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2. A IMPORTÂNCIA DO VÍNCULO MÃE-FILHO

2.1. O PIM E O VÍNCULO

Sabemos que o ambiente em que o bebê está inserido é fundamental para o

seu desenvolvimento. Segundo Winnicott (1999)o ambiente que a mãe fornece para

seu filho é ela com todas as características envolvidas nesse processo, desde o lar que ele será apresentado até o homem que resulta ser o pai do bebê. Sendo assim, “temos duas coisas distintas: as tendências inatas do bebê o lar que você lhe proporciona. A vida consiste na interação dessas duas coisas” (1999, p.144).

Ainda segundo o autor(1999), o que é inato do ser humano é do crescimento

e a maturação, presente no nascimento e se traduz nos processos mentais inferiores. Os processos mentais inferiores se transformam em processos mentais superiores pela interação com os outros e pela apropriação e construção de

ferramentas de mediação. A linha cultural envolve esta apropriação de várias ferramentas de mediação ou meios culturais, possibilitando a própria interação e a transformação qualitativa da linha natural.

Para sustentar seu referencial, o programa PIM traz Lev Semenovich Vigotski, psicólogo bielo-russo, que trabalhou a respeito do desenvolvimento mental da criança, como sendo um processo contínuo de aquisição de controle ativo sobre funções inicialmente passivas. Além disso, o autor trabalhou a respeito da Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP). Sendo o PIM um programa que traz a importância do outro no desenvolvimento da criança, torna-se necessário trazer algumas considerações a respeito de Vigotski a respeito do meio em que se vive. Não só a mãe, os pais, mas sim o contexto social que a criança está envolvida é de extrema importância. As visitas domiciliares, tirar um tempo para brincar com seu filho, estimular algumas dimensões, conversar com ele, ter um contato com toda a família são alguns dos momentos proporcionados pelo programa. Vygotski afirma que é na presença do outro que o homem se constitui, que formam seu EU (UNESCO, 2005)

As expressões das crianças só adquirem significado quando seus cuidadores dão um significado à elas. Desta forma, o convívio com outras pessoas é de suma importância para o desenvolvimento integral da criança. Os autores que falam a respeito do desenvolvimento infantil trazem os primeiros anos como os mais importantes no que diz respeito ao desenvolvimento. Portanto, o PIM é uma política pública, que busca garantir as crianças seus direitos básicos de cidadania, constituição física e psíquica.

Para Vigotski (1996), desde o instante em que o sujeito nasce, passa a fazer parte de um mundo que foi histórica e culturalmente construído e organizado pelas gerações que o precederam e, assim, partilha e incorpora modos de agir, sentir e pensar próprios desta cultura. Deste modo, o sujeito se apropria desses elementos aos quais está ligado, utilizando instrumentos que possam lhe ajudar a conviver com o mundo ao qual está inserido. Desta forma, orientado e regulado pelo outro, o sujeito investe esforços na tarefa de entender e dar sentido a objetos e fatos da sua realidade e, a partir desta dinâmica, passa a se auto-regular, a ter domínio sobre suas ações e escolhas. O processo de interação e de mediação assume, nesta perspectiva, papel e função primordial no desenvolvimento dos indivíduos e na organização da vida em sociedade. Assim sendo, o sujeito utiliza suas ferramentas

intelectuais, interagindo com outros com mais experiência no uso dessas ferramentas, para assim obter o desenvolvimento.

Vigotski desenvolveu o conceito de Zona de Desenvolvimento Proximal para discutir e explicar a relação existente entre desenvolvimento e aprendizagem. Para ele, as situações de aprendizagem vividas pelo sujeito e mediadas por sujeitos mais experientes geram mudanças qualitativas e impulsionam o processo de desenvolvimento do indivíduo.

Para Vigotski (1991) a aprendizagem começa muito antes da criança ir na escola, pois com qualquer acontecimento que envolva aprendizado na escola , já houve algum aprendizado antes disso. O autor compreende que o aprendizado deve condizer com o estado de desenvolvimento da criança, mostrando que é necessário considerar dois níveis distintos. Dessa forma, primeiro seria aquele considerando as atividades que a criança consegue realizar sozinha, sem ajuda de ninguém. Por outro lado, por meio da imitação, a criança é capaz de ultrapassar os limites da sua capacidade atual.

No que se refere a Zona de Desenvolvimento Proximal:

[...] é a distância entre o nivel de desenvolvimento real, que se costuma determinar através da solução independente de problemas, e o nível de desenvolvimento potencial, determinado através da solução de problemas sob a orientaçâo de um adulto ou em colaboração com companheiros mais capazes (VIGOTSKI, 1991, p. 57).

Sobre este aspecto, acrescenta:

A zona de desenvolvimento proximal define aquelas funções que ainda não amadureceram, mas que estão em processo de maturação, funções que amadurecerão, mas que estão presentemente em estado embrionário. Essas funções poderiam ser chamadas de "brotos" ou "flores" do desenvolvimento, ao invés de "frutos" do desenvolvimento (VIGOTSKI, 1991, p. 57).

Na perspectiva deste autor, desde o nascimento a linha de desenvolvimento natural não funciona isolada e independentemente da cultural. Um processo ao mesmo tempo natural e cultural de desenvolvimento, necessita estar em ação para que se desenvolvam instrumentos (por exemplo, a linguagem, inicialmente oral, ao mesmo tempo instrumento e processo mental superior) que permitirão o desenvolvimento dos processos mentais superiores.

A zona de desenvolvimento proximal permite nos delinear o futuro imediato da criança e seu estado dinâmico de desenvolvimento, propiciando o acesso não somente ao que já foi atingido através do desenvolvimento, como também àquilo que está em processo de maturação (VIGOTSKI, 1991, p. 58).

O conceito de interação social é um dos temas da obra de Vigotski, nos trazendo o efeito da interação social sobre o processo de aprendizagem. Para o autor:

A criança nasce em um mundo preestruturado. A influência do grupo sobre a criança começa muito antes do nascimento, tanto nas circunstância implícitas, históricas e socioculturais herdadas pelos indivíduos como nos preparos explícitos, físicos e sociais mais óbvios que os grupos fazem antecipando o indivíduo. Tudo isso exerce sua força até mesmo em tarefas cotidianas simples que requerem o gerenciamento e o emprego da ação individual (VIGOTSKI, 1998, p. 91).

Desta forma, a criança precisa de alguém que faça o papel de mediador para suas atividades. A criança e o ambiente estão sempre em processo de transformação, onde se influenciam mutuamente. Cada criança se desenvolve de uma forma diferente, mas quanto mais a criança tiver possibilidades de estabelecer relações com o outro, melhor será seu potencial de desenvolvimento e aprendizagem.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Chegado o momento de concluir este trabalho, a discussão sobre isto ainda não se concluiu, pois este tema tendo a importância que tem, carece de muita pesquisa. Por isso, muitas questões ainda precisam ser trabalhadas, mas acredito que o objetivo proposto levou a considerar a importância do vínculo mãe-filho para um desenvolvimento saudável da criança.

A partir do trabalho realizado, podemos considerar que as políticas propostas através do Ministério da Saúde, como no caso em estudo o PIM, destacam a importância das mães/famílias serem orientadas quanto a importância de vínculo com os seus filhos. A gravidez é algo natural, mas especial, que acontece na vida da mulher e talvez seja por isso que existam tantas dúvidas e medos a respeito dela.

A mulher passa por diversas transformações, tanto físicas quando psicológicas, exigindo-lhe algumas mudanças para a promoção do vínculo mãe- bebê. A formação do vínculo mãe-bebê é essencial na infância e sua importância é maior nessa idade do que nos períodos posteriores. Deve-se compreender a importância desde vínculo e sua construção desde a gestação. A amamentação é uma das formas da construção de vínculo, mas ela não é a unica forma, pois muitas crianças não amamentadas pelo seio materno ainda sim conseguem criar vínculo com sua mãe, além de obter um desenvolvimento pleno.

Muito antes de seu nascimento, tem início a formação do vínculo entre mãe e seu bebê. O vínculo é de importância vital para o feto, é necessário que ele se sinta desejado e amado, para que assim possa propiciar a continuação harmoniosa e saudável de seu desenvolvimento. A formação do vínculo não se dá de forma rápida, mas sim é uma construção que se dá com o tempo, onde a presença da mãe, ou de alguém que faça essa função, é essencial para a criança nos primeiros anos de vida.

Vários autores que tratam deste tema afirmam que os 3(três) primeiros anos de vida são os mais importantes no que diz respeito ao desenvolvimento do sujeito. A criança é ainda dependente do outro, por isso precisa de alguém que a sustente, que faça papel de mediação entre ela e o mundo externo. Isto é o que Vigotski nos traz no que diz respeito a ZDP, onde, não necessariamente, precisa ser a mãe para fazer essa função.

O PIM enquanto um programa que atende uma população com risco de vulnerabilidade social, e muitas vezes desprovida de informações fundamentais a respeito dos cuidados com os filhos é de fundamental importância. É por meio dele que muitas mães tem informações a respeito de diversos assuntos relacionados ao seu filho. Além disso, obtem informações e auxílio durante a gravidez.

O grupo de trabalho que desenvolve o programa na cidade de Santa Rosa é composto por diferentes profissionais, como psicólogo, enfermeiro, assistente social e educador. O grupo tem encontros semanais onde discutem os casos de forma multidisciplinar, pensando a melhor forma de agir com determinadas situações, bem como fazendo avaliação do trabalho.Consideramos que ainda há pequena adesão ao programa. Neste sentido, destacamos a importância de criação de campos de estágio inseridos ao programa.

Portanto o programa leva conscientização para as famílias, pois mesmo que seja inconscientemente, elas acabam percebendo que quanto mais cedo tratar, administrar e preparar os cidadãos, desenvolvendo suas habilidades e competências, a chance de serem pessoas bem resolvidas é bem maior. Além de ser uma forma de aproximação de profissionais e as famílias atendidas, onde facilita a identificação de outros problemas sociais, conscientizando famílias e investindo nas crianças desde os primeiros anos de vida.

Refletindo sobre o papel da psicologia social, nós enquanto psicólogos, temos o compromisso de utilizar metodologias de trabalho para que estes sujeitos possam se sentir neste social, e para que eles consigam ter autonomia em suas vidas, buscando seus direitos.

A psicologia social ganhou espaço a partir da criação das politícas publicas, onde se começou a pensar nos direitos humanos, tendo como um dos seus objetivos orientar o sujeito, no sentido de mostrar seus direitos, mas dando autonomia para que ele mesmo os busque. É necessário defender todas as políticas públicas que são construídas e fazer com que todos tenham acesso, além de conhecer a realidade social das pessoas, para depois construir um parecer e ver a demanda dos sujeitos.

Com o projeto Primeira Infância Melhor, a psicologia social se torna mais um campo rico de estágio, para melhores condições ao sujeito, no sentido de orientá- los, constituindo uma consciência crítica.

Nos dias atuais, nada mais é privado, tudo passa a ser público. A partir desde trabalho surge uma nova questão que possa ser objeto de um novo trabalho. Por que é preciso que um terceiro externo intervenha para que a mãe tire um tempo para cuidar do seu filho?

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