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1. COOPERAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO INTERNACIONAL

1.3 Contexto Histórico da Cooperação para o Desenvolvimento

1.3.3 O período pós Guerra Fria até os dias atuais

O fim da Guerra Fria muda novamente o panorama político mundial. A motivação geopolítica para a Cooperação para o Desenvolvimento é afetada pelo enfraquecimento do pensamento da segurança estratégica, uma vez que o fim do “conflito” consolida o poder político de uma das superpotências, Estados Unidos, ao mesmo tempo em que expõe a desestrutura da União Soviética. A erupção de conflitos étnico-religiosos nos Bálcãs e o genocídio em Ruanda são alguns dos exemplos da instabilidade política, que o mundo testemunhou no período inicial após o fim da Guerra Fria. A cooperação assumiu a face da ajuda humanitária, ficando as iniciativas para a cooperação para o desenvolvimento menos evidentes diante desse contexto. A ajuda externa é então direcionada para países em conflito e para a sua reconstrução após o fim do conflito (LANCASTER, 2007: 45).

Outro importante fator para o direcionamento da cooperação nesse período é a intensificação do processo de globalização não apenas nos fluxos econômicos, mas também na área da tecnologia, que produz uma contração do espaço temporal do

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Por indigência, os autores do estudo fazem a seguinte referência: “A linha de indigência, endogenamente construída, refere-se somente à estrutura de custos de uma cesta alimentar, regionalmente definida, que contemple as necessidades de consumo calórico mínimo de um indivíduo. A linha de pobreza é calculada como múltiplo da linha de indigência, considerando os gastos com alimentação como uma parte dos gastos totais mínimos, referentes, entre outros, a vestuário, habitação e transportes” (BARROS ET AL, 2001: 2).

mundo. Progressos no âmbito dos transportes encurtando distâncias, o acesso aos computadores e das redes de informação sobre os temas mais variados possíveis, permite que no período de segundos, pessoas se aproximem, independentemente das distâncias mundiais (ARISTIZÁBAL, 2010: 35). Realidades desconhecidas em lugares remotos do globo passam a ser conhecidas, como as condições de pobreza dos povos de países africanos, os conflitos que eclodem entre nações e as doenças que não respeitam fronteiras.

O mundo interconectado passa também a estar mais consciente dos seus problemas e, é durante esse período, que ocorrem várias conferências e Cúpulas para a discussão de temas relacionados ao meio ambiente (Rio 92), desenvolvimento e direitos humanos (Viena, 1993), questões de gênero (Beijing, 1995), fome no mundo (Roma, 1996) e sobre o clima global (Kyoto, 1997). Essas conferências e Cúpulas geraram discussões e negociações para a criação de planos de ação de combate a essas ameaças e/ou assimetrias sociais, frequentemente envolvendo processos de cooperação entre os países (ARISTIZÁBAL, 2010: 46).

A onda de democratização nos países em desenvolvimento, mudando de regimes autoritários para regimes democráticos, também foi um fator que influenciou os fluxos da cooperação para o desenvolvimento. Países da América Latina, à exemplo do Brasil, que entraram em processo de abertura democrática a partir da metade dos anos 1980 e o colapso de regimes totalitaristas no leste europeu, no final dos anos 1980, encorajou demandas democráticas, principalmente este último, para países da África Sub-saariana. Conferências nacionais ocorridas no Congo, em Mali e em outros países africanos levaram à reformulação de suas Constituições e estabelecimento de eleições em países como o Quênia, a Zâmbia e a Tanzânia. Uma das direções que tomou os fluxos de cooperação para países da África Subsaariana foi por meio da assistência para a efetivação do processo eleitoral do país, suporte dado por meio de assistência técnica e treinamento de pessoal (LANCASTER, 2007: 47).

A entrada do século XXI incorporou mais temas à cooperação para o desenvolvimento. Com o recrudescimento da temática da pobreza como variável importante dentro do contexto de desenvolvimento das sociedades, ações para sua erradicação voltam a ter relevância nos objetivos da cooperação internacional. Dentre esses temas, os Objetivos do Milênio20 estabelecidos na Cúpula do Milênio, e os

20 Os Objetivos do Milênio são: 1) Acabar com a fome e a miséria; 2) Promover educação básica para

todos; 3) Promover a igualdade entre sexos e a valorização da mulher; 4) Reduzir a mortalidade infantil; 5) Melhorar a saúde das gestantes; 6) Combater a AIDS, a Malária e outras doenças; 7) Melhorar a

atentados terroristas em 11/09/2001 exercem também a partir desse período, influencia sobre os fluxos da cooperação internacional. O combate à AIDS, à malária e a outras doenças, como objetivo seis, e reduzir a mortalidade infantil e melhorar a saúde materna como objetivo quatro e cinco respectivamente, são temas ressaltados nessa Dissertação. Os Bancos de Leite Humano são iniciativas que estão plenamente incorporadas à tentativa de se alcançar a meta de diminuição da mortalidade infantil no mundo, fortalecida ainda mais essa iniciativa pela criação da Rede Ibero Americana de Bancos de Leite Humano, da qual o Brasil faz parte junto com outros países Latino-Americanos e a Espanha.

A Conferência de Monterrey sobre o Financiamento do Desenvolvimento no ano de 2002 produziu alguns compromissos da parte dos países doadores, tais como “alocação de 0,7% do produto interno bruto para a cooperação para o desenvolvimento, tentar melhorar a qualidade da ajuda por meio de melhor harmonização de procedimentos, reduzir a cooperação “atada ou ligada”, e ter como foco a redução da pobreza” (PUENTE, 2010: 50). No entanto, a ideia de que segurança internacional, pobreza e terrorismo internacional estavam conectados foi bastante propalado pelos meios de comunicação à época. Essa conexão pode ser percebida em um trecho do discurso do Presidente George W. Bush, após o atentado de 11/09/2001, em que o mesmo afirma o que se segue:

no Afeganistão nós vemos a visão da al Qaeda para o mundo. O povo afegão tem sido brutalizado, muitos têm fome e muitos têm fugido. [....] e nós iremos buscar nações que forneçam ajuda e asilo para o terrorismo. Cada nação em cada região tem uma decisão a tomar: ou você está conosco ou você está com os terroristas21

Esse trecho do discurso do Presidente Bush sinaliza para a ideia de que pobreza e regimes autoritários em Estados que, na visão ocidental, são considerados não democráticos, estariam conectados. Na visão de Puente (2010: 51), a recuperação dos níveis de cooperação para o desenvolvimento a partir dos anos 2000 estaria relacionada, em maior escala, aos imperativos da segurança internacional e, em menor escala, aos

qualidade de vida e respeito ao meio ambiente; 8) Incentivar que todos trabalhem pelo desenvolvimento.

Fonte: http:// www.objetivosdomilenio.org.br. Acesso em 01/06/2012

21 Trecho do discurso do Presidente Bush Filho proferido em 20/09/2011 após o atentado terrorista em

11/09/2001, e transcrito pela rede CNN de notícias. Texto original: “In Afghanistan we see al Qaeda's vision for the world. Afghanistan's people have been brutalized, many are starving and many have fled.[….] And we will pursue nations that provide aid or safe haven to terrorism. Every nation in every region now has a decision to make: Either you are with us or you are with the terrorists”. Acesso em 15/08/2012

compromissos assumidos pelos países desenvolvidos para os Objetivos do Milênio. O que se presenciou a partir desse período, no que tange ao Afeganistão, foi um aumento da ajuda externa e a criação pelas Nações Unidas, de uma missão de assistência para o Afeganistão, presente no país desde 2002, a UNAMA (United Nations Mission Assistence in Afeganistan) que tem como prioridade dar suporte ao governo afegão em áreas criticas, incluindo segurança, governança, desenvolvimento econômico e cooperação regional, com mais de trinta e dois projetos em execução nos últimos anos22. A cooperação para o desenvolvimento pautada em sua origem na verticalidade, experimenta ao longo dos últimos sessenta anos modelos alternativos de cooperação. Em contraposição aos fluxos de cooperação norte-sul, desenvolveu-se o modelo Sul-Sul de cooperação e que por meio da variante triangular, vem chamando a atenção da comunidade internacional para essa forma de arranjo e para os países que a executam, a exemplo do Brasil. A cooperação Sul-Sul é um termo de uso mais recente e tem origem na cooperação técnica entre países em desenvolvimento, criada ainda no período da Guerra Fria.