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O percurso analítico adotado

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1. A PESQUISA: QUE MUDANÇAS OCORREM NA INSTITUCIONALIDADE

1.3. Trajetória de Investigação

1.3.3. O percurso analítico adotado

A Lei 5.692, de 11 de Agosto de 1971 (BRASIL, 1971), foi criada para regulamentar o ensino de primeiro e segundo graus, no Brasil, e apresentava como questão central e foco principal a iniciação para o trabalho e a habilitação profissional, por meio da implantação e efetivação da educação profissional: “Art.1° O ensino de 1º e 2º graus tem por objetivo geral proporcionar ao educando a formação necessária ao desenvolvimento de suas potencialidades como elemento de auto-realização, qualificação para o trabalho e preparo para o exercício consciente da cidadania”.

Tal direcionamento, no sentido tanto da habilitação profissional para atender ao mercado de trabalho quanto da formulação da legislação em questão, foi fruto de um contexto de natureza econômica vivido no Brasil. O baixo desenvolvimento econômico vinha sendo atestado, a crise econômica se iniciara e a estagnação econômica estava por acontecer. Sendo assim, economistas ligados à Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL) sugeriram ao país aumentar e melhorar a utilização da capacidade produtiva já instalada, expandir a oferta de bens e serviços e instalar novas unidades produtivas que pudessem substituir a importação de bens (LIMA, 2006, p. 57).

Na acepção do autor, todos os efeitos ligados à questão econômica fizeram com que o setor educacional passasse a fazer parte das ações governamentais, no sentido de adequá-las à realidade econômica e às necessidades do mercado de trabalho local e regional.

Ou seja, era preciso qualificar a mão de obra para o trabalho, desenvolver as competências, potencialidades e habilidades do trabalhador.

A esse respeito, Souza (2002, p. 8) concorda com a discussão anterior, afirmando que, no período pós-64, com a consolidação do capitalismo monopolista, a educação da classe trabalhadora passa a fundamentar-se no conhecimento técnico para atender às necessidades econômicas e às demandas do mercado de trabalho.

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), aprovada em 20 de dezembro de 1996, em seu artigo 39, também vinculava a educação profissional ao trabalho, incluindo a ciência e a tecnologia, as quais deveriam contribuir para o desenvolvimento de aptidões, para a vida produtiva do estudante.

Nesse sentido, a educação é também considerada como um fator estratégico para a competitividade e o desenvolvimento econômico e social da nação, na formação de trabalhadores com habilitações profissionais aptos para o mercado de trabalho (BRASIL, 1999)

Em 1997, foi aprovado o Decreto N° 2.208, que normatizava e regulamentava a educação profissional, no Brasil. Esse Decreto impôs um conjunto de reformas à educação profissional, sendo a principal delas a separação estrutural entre o ensino médio e o técnico (RAMOS, 2002, p. 404).

O Decreto Nº 2.208/97 definiu, em seu artigo 5º, a organização da educação profissional de nível técnico como totalmente independente do ensino médio, na sua estrutura curricular, e determinava que o aluno recebesse o diploma de técnico em nível médio depois de tê-lo concluído. Assim, Baracho et al. (2006) esclarecem que a conclusão do ensino médio era como um pré-requisito para a obtenção do diploma de técnico. A certificação da conclusão do curso técnico só acontecia após a finalização do ensino médio, tornando-o assim, compulsório.

Isso significa dizer que, apesar de a organização curricular do nível técnico ser independente do Ensino Médio, contraditoriamente, esse nível só poderia ser legitimado após a apresentação do certificado do Ensino Médio (BARACHO et al., 2006, p.113).

O referido Decreto determinava, também, a obrigatoriedade das escolas em adotar o currículo por competências e a permissão para as saídas intermediárias dos alunos no caso dos cursos estruturados em módulos. Ou, o recebimento dos certificados de qualificação por módulos, os quais conjuntamente equivaleriam ao diploma de técnico (MAUÉS; GOMES; MENDONÇA, 2008, p.113).

Baseando-se na expansão da vertente currículo por competências Maués, Gomes e Mendonça, (2008, p.111) enfatizam o caráter produtivista das modificações, na educação profissional brasileira, as quais vão se constituindo como um ajuste econômico e ideológico sob a ótica das necessidades do mercado e não como um direito do trabalhador.

Atualmente, a educação profissional de nível médio é regulamentada pelo Decreto Nº 5.154/2004, que substituiu o Decreto Nº 2.208/1997 e definiu a estrutura educacional da seguinte forma:

Art. 1º [...]

I - Formação inicial e continuada de trabalhadores; II - Educação profissional técnica em nível médio.

Nesse caso, a característica principal do novo Decreto está relacionada ao fato de que, a partir dele, as escolas teriam total liberdade na organização de seus currículos, de

maneira integrada ou independente do ensino médio. O Decreto cria, portanto a possibilidade de integrar currículo entre a educação profissional técnica em nível médio e o Ensino Médio. Isto quer dizer que a formação inicial e continuada de trabalhadores pode ser ofertada integrada ao ensino médio ou na modalidade subsequente (pós-médio), e na educação profissional estão incluídas as capacitações, os aperfeiçoamentos e as atualizações de conhecimentos com o objetivo de desenvolver aptidões para a vida social.

Esse Decreto, segundo Ciavatta, Frigotto e Ramos (apud BARACHO, 2006, p. 94), tem a preocupação de assegurar uma ampla e integral formação, abrangendo o caráter humanístico, a cultura geral e a técnica ao mesmo tempo, com o objetivo de garantir aos estudantes condições plenas para a participação efetiva na sociedade, em suas dimensões sociais, políticas, culturais e econômicas, incluindo o mundo do trabalho.

Em concordância com os autores acima citados, Kuenzer e Grabowski (2006, p. 13), afirmam que o reconhecimento de todas as dimensões educativas significa uma concepção mais ampla sobre educação. Essas dimensões devem objetivar a formação humana, social, política e produtiva, e reconhecer, também, que cada sociedade dispõe de formas diferentes e próprias de educação para atender às suas demandas, desempenhar o papel social e desenvolver a produção técnica que envolve o trabalho.

Embora alguns pontos do Decreto anterior (nº 2.208/97) tenham sido mantidos no Decreto N° 5.154/04, tais como saídas intermediárias provenientes do sistema modular de ensino, definição de perfis profissionais por áreas e a gestão tripartite3, a integração curricular é uma realidade e tem sido alvo de muitos estudos, discussões e implantado em grande parte das escolas da rede federal, hoje, Institutos Federais.

3 A gestão tripartite contemplada no Decreto 2.208/97 permitia a parceria entre União, Estados, Municípios e Distrito Federal, os

2. AS COOPERATIVAS-ESCOLA NAS ESCOLAS AGRÍCOLAS FEDERAIS

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