• Nenhum resultado encontrado

O período de institucionalização, o Congresso de 1975 e a Constituição de

No documento heiberlehirsgberghoracio (páginas 53-69)

Nos primeiros anos da década de 1970 iniciam-se mudanças estruturais no sistema político cubano, “enquanto que o modelo econômico mantêm seu alto grau de centralização e estatização e sua ênfase nos serviços sociais” (BOBES, 2000, p.119), politicamente nasceu um certo pragmatismo e uma institucionalização baseada no modelo soviético.

Esse processo definitivo de institucionalização se efetivou quando de 17 a 22 de dezembro de 1975 o Primeiro Congresso do Partido Comunista de Cuba estabeleceu uma nova estrutura “segundo o modelo leninista, consagrado pela Constituição, com a qual a revolução se institucionalizou em 1976” (BANDEIRA, 2009, p. 620).

A respeito da transformação na estrutura política, o Congresso “significou a institucionalização do Partido Comunista de Cuba. Nele, foram aprovados os documentos que regiram a organização (estatutos) e orientariam a atividade partidária em todas as esferas da vida social (Plataforma Programática, Teses e Resoluções)” (Granma Internacional, maio de 2011).

Além do Congresso supramencionado, a institucionalização da estrutura política influenciada pelos soviéticos, passou também pela construção de uma nova Constituição que buscava estruturar mecanismos de participação popular. Onde, segundo Daniel Aarão Reis:

No plano político, uma nova Constituição, aprovada em 1976, estabelecia um sistema rigoroso, também de padrão soviético, encabeçado pelo Partido Comunista Cubano (PCC), único, articulando

48  organizações populares, as correias de transmissão (Conselhos de Defesa da Revolução – CDRs, sindicatos de trabalhadores, juventude, mulheres etc.) e o chamado Poder Popular, assembléias eleitas, piramidais, dos distritos ao plano nacional, com amplos poderes formais, mas, na prática, estritamente controladas pelo PCC. Assim, nas várias circunscrições, sempre podia haver diversos candidatos, e não necessariamente vinculados ao PCC, mas passavam todos pela sua triagem, e sem sua aprovação não podiam se apresentar ao sufrágio popular (REIS, 2010, p.373).

O chamado Poder Popular foi uma das principais inovações dessa institucionalização, que se efetivara com a Constituição de 1976 (FERNÁNDEZ, 2006, p.493),

Para Daniel Aarão Reis, nesse sistema político, por mais que ele se declarasse participativo, é “evidente que não se podia exercitar aí, nem seria tolerado, o questionamento das premissas da Revolução, ou das orientações centrais do Estado ou do PCC, ou ainda, da liderança política de Fidel Castro” (REIS, 2010, p.374) sob o risco do questionador ser considerado contra-revolucionário31. De acordo com Velia Cecilia Bobes,

Com tal sistema eleitoral também se reforça a homogeneização do espaço público e a carência de propostas alternativas que concorrem a esta esfera com o imperativo de argumentar a favor de certo modo de solução aos problemas coletivos e convencer ao eleitorado de sua superioridade sobre outros modos. No caso do sistema eleitoral cubano o que se decide é quem dos candidatos representa melhor os interesses do povo ou, o que é o mesmo, se trata de várias pessoas que competem pela representação do mesmo projeto. O sistema do Poder Popular, na teoria, estabeleceu como máximos órgãos do governo as assembléias de cada nível. Não obstante, na prática o centralismo do sistema político e administrativo tem limitado os poderes reais dos órgãos de base (município e província) (BOBES, 2000, p.121).

Nesse momento, com o funcionamento do Poder Popular, funcionamento efetivo ou não, adiciona-se o fato de Cuba nesse período possuir grandes índices de desenvolvimento econômico dado o forte apoio da URSS, já que “os anos soviéticos seriam assim, em Cuba, de apogeu das políticas públicas sociais e de distribuição de renda” (REIS, 2010, p.375).

A respeito das organizações de massa, elas tem seu número de participantes aumentado após a Constituição Socialista, que por sua vez é muito mais rigorosa com

      

31

aqueles que não aderem ao sistema, levando os indivíduos a se filiarem pelo menos formalmente como garantia de inserção.

Para Velia Cecilia Bobes essas organizações “(CDR, FMC, CTC, FEU, ANAP, etc) seguiram funcionando, porém experimentaram um processo maior de institucionalização e formalização, uma vez que a influência orientadora e dirigente sobre elas se acentuou” (BOBES, 2000, p.122). Quanto a isso, Bobes é enfática quando afirma que a “Constituição de 1976 gerava uma estruturação hierárquica da institucionalidade política na qual o papel do partido superava a todas as organizações, institutos estatais e forças armadas; todas elas se subordinavam a aquela” (IBIDEM, p.123).

Com a institucionalização advinda da influência soviética, até se reduz a personalização sobre a figura de Fidel, todavia, por outro lado, há um aumento na burocracia estatal e uma centralização no Partido Comunista de Cuba, agora ao estilo soviético, que passa a ser o grande órgão diretivo do Estado Cubano.

2.4 - A relação econômica com os soviéticos e a queda da URSS, a retificação e o Período Especial

Os anos em que Cuba se manteve dentro do campo soviético, usufruindo dos benefícios que a aliança com este trazia, foram tempos de grande desenvolvimento das políticas públicas em Cuba e dos seus melhores níveis de distribuição de renda.

Dados do CEPAL, trazidos por Aarão Reis, indicam que entre os anos de 1972 e 1985 a “taxa média anual de crescimento quase duplicou”, comparado aos anos entre 1950 e 1971, e chegou a 6% ao ano (REIS, 2010, p.373).

Lopes Segrera aponta que com relação aos índices sociais da América Latina, Cuba possuía um saldo significativamente favorável. Economicamente o saldo, embora com diferenças menores, também beneficiava a Ilha, já que se “entre 1960 e 1985 o PIB per capita de Cuba cresceu à taxa média anual de 3,1%, na América Latina o crescimento durante o mesmo período foi de apenas 1,8% (SEGRERA, 1995, p.19).

No entanto, mesmo a situação econômica cubana tendo melhorado significativamente e, até se diversificado, isso não diminuiu a dependência que os cubanos possuíam com relação a venda do açúcar para os soviéticos, que chegou a

50 

atingir em 1982, 83% do valor total das exportações. Além disso, Cuba ainda enfrentava sérios problemas de desenvolvimento que se agravariam com a crise de 1982 que afetou os países da América Latina e alguns países do bloco socialista (BANDEIRA, 2009, p.629).

Em razão desse quadro de crise, que piorou durante a década de 1980, existem indícios que nos primeiros anos dessa década Cuba já tivera inclusive recebido advertências dos soviéticos de que os subsídios não poderiam mais ocorrer (REIS, 2010, p.377).

Em 1985 com a ascensão de Mikhail Gorbachev ao governo soviético, as relações entre Cuba e a União Soviética, começariam a mudar, embora os antecessores de Gorbachev (Yuri Andropov e Konstantin Chernenko) já tivessem também advertido Castro sobre possíveis alterações.

E as efetivas e definitivas mudanças ocorreram quando Mikhail Gorbachev instituiu a Perestroika juntamente com a Glasnost, o que fez com que o governo cubano se movimentasse e estabelecesse medidas preventivas.

Assim sendo, em fevereiro de 1986 em um documento no Terceiro Congresso do Partido Comunista anunciou-se o programa intitulado “Retificação de erros e tendências negativas”. Já que depois da crise soviética Cuba efetuou um novo programa político- econômico disposta a repensar o “burocratismo”, a “pseudo-democratização institucional”, que acabara por levar a corrupção nos quadros do partido, e a exacerbada dependência com relação aos soviéticos.

Cuba desenvolveu uma campanha de Retificação em um contexto onde sofreu por ausência de divisas, não só porque sua dívida externa com os bancos privados internacionais e com a URSS cresceu drasticamente em 1986, mas também porque houve uma desvalorização recorde da cotação do açúcar no mercado mundial. Não podendo mais obter empréstimos, o Estado cubano reduziu significativamente suas importações e impôs um programa de austeridade que sacrificou a população (BANDEIRA, 2009, p.633)

A situação cubana ainda piorara no final da década de 80 e início da de 90 com o colapso do Bloco Socialista (1989) e a decomposição da URSS (1991), fazendo com que Cuba perdesse seu financiamento externo e seu comércio exterior.

Paralelo aos problemas econômicos, Cuba ficou também politicamente combalida, com dificuldades com sua organização político-social interna. Pois, com a “desaparição do campo socialista o governo cubano se encontrou cada vez mais isolado em um mundo globalizado e, simultaneamente, submetida a uma profunda crise econômica (a pior da sua história) que ameaçava impedir a execução de suas políticas igualitárias e de justiça social32” (BOBES, 2000, p.213).

Assim, devido ao quadro supramencionado, o governo cubano lançou um rigoroso plano de racionamento, que tinha sido pensado para uma eventual guerra: “O Período Especial em Tempo de Paz”. Neste se propunha a “abertura controlada para os capitais externos, dolarização parcial da economia, admissão da iniciativa privada numa série de setores, liberdade para o trabalho autônomo, estímulos para as cooperativas e mercados privados agrícolas (REIS, 2010, p.379).

O programa do governo veio acompanhado de uma série de mudanças no sistema institucional e legal cubano. No plano político-institucional, em 1991, o 4º Congresso do Partido Comunista Cubano centrou-se no “apelo ao fortalecimento da unidade do povo para enfrentar o acirramento da guerra econômica, a subversão ideológica e as pressões” dos EUA (Granma Internacional, maio de 2011).

Após o Congresso, o governo designou a Ricardo Alarcón, o presidente da Assembléia Nacional nesse momento, a tarefa de organizar uma política participativa e um discurso democrático que pudesse ser digerido por aqueles que exigiam de Cuba uma prática que se aproximasse da “democracia ocidental”.

Tal tarefa era das mais necessárias, pois grande parte do mundo supunha que a democracia de partido único de Cuba não passava de uma cópia pobre do sistema empregado nos então desacreditados países da Europa Oriental. Isso não era totalmente injustificado, uma vez que a Constituição cubana de 1976, e o sistema de Poder Popular que dela emanou, foram formulados durante o período de máxima influência soviética (GOTT, 2006, p.330).

      

32

Na década de 1990, com a crise econômica advinda da ruptura com a URSS, que se agravou com as determinações das Leis Torricelli (1992) e Helms-Burton (1996), estabelecidas nos Estados Unidos com o intuito de submeter Cuba a uma situação econômica insuportável que possibilitasse a queda do Regime, “a Ilha sofria uma situação comparável a uma guerra, ou uma catástrofe natural de grandes proporções. Desemprego, escassez de todo tipo de bens, marginalização, fome, desespero, perspectivas de abandonar de qualquer maneira o país, como foi o caso em 1994, quando se esboçaram movimentos sociais de descontentamento, rapidamente controlados” (REIS, 2010, p. 378).

52 

Devido às necessidades de ampliação da representatividade dos poderes populares, a Constituição de 1976 sofreu alterações em 1991 e foi aprovada em julho de 1992 pela Assembléia Nacional do Poder Popular, com a nova Lei Eleitoral.

Com relação ao lugar do PCC na “nova” Constituição, permaneceu nela o artigo que definia o Partido Comunista de Cuba, como martiano e marxista-lennista e força dirigente da sociedade e do Estado, como constara em um dos artigos a frase martiana “organizado com todos para o bem de todos”, que referendava o princípio de justiça social executado nesse momento pelo governo (BOBES, 2000, p.214).

Vale destacar que esse período de dificuldades econômicas acarretou mudanças sociais na sociedade cubana, com o surgimento de novos grupos e desigualdades entre eles, bem como o ressurgimento de “vícios” que até então tinham sido reduzidos após a Revolução. As mudanças sociais giraram também em torno da percepção que parte da sociedade tinha do governo, surgindo inclusive nesse momento “movimentos sociais de descontentamento” (REIS, 2010, p.379).

Todavia, esses movimentos sociais ou não tiveram força o suficiente e foram severamente reprimidos, ou eram muito mais projeções externas que viam na queda do Muro de Berlim e nas manifestações populares em parte da Europa, um grande momento também para a derrocada do governo cubano e toda a estrutura que o compunha.

No entanto, para Daniel Aarão Reis o “reacionamento das referências nacionalistas revolucionárias”, que tinham sido colocadas em segundo plano no período soviético, teve papel fundamental na tarefa de “unir, coesionar e mobilizar a opinião pública”, mantendo o consenso, mesmo nesse delicado momento (IBIDEM, p.379).

Aarão Reis, assim como alguns outros pesquisadores (SEGRERA, 1995; BURCHARDT, 1998) ainda chama a atenção para a capacidade que o regime teve para manter os investimentos sociais, dividindo de maneira equânime os sacrifícios, fazendo com que isso também mantivesse alguma coesão em torno do regime.

A pesquisadora Velia Cecilia Bobes, também insiste sobre o argumento de que o regime procurou manter o “consenso” em torno do nacionalismo. De acordo com ela, na fase conturbada do Período Especial, “diante das perdas de suas fontes fundamentais de consenso, uma vez mais se recorre ao nacionalismo e o chamado é para ‘salvar a pátria, a revolução e o socialismo’ nessa ordem” (BOBES, 2000, p.216).

De acordo com o ponto de vista de Burchardt, a manutenção do sistema cubano se deu porque a unidade de Cuba se funda em cinco elementos: o principio da igualdade social, o abarcador abastecimento regulado que impede a marginalização, um modesto bem estar social, a integridade do Estado e a dirigência histórica da revolução, “sem contar que o partido ainda goza de prestígio e apoio popular” (BURCHARDT, 1998, p.37).

2.5 - Fim dos anos 1990 e o século XXI

O panorama em Cuba no fim dos anos 90 e início do século XXI era o seguinte: a manutenção da centralidade governamental em torno do Partido Comunista de Cuba, embora tenha havido durante o Período Especial uma reforma eleitoral que teoricamente procurou dar mais representatividade a população; uma estrutura social que não passara incólume as várias medidas econômicas desse decênio, carregando consigo além dos traumas das grandes privações, uma desigualdade social oriunda das diferenciações no consumo e um novo tipo de comportamento, mais individualista e heterogêneo (BOBES, 2000).

Também no início do século XXI se observa uma vagarosa retomada econômica, depois das drásticas determinações tomadas pelo governo cubano no Período Especial. Onde, “no início do século XXI, a economia cubana começava, lentamente, a recuperar- se da profunda crise em que se precipitara após o colapso do bloco socialista (BANDEIRA, 2009, p.669).

No entanto, por mais que se afirme que “em fins dos anos 1990, e início do século XXI, o país parecia engajado novamente numa rota ascendente” (REIS, 2010, p.380), sobretudo em decorrência da grande impulsionada dada pelo turismo. É necessário indicar que antes da boa condição econômica que o país se encontraria no final da primeira década do século, o desempenho da economia cubana foi significativamente afetado com a vitória do candidato republicano George W. Bush para presidência dos Estados Unidos e sua declarada (2001) intenção de aumentar as sanções contra Cuba, além dos atentados terroristas (11 de setembro de 2001) e a consequente recessão mundial.

54 

Em 2002 o apoio do presidente venezuelano Hugo Chávez evitou uma queda ainda maior na economia cubana, já que ele firmou um acordo de venda de petróleo aos cubanos a preços especiais (BANDEIRA, 2009, p.688).

No entanto, mesmo com essa frutífera aliança, o governo cubano evitando passar pelas experiências antigas de dependência econômica de um mercado único (como no caso soviético) e de um produto único (açúcar), em 2002 publica “a decisão de abandonar a colheita e a produção de açúcar como as principais atividades econômicas do país” (GOTT, 2006, p.360).

Outro fator que contribuiu para dinamizar o desenvolvimento da economia cubana foi o apoio que Cuba recebeu da China, efetivado em 2004 em Cuba. De acordo com Luiz Alberto Moniz Bandeira, Venezuela e China impulsionaram significativamente o crescimento do Produto Interno Bruto de Cuba que “saltou de 1,8%, em 2002, e 4,8%, em 2003, para 5,4%, em 2004, e 11, 8%, em 2005” (2009, p.689). Foi também decisivo para o crescimento da economia cubana o turismo, pois com a “recepção de 2 milhões de turistas em 2005 (para um população total de cerca de 11 milhões de habitantes) e um crescimento de 11,6% neste mesmo ano” o turismo ultrapassou o açúcar, isso já desde 1995, como gerador de divisas (REIS, 2010, p.380).

Em 2006 Cuba expandiu suas possibilidades nas relações econômicas exteriores com o acordo junto ao Mercosul (chamado Acordo de Complementação Comercial) na 30ª reunião do Bloco. Dados do CEPAL indicaram o crescimento econômico nesse período, como consequência da maior disponibilidade de divisas e por um setor externo favorável. No entanto, de acordo com Bandeira,

não obstante a recuperação econômica e os avanços sociais, que se refletiam em baixa taxa de desemprego, a construção de 100.000 novas moradias, volume recorde de investimentos em ciência, redução da mortalidade infantil e aumento das matrículas escolares, Cuba ainda se debatia com os graves problemas, como a crescente dependência de alimentos importados, a persistência do embargo norte-americano, a crise nos transportes públicos e o crônico déficit habitacional, além das distorções salariais, que desestimulavam o trabalho produtivo (BANDEIRA, 2009, p.691).

Deste modo, foi preocupação do governo cubano em 2007 - agora com Raúl Castro no comando, que substituiu na prática Fidel desde julho de 2006 quando este se afastou do governo para uma cirurgia no estômago- a necessidade de se elevar os

salários fixos pagos pelo Estado, resolver o problema da pouca produtividade cubana e da escassa produção de alimentos, que levava Cuba a importar 80% dos alimentos que consumia.

Foi devido as dificuldades oriundas da crise econômica, aos problemas econômicos apontados por Raúl Castro (como a falta de alimentos e grande número de importação desses, baixa produtividade e redução da produção agrícola, defasagem salarial e desigualdade social e igualitarismo) e das medidas indicadas por ele, que realizou-se em 2011 o VI Congresso do Partido Comunista de Cuba, quando se deu ênfase às diretrizes econômicas que deveriam ser adotadas pelo governo cubano.

As melhorias na economia cubana acarretaram mudanças também politicamente, pois, além de permitirem um aumento no consumo dos cubanos e uma diminuição dos efeitos da pobreza que o país passara, possibilitou que o presidente Raúl Castro estabelecesse mudanças econômicas que se não geraram modificações estruturais e satisfação unânime, ao menos geraram algum contentamento na população. Para Bandeira, tais reformas efetuadas a partir de 2008 foram fundamentais para “preservação do próprio regime político, i.e., a hegemonia do Partido Comunista” (BANDEIRA, 2009, p.707).

No tocante a política, a estrutura governamental cubana no segundo milênio permanece dirigida pelo Partido Comunista de Cuba, agora tendo a sua frente o presidente Raúl Castro.

Raúl Castro que é a liderança do bureau dirigente do Partido Comunista e das Forças Armadas33, acumula as funções de Primeiro Secretário do Partido Comunista de Cuba e Presidente do Conselho de Estado e de Ministros, exibindo assim a identificação entre Estado e Partido que é um qualificativo desse Estado (BANDEIRA, 2009, p.658).

      

33

Que é “a mais estável e a mais bem administrada instituição da Revolução” onde, “com algo entre 50 e 60 mil integrantes, as Forças Armadas são a instituição mais poderosa, competente e influente de Cuba” (LATTEL, 2008, p.271 e 298). Para Luiz Alberto Moniz Bandeira, “foram elas, as Forças Armadas Revolucionárias, que, sob o comando de Raúl Castro, assumiram praticamente o controle da maior parte do sistema produtivo de Cuba” (BANDEIRA, p. 2009, p.709), diante das dificuldades iniciadas no Período Especial. Além disso, ela foi responsável pela estabilidade política interna verificada em Cuba, sempre controlada por Raúl Castro (LATTEL, 2008, p.39), e pela composição de vários dos altos cargos do governo cubano (IBIDEM, p.324). As Forças Armadas que sempre tiveram significativo poder, e Raúl Castro no topo da hierarquia militar, devido a sua trajetória que se inicia com o Exército Rebelde e passa pela sua participação nas importantes campanhas internacionais, com “o poder econômico adensou ainda mais o poder político” (BANDEIRA, p.710). Deste modo, Raúl Castro exerce “o governo de Cuba com o apoio do exército, que ele havia organizado e comandava, ao longo de mais de quatro décadas. E este exército era que controlava, não só o aparelho do estado, mas também todos os setores produtivos de Cuba” (IBIDEM, p.704).

56 

Muitos são os pesquisadores que indicam também a “pouca diferenciação entre o Estado, governo e partido34” em Cuba (VILLAÇA, 2010, p.22) onde, o regime cubano com sua estrutura de “regulação” das organizações de massas e do Poder Popular, agenciou um modelo que opera uma fusão Estado-Partido.

De acordo com Chaguaceda, desde a Revolução de 1959, Estado e sua “sociedade civil socialista” promoveram um modelo de cidadania-militante, que identificou ordem estatal e nação (...) (2012, p.238). Indo ao encontro do raciocínio de Chaguaceda, pelo menos nesse ponto, Guanche Zaldívar observa que:

Se a Revolução entende como obrigação fazer sinergia com o Estado por ela constituído, a ponto de ambos se fundirem de modo indivisível, a necessidade surge como virtude e produz a fusão Estado- Revolução. A representação do social fica dessa forma absorvida pelo Estado: a partir dele se formulam as políticas para a sociedade, as quais são transmitidas por meio das organizações sociais. Do ponto de vista ideológico, a consequência fundamental à qual conduz essa argumentação é a codificação da ideologia revolucionária como ideologia do Estado (ZALDÍVAR, 2011, p.7).

Em que pese as indicações de alguns pesquisadores de que o Estado cubano não tem mais conseguido suprir as demandas da sociedade abrindo espaço atualmente à organizações sem vínculos com ele35, esse capítulo baseou-se em pesquisas, indicadas ao longo dele, que defendem a hipótese de que ainda existe uma preponderância das políticas do Partido no gerenciamento do Estado.

No documento heiberlehirsgberghoracio (páginas 53-69)

Documentos relacionados