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RELIGIÃO E ESTADO EM CUBA

No documento heiberlehirsgberghoracio (páginas 147-181)

Como essa tese tem em seu exercício examinar o rendimento heurístico das noções de Religiões da Política (Religião Civil e Política) para o caso cubano, e foi fundamental para as reflexões já existentes que utilizaram essas noções – tanto nos trabalhos sobre Religião Civil de Bellah ou nos de Religião Política de Sironneau- a compreensão dos tipos de relações que os Estados portadores dessas singularidades possuem com as igrejas e religiões presentes em sua sociedade, aqui procurar-se-á observar as relações entre o Estado cubano e as religiões a fim de estabelecer comparações com as experiências estudadas pelos autores acima mencionados.

A respeito dos trabalhos sobre Religião da Política já produzidos, eles apontam que a função da religião nas experiências observadas varia de acordo com a experiência histórica de cada um. Enquanto em alguns as confissões dominantes desempenharam papel fundamental na conquista da independência e construção dos Estados, ocupando, por isso, um espaço privilegiado na estrutura mítico político-institucional dos mesmos, que em alguns casos reverbera até os dias atuais. Em outros, houve e há intercâmbios e bricolagens entre as estruturas mítico-simbólicas das religiões com as dos Estados.

Pelos motivos supramencionados, a interpretação de pesquisas que investigaram o tipo de relação que se deu entre Estado e religião, a suposta laicidade cubana e a dinâmica do campo religioso cubano está entre os procedimentos metodológicos dessa tese.

Posto isto, mesmo que esse capítulo lance mão da leitura de fontes (como os discursos dos Papas João Paulo II e Bento XVI, entrevistas compiladas com governantes cubanos e clérigos religiosos), sua estruturação se dará através de uma revisão bibliográfica composta por pesquisas produzidas por especialistas em investigações sobre religião concernente a Cuba. Especialistas do mais importante espaço de estudos sobre religião em Cuba, o Departamento de Estudios Sociorreligiosos (DESR) do Centro de Investigaciones Psicológicas y Sociológicas de La Habana (CIPS), bem como especialistas independentes, mas que possuem longa trajetória em pesquisas sociológicas sobre religião na Ilha.

142  6.1 - Antecedentes históricos: etapa Colonial e etapa da república neocolonial

Uma das periodizações possíveis da história de Cuba a divide em quatro etapas. A primeira chamada etapa primitiva, (também batizada de pré-hispânica, pré- colombiana ou aborígene). A segunda etapa, denominada de colonial, que se estende do início da colonização no século XVI e vai até a independência cubana (1898). A terceira, etapa da república neocolonial, abrange desde o estabelecimento do primeiro governo interventor dos Estados Unidos até a Revolução de 1959. A quarta etapa data do início do governo revolucionário até os dias atuais, e pode ser sub-dividida, pelo menos no que diz respeito a dinâmica da relação Estado/Igreja, em: período imediato a Revolução, período de tentativa de convívio (que tem seu início aproximadamente no fim da década de 60), período de orientação atéia do Estado Cubano, período de Reavivamento Religioso no Período Especial, período da cooperação e do diálogo91.

Sobre a primeira etapa, vários autores apontam que a mesma talvez não tenha incidência direta sobre a formação do campo religioso cubano, dado “a ruptura histórico-cultural entre ela e as restantes92” (CALZADILLA, 2000, p.102). Além disso, estudiosos indicam que os dois fatores fundantes que marcaram o campo religioso cubano foram a escravidão africana colonial, que se inicia em 1524, e o fato de Cuba ter sido durante muito tempo uma colônia espanhola católica. A Ilha foi o país que mais tardiamente na América Latina conquistou sua independência. Onde, o primeiro fator está relacionado ao fato dos escravos terem buscado conservar suas próprias religiões, mesmo quando as expressaram parcialmente em práticas cristãs. E o segundo ao fato da Igreja Católica ter sido um instrumento de poder colonial (HOUTART, 2000, p.9).

Através da estrutura colonial espanhola, que se inicia a partir da expedição em 1510 de Diego Velázquez e a fundação das primeiras vilas, se instala em Cuba o catolicismo como religião dominante e institucionalmente exclusiva. Isto devido a

      

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A respeito da periodização da história de Cuba após a Revolução, a pesquisadora da Flacso Velia Cecilia Bobes construiu a seguinte divisão: “primeira etapa: o estabelecimento da nova ordem (de 1959 a primeira metade da década de setenta); segunda etapa: a Institucionalização (de 1975 a 1986) e a terceira etapa: a retificação: (desde 1986 até a atualidade [ela se refere ao fim da década de 90], distinguindo dentro desse período um momento de ruptura representado pelo início do Período Especial em 1992) (BOBES, 2000, p.86).

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O próprio Papa João Paulo II em Cuba diz que “A colonização, com a exterminação da população indigena, genocídio no sentido mais real do termo, não permitiu a Cuba beneficiar-se do aporte cultural dos povos que originariamente haviam habitado esta terra. Fruto direto e indireto do capitalismo mercantil, introduzia já a economia cubana em uma mundialização, nessa época em proveito da Europa, sem preocupar-se da sorte das populações locais” (HOUTART, 2007, p.114).

inexistência de liberdade religiosa favorecendo a outras religiões nos anos que sucederam a instalação da colonização, bem como da relação “orgânica entre Igreja Católica e Coroa Espanhola” existente nesse período (CALZADILLA, 2004, s/n).

Durante o período colonial a Igreja Católica em Cuba se caracterizou por uma forte dependência da Coroa, onde “as relações entre Igreja e Estado, em condições de uma subordinação política e econômica, estavam reguladas pelo Patronato Regio” (CALZADILLA, 2000, p.142). Sob o sistema do Patronato Regio houve, inversamente à tradição, uma subordinação do poder espiritual ao poder temporal, e, assim sendo, entre outros atos, os reis espanhóis nomeavam os bispos dos territórios eclesiais de Cuba. Para Calzadilla, o “Patronato Regio, instrumento que regulava as relações Estado- Igreja, situava de fato a instituição eclesial em dependência dos interesses políticos ainda que na realidade desfrutava do monopólio espiritual”(IDEM, 2004, s/n.).

Nesse momento da história cubana, onde o clero em Cuba é majoritariamente espanhol e as ordens e comunidades religiosas respondem às estruturas governamentais localizadas na Espanha, esse clero sobrepôs os interesses “nacionais ao direito e aos princípios humanistas e éticos sustentados na base do cristianismo”. Posicionamento que teria, segundo o pesquisador Jorge Ramírez Calzadilla, como consequência o surgimento de um anticlericalismo no pensamento cubano e um distanciamento do povo da Igreja (CALZADILLA, 2000, p.14).

Nessas circunstâncias, em um movimento de garantir o monopólio espiritual no período colonial, conforme citado acima, a Igreja Católica impedia o estabelecimento de igrejas protestantes, do judaísmo, do islamismo e das religiões africanas.

No caso do judaísmo e do islamismo, essas já haviam passado por um processo de erradicação na Metrópole, mediante a Inquisição. Com relação a religiosidade africana e aos africanos, não houve aceitação destas crenças e cultos e eles foram submetidos a evangelização obrigatória, assim como os aborígenes. Desse modo, segundo o pesquisador René Cárdenas Medina:

No caso cubano, historicamente o espaço social da religião tinha sido dominado pela Igreja Católica. Inicialmente como religião oficial e única permitida durante a colônia, já que só nos anos 80 do século XIX se aplicou na Ilha a liberdade de cultos que a metrópole havia alcançado trinta anos antes. Até esse momento outras práticas religiosas – excetuando as originadas na África, que eram tratadas como superstições ou “coisa de negros” e, portanto, não consideradas

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Vale lembrar que mesmo dispondo de condições favoráveis, devido a sua função na edificação da sociedade cubana, a Igreja Católica, ao não participar das decisões do governo devido à sua dependência do poder civil, agregado ao fato de não ter conseguido se impor como religião de alta significação social93 na sociedade cubana, com a influência norte-americana no final do século XIX e as lutas independentistas laicas desse período, vê o aparecimento de outras vertentes religiosas em Cuba. A respeito das lutas e dos movimentos independentistas caracterizados como laicos:

No pensamento cubano, ao longo de sua história em especial desde que começou a definir-se uma consciência nacional no passado século, são influentes correntes antidogmáticas, livre-pensadoras,deístas, anticlericais e em menor medida ateístas, porém não prevalece uma antireligiosidade e inclusive muitos dos expoentes sustentam de algum modo concepções religiosas com frequência em um certo espiritualismo filosófico (CALZADILA, 2000b, p.3).

6.2 - Pensamento nacional laico (século XIX)

Com relação as qualidades atribuídas a esse pensamento nascente, o pesquisador Calzadilla aponta, em um processo do que ele chama de laicismo, que esse pensamento, que depois se efetivou em ações práticas como o movimento independentista, pode ser observado na produção intelectual cubana do período da formação do chamado “forjamento da nação cubana” e na legislação, especificamente nas Constituições inseridas nesse processo (CALZADILLA, 2004, p.3).

      

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Segundo Calzadilla, “em resumo, a etapa colonial significava para a sociedade cubana o período histórico em que se estabelecem os traços econômicos, étnicos e culturais fundamentais. O especificamente religioso é definido dentro de uma religiosidade em geral que comporta diversidade e relativa capacidade de intervenção na vida social, ao desempenhar um papel social heterogêneo e contraditório, cuja intensidade em primeira instância se apresenta próxima a indiferença. Se instaurou uma hegemonia espiritual religiosa católica, porém ao mesmo tempo se interrompeu, surgindo formas alternativas conjuntamente com ideologias críticas. Nessas condições, sob relações sociais determinadas, ante tudo pela produção de mercadorias para o exterior (monoprodução e um só mercado), a religião, como se tem demonstrado, alcançou um baixo nível de significação social” (CALZADILLA, 2000, p.115). Esses traços deram origem ao tipo de religiosidade mais estendida em Cuba, onde, “a religiosidade mais estendida em Cuba, espontânea, relativamente independente de expressões organizadas (...), apresenta outras características, porquanto nessa a consciência religiosa não se elabora ao nível de ideologia, nem de consciência cotidiana, com um peso considerável do afetivo. Se exterioriza em práticas irregulares, ocasionais ou com normas elementares estabelecidas espontaneamente e sem constituir grupos coesos, sim de modo individual ou, em grupo familiar (IBIDEM, p.80).

Esse pensamento que se inicia com o “fundador da nacionalidade” cubana Félix Varela (1718-1853), também tem como representantes José Agustín Caballero (1762- 1835), Felipe Poey, Antonio Mestre, Julio Sanguily, José de la Luz y Caballero, todos do século XIX; além de Enrique José Varona, que vive no século XX e Rubén Martínez Villena, Julio Antonio Mella, Juan Marinello, Fernando Ortiz, Emilio Roig de Leuchsering, bem como outros autores representantes das chamadas Gerações de 30 e do Centenário. Sem contar com José Martí que se converteu em um dos grandes teóricos do governo cubano. A respeito desse pensamento:

Esta ideologia crítica se expressou a respeito da religião dominante em termos de oposição ao dogmatismo filosófico e sua aplicação na docência, nas interpretações anticientíficas, e a conduta política da Igreja oficial e seu hegemonismo espiritual. O pioneirismo de sua construção teórica e sua profundidade, unido a uma prática consequente, situam no pensamento fundador da nacionalidade a Félix Varela e também a José Agustín Caballero curiosamente sacerdotes os dois, porém não bem aceitos pelo clero espanhol, sobretudo hierárquico. Isto ocorreu igualmente ao bispo Espada, que os havia estimulado em suas inquietudes científicas e intelectuais. Se Varela e Caballero não podiam ser e não foram anticlericais e muito menos ateístas, seu antidogmatismo e suas ideias de liberdade sentaram as bases do pensamento de seus seguidores, que se foram anticlericais, alguns deistas, todos livrepensadores, porém não foram propriamente antireligiosos e muito pouco deles ateus (CALZADILLA, 2004, s/n.).

Além desses fatores, pesquisas indicam que nos questionamentos feitos ao sistema colonial pelos movimentos pré-independentistas e independentistas sempre foi tocado a conduta da Igreja, uma vez que essa conduta explicou a oposição desses pensadores, já que:

A conduta da Igreja Católica justifica uma hostilidade na consciência da maioria dos pensadores. Sanguily, por exemplo, nas Sessões da Assembléia Constituinte de 1901, expressou: “En Cuba la religión y la ignorancia siempre marcharon de la mano y la iglesia por su conducta se alejó del pueblo, coadyuvando a que muchos se hicieran irreligiosos”. Para Martí “... fue siempre la iglesia aliada excelente de los poderosos”, e também considerou – o que não deve induzir ao erro de valorá-lo como ateu94- que “... son los hombres los que inventan los dioses a su semejanza”. Varona mostra seu agnosticismo em frases como esta: “A la sombra de la religión, y abonadas por ella, han florecido las mayores aberraciones” (CALZADILLA, 2004, s/n).       

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A respeito de um dos patronos da independência cubana José Martí, estudos apontam um certo anti- clericalismo e críticas a religião institucionalizada em seu pensamento. Ver, por exemplo, O pensamento político e religioso de José Martí, de Werner Altmann.

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Como já mencionado, a manifestação desse pensamento cubano não foi expresso apenas em termos teóricos, mas se revelou em ações e práticas políticas95, jurídicas e nas Constituições cubanas, especialmente nas Constituições da República em Armas96. Para Calzadilla, essas constituições baseadas na tradição mambisa, presentes nas posteriores também, tinham como base a separação Estado da Igreja e do não privilégio a nenhuma religião específica. Comportamento exclusivo de Cuba quando comparado as demais nações colonizadas pela Espanha e independentes nesse momento97.

A propósito da relação entre a tradição independentista cubana e a religião, afirma-se que nela está a origem do Estado laico cubano, garantido na constituição, pois “tais princípios constitucionais tem suas raízes na tradição independentista cubana, durante a qual se aprovaram quatro Constituições de República em Armas, duais das quais se estabeleciam a chamada separação Igreja-Estado. Esta foi reconhecida também nas Constituições republicanas de etapa neocolonial de 1901 a 1940” (http://benedictocuba.cubaminrex.cu).

As influências dos livre-pensadores marcaram as Constituições da República em Armas, sendo que aquela aprovada em 10 de abril de 1869 em Guáimato, Camagüey, durante a guerra independentista, estabelecia em seu artigo 28 que não podia ser violada as liberdades de culto, imprensa, reunião, ensino, nem direito algum inalienável ao povo. A Constituição feita em Jimaguayú (Camagüey) em 1895 (16/09) não faz referência ao tema religioso. Uma outra elaborada em 1897 (29/11) estabeleceu em seus artigos: o direito aos cubanos e estrangeiros de professarem suas crenças religiosas e cultos, enquanto não se oponham a moral pública, ensino livre, liberdade de expressão e associação, “para os fins lícitos da vida”.

A respeito dessas Constituições, Calzadilla, expõe que “em nenhum desses textos se declara alguma religião oficial nem favorecida, em dois se explicita a liberdade de culto e em um de crenças nos termos de opiniões religiosas”. Além disso, para ele, “o

      

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Entre as práticas políticas pode-se mencionar a a Guerra dos Dez Anos iniciada em 1868 com o Grito de Yara organizado por Carlos Manuel de Céspedes, que procurava, entre outras coisas, a abolição da escravidão e foi finalizada com o Pacto de Zanjón em 1878, 4 anos após o assassinato de Céspedes. Menciona-se também a luta independentista iniciada em 1895 que contou com General Antonio Maceo, Máximo Gómez e José Martí.

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A República de Cuba em Armas foi criada pelos independentistas cubanos em 10 de abril de 1869 e teve Carlos Manoel de Céspedes seu primeiro presidente. Durou até 1898.

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É necessário levar em consideração que Cuba tampouco havia firmado a Concordata ou Convênio Particular com o Vaticano ou outra igreja, uma vez sobrepassado o Patronato Regio colonial (CALZADILLA, 2004).

fato de que em um desses documentos está ausente a questão religiosa significava, naquela época, neutralidade. Se trata de uma expressão livre-pensadora que determina um pluralismo religioso frente a prática estabelecida. Se inaugurava, assim, uma tradição que será mantida e ampliada posteriormente” (CALZADILLA, 2004, s/n).

No entanto, é o próprio Calzadilla quem observa que se a tradição laica será mantida posteriormente (no movimento de 1933 e de 1953), o movimento independentista e a luta independentista frustram-se com a intervenção dos Estados Unidos contra a Espanha (2000, p.115).

Ainda assim, por mais que se tenha restringido a força do movimento independentistas cubano, alguns remanescentes dela batalharam pela permanência da tradição laica, como na primeira Constituição Republicana (de 1901), que era permitido o livre exercício das religiões e dos cultos (“sem outra limitação que o respeito a moral cristã e a ordem pública – artigo 26, título IV”), bem como estabelecia a separação entre a Igreja e o Estado (“que não pode subsidiar em caso algum, nenhum culto”) e a educação também a cargo do Estado98. Apesar disso, nessa constituição houve um grande debate por conta da inserção em seu preâmbulo do nome de Deus99.

A segunda Constituição, de 1940100, como a primeira invocava “o favor de Deus” e também permitia à liberdade de se professar as religiões, “o que nesta ocasião gerou uma controvérsia ante a negativa de constituintes progressistas que se opunham a ela-, e estabelecia o mesmo respeito a liberdade de professar todas as religiões ‘sem outra limitação que o respeito a moral cristã e a ordem pública’.Além disso, essa tem como novidade o Artigo 43 estabelecendo que ‘só é [seria] válido o matrimônio autorizado pelos funcionários com capacidade legal para autorizá-lo’ não reconhecendo a validade oficial do matrimonio eclesiástico” (CALZADILLA, 2004).

      

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Antes, “em 1898, o interventor estadunidense Leonard Wood havia lançado uma Constituição Provisional em que declarou liberdade de cultos, porém limitada aos cristãos” (CALZADILLA, 2004).

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“A Carta Magna com que nascia a república conservou a tradição livrepensadora das constituições da República em Armas, durante as guerras independentistas. Era indubitavelmente um texto avançado, ainda que impunha a moral cristã em detrimento dos não cristãos e dos não crentes ao que, ademais, explicitamente não se reconhecia o direito a ser” (IDEM, 2004).

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“Em 1933 e em 1935 se promulgaram, respectivamente, Estatutos para o Governo Provisional em que não houve referencias a religião e uma Lei Constitucional que, a respeito da religião, estabelecia o mesmo que o Artigo 26 da Constituição de 1901” (IDEM, 2004).

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Com relação ao ensino oficial, este seria laico, mesmo que existissem centros educacionais privados com ensino religioso, iniciativa, segundo Calzadilla, inovadora para a época na América Latina.

6.3 - Religião no período republicano

A respeito da religião no período republicano, mesmo com hegemonia católica institucional, com relação ao campo religioso cubano a já existente diversidade religiosa colonial aumentara com o espiritismo e o protestantismo, esse último reflexo da influência cultural dos EUA.

Segundo a pesquisadora Natália Bolívar “há unanimidade em assinalar que já na segunda metade do século XIX a presença do espiritismo kardecista era patente na ilha”, embora “os primeiros passos surgidos para “institucionalizar o espiritismo em Cuba se registram nos inícios do século XX (BOLÍVAR, 2007, p.35 e 37). O espiritismo kardecista se difunde “associando-se” as religiões de origem africana.

A respeito do surgimento do protestantismo histórico em Cuba, ele se dá nas últimas décadas do século XIX, com o início de trabalhos dos missionários norte- americanos.

Para a pesquisadora Caridad Massón, as dificuldades oriundas da guerra independentista criaram negativas do governo espanhol com relação ao protestantismo o que acarretou em uma retração do trabalho evangelizador protestante que só foi revigorado “depois da intervenção norte-americana de 1898” (MASSÓN, 2006, p.26).

Vale destacar que o crescimento protestante sofreria uma diminuição no ritmo de expansão após a década de 1930101 (BERGES, 1997, s/n), retomado em medos dos anos 1950102 (IBIDEM, s/n).

A respeito da relação das igrejas com o Estado nesse momento, importante que se destaque que mesmo que tenha havido uma relação de cooperação com as igrejas cristãs, a pouca institucionalização religiosa, marca do campo religioso cubano, fez com

      

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Segundo a pesquisadora Juana Berges, as causas dessa queda foram diversas “entre elas o ressentimento popular pelas intromissões norte-americanas – e outras vinculadas as crises do sistema capitalista na terceira década do século, que levou também ao descenso orçamentário das igrejas dos Estados Unidos, conduziram a uma diminuição geral das filiais cubanas” (BERGES, 1997, p.2).

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Por outra parte, em 1910 ocorreu o primeiro contato de Cuba com os grupos pentecostais, a partir da visita a Ilha do evangelista San C. Perry, da Igreja Assembléia de Deus, porém não foi até a década de 1920 e 1930 que se estabeleceram algumas denominações desse corte (MASSÓN, 2006, p.27).

que igrejas como a Católica mesmo um pouco mais institucionalizada, tivesse uma ação pastoral ineficiente (BOBES, 2000, p.80) e uma significação difusa.

A causa dessa ineficiência se deu porque uma parte dos cubanos que se declarava católica “se identificava com outros tipos de culto, os quais os mais difundidos eram os afrocubanos, heterogêneos em si mesmo porque incluem aos menos três grandes orientações: a santeria ou religião yoruba, o palo monte (conhecido

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