentares titulares, para idênticos períodos.

4. Por proposta do Parlamento, o Conselho do Mercado Comum estabelecerá o "Dia do MERCOSUL Cidadão", para a eleição dos parlamentares, de forma simultânea em todos os Estados-Parte, por meio de sufrágio direto, universal e secreto dos cidadãos.

Ainda segundo o Protocolo Constitutivo do Parlamento do MERCOSUL em seu artigo 19, a instituição conta com a possibilidade de se pronunciar por Atos do

Parlamento e estes compreendem um conjunto de ações que podem ser: Projetos de Normas; Anteprojetos de Normas; Declarações; Recomendações; Disposições; Pareceres; Informes; Pedidos de Informe (PARLASUL A, Pronunciamentos). Nenhum dos Atos acima listados tem poder vinculante automático e capaz de determinar desdobramentos diretos no andamento do processo de integração. Contudo, Projetos de Norma, Anteprojetos de Norma e Pedidos de Informe carecem de uma resposta por parte, no primeiro caso, dos órgãos superiores do Bloco, no segundo, dos Congressos Nacionais dos países e, no terceiro, dos governos nacionais e órgãos superiores do MERCOSUL.

Com a instalação do PARLASUL em definitivo na estrutura institucional do Bloco e com o poder investido a ele de votar e aprovar o seu Regulamento Interno (Parlamento do MERCOSUL, Regulamento Interno), este por sua vez trouxe possibilidades adicionais de atuação na dinâmica interna do processo, além de criar algumas comissões temáticas permanentes de atuação específica, tais como:

• Assuntos Jurídicos e Institucionais;

• Assuntos Econômicos, Negócios, Finanças, Fiscais e Monetários; • Assuntos Internacionais, Interegionais e Planejamento Estratégico; • Educação, Cultura, Ciência, Tecnologia e Esportes;

• Trabalho, Políticas de Emprego, Seguridade Social e Economia Social. • Desenvolvimento Regional Sustentável, Uso da Terra, Habitação, Saúde, Meio Ambiente e Turismo;

• Cidadania e Direitos Humanos;

• Assuntos Internos, Segurança e Defesa;

• Infra-estrutura, Transportes, Energia, Agricultura, Pecuária e Pesca; • Orçamento e Assuntos Internos.

(PARLASUL B, Comissões Temáticas)

O emprego, a organização, os princípios e as atividades do PARLASUL são, normativamente, mais complexos que os estabelecidos para a Comissão Parlamentar Conjunta. De maneira geral, é possível descrever esta mudança, não apenas como uma modificação de nomenclatura do órgão, mas sim a própria substituição de um órgão por outro diferenciado, cujas atribuições são mais próximas do que se entende convencionalmente como um parlamento. Contudo, esse ganho qualitativo pode se tornar sem efeito se, no desenvolvimento de suas atividades o Parlamento do MERCOSUL se restringir a manter a mesma lógica de desempenho da Comissão Parlamentar Conjunta.

Como já apontado, o processo de integração europeu sempre serviu como um modelo e uma orientação das etapas que deveriam ser cumpridas para a conformação dos demais projetos de integração ao redor do globo e, portanto, como

consequência, o tipo de parlamento que deveria se constituir quando a etapa correspondesse ao modelo. Contudo, como já foi mencionado, é extremamente arbitrário estabelecer um modelo padrão adaptável as mais diferentes sociedades, instituições e culturas políticas como uma fórmula única. A União Europeia se desenvolveu ao longo dos anos por características e segundo necessidades próprias daquele continente, passou - e passa - por diversos momentos de aproximações, conflitos e reaproximações. O Parlamento Europeu se constituiu como uma demanda aos executivos dos Estados-Parte de setores organizados daquelas sociedades, de forma a garantir a representação cidadã do conjunto e amplitude das diferenças presentes no processo. Foi, em grande medida, resultado da reivindicação histórica das populações por maior controle, accountability e respostas institucionais mais claras a demandas comunitárias71.

Em relação ao processo de integração regional que se desenvolve no MERCOSUL, embora houvesse desde sempre a intenção de se traçar paralelos, simetrias, e mesmo mimetismos com a experiência europeia, o projeto levado a cabo no sul tem suas características e idiossincrasias que não podem simplesmente ser modeladas ‘à maneira europeia’. Isto posto, seu parlamento também não pode ser simplesmente um mecanismo que reproduza no sul a experiência do norte, como se aqui a representação, a relação entre poderes e a afinidade da sociedade com o parlamento de mesmo tipo fosse. O MERCOSUL, ao contrário da União Europeia, é ainda, como pessoa jurídica de direito internacional, um organismo intergovernamental. Como a sua Constituição define e seu nome nos lembra: um Mercado Comum e não uma União Econômica e Monetária que instiga a integração à supranacionalidade. As decisões tomadas pelo Bloco dependem da anuência por consenso de todos os Estados-Parte, assim, a própria delegação de poder a um órgão interno à estrutura institucional guarda correspondência tanto com as particularidades históricas do desenvolvimento democrático regional, quanto em relação à etapa relativa ao modelo hegemônico que contingencia o desenvolvimento limiar do processo.

Tendo em vista estas premissas e percepções, cabe perguntar: de onde parte a necessidade de criação de um parlamento para o MERCOSUL? Qual a função de um parlamento para a regionalização mercosulina? No que contribui especificamente

71

É recorrente, nas pesquisas europeias, a desconfiança dos cidadãos nacionais para com a burocracia do sistema de integração europeu.

para o projeto? Como através de sua ação pode se legitimar, assim como dar legitimidade para o próprio processo de integração? Que tipo de representação é neste espaço exercida? Quais as suas capacidades e limites?

Neste sentido, passa-se na seção seguinte a uma análise descritiva e teórica dos fundamentos e incentivos que levaram a criação do PARLASUL, qual a sua funcionalidade institucional e qual sua capacidade de democratização do Bloco. Refletindo com base a partir dos Atos e pronunciamentos aprovados e mais acionados até o presente, da interpretação do seu conteúdo normativo e as possibilidades que deles derivam.

4.7 PARLASUL: incentivo governamental, representação proporcional,

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