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A CONDIÇÃO DE CLASSE SOCIAL: O CASO DOS TRABALHADORES DO ESTADO, OS SERVIDORES

3.2. O percurso histórico de formação das classes sociais no Brasil

A revisão de literatura baseada em estudos de Ianni (1972), Fernandes(1975), Giannoti (2007), entre outros, possibilitou a análise das classes sociais no Brasil que, beirando o século XX, apresentava relações escravocratas de trabalho

Fernandes (1975) elabora reflexão sistemática sobre a formação das classes sociais na América Latina e constata a necessidade de se atentar para as peculiaridades da organização do sistema capitalista na colônia portuguesa. Assim, para Fernandes a pergunta sobre a existência ou não das classes sociais no Brasil deve ser respondida considerando que (1975, p. 34) “as classes e relações de classe carecem de dimensões estruturais e de dinamismos societários que são essenciais para a integração, a estabilidade e a transformação equilibradas da ordem social inerentes a sociedade de classes”. Isto quer dizer que a forma assumida pelas classes nesse espaço geográfico e histórico diferencia-se em razão da postura das classes, em função da consciência de classe manifesta e do tipo de articulação e lutas de classes ensejadas. Adicionamos também a questão dos arranjos, pactos ou acordos firmados entre as classes, em geral, após momentos de embates por direitos.

Ianni (1972), por sua vez, empreende análise sistemática acerca da relação entre a formação sócio-histórica do capitalismo no Brasil e a constituição dos grupos raciais e das classes sociais. Observa o autor que a despeito dos caracteres formadores de uma consciência civilizatória preconceituosa em que os limites de convivência social dos negros e mulatos eram restritos, foram as relações sociais de produção que ensejaram a questão racial no Brasil. Isto é, o capitalismo fundado na escravidão provocou a formação de um mercado de trabalho, altamente seletivo e estratificado aprisionando os trabalhadores a uma condição de dominação que combinava posição de classe e status racial. A passagem do trabalho escravo para o trabalho livre foi uma necessidade concreta de mudança dentro do modo de produção capitalista que precisava promover a circulação de mercadorias entre uma força de trabalho livre e consumidora. Por isso, Ianni (1972) indica a existência da contradição entre escravo e mercadoria, pois o escravo ocupava ainda a função de meio de produção, o que impedia a realização do potencial lucrativo do capital, desonerado dos custos de mais um fato de produção (escravo), apto para extrair mais-valia, e auferir rentabilidade pela venda de mercadorias.

As classes detentoras de riqueza na América Latina não ofereceram abertura para a manifestação efetiva das classes trabalhadoras, estas últimas tiveram seu lugar de participação subsumido perante os privilégios das antigas oligarquias que preservaram relações estamentais, mesmo após a ascensão da lógica das classes sociais. Fernandes (1975) atribui a esta construção das classes sociais na América Latina ao formato do capitalismo selvagem pós colonial em que a dependência para com a metrópole impedia o desenvolvimento econômico autossustentado do capitalismo brasileiro. As estruturas pré- capitalistas acompanharam o processo de aburguesamento do antigo senhor rural que não reconheceu a mudança de status e condição dos antigos escravos/servos para trabalhadores assalariado, impedindo universalização do proletariado como ocorrera na Europa, pois permaneceram as heranças escravocratas na transição para o trabalho assalariado livre. Por isso, Fernandes (1975, p. 58) afirma: “restringindo a competição e o conflito a privilégios quase estamentais, elas despojaram o capitalismo de suas potencialidades criadoras”.

Ianni (1972) argumenta que o esgotamento do modelo de acumulação capitalista baseado no trabalho escravo, abriu passagem para a abolição da escravatura e para ascensão do trabalho livre, propalado, como fonte de dignidade e mérito. No entanto, a entrada do escravo no mercado de trabalho livre não ocorre harmonicamente, a condição de status do escravo se reproduz pelas práticas segregacionistas e discriminatórias na inserção destes sujeitos no mercado de trabalho. Vai se formando assim, uma classe trabalhadora cindida por questões de origens étnicas e culturais reforçadas pelo modelo escravagista abolido institucionalmente, mas mantido no imaginário e em práticas, especialmente, no mercado de trabalho.

A ideologia do branqueamento (IANNI, 1972) cultivada pela imigração européia ao Brasil, tornou clara a opção por um tipo de mão de obra preparada para lidar com a industrialização nascente, que ao mesmo tempo ensejou uma cultura de trabalho distinto do trabalho escravo. O autor chama atenção para a necessidade de pensarmos o cenário tratado a partir da ótica da sociedade de classes, superando a falsa consciência que localiza a questão racial, apenas pela ótica cultural. As desigualdades de raça e classe, umbilicalmente relacionadas pela questão do trabalho no capitalismo, se manifestaram na realidade brasileira como mecanismos de preservação da ordem desigual. Na esfera política, a predominância de caracteres patrimoniais revela barreiras que somadas as discriminações impedem a consolidação democrática.

As consequências das práticas patrimonialistas repercutiram nas relações de classe forjadas na América Latina e na perpetuação da concentração de renda, terra e privilégios. As desigualdades na América Latina não limitavam-se a esfera econômica, mas também a dimensão sociocultural e política. Assim, as mudanças revolucionárias promovidas pela burguesia na Europa aconteceram na América Latina como afirma Fernandes (1975, p. 74) “dentro da ordem”, uma espécie de revolução passiva, que assegurou a dominação externa e a reprodução do mandonismo local, pelas elites e oligarquias urbanas e rurais e imobilizou qualquer ação de contraposição da ordem feita pelos trabalhadores. Conforme Fernandes (1975, p. 83) “a ordem social competitiva da sociedade de classes dependente e subdesenvolvida desgasta as massas trabalhadoras, a gente pobre e as classes operárias, reduzindo a quase nada suas potencialidades de canalizar institucionalmente seus anseios de reforma social ou de mudança social progressiva”. Impede, destarte, a mobilidade social e a possibilidade de reordenamento social, assegurando a estabilidade necessária a reprodução dos privilégios senhoriais, em face disso é que se fala de uma sociedade semiaberta e semidemocrática, vinculada aos interesses econômicos externos.

Fernandes (1975) aponta fenômeno típico do desenho das classes na América Latina relacionado a formação de um Estado Burguês com características autoritárias, expressas pelo uso da força na repressão às classes trabalhadoras opositoras às classes médias e altas. A utilização do controle político para embarreirar as mudanças desejadas pelas classes trabalhadoras tem sido o expediente adotado para ameaçar as forças de resistência aos interesses capitalistas hegemônicos. O jogo democrático é substituído pelas práticas autocráticas e ditatoriais que resguardam os antigos poderes e privilégios estamentais, hoje de classe. Para Fernandes (1975, p. 106) “sob a égide e a proteção de tal Estado, o que se pretende é completar o ciclo da revolução burguesa dentro do capitalismo dependente”.

A história da luta dos trabalhadores no Brasil nos revela as conquistas, derrotas do trabalho, bem como a tentativa de desarticulação dos trabalhadores pelo capital, recorrendo a repressão e aos benefícios. A organização dos trabalhadores em sindicatos em favor dos seus interesses provocou a reação do capital expressa na promoção do Estado como mediador das contradições entre capital e trabalho por meio das leis trabalhistas. (LEITE; MUNAKATO, 1987).

A questão social, inerente ao modo de produção capitalista, expressa pelas contradições da relação entre capital e trabalho, na qual a riqueza coletivamente construída é

particularmente apropriada pelos detentores dos meios de produção ― burguesia ― que imprime ao proletariado ― aqueles que possuem apenas a sua prole ― a exploração da sua força de trabalho. Os trabalhadores sujeitos a essas condições, agravadas com a fase industrial do capitalismo, trataram de se organizar para lutarem por melhores condições de trabalho e vida. Os trabalhadores passaram de “classe em si” grupo de pessoas que compartilham determinadas condições objetivas, ou seja, a mesma situação no que se refere à propriedade dos meios de produção” ― para classe para si ― grupos que se organizam politicamente para a defesa consciente de seus interesses, a que supõe uma identidade do ponto de vista subjetivo.” ( QUINTONEIRO, 1995, p.81).

As formas de atuação de luta da classe trabalhadora no Brasil transitaram das ações luddistas60 de quebras das máquinas, a sabotagem à operação tartaruga e, a principal ferramenta de luta dos trabalhadores, a greve. A greve pode ser definida como a recusa por parte do proletariado a cumprir as normas de trabalho, ou melhor, a recusa a trabalhar, seja cruzando os braços ou operando de forma errada as máquinas. Existe uma tipologia das greves, na qual aparecem a greve de protesto, a greve política e a greve geral que irrompe contra todo o sistema, agregando várias categorias profissionais. (LEITE, 1987).

O início do trajeto histórico da formação da classe operária industrial no Brasil acontece no século XIX, influenciada pela presença de imigrantes europeus que trouxeram a bagagem da vivência de lutas do proletariado francês, alemão, italiano e espanhol. Em 1858 tem se notícia da primeira greve no Brasil, sucedida pelas manifestações ocorridas quando da realização do I Congresso Socialista Brasileiro, em 1892. A influência e a experiência trazida do anarco-sindicalismo61 francês, espanhol e italiano fez com que a mobilização brotasse no seio da classe operária, desenvolvendo o que Mukanato (1987) chama de cultura operária, despertando o sentimento e identidade de classe. Conforme Giannotti (2007) o crescimento do contingente de trabalhadores no primeiro quartel do século XX foi de mais de 400%. Entretanto, neste período as condições de vida e trabalho eram penosas,

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O movimento luddista, data do inicio do século XVII, como manifestação dos trabalhadores as transformações do processo produtivo, que reduziam o número de trabalhadores, alteravam a forma de produzir para uma lógica de produção em massa, a qual atendia prioritariamente o patronato. Os trabalhadores liderados por “Ned Ludd”, o responsável por assinar as cartas aos donos das fábricas, provocavam manifestações e promoviam a quebra das máquinas, que simbolicamente representavam a opressão capitalista sobre o trabalho humano. (HOBSBAWM, 1977).

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O anarco sindicalismo preconiza aos operários a ação direta e prática da solidariedade, visando a emancipação da exploração capitalista e da opressão do Estado substituída pelo comunismo libertário. Refutavam a mediação do Estado nas negociações entre empregados e empregado, pois acreditavam que a conquista dos trabalhadores eram apropriados pelos Estados e vendidos como benefícios

assemelhando-se as condições dos operários quando da revolução industrial inglesa, em que os trabalhadores tinham jornadas de trabalho extensas e ausência completa de direitos. Em face disso, o movimento operário organizou suas lutas, que foram ao longo dos anos duramente reprimida, posto que não se reconhecia a ação política dos trabalhadores como legítima e sim como baderna.

A criação de sindicatos inicia-se no setor têxtil e logo as manifestações dos trabalhadores ocorrem com as primeiras greves organizadas que aconteceram:

● de 1905-1908, pela redução da jornada de trabalho;

● de 1912-1913, por aumento salarial e redução da jornada de trabalho, ● de 1917-1920, período de intensidade das greves com demandas diferentes. A greve geral de 1917 iniciou-se com a greve dos sapateiros anarquistas e tem o estopim com a morte de um sapateiro por um policial, inflamando outras categorias que entraram no embate. A cidade de São Paulo tornou-se um campo de batalha, repleta de barricadas e com a formação de fortalezas de resistência nas vilas operárias pelos anarquistas. O resultado da ação organizada dos trabalhadores apareceu em conquistas de melhorias de condições de trabalho e aumentos salariais consagrados em lei.

Hardman (2002) explora a produção cultural da classe operária brasileira no início do século XX, a partir da análise de folhetins, obras panfletárias, fotografias, jornais, músicas, entre outros, para identificar a construção da consciência de classe e da solidariedade de classe. A visão de mundo proletária transbordada nos periódicos operários contrapunham-se à visão da imprensa oficial que tratava as manifestações operárias como bagunça, expressões de preguiça e desrespeito ao patronato. As greves muitas das vezes tornavam-se momentos de expressão artística e cultural, mais do que isso era uma festa libertária que afrontava a disciplina do trabalho de fábricas.

Nesse momento histórico, lembramos que a população negra do Brasil estava excluída dos movimentos sociais da indústria, pois não tinham acesso ao trabalho deste setor econômico. Tal fato denota a perpetuação de relações desiguais de status entre os trabalhadores no mercado de trabalho e nos grupos políticos de representação dos seus interesses.

Mais adiante na história do Brasil, o movimento operário brasileiro sofre com a implantação da Ditadura Varguista em que as greves foram duramente reprimidas, os sindicatos destituídos, e os trabalhadores vinculados aos sindicatos perseguidos, especialmente aqueles ligados a Aliança Nacional Libertadora (ANL) e a Confederação Sindical Unitária do Brasil (CSUB). Em compensação às medidas policialescas, o Governo Vargas implantou a Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) e forçou a criação de sindicatos pelegos62.

A legislação trabalhista no Brasil surgiu durante o Governo de Getúlio Vargas (1930- 1945) para enfrentar as manifestações da questão social, agravadas pela crise de 1929. Ao contrário da política liberal vigente no país, desde 1889, calcada na livre regulação do mercado, das relações patrão e empregado, na ausência de intervenção estatal na economia, o getulismo propunha ao Estado a mediação da relação capital e trabalho por meio das corporações profissionais vinculadas ao Ministério do Trabalho, tratando a questão social com políticas e não com policiais. As corporações profissionais atreladas ao Estado ou os sindicatos pelegos transformaram o controle do mercado por parte dos sindicatos em controle dos trabalhadores. O paradoxo da luta operária pode ser assim formulado: para conquistar o controle pelos trabalhadores das condições de trabalho, os trabalhadores acabam endossando uma forma de organização que os controla. Em virtude disso, os anarquistas rejeitavam a participação do Estado nessas negociações, porquanto este incorporaria as conquistas dos trabalhadores, utilizando-as para barganhar e dominar o trabalhador. (LEITE, 1987).

Observa-se que a partir de 1922, com a criação do Partido Comunista do Brasil (PCB), tenta-se dar uma nova estrutura ao movimento sindical brasileiro. Os anarquistas consideram que a política divide os trabalhadores, enquanto a luta econômica os unifica. Na política há uma radical diferença entre a proposta de organização sindical dos comunistas e dos anarquistas. A proposta comunista foi a criação de uma central sindical, a Confederação Geral dos Trabalhadores (CGT), que abrangeria tanto as federações sindicais agrupadas em base territorial, como as federações nacionais de uma determinada categoria, e, por conseguinte, cada federação agruparia — em bases territoriais e por categoria — todos os sindicatos correspondentes. Essa estrutura de organização sindical tem como característica fundamental a sua centralização, que se mostra totalmente distinta do modelo

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descentralizado dos anarquistas, onde cada entidade filiada mantém a sua completa autonomia.

As teses comunistas de centralização do movimento sindical prevaleceram em todos os níveis, desde as federações em relação aos sindicatos, até este em relação aos associados, por meio de uma série de normas, determinadas de forma rigorosas e minuciosas. Com a criação de todas essas normas, indica-se a emergência de uma forma de organização de luta dos trabalhadores, em que estes são tosados de seu poder de decisão. Cria-se um grupo (de trabalhadores ou não) que se encontra acima e distante dos próprios trabalhadores, que os fiscaliza, os vigia e os pune, que decide pelos trabalhadores. Esse grupo pode ser chamado de detentores do controle do estatuto legal, ou seja, os burocratas

Os sindicatos brasileiros em franca expansão trataram de ampliar o seu quadro de sindicalizados acenando com possíveis benefícios, para com isso, aumentar o seu poder de barganha. Em contraposição, constata-se a ofensiva patronal que se fez sentir em todos os níveis. Para os industriais não se trata de condenar a indústria, mas, pelo contrário, de estimulá-la mediante a sua proteção. A ruptura com o liberalismo traz as seguintes tomadas de decisões:

▪ A indústria não pode ser abandonada ao jogo da livre concorrência, mas deve ser defendida pelo Estado.

▪ A melhoria da vida da população e, em particular, da classe operária, depende da industrialização, e esta, do protecionismo estatal, o Estado jamais pode ser um Estado Liberal que assiste, impassível, ao livre jogo de correlação de forças políticas, ou que sob pressão destas acaba criando leis. Quanto a isso se faz necessário é um Estado racional e racionalizado.

Neste contexto, emergem as primeiras medidas de proteção social dirigidas especificamente aos servidores públicos, em especial, o Instituo de Previdência e Assistência ao Servidor do Estado (IPASE), ao qual aprofundaremos a análise no capítulo 5, quando caracterizaremos historicamente os direitos dos servidores públicos no Brasil.

Essas propostas de ruptura com o liberalismo visaram promover a industrialização e também neutralizar o crescimento da pressão da classe operária, através de uma solução institucional à “questão social”. Após a “Revolução de 30”, uma das primeiras medidas do Governo Provisório, chefiado por Getúlio Vargas, é a criação do Ministério do Trabalho,

Indústria e Comércio, que seria o aparelho estatal munido de instrumentos teóricos, técnicos, racionais, neutros, objetivos, etc., capazes a redefinição do lugar das leis trabalhistas.

A teoria corporativista, fundamentada em Durkheim (1999), parte da constatação do caos em que mergulham as sociedades modernas, resultante da complexidade da divisão do trabalho social. Deriva disto a necessidade de instituições mediadoras da relação Estado e Sociedade, quais sejam: as corporações ou sindicatos. O corporativismo redefine o lugar da luta de classes como sendo a sociedade organizada segundo os princípios do liberalismo, o corporativismo opera outras redefinições:

▪ A liberdade do liberalismo é acusada como uma falsa liberdade, uma liberalidade ou mesmo uma libertinagem.

▪ A verdadeira liberdade nasce da moralidade social (coletiva), corporificada na autoridade e na racionalidade das leis positivas que limitem os excessos do indivíduo.

Sob a perspectiva varguista, fundada no pensamento funcional positivista, a classe não passa de transposição do egoísmo do indivíduo liberal para o nível do grupo. Por isso, o corporativismo substitui a noção de classe, fruto do liberalismo, para a ideia de corporação, o que representa uma proposta de reordenação da sociedade, de modo que não haja mais luta de classes.

A teoria corporativista opera outras redefinições:

▪ Patrões e trabalhadores passam a se chamar, respectivamente, empregadores e empregados.

▪ contrato, que é um dos elementos essenciais do liberalismo, torna-se convenção.

A política varguista defendia, portanto, que a estrutura da corporação devia se generalizar para toda a sociedade, a fim de se assegurar o império da moralidade, da solidariedade e da racionalidade. A legislação trabalhista, para o corporativismo, é um instrumento que os Estados dispõem para que seja instaurada a verdadeira igualdade, por isso, os Estados Corporativistas devem exterminar a influência nefasta dos “políticos profissionais” que procuram o poder visando interesses egoístas e amorais. O Estado Corporativista (CARNOY, 1988) entendido do ponto de vista típico-ideal para realizar a sua vocação moral, racional e científica, deve contar com a participação de técnicos especializados, isentos e competentes, dotados de racionalidade, de objetividade e de neutralidade. A percepção de aparente neutralidade na intervenção estatal não condiz com a permeabilidade deste espaço aos interesses das classes hegemônicas manifestos por grupos

de interesse que vocalizam os seus interesses no espaço público. O fato é que as classes trabalhadoras neste contexto são incorporadas ao Estado, na perspectiva de um pacto interclassista.

O Estado brasileiro, a partir de 1917, no início do século XX, estabeleceu normativas de regulação das relações trabalhistas. Importa-nos saber que tal regulamentação fracionou os ramos de trabalho: os direitos de cada grupo social escalonou a população trabalhadora de modo desigual. A aproximação dos segmentos dos trabalhadores foi pela integração das federações sindicais que comungaram condições de vida e trabalho. Destaca-se nesse período a criação da Confederação Geral dos Trabalhadores do Brasil (CGTB) que iria contribuir para o acirramento das lutas no segundo governo Vargas. (LEITE, 1987).

Seguindo na linha do tempo da formação da classe operária no Brasil, identificamos que de 1956-1964 eclodiram cerca de 588 greves, denotando a força dos trabalhadores. Neste momento, a classe operária atinge a maturidade com engajamento político manifesto nas discussões não mais centradas no trabalho, mas também na consolidação da democracia e na luta anti-imperalista. Entretanto, o capital entra em ação apoiando a implantação da Ditadura Militar, responsável pelo retrocesso do movimento operário, justamente no seu auge. (LEITE, 1987). É justamente nas décadas de 1950 e 1960, que surgem com mais furor os movimentos dos trabalhadores rurais, representados pelas ligas camponesas e pelo recém