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O PARTIDO FEDERALISTA NA PRODUÇÃO HISTORIOGRÁFICA NACIONAL

2 O PARTIDO FEDERALISTA SOB O PRISMA DA HISTORIOGRAFIA

2.3 O PARTIDO FEDERALISTA NA PRODUÇÃO HISTORIOGRÁFICA NACIONAL

federalistas. Além disso, é discutido também o processo de heroificação de Gaspar Silveira Martins, que, de monarquista foi transformado no representante da democracia sulina e defensor da liberdade. No último capítulo é discutida a produção historiográfica sobre a Revolução Federalista nos últimos 100 anos. Percebe-se como o discurso posterior sobre a mesma foi mudando conforme o contexto político no qual esteve envolvido o estado do Rio Grande do Sul.

Percorrendo os fios que teceram as nossas considerações neste capítulo acerca dos federalistas rio-grandenses, podemos concluir que em termos de conhecimento histórico pouco se sabe sobre a atuação federalista parlamentar, seja ela a nível estadual, através da Assembleia dos Representantes, seja ela na esfera federal, através da Câmara dos Deputados. Da mesma forma, verificamos uma carência de estudos mais sistemáticos e aprofundados sobre a participação do partido maragato no processo político rio-grandense da Primeira República. A grande maioria dos trabalhos historiográficos, seja pela perspectiva acadêmica, seja pela abordagem não-acadêmica, tomou como eixo central de análise o Partido Republicano Rio-Grande (PRR), conferindo, na maioria das vezes, um destaque mais tímido à oposição federalista, tratando-a como um tema menor ou secundário. E quando a historiografia se deteve de maneira mais incisiva nos federalistas, a ênfase se deu essencialmente nos dois eventos bélicos importantes do período, a Revolução Federalista e a Revolução de 1923.

2.3 O PARTIDO FEDERALISTA NA PRODUÇÃO HISTORIOGRÁFICA NACIONAL

De acordo com Grijó, em um país das dimensões territoriais do Brasil, uma das questões que sempre envolve a escrita da história é a relação que se estabelece entre a produção de história considerada nacional e aquela tida como regional, esta já apresentada e discutida por nós nos dois tópicos anteriores. As próprias agências que financiam pesquisas acadêmicas incorporam em suas classificações oficiais tais categorias, ficando muitas vezes a avaliação do que possa vir a ser considerado “nacional” ou “regional” a critério de pareceristas, em sua maioria, oriundos do próprio centro econômico, político, social e cultural da região Sudeste, na qual se localizam as principais capitais do país: São Paulo e Rio de Janeiro. Como parte desse centro, esclarece o autor, consideram o seu próprio lugar como

suas produções”, enquanto que o que se vai dele afastando vai se tornando cada vez mais

“regional”.145

Embora esse não seja o nosso foco nesse momento, acreditamos que fosse cabível fazer esse destaque relativo às tensões que marcam as definições do que possa ser considerado regional ou não, no âmbito historiográfico. Conforme frisa o referido autor, trata-se, enfim, de uma questão que, antes de tudo, é política.146

De qualquer modo, a historiografia dita “nacional” é aqui entendida como aquela que

se dirige para toda a formação social e política brasileira, não privilegiando em suas análises históricas apenas um único estado ou região.

Na reflexão sobre a Primeira República, consideramos importante traçar breve painel sobre a produção historiográfica brasileira do período, para termos um panorama das principais questões levantadas pelos especialistas, tendo como fio condutor as produções que, de algum modo, enfocaram as atuações das oposições partidárias no e do período republicano. Nesse ínterim, procuraremos destacar de que maneira o nosso objeto de análise, o Partido Federalista, foi tratado e enfocado por tal. Como já salientamos anteriormente, no que se refere à historiografia nacional, também pode-se identificar, nos trabalhos que analisaram a Primeira República, e que abordaram, direta ou indiretamente, o papel político exercido pelo Rio Grande do Sul nesse contexto, uma lacuna quanto ao estudo da atuação do Partido Federalista. De um modo geral, a historiografia brasileira, especialmente quando se debruçou sobre a questão do federalismo no contexto republicano, ao destacar o Rio Grande do Sul como agente histórico daquele processo político, assim como uma parte da produção historiográfica regional também fez, se voltou apenas para a história do partido dominante, o PRR, e/ou para a ação da figura do senador gaúcho Pinheiro Machado, vista por aquela como central na articulação entre o cenário gaúcho e o centro do país, mas não trazendo, nessas análises, nenhuma reflexão mais apurada acerca da oposição exercida pelos federalistas na conjuntura histórica em foco. São exemplos nesse sentido: Carone (1971), Godoy (1978), Witter (1984), Oliva de Souza (1985), Janotti (1986) e Viscardi (2012).

Em 1971, Edgard Carone publicou A República Velha II – Evolução Política. O volume encerra suas reflexões sobre a Primeira República, em que foram separados, por um critério didático, os aspectos econômicos e sociais relativos ao Governo Federal. Nesse

145GRIJÓ, Luiz Alberto. Um “Conteúdo Inferior”: a Luta pela História Regional do e no Rio Grande do Sul. In:

NOVALES, Ana Frega (Org.). História, regiões e fronteiras. – Santas Maria: FACOS-UFSM, 2012, p. 63.

146 BOURDIEU, Pierre. A identidade e a representação: elementos para uma reflexão crítica sobre a ideia de

região. In: BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico. Lisboa/Rio de Janeiro, Difel/Bertrand Brasil, 1989, p. 105- 132.

sentido, sua preocupação foi descrever e analisar as diversas medidas provenientes da Presidência da República e suas repercussões, enfocando as relações entre Governo Federal e os estados. É dentro dessa dinâmica geral que o autor expõe, a partir de uma história factual e cronológica, parte dos problemas básicos da política da Primeira República brasileira: a interação entre a política federal e estadual, a liderança dos grandes Estados, a luta entre militares e civis, a supremacia do exército sobre a marinha, as contestações da pequena burguesia, as dissidências oligárquicas.

É, portanto, dentro de um contexto descritivo, em que “a história não existe sem o

conhecimento dos fatos”147, conforme destaca o próprio autor, que pode-se compreender a

divisão da obra em quatro partes: “Os Governos Militares”, “O Fastígio do Regime”, “Os

Abalos Intermitentes do Regime” e “O Período das Contestações”.

O compromisso inicial entre forças antagônicas – civis e militares – para a proclamação da República é o traço principal do regime que se inicia, no pós-1889. Concomitantemente, Carone narra a tomada de poder, nos Estados, de forças republicanas, de ex-monarquistas e de militares; a luta na Assembleia Nacional Constituinte e a sua estrutura política oscilante, travada entre o Partido Republicano Paulista (PRP) e Deodoro da Fonseca, do exército versus marinha, grupos estaduais, entre outros. A guerra, por sua vez, é vista pelo autor, como o último resultado de todos os antagonismos restringindo-se, segundo ele, ao sul

do país, por “razões circunstanciais”. É somente neste momento que o Partido Federalista,

através da ação da figura de Silveira Martins e da sua articulação política que levaria à eclosão da Revolução de 1893, contra os castilhistas, aparece em sua obra. Nesse sentido, Carone recupera as diferentes fases que fizeram do movimento revolucionário, concentrando sua atenção no aspecto bélico da oposição.

Rosa Maria Godoy, discutiu a reivindicação central dos republicanos, o federalismo, ao compreendê-lo como instrumento no jogo de poder desde os primórdios republicanos. Assim, a causa federalista estava presente na implantação do regime republicano que foi marcado por tensões ao longo dos anos. Dessa forma se expressava a autora a esse respeito:

O federalismo constituiu-se [...] na tentativa de freio às peias excessivas que a monarquia impusera às províncias na condução de seus respectivos interesses. Portanto, significou uma força de canalização política abrangente, de forças díspares de um organismo social em vias de pluralização.148

147 CARONE, Edgard. A República Velha: evolução política. 4ª ed. São Paulo: Difel, 1983.

148 SILVEIRA, Rosa Maria Godoy. Republicanismo e federalismo: um estudo da implantação da República

Assim, o federalismo aparecia intimamente ligado à ideia de República e à de descentralização, em contraste com o unitarismo, identificado como característica dos regimes monárquicos centralizados. A incidência dessa colocação, de acordo com Godoy, era uma resposta clara às instituições monárquicas, alvo das críticas não só dos republicanos, mas também dos próprios políticos monarquistas. A célebre frase que abriria as considerações do Manifesto de 1870 sobre a Federação – “No Brasil, antes ainda da ideia democrática, encarregou-se a natureza de estabelecer o princípio federativo” – tornar-se-ia ligar comum. Assim, por exemplo, o raciocínio seria da seguinte ordem: instituía-se a federação republicana porque a centralização monárquica asfixiava as províncias e elas precisavam expandir-se para atender aos seus interesses próprios.149

A autora chama a atenção, no entanto, para a existência de outras interpretações

acerca do federalismo, que não a do binômio “Federação – Descentralização”, tendo em vista

que, segundo ela, havia historiadores cuja conceituação de federalismo propendia para a defesa da concentração de poder, cujo pensamento proposto aproximava-se do autoritarismo, na defesa de um Estado unitário.

Ao trabalhar a historiografia política republicana, a autora alertou para o desconforto dos historiadores que produziram os primeiros estudos sobre a Primeira República a partir da década de 1920, uma vez que discutiram à época assuntos recentes da história do Brasil. Naqueles anos, a República demonstrou as contradições do regime e esses autores procuraram compreender as origens dos problemas que viviam.

Sem merecer grandes considerações, o Partido Federalista aparece em sua reflexão

no capítulo III, “As crises da consolidação do Regime Republicano”, quando a autora destaca

que no Rio Grande do Sul, ao contrário das demais unidades federadas, que encontraram, no novo regime, os quadros administrativos já nas mãos dos liberais e conservadores, os

republicanos eram minoria, em contraste com “o influente Partido Liberal, de Silveira Martins”. Ao enfocar o espírito bélico presente na realidade do estado sulino, espírito que

desembocaria na deflagração da Guerra Civil, de 1893, ela salienta que:

Silveira Martins, chefe do ex-partido Liberal, procurava rearticular as forças dos ex- liberais, fundando o Partido Federalista ou Partido Republicano Federal. Diante da ameaça de volta ao poder do grupo liberal, Floriano Peixoto articulou a volta de Castilhos ao governo para que depois este transmitisse a um elemento florianista. [...] Os castilhistas, com a retaguarda de Floriano, replicaram, empossando Castilhos no governo em Porto Alegre e este, por sua vez, transmitiu o poder ao florianista Vitorino Monteiro. A dualidade de governos desencadearia a Revolução Federalista, que não passava de uma luta pelo poder entre o grupo castilhista de republicanos

históricos e o grupo de Silveira Martins, que conciliava ex-liberais e ex- conservadores. [...] Ideologicamente, a luta é de caráter anticastilhista apenas. Apesar de Floriano e outros denunciarem o monarquismo dos oposicionistas, na verdade a revolução federalista procurava impor princípios expostos no programa federalista, defendidos durante as diversas tentativas de acordo e, posteriormente, impostos pelas armas, quando desaparecerem as probabilidades de coexistência entre as partes.150

Como pode-se perceber a autora, ao destacar a luta política entre castilhistas e federalistas, tratou o Partido Federalista e o Partido Republicano Federal (PRF), como sinônimos, quando, na realidade, sabemos que se tratava de agremiações políticas distintas, com ideias políticas distintas. Não é demais lembrar que a fundação do PRF ocorre em 23 de abril de 1891, ou seja, um ano antes do surgimento do Partido Federalista. Além disso, o PRF, que envolvia a fusão de elementos da União Nacional (onde predominava os quadros do antigo Partido Liberal, favorável ao parlamentarismo, com os dissidentes republicanos da corrente de Demétrio Ribeiro e Barros Cassal, defensora do regime presidencial, teve duração bastante efêmera na cena política estadual.

Outra importante reflexão foi inaugurada por José Sebastião Witter que, em 1984,

publicou o livro “Partido Político, Federalismo e República”. Seu objetivo central envolve a

reconstituição histórica do Partido Republicano Federal (PRF), que existiu apenas entre os anos de 1893 e 1897. O PRF nada mais foi do que uma tentativa de se juntar em uma única as diferentes propostas republicanas. A motivação principal para sua organização concentrou-se na sucessão de Floriano Peixoto, ou seja, a chegada de um candidato civil à Presidência da República, Prudente de Morais. Dessa forma, esclarece o autor, a oligarquia rural e seus aliados impuseram-se aos militares e demais setores com a vitória do primeiro presidente civil no Brasil. Além disso, para José Sebastião Witter, muitos políticos da época tinham interesse em reformular as bases do Partido Republicano e permitir que o PRF atuasse em escala nacional. Neste momento, destacou-se a liderança de Francisco Glicério, que procurou conciliar as diferentes tendências existentes em seus quadros. Aliás, talvez aí esteja parte da explicação para a curta duração desta agremiação marcada por sua indefinição de princípios

uma vez que foi “uma catedral aberta a todos os credo”.151 Entretanto, Witter acredita que o

caráter efêmero do PRF esteja na sua incapacidade de superar o regionalismo e a luta dos grupos locais do país, objetivo alcançado por parte dos adeptos do Partido Federalista, que

150 SILVEIRA, Rosa Maria Godoy. Republicanismo e federalismo: um estudo da implantação da República

Brasileira (1889-1902). Brasília: Senado Federal, 1978, p. 112.

exerceu sua oposição, no plano nacional, do ponto de vista parlamentar, ao longo de quase três décadas.

Ainda na década de 1970, deve-se destacar o trabalho produzido por Emília Viotti da Costa, que faz um reparo às versões tradicionais a respeito da Primeira República brasileira, ao salientar que 1889 não significou uma ruptura total do processo histórico brasileiro e sim uma conjugação momentânea de três forças políticas: uma parcela do Exército, fazendeiros do Oeste paulista e representantes das camadas médias urbanas.152 Em primeiro lugar, a Abolição da escravatura e a Proclamação da República precisavam ser compreendidas como repercussões de mudanças ocorridas na estrutura econômica do país que provocaram a destruição dos esquemas tradicionais. Por sua vez, a questão religiosa deveria, no máximo, ser entendida como uma indisposição momentânea entre o trono e a Igreja, sem contribuição preponderante para a queda da monarquia, já que Viotti menciona a existência de padres tanto monarquistas quanto republicanos. Em terceiro lugar, o partido republicano, apesar de difundido em todo o país, não contava com grandes fileiras de militantes, com exceção dos núcleos do sudeste acompanhado pelo Rio Grande do Sul. Em quarto lugar, a infiltração do pensamento positivista nos meios militares explicaria provavelmente a sua adesão à república, mas alerta-nos Viotti que isto se referia aos oficiais de patentes inferiores e aos alunos da Escola Militar, uma vez que a Monarquia tinha o apoio dos escalões superiores. Por fim, o mito do poder pessoal devido ao mecanismo do Poder Moderador que, ao invés de preservar a Coria e lhe dar força, colocava o imperador no centro da disputa política, em outras, os erros e as medidas impopulares dos ministros recaíam sobre d. Pedro II. Pouco a pouco as prerrogativas imperiais foram restringidas pelo controle exercido pelas oligarquias.

A historiadora Terezinha Oliva de Souza, por sua vez, destacou a importância dos

“pequenos estados”, a partir da própria dinâmica interna desses estados, no âmbito da

problemática que envolvia, dentre outros aspectos, as relações estabelecidas entre a União federal e os estados no quadro da República oligárquica brasileira. É partindo dessa linha argumentativa, que ela justifica e apresenta o seu trabalho, que abarca um estudo de uma revolta contra o governo sergipano ocorrida no início do século XX. Nesse estudo, Souza procura verificar em que medida as soluções ditadas pelos interesses da política nacional foram em Sergipe absorvidas, descartadas ou aplicadas. A revolta do deputado e jornalista, Fausto Cardoso, em 1906, é recuperada e enfocada pela autora como um evento significativo

152 COSTA, Emília Viotti da. Da Monarquia à República: momentos decisivos. 9ª ed. São Paulo: UNESP,

de um momento de cisão na fração hegemônica da burguesia sergipana, momento crítico em que as camadas médias urbanas encontram condições de se pronunciar.

A figura de Cardoso, por sua importância no contexto, aparece, assim, bem destacada. O enfoque dado às suas ideias, assim como às ideias dos revoltosos, ajuda a compreender como os homens que comandaram a insurreição percebiam a realidade da época.

Outras duas importantes discussões acerca da Primeira República brasileira que

merecem nossa observação são: “Os Subversivos da República”, de Maria de Lourdes Janotti e “O Teatro das Oligarquias”, de Cláudia Viscardi.

Para explicar como se organizaram, como se manifestaram, como foram reprimidos, e como, afinal, se acomodaram harmoniosamente os saudosistas do Império, em tempos de Brasil republicano, Janotti estrutura sua argumentação destacando, inicialmente, que os

“subversivos da República”, pretendiam desprestigiar, em seu nascedouro, o que chamavam de “ditadura militar”. Das palavras passaram às reações concretas e agressivas, atuando em

diferentes pontos do território brasileiro, por meio de agremiações, meetings e levantes. A autora discute largamente todas as ações judiciárias, a opinião pública e os movimentos políticos em torno da questão. A agitação de ideias, argumentação, acusações e defesas apaixonadas pela imprensa são de forma minuciosa retratadas por Janotti. Evidenciando a fragilidade doutrinária e a pouca expansão do movimento monarquista, o estudo empreendido por Janotti evidencia, de maneira clara, através do discurso discordante da voz monarquista, que os primeiros tempos da república foram bastante tumultuados e periclitantes, e foi por isso que incluímos essa obra no painel da produção historiográfica nacional.

Na obra, “O Teatro das Oligarquias: uma revisão da ‘política do café com leite’,

Cláudia Viscardi contesta a existência de uma abordagem que, para quase totalidade dos historiadores, serviu de fundamento à estabilidade do regime político da Primeira República, qual seja, o da aliança mineiro-paulista. Nesse sentido, ao apresentar um novo arranjo alternativo, em que confere ao sistema um grau mínimo de funcionalidade, Viscardi defende a tese de que a estabilidade do modelo político em vigor no período se deu pela instabilidade das alianças entre os estados politicamente mais importantes da Federação, impedindo-se que a hegemonia de uns fosse perpetuada e que a exclusão de outros fosse definitiva. Tal instabilidade, diz Viscardi, pôde conter rupturas internas, sem que o modelo político fosse

ameaçado, até o limite em que as principais bases de sustentação desse modelo deixaram de existir, ocasionando a sua capitulação.153

No primeiro capítulo da obra, quando se realiza uma discussão historiográfica relativa à aliança política do café com leite e de seus fundamentos econômicos, a autora identifica, a esse respeito, três grandes tendências teórico-metodológicas.

A primeira seria composta por trabalhos que privilegiam em suas análises o papel do Estado republicano na relação Estado-sociedade, subestimando seu caráter classista, no encaminhamento e na defesa de suas aspirações. Os trabalhos historiográficos relacionados a esta tendência, em geral, desprezam a hegemonia política da aliança Minas-São Paulo, contestando, neste sentido, a tese de que o Estado brasileiro era refém dos interesses das oligarquias cafeicultoras.

Na segunda vertente torna-se visível a apropriação do Estado republicano pelas unidades cafeicultoras, que conseguiram valer seus interesses sobre os demais estados do país. Os trabalhos que englobam esta segunda tendência conferem à aliança São Paulo-Minas incontestável hegemonia política. De base marxista, esta vertente tem destacado e reiterado que as elites políticas atuavam principalmente como representantes dos interesses econômicos dominantes no âmbito social da época. Os trabalhos que a ela se relacionam procuram destacar a hegemonia política e econômica da aliança Café com Leite, levando para um plano secundário as divergências internas, em suas reivindicações. Relacionam, desta forma, a atuação das classes dominantes, vistas em sua maioria como harmônicas, aos interesses agro- exportadores, deixando de lado outros setores políticos a exemplo das oligarquias não cafeeiras, militares e do próprio Estado nacional.

Por fim, a terceira tendência, mais recente, tenta se colocar entre a primeira e a