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A promoção do vínculo mãe-filho a partir da proposta do Programa Primeira Infância Melhor (PIM)

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL – UNIJUÍ

DEPARTAMENTO DE HUMANIDADES E EDUCAÇÃO - DHE CURSO DE PSICOLOGIA

CAMILA GABRIELE CÂMARA

A PROMOÇÃO DO VÍNCULO MÃE-FILHO A PARTIR DA PROPOSTA DO PROGRAMA PRIMEIRA INFÂNCIA MELHOR (PIM)

Santa Rosa 2013

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CAMILA GABRIELE CÂMARA

A PROMOÇÃO DO VÍNCULO MÃE-FILHO A PARTIR DA PROPOSTA DO PROGRAMA PRIMEIRA INFÂNCIA MELHOR (PIM)

Monografia de conclusão de curso

apresentada ao curso de Graduação em

Psicologia do Departamento de

Humanidades e Educação da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul- UNIJUI, como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Psicologia.

Orientador: Silvia Cristina Segatti Colombo

Santa Rosa 2013

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CAMILA GABRIELE CÂMARA

A PROMOÇÃO DO VÍNCULO MÃE-FILHO A PARTIR DA PROPOSTA DO PROGRAMA PRIMEIRA INFÂNCIA MELHOR (PIM)

Trabalho de Conclusão de Curso em Psicologia para a obtenção do grau de psicólogo pela Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, Departamento de Humanidades e Educação, Curso de Psicologia

Banca Examinadora:

... Profa. Me. Silvia Cristina Segatti Colombo - UNIJUÍ

... Profa. Me. Elisiane Felzke Schonardie - UNIJUÍ

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DEDICATÓRIA

Aos meus pais, pela atenção e incentivo que me deram durante todos esses anos.

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente agradeço a Deus, por ter iluminado e me conduzido ao longo deste curso, trilhando o meu caminho da forma mais correta possível.

Agradeço aos meus pais, por me darem incentivo, pelo apoio e pelo carinho e por serem os maiores motivos de eu estar terminando esta etapa da minha vida.

Agradeço a minha professora e orientadora deste trabalho pela calma que me proporcionou, pela atenção e por estar sempre disponível para me ajudar e me estimular a seguir em frente.

Agradeço aos meus amigos pelos momentos de descontração que me proporcionaram para que eu pudesse me tranquilizar na realização deste trabalho. Em especial, faço um agradecimento a amiga Caroline, Débora e ao amigo Jarbas, pelo apoio e suporte que me deram com as dificuldades encontradas durante o percurso.

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“Enquanto eu tiver perguntas e não houver respostas... continuarei a escrever” (Clarice Lispector)

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RESUMO

O “Primeira Infância Melhor” (PIM) é um programa institucional de ação socioeducativa desenvolvida no Rio Grande do Sul (RS) pelas Secretarias Estaduais da Justiça e do Desenvolvimento Social, da Cultura, da Educação e da Saúde, sendo esta última responsável pela coordenação do programa, cujo objetivo é orientar as famílias no desenvolvimento de seus filhos, levando em conta sua realidade social. O trabalho aborda a temática do vinculo mãe-filho, descrito e aprofundado por autores como Freud, Lacan e Winnicott, os quais trabalharam extensamente nesse assunto ao longo de suas bibliografias. Inicialmente, neste trabalho, alguns conceitos desenvolvidos pelos respectivos autores são discutidos, focando-se nos aspectos do ato da amamentação e ao desejo de ser mãe. Sendo os primeiros anos de vida da criança fundamentais para o seu desenvolvimento, o qual é a idade que o programa se implica, pode-se observar a relação mãe-filho na estimulação e desenvolvimento das capacidades motoras e cognitivas da criança neste período. Portanto, este projeto tem mostrado relevância na sua aplicação, e é importante que o mesmo continue para que os efeitos de longo prazo possam ser observados e melhor estudados.

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ABSTRACT

The “Primeira Infância Melhor” (PIM, better first-childhood), is a social-educative institutional program developed at Rio Grande do Sul, Brazil, by the Departament of Justice, Social Development, Culture, Education and Care/Health, being the last one on the head of program coordination, which the purpose is to guide families about children development, regarding its social reality. The program approaches the mother-child linkage subject, described and elaborated by many authors like Freud, Lacan and Winnicott, and others, which have extensively worked on the topic along with their bibliographies. By first, on this study, the bibliography is reviewed, and some concepts are discussed, focusing on the will of being-mother and amamentation aspects. First years of child’s life are the foundations of their development, by which the programs focus is, we can observe the mother-child relationship in pacing stimulation and development of motor and cognitive abilities of the child at this time. Therefore, this project has been showing the relevance of its application and it is important to continue for its long-time effects be better observed and studied.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 9

1. PRIMEIRA INFÂNCIA MELHOR (PIM) - POLITICA PÚBLICA DE DESENVOLVIMENTO INTEGRAL DA CRIANÇA ... 12

1.1. CRIAÇÃO DA POLÍTICA – APRESENTANDO O PIM ... 12

1.2. ETAPAS DO DESENVOLVIMENTO ... 15

1.3. REALIDADE DO PIM NO MUNICÍPIO DE SANTA ROSA ... 19

2. A IMPORTÂNCIA DO VÍNCULO MÃE-FILHO ... 21

2.1. O PIM E O VÍNCULO ... 32

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 36

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho se destina a relacionar a política pública do programa Primeira Infância Melhor (PIM) com a importância do vínculo mãe-bebê. No primeiro capítulo, será abordado a história do programa no Estado do Rio Grande do Sul, bem como a forma como o trabalho é realizado nas comunidades, com seus grupos técnicos e a maneira como são avaliados os resultados obtidos com as famílias que aderiram ao programa. Serão trazidas dimensões que são avaliadas no decorrer de seu desenvolvimento, como: linguagem, motricidade,dimensão socioafetiva e cognitiva. Serão relatadas algumas atividades que são trabalhadas com as famílias, que compreendem etapas em que a criança já consegue alcançar e o que poderá ser melhor observado e estimulado por seus pais. Ainda, será trazido de forma sucinta a respeito da importância do outro que auxilie a criança nas suas necessidades básicas, além da formação do vínculo afetivo, que se torna um fator decisivo para sua constituição, pois as experiências afetivas nos primeiros anos de vida são determinantes para sua conduta e suas emoções.

Para finalizar o capítulo, serão trazidos alguns dados do programa em comunidades de Santa Rosa, onde serão abordados os aspectos que permeiam o meio social onde crianças que participam do programa estão inseridas. Será trazido a importância do PIM como programa de ação sócioeducativo, que trabalha de forma preventiva em comunidades de vulnerabilidade social. O PIM trabalha somente com áreas vulneráveis na cidade, onde se encontra casos de violência, prostituição e drogadição.

No segundo capítulo será abordado o vínculo e sua importância desde o nascimento.Este capítulo, trará a abordagem de autores como Freud, Jerusalinsky, Winnicot, Vigotski entre outros, sendo que o programa fundamenta-se teoricamente nos pressupostos de Vygotsky, Piaget, Bowlby, Winnicot e Brunner, além dos recentes estudos da Neurociência. Primeiramente, será abordada a questão a constituição do vínculo, sendo a mãe, principalmente, o primeiro objeto amoroso da criança.

As modificações no corpo da mulher são inúmeras, durante a gravidez essas as modificações aumentam ainda mais,no decorrer dos dias o feto amadurece, são transmitidos os sentimentos da mãe, acontece o reconhecimento reconhece a fala materna, se acalma com ela, mostrando que desde esta fase a construção do

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vínculo ocorre. Nesta fase, a mulher deixa de ser apenas mulher, e passa a ser também mãe. Neste capítulo, será trabalhada a interação com o meio que a criança se depara logo ao seu nascimento, onde obtem total influência no seu desenvolvimento Pode-se compreender que as expressões da criança só adquirem significado quando alguém dá um significado a elas. Quando o sujeito nasce, já está inserido em um mundo de linguagem, já faz parte de uma cultura e tem o seu lugar já construído pelos seus pais. Um dos aspectos já tratados anteriormente, diz respeito as etapas do desenvolvimento infantil, que são observadas e estimuladas a partir do programa. Assim, será trabalhado o conceito de Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP) a partir de Vigotski, para explicar a relação entre desenvolvimento e aprendizagem.

Visto que um dos trabalhos realizados pelo programa é oferecer suporte à diversas mães e famílias de comunidades, no caso estudado, a cidade de Santa Rosa, achou-se importante o maior reconhecimento do programa, mesmo sendo um trabalho realizado somente em algumas comunidades da cidade.O desejo de escrever sobre este tema se deu a partir de uma experiência de estágio extra-curricular, onde tive a oportunidade de trabalhar durante um ano e meio com o programa, tendo contato com diferentes áreas da saúde, podendo aprender um pouco do trabalho em rede.

O Programa Primeira Infância Melhor possui o lema: “O que você faz pelo seu filho agora, vale para toda a vida”, servindo de guia e de motivação para as famílias no acompanhamento de seus filhos, para que, desta forma, possam promover o desenvolvimento integral dos mesmos. Esse desenvolvimento integral e pleno ocorrerá, quando trabalhado todas as potencialidades do ser humano em conjunto, sejam físicas, intelectuais e/ou motoras. Contempla gestantes e crianças de até 6 anos de idade, trazendo a prevenção desde cedo, dando suporte às mães como atividades de estimulação para serem realizadas com seus filhos.

O programa trabalha com profissionais das diversas áreas da saúde, onde podem se encontrar semanalmente para debater sobre a realização do trabalho. Assim, pode-se perceber a importância da psicologia trabalhando em locais como estes, sendo agente ativo junto aos programas sociais. O psicólogo faz parte do processo, onde junto com outros profissionais, trabalha pela transformação da realidade de sujeitos em situação de risco e vulnerabilidade social. Desta forma, é uma atuação comprometida com os direitos de cada sujeito, promoção de saúde e

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educação, levando em consideração a realidade de cada família atendida pelo programa.

O presente trabalho não tem o objetivo de finalizar o assunto, tampouco resolver todas as questões, mas sim o meu desejo de continuar trabalhando com estas questões, para cada vez aprender mais.

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1. PRIMEIRA INFÂNCIA MELHOR (PIM) - POLITICA PÚBLICA DE DESENVOLVIMENTO INTEGRAL DA CRIANÇA

1.1. CRIAÇÃO DA POLÍTICA – APRESENTANDO O PIM

O programa Primeira Infância Melhor (PIM) é uma política desenvolvida no Rio Grande do Sul (RS), cujo objetivo é orientar as famílias, levando em conta sua

realidade social. O programa foi implantado em 7 de abril de 2003, diante da

importância de atendimento integral às necessidades essenciais da criança em seus primeiros anos de vida, implementando ações voltadas às famílias. Para tal experiência, o Estado do Rio Grande do Sul se baseou no modelo cubano do Programa “Educa a tu Hijo” como referência teórico-metodológica, onde tem como prioridade a atenção aos primeiros anos de vida, constituindo-se em uma referência internacional. Em 3 de julho de 2006 foi aprovada por unanimidade na Assembléia Legislativa a Lei 12.544/06, que institui o PIM como política pública pioneira no Estado do RS, trazendo mudanças e benefícios relacionados à garantia de continuidade do programa para os municípios e para a população beneficiada. O programa fundamenta-se teoricamente nos pressupostos de Vygotsky, Piaget, Bowlby, Winnicot e Brunner, além dos recentes estudos da Neurociência (SCHNEIDER; RAMIRES, 2007)

No livro, “Conhecendo o primeira infância melhor” de Schneider e Ramires

(2007) podemos compreender o PIM como um Projeto Social, institucional

equivalente de ação sócio educativo com público alvo às gestantes e famílias em situação de vulnerabilidade social para que possam desenvolver e/ou promover as potencialidades de suas crianças de 0 até 6 anos. Um de seus principais pilares é a

intersetorialidade – com o envolvimento das Secretarias Estaduais da Justiça e do

Desenvolvimento Social, da Cultura, da Educação e da Saúde, sendo esta responsável pela coordenação deste programa. Tem como objetivo orientar as famílias para que promovam o desenvolvimento integral de suas crianças, da

gestação até os seis anos de idade através de suas culturas e experiências. Na Lei

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Art.4º - Com o objetivo de orientar as famílias, a partir de sua cultura, experiências para o estímulo ao desenvolvimento das capacidades e potencialidades de suas crianças, as ações do PIM consistirão: I -apoiar e fortalecer as competências da família como primeira mais importante instituição de cuidado e educação da criança nos primeiros anos de vida. II - prestar apoio educacional e amparar as crianças para complementar as ações da família e da comunidade. III - prestar assistência social às crianças e às famílias beneficiadas por serviço de proteção social básica. IV - prestar toda e qualquer orientação às famílias sobre cuidados da saúde da gestante e da criança, em articulação com os programas de saúde da mulher, da criança e da família (RIO GRANDE DO SUL, 2006, p. 2).

Segundo Almeida:

A base do Programa Primeira Infância Melhor está no reconhecimento da importância da família como agente de seu próprio desenvolvimento, cuja influência é decisiva por sua atuação na educação dos filhos, perpetuando a herança cultural. É no cotidiano e na convivência familiar de cada criança que o PIM apóia e fortalece as famílias [...]. O convívio com adultos responsáveis faz da criança um aprendiz nato, pois palavras, ações e atitudes representam estímulos constantes para a construção e organização de inúmeras capacidades, como autoconfiança, autonomia, segurança e sociabilidade. [...] Quando o meio ambiente da criança é constituído por relações culturais/familiares saudáveis, estas se tornam requisitos indispensáveis ao desenvolvimento integral das potencialidades do indivíduo(ALMEIDA, 2008, p.2).

O Programa Primeira Infância Melhor é implantado nos municípios a partir de uma parceria entre Estado e os Municípios, que recebem apoio financeiro para sua implementação. A Secretaria Estadual da Saúde é a responsável pela coordenação do Programa e a execução do PIM é de responsabilidade das prefeituras municipais

A adesão ao Programa ocorre através da sensibilização dos Gestores Municipais pela Secretaria Estadual da Saúde e por disposição dos mesmos. A partir da opção de implantar o programa em seu município, o gestor deverá nomear o Grupo Técnico Municipal, que será capacitado, num período de cinco dias aproximadamente, pelo Grupo Técnico Estadual. Nesta capacitação serão tratados temas referentes à metodologia do PIM, pressupostos teóricos, documentações, seleção e capacitação de Monitores e Visitadores, aspectos pontuais do desenvolvimento infantil e da gestação, além da apresentação do sistema de Banco de Dados. O município identifica a realidade das diferentes áreas da cidade, a fim de mapear a necessidade de uma cobertura em relação à primeira infância. Depois, é feito um levantamento das famílias que irão receber o atendimento, que segue os seguintes critérios: crianças que não estão sendo atendidas em programas de

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Educação Infantil pelas vias institucionais, famílias interessadas em participar do Programa e, preferencialmente, famílias com gestantes e/ou crianças de zero a três anos de idade. A partir desse levantamento, são selecionadas visitadoras, de acordo com o número de habitantes, que irão interagir de forma direta com as famílias. Assim, as famílias em situação de vulnerabilidade recebem semanalmente visitas domiciliares de um visitador, onde são realizadas atividades com gestantes e com crianças de até 3 anos de idade.

Com as gestantes, é realizado o acolhimento, apoiando neste momento tão importante na vida desta família. São realizadas atividades desde a preparação adequada antes do nascimento, como alimentação, pré-natal, bem como trabalhos artesanais. Para as crianças de até 3 anos de idade, as visitadoras realizam atividades específicas para a faixa etária da criança, a fim de promover suas habilidades e capacidades, considerando seu contexto cultural, necessidades e interesses. Com as crianças de 3 anos até 6 anos de idade são realizadas atividades comunitárias, onde estas participam de um momento juntas com o visitador, em que realizam atividades diversas, de acordo com as etapas citadas no manual da família.

O guia da família é uma ferramenta de trabalho das equipes, abordando questões do desenvolvimento infantil, e aspectos relacionados à saúde. Além disso, apresenta as tabelas dos indicadores por faixa etária. A partir disto se constrói um vínculo entre o visitador e a família. (SCHNEIDER; RAMIRES, 2007; RIO GRANDE DO SUL, 2012.)

A respeito do guia da família:

A revisão dos conteúdos foi elaborada por uma equipe de trabalho composta por profissionais de psicologia, pedagogia, sociologia, fonoaudiologia, pediatria, serviço social e enfermagem que compõe o Grupo Técnico Estadual do PIM. Também contribuíram para essa revisão, profissionais da Seção de Saúde da Criança e do Adolescente, Seção de Política de Alimentação e Nutrição, Estratégia de Saúde da Família e Seção de Saúde do Idoso, do Departamento de Ações em Saúde- DAS. O Guia da Família faz parte da coleção "Guias do PIM", formada pelo Guia da Gestante, Guia da Gestante para o Visitador e Guia de Orientação para os Grupos Técnico Municipais, Monitores e Visitadores (RIO GRANDE DO SUL, 2007).

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Estes materiais também estão passando por um processo de revisão e neles serão destacados os períodos gestacionais, gravidez na adolescência, saúde bucal, alterações comuns durante a gestação, amamentação, pré-natal, parto, puerpério, direitos da gestante, sexo, o papel da família durante a gestação, entre outros. Esse contexto será trabalhado levando em consideração a implantação da Rede Cegonha no Rio Grande do Sul (RIO GRANDE DO SUL, 2007).

Ao visitador são proporcionadas capacitações, reuniões semanais com a equipe, além de utilizar os “Guias da família”, que auxiliam nos seus conhecimentos, abordagens e condutas para cada fase, desde a gestação até seis anos de idade.

De acordo com a Unesco, uma das apoiadoras do programa:

A primeira infância é um período altamente sensível, marcado por rápidas transformações no desenvolvimento físico, cognitivo, social e emocional. A subnutrição, carência de cuidados e tratamento inadequado são profundamente prejudiciais às crianças pequenas, com repercussões freqüentemente [sic] sentidas nos futuros anos de vida adulta. Uma criança que recebe cuidados extremamente insuficientes [...] provavelmente sofrerá atrasos em seu desenvolvimento, os quais dificilmente serão recobrados mais tarde. Programas adequados podem incrementar significativamente o bem-estar das crianças pequenas durante os anos de formação, além de complementar o cuidado recebido no lar (UNESCO, 2007, p.23).

Assim, o PIM é uma ação socioeducativa, que busca a prevenção dos problemas sociais existentes principalmente em comunidades de vulnerabilidade. Sua ação busca tornar a família responsável pela educação dos filhos, não passando isso para a escola, como vem acontecendo em muitas situações atualmente. Além disso, trata a educação de forma diferente da escola, sendo articulada e integrada com vários profissionais de outras áreas do conhecimento, formando uma rede na atenção e no cuidado das crianças. Juntamente com as visitadoras, há o trabalho do Grupo Técnico Municipal (GTM) que avalia, monitora e planeja o que será desenvolvido, além de identificar as famílias para o atendimento. Complementando o programa, há o Grupo Técnico Estadual (GTE) que planeja, capacita, monitora e avalia a execução e os resultados alcançados pelos municípios, bem como articula a rede de serviços estaduais (RIO GRANDE DO SUL, [s.d]).

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O acompanhamento dos Ganhos1 é de extrema importância para o programa, sendo utilizado desde os primeiros dias de vida da criança. Desta forma, quando a

criança nasce, o visitador ja vai até a casa da família onde realiza o “Marco Zero” 2

para poder iniciar o acompanhamento, podendo comparar a evolução da criança com o tempo. O acompanhamento de ganhos é realizado de forma trimestral, depois é realizado a cada anualmente. Após o primeiro ano de idade, a avaliação é realizada anualmente. Essa avaliação ocorre a partir das atividades que são realizadas com a mãe/família junto com a visitadora. Assim, é possível considerar os avanços realizados pela criança neste período, bem como observações a respeito de alguma atividade que se torna necessário indicar. Além disso, é possível que a família saiba o que pode esperar que a criança consiga realizar sozinha ao final de cada etapa.

Os resultados desse acompanhamento dizem respeito ao desenvolvimento da criança nas seguintes dimensões: sócio-afetiva, motricidade, linguagem e cognitiva. Dependendo dos resultados até então obtidos nos ganhos, o visitador pode pensar um melhor planejamento para aquela criança, na dimensão que deve ser melhor acompanhada.

Uma das dimensões a ser avaliada é a da linguagem que implica na verbalização, o qual não consiste apenas em memorizar sons e palavras. A aprendizagem da fala pelas crianças ocorre de forma articulada com a reflexão, o pensamento, a explicitação de seus atos, sentimentos, sensações e desejos. Para Vigotski (2000) é preciso um entendimento da relação entre pensamento e língua, assim será mais claramente entendido o processo de desenvovimento intelectual.

Outra dimensão é a motricidade. A criança se movimenta desde o seu

nascimento, expressando emoções e significações para seus gestos, constituindo uma linguagem para interação com o meio que está inserida. Vigotski(2000) afirma que a relação dos indivíduos com o mundo não é direta, pois é meadiada por sistemas simbólicos, onde a linguagem ocupa um papel central possibilitando interação entre indivíduos. Pode-se entender como atividades dessa dimensão o correr, jogar a bola, subir e descer escadas, dependendo da faixa etária da criança.

1

Uma das formas de medir e acompanhar a evolução dos bebes/crianças e os resultados do projeto é através da tabela de Ganhos. Nessa tabela são considerados diversos fatores, fazendo um comparativo das atividades que a criança consegue realizar desde o seu nascimento.

2

Diagnóstico inicial do desenvolvimento infantil, que serve como referência para as próximas etapas apresentadas pela criança.

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A dimensão socioafetiva compreende como a criança e os seus cuidadores interagem e brincam, que vai desde a troca de olhares até as palavras. Temos essa dimensão classificada como brincar de forma afetiva com outras crianças, balbuciando e sorrindo quando está contente, entre outros.No nascimento, e mesmo antes dele, a criança precisa suprir as necessidades essenciais para a sua sobrevivência. Principalmente com a mãe, a criação de vínculos afetivos se torna um fator decisivo para sua constituição, pois as experiências afetivas nos primeiros anos de vida são determinantes para sua conduta e suas emoções. Segundo Lebovici (1987), o processo de filiação se inicia antes do nascimento, por meio da relação com seus próprios pais, com seus conflitos conscientes e inconscientes que fazem marca na história da criança. Para Freud (1996a), o lugar designado ocupado por um filho é o resultado de um processo da resolução edípica, pois para o autor a feminilidade viria quando a mulher aceita a castração.

Outro aspecto é a respeito da dimensão cognitiva. A criança nasce com capacidades afetivas, emocionais e cognitivas (raciocínio lógico, criatividade, orientação espacial, memória, atenção, observação, capacidade de reflexão e de auto avaliação); tem desejos de estar próxima das pessoas, de interagir e de aprender com elas. É um processo interno, mas que pode ser observado através das ações e verbalizações da criança, acontecendo de maneira contínua desde os primeiros anos de vida. A construção deste processo possibilita à criança modificar seus conhecimentos prévios, ampliá-los ou diferenciá-los em função de novas informações, capacitando-as, desse modo, a realizar novas aprendizagens.

Segundo Coriat e Alfredo Jerusalinsky:

Cada acontecimento entre a criança e seus pais é significado por atos, gestos e palavras, articulados em uma sequência que recorta e delineia o lugar do filho. É a definição desse lugar que permite a criança ser sujeito, inscrito sobre o sistema nervoso central que o possibilita (CORIAT; JERUSALISNKY, 1996, p.9).

Os mesmos autores complementam:

Quando uma criança deseja, ela está se interessando por aquilo que, em uma primeira instância, resulta interessante para a sua mãe. O meio, enquanto coisas e pessoas, torna-se objeto de interrogação, de experimentação, de intercâmbio organizado. Esta organização é em si mesma importante, porque fornece sistemas cada vez mais confiáveis para realizar os intercâmbios. Estamos então, diante do sujeito de conhecimento (CORIAT; JERUSALINSKY, 1996, p.9).

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Ainda segundo Coriat e Jerusalinsky (1996) o desenvolvimento não é apenas o sobreviver da criança, cuidando do seu bem-estar, mas sim é algo que a família precisar ir resolvendo.

Enfim, trata-se necessariamente, dos três sistemas em resolução simultânea que impõe a estrutura, desde a qual as funções se articulam. Estamos denominando como estruturais, então, os sistemas nervoso, psíquico-afetivo e psíquico-cognitivo, porque estes sistemas condicionam, marcam, definem a possibilidade e situam o lugar e a modalidade desde a qual o sujeito se manifesta. A preservação, construção, definição deste lugar e sua redefinição para cada momento deste processo são os eixos da problemática que a criança e sua família precisam ir resolvendo (CORIAT; JERUSALINSKY,1996, p. 9-10).

Para os autores citados acima, o desenvolvimento da criança é um processo que se redefine a cada momento, de acordo com a cultura e as condições biológicas de cada ser, sendo constituída pelos aspectos estruturais e instrumentais. Podemos entender como aspectos instrumentais as ferramentas necessárias para que o sujeito realize seus intercâmbios com o mundo exterior. Segundo Jerusalinsky e Coriat (1996, p.11) “essas ferramentas facilitam sua tarefa, porque sua ausência ou seu déficit, ocasionam-lhe transtornos e/ou atrasos às vezes importantes”.

Através das atividades desenvolvidas pela mãe/ cuidador, com orientações do Visitador, diferentes níveis de ajuda são oferecidos como forma de estimular o desenvolvimento integral, contemplando as quatro dimensões acima citadas. Desde o nascimento, a criança usa da linguagem coporal para se conhecer, interagir com as pessoas que estão ao seu redor e para conhecer o que está perto dela. As descobertas deixam marcas, dando acesso à cultura, o que auxilia no mundo simbólico do sujeito. Mas se torna necessário que a criança tenha uma triangulação edipiana formada por mãe-pai-criança. Tudo o que é dirigido à criança é dotado de sentimentos, sendo a família a porta para o social, demonstrando dessa forma sua importância para a constituição do sujeito. Winnicott nos traz que:

Comumente a mãe entra numa fase, uma fase da qual ela comumente se recupera nas semanas e meses que se seguem ao nascimento do bebê, e na qual, em grande parte, ela é o bebê, e o bebê é ela. E não há nada de místico nisso. Afinal de contas, ela também já foi um bebê, e traz com ela as lembranças de tê-lo sido; tem, igualmente, recordações de que alguém cuidou dela, e estas lembranças tanto podem ajudá-la quanto atrapalhá-la em sua própria existência como mãe (WINNICOTT, 2006, p. 4).

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Winnicott (2006) fala que a mãe age naturalmente, não precisa de ajuda de outras pessoas ou coisas, pois ela é capaz de saber o que o bebê está sentindo. Ainda segundo o autor:

Quando existem essas condições, como em geral acontece, o bebê pode desenvolver a capacidade de ter sentimentos que, de alguma forma, correspondem ao sentimento que, de alguma forma, correspondem aos sentimentos da mãe que se identifica com o seu bebê (WINNICOTT, 2006, p. 5).

1.3. REALIDADE DO PIM NO MUNICÍPIO DE SANTA ROSA

A partir de registros da FUMSSAR, obtivemos alguns dados relevantes para nossa pesquisa. No dia 1º de setembro de 2003 foi realizada a capacitação para a implantação do programa no município de Santa Rosa, onde participaram do encontro gestores e profissionais. A implantação ocorreu no dia 13 de novembro de 2003, contemplando o bairro Auxiliadora e vila Santa Inês.

Na cidade de Santa Rosa, são atendidas 80 famílias, dividas por quatro visitadoras, onde cada uma tem uma área de atuação. Atualmente, cerca de 76 crianças e 4 gestantes são atendidas pelas visitadoras que realizam visitas semanais. O programa no município de Santa Rosa acabou por mudar seu foco, pois muitas crianças estão indo para as escolas de educação infantil, então se fez necessário dar uma maior importância para gestantes e crianças de 0 até 3 anos de idade.Desta forma, as visitadoras se ocupam mais em trabalhar com as visitas domiciliares com as crianças menores, podendo assim atender um maior número de famílias.

Sendo o PIM um programa de ação socioeducativa, é um programa que desenvolve a prevenção quando acompanha crianças desde cedo, trazendo atividades para que ela se desenvolva de forma saudável. Sabemos que em comunidades com vulnerabilidade social, o risco de violência entre é maior, o que também acaba envolvendo crianças.

Um dos fenômenos mais vistos é a violência. Antes ela afetava somente uma classe social, onde tinha maior ocorrência, mas hoje já não faz mais distinção, afetando toda a população. Entretanto, ela pode ter maior frequência em algum

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gênero, classe social, idade ou outro critério, podendo ser como vítima ou como agressor.

A situação de vulnerabilidade psíquica e social aliada às turbulentas condições socioeconômicas, agrava os processos de integração social e, em algumas situações, fomentando o aumento da violência e da criminalidade. A violência, mesmo em alguns casos associada à pobreza, não é sua conseqüência direta, mas sim as desigualdades sociais, onde muitas vezes para algumas famílias com maior vulnerabilidade lhe são negados acesso a bens, o que desencadeia comportamentos violentos. Experiências que priorizam a participação dos jovens como protagonistas do seu processo de desenvolvimento vêem demonstrando serem alternativas eficientes para superar a vulnerabilidade desses atores, tirando-os do ambiente de incerteza e insegurança (CASTRO et al, 2001). Assim, se torna necessário projetos e programas com objetivos de prevenção neste segmento para a população junto às famílias. Portanto, para o PIM:

É preciso que as políticas públicas não só enfoquem questões relacionadas às habilidades voltadas para a inteligência humana, mas também contemplem as habilidades sócio-emocionais que são fatores determinantes do sucesso sócio-econômico e da redução dos índices de desigualdade social para maior qualificação do capital humano (HECKMANN, 2006 apud RIO GRANDE DO SUL, 2007).

Torna-se cada vez mais importante que os trabalhadores da área da saúde que trabalham no programa possam trabalhar em rede, levando em consideração a realidade de cada família e a subjetividade de cada sujeito.

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2. A IMPORTÂNCIA DO VÍNCULO MÃE-FILHO

A formação do vínculo mãe-bebê é essencial na infância e sua importância é maior nessa fase do que nos períodos posteriores. Para falarmos disso, é importante considerar o período da gestação ao puerpério, pois é neste período que a mulher se depara com várias mudanças físicas e emocionais. A troca de papéis, as mudanças na rotina diária, as abdicações e preocupações, as atenções dedicadas ao bebê são algumas das características deste período, que estão diretamente relacionadas à qualidade do vínculo que será formado entre a mãe e seu bebê. Para que seja possível uma troca afetiva favorável entre a díade, a mãe necessita estar apta a estabelecer este vínculo, o que só será possível a partir de uma boa vivência de suas experiências relacionadas à gestação e ao puerpério (BORSA; DIAS, 2004). Nesta fase a mulher deixa o papel de filha e assume o papel de mãe. O pré-natal permitem verificar parte da vida do feto, como está sua saúde, tamanho, batimentos cardíacos. No decorrer da gravidez, acompanhando o progresso no desenvolvimento neurológico, os seus sentidos vão amadurecendo, o que podemos compreender é que a criança sente o que a mãe está transmitindo para ela, pois quando a criança nasce, os cinco sentidos já estão desenvolvidos. Pesquisas nos mostram que depois do quarto mês, o feto é capaz de reagir a sons e ao toque, e começa a criar o vínculo afetivo profundo com a mãe. Por isso, mesmo um recém-nascido reconhece a fala materna e se acalma com ela, o que prova que a relação foi construída durante a gestação. Quando o bebê chega nos 6 meses de gestação, já começa a sorrir quando algo o agrada e demonstra claramente quando sente aversão. Se a mãe come algo diferente, com um toque muito amargo, o líquido amniótico fica amargo, o que pode ser visto pela sua fisionomia quando é feito algum exame.

Antes mesmo da criança nascer, os pais já a idealizam, pensam como será o seu nome, qual será o sexo, pensam no quarto, nas roupas, imaginam como a criança será. Ao nascer ela já está inserida em um grupo, rodeada por expectativas já registradas. Todos os registros de sons e toques, vividos na vida intra-uterina irão acompanhar o bebê por sua vida. A menina, com a sua boneca, brinca de ser mãe, e dessa forma vai elaborando a fantasia do filho. Mais tarde, durante a gravidez, esse filho imaginário vai sendo ou não investido (SANTOS et al, 2001).

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A criança imaginada é, portanto, o fruto do desejo de gravidez que permite à sua mãe desenhar seu perfil, expor os receios e as ambições que seu futuro suscita em sua vida pré-consciente: a criança é tardia e rara em nossa civilização e é também objeto de conteúdos fantasmáticos; desse modo, as interações fantasmáticas organizam-se onde a criança imaginada pela mãe confronta-se com as proto-representações do bebê.

Freud (1915), ao falar do desejo argumenta que a criança possui necessidades fisiológicas que devem ser satisfeitas, sobretudo de alimento e conforto, e que o bebê se torna interessado em uma figura humana, especificamente a mãe, por ela ser a fonte de sua satisfação. Na teoria dos instintos, a vinculação com a figura materna é vista como impulso secundário, ou seja, que o bebê se liga à mãe afetivamente como conseqüência de esta ser o agente de suas satisfações fisiológicas básicas. Com Winnicot (2006) podemos compreender que “a mãe sabe, de uma forma extremamente sensível, quais são os sentimentos de seu bebê com relação a essas coisas, pois temporariamente, ela se encontra em sintonia com elas” (p. 58)

A partir do quarto ou quinto mês, o bebê é representado pela mãe, quando ela começa a sentir ele se mover dentro do seu ventre. Durante a gravidez a mãe vive num regime fusional e narcísico onde se identifica com o bebê, vivendo-o psiquicamente como parte de si mesma (CAMAROTTI, 2001).

A relação da mãe com seu filho tem início no período pré-natal, onde ela já tem várias expectativas sobre o bebê, já havendo uma interação que ela estabelece com ele ao longo da gestação. Com isso, no período pré-natal os pais já constroem a noção de indivíduo do bebê, onde reconhecem os comportamentos e características temperamentais, o que acaba resultando na existência de uma relação bastante intensa, com sentimentos e expectativas sobre o bebê. Muito antes do bebê nascer, ele já é mencionado, falado e idealizado pela figura do pai e da mãe, que aguardam sua chegada. Uma forma de antecipar o envolvimento emocional e a troca de afeto entre pais e filhos é a formação do vínculo já durante a gestação, seja por meio de afagos na barriga, conversas, ou outras formas de comunicação. Os movimentos que o feto faz dentro do útero representam algo, algum sinal que ele quer demonstrar. Assim, a mãe começa a decifrar o que ele está querendo dizer com o sinal que dá, revelando intimidade e produzindo

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confiança em ambos. Marques (2003) considera que na relação mãe-filho se repete de algum modo a relação infantil com a própria mãe.

De acordo com Lebovici (1987), a interação mãe-bebê é hoje concebida como um processo ao longo do qual a mãe entra em comunicação com o bebê, enviando-lhe mensagens enquanto que o bebê, por sua vez, responde à mãe com seus próprios meios. Sobre este aspecto, acrescenta:

No momento em que, pela primeira vez, uma mãe toma seu recém nascido nos braços, toca-o, fala-lhe, ela o olha, ela lhe oferece seu cheiro e seu calor; já suas características de mãe são além de dados objetáveis tais como aparecem a nós, adultos: são igualmente e em conjunto outros tantos estímulos interacionais que o bebê pode receber, pois ele tem já capacidades sensoriais: visuais, auditivas, olfativas, etc (SALES, 2005,p.8)

Ainda segundo Lebovici:

Durante a amamentação, a díade mãe-bebê encontra-se em grande interação. Por nascer imaturo neurologicamente, o bebê exige maiores cuidados maternos daqueles que estão garantindo a sua sobrevivência. Sendo assim, os primeiros meses de vida têm sido identificados como um período em que a mãe e o bebê estabelecem uma interação recíproca muito forte (LEBOVICI, 2005, p. 54).

A criança participa de alguma forma desta troca: enquanto ela recebe o alimento, o carinho, a atenção, ela já demonstra suas habilidades em absorver todas as informações necessárias para o seu desenvolvimento, assim como para manter-se interagindo de forma ativa nesta situação.

Para Winnicott (1985) a criança nasce indefesa. É um ser desintegrado, que percebe de maneira desorganizada os diferentes estímulos provenientes do exterior. O bebê nasce também com uma tendência para o desenvolvimento. A tarefa da mãe é oferecer um suporte adequado para que as condições inatas alcancem um desenvolvimento ótimo.

O desenvolvimento do ser humano é um processo contínuo, sendo assim, nenhuma fase pode ser suprimida ou impedida sem gerar consequências. Winnicott (1985) nos traz que:

[...] todos os cuidados que a mãe e o pai dediquem ao seu bebê não constituem apenas um prazer para eles e para a criança; trata-se também

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de uma necessidade absoluta e, sem eles, o bebê não poderá transformar-se num adulto sadio ou prestimoso (WINNICOTT, 1985, p. 95).

Segundo Winnicot (1985), primeira pessoa que o bebê conhece é a mãe, onde irá conhecendo algumas qualidades maternas e algumas delas ficam sempre associadas à essa figura. Mas o bebê acaba conhecendo outras características da mãe, como ser rigorosa, severa.

Para Winnicott:

Mais cedo ou mais tarde, certas qualidades de mãe não fazem essencialmente parte dela reúnem-se gradualmente na mente infantil; e essas qualidades atraem sobre si próprias os sentimentos que o bebê, com o tempo, acaba por dispor-se a alimentar em relação ao pai. (WINNICOTT, 1985 p. 128):

Ainda segundo o autor:

Quando o pai entra na vida da criança, como pai, ele assume sentimentos que ela já alimentava em relação a certas propriedades da mãe e para esta constitui um grande alívio verificar que o pai se comporta da maneira esperada (WINNICOTT,1985, p.129).

Outro autor que trata deste tema é Bowlby, segundo o autor existe nos bebês uma propensão inata para o contato com um ser humano, o que implica na “necessidade” de um objeto independente do alimento, tão primária quanto a “necessidade” de alimento e conforto, alicerçando sua teoria no relato de farta pesquisa empírica (BOWLBY, 1989). Em 1969/1990, Bowlby assinalou que apego-cuidado é um tipo de vínculo social baseado no relacionamento complementar entre pais e filhos. O apego tem sua própria motivação interna, distinta da alimentação e do sexo, como postulado pela teoria freudiana, e de igual importância para a sobrevivência (BOWLBY, 1990).

Sendo o apego um estado interno, sua existência pode ser observada através dos comportamentos de apego. Tais comportamentos possibilitam ao indivíduo conseguir e manter a proximidade em relação a uma figura de apego, ou seja, um indivíduo claramente identificado, considerado mais apto para lidar com o mundo. Sorrir, fazer contato visual, chamar, tocar, agarrar-se, chorar, ir atrás são alguns desses comportamentos. Desta forma, a mãe supre o filho com uma de suas necessidades básicas, que é a amamentação. Assim:

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[...] coloca-o numa posição face-a-face, dando-lhe as condições necessárias para que ele possa olhá-la. Assim, possibilita o comportamento de ligação resultante da proximidade de uma pessoa com algum outro indivíduo diferenciado e preferido, o que caracteriza o vínculo afetivo. (BOWLBY, 1999).

Na teoria psicanalítica tem-se a função materna, a qual é constituída pelos cuidados básicos que vão permitir que o bebê sobreviva, pois o bebê precisa que alguém exerça para ele a função materna. Ele precisa mais do que só satisfazer suas necessidades biológicas.

“O bebê humano é extremamente dependente [...] precisa totalmente do cuidado do outro para poder continuar se desenvolvendo, para poder sobreviver” (JERUSALINSKY, 2002, p.59). Para a sobrevivência do bebê, a mãe precisa lhe dar algo mais do que somente as necessidades básicas.

A interpretação do mundo que a mãe proporciona ao bebê vai fazer a constituição psíquica do bebê. A mãe passa a lhe oferecer um olhar, palavras, toques carinhosos, isso vai construindo no bebê uma vida mental. Segundo Leda Bernardino (2008, p.60) “ele vai estar vivendo experiências que tem significação, a partir do que o outro materno vai passando para ele como experiências boas ou ruins”. Para que uma mãe possa fazer essa função com o bebê, é necessário que ela esteja presente com a sua vida mental, com seu desejo (p. 60). Um exemplo é quando a mãe está amamentando o bebê, e deve olhar para a criança, sentir-se mãe dela. Não se trata só de alimentar o filho, mas de viver com ele uma experiência prazerosa, que também é simbólica, de reconhecimento, onde ao mesmo tempo que ela está reconhecendo-o como o filho, está sendo reconhecida nessa nova função. “A presença materna é o que permite o encontro entre mãe e bebê, no qual se estabeleça um diálogo, um reconhecimento entre eles” (BERNARDINO, 2008, p. 61). O bebê olha para a mãe buscando a aprovação do Outro simbólico.

Lacan (1998) também enfatizou que o investimento da mãe, o olhar relacionado à imagem do filho que gostaria de ter, antecipa um sujeito que está por

se constituir. Assim, o sujeito que irá advir nesta relação

é algo formulado anteriormente, o bebê não nasce como eu, se desconhece, ele assume esta imagem antecipada, se identificando a ela. Torna-se necessário revestir esse real, que o corpo seja atravessado pela linguagem, que aceda ao campo simbólico e que a criança constitua a imagem de seu corpo. Esse filho deve ser suposto como filho desejado, constituindo o suporte para a ilusão de que enfim

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encontrou o objeto que poderia preencher sua falta, o falo imaginário. Assim, Lacan atribuiu muita importância à presença do outro, que participa por meio do investimento nessa imagem da criança como eu ideal das expectativas e perspectivas dos sonhos mais antigos de seus pais.

[...] para que haja esse processo de humanização é necessário que o bebezinho, com sua aparelhagem biológica, com seu organismo, encontre-se com uma família que vai introduzi-lo na cultura, na liguagem, no campo simbólico. E essa introdução não pode ser feita de maneira mecânica, anônima, ela tem de ser intermediada por pessoas especialmente interessadas pelo bebê, quer dizer, por pessoas que já deram um lugar para o bebê na sua história, que têm planos, projetos para ele, que gostam dele; pessoas portanto que estão comprometidas, engajadas na sua educação (JERUSALINSKY, 2002, p.63).

Sem isso, é dificil a criança se tornar um ser falante, desejante e atuante pois “embora consigam fazer coisas, repetir palavras, sentir sensações, não tem acesso ao sentido, para entenderem a si próprias e o mundo que as cerca” (LACAN, 1998,p. 64).

A imagem, inicialmente, responde as leis do Outro, que introduz o princípio de alteridade, pois o semelhante é ao mesmo tempo outro, assim como o ego também é outro. Lacan (1976) diz que por meio desse investimento externo sobre o psiquismo vai ocorrer um estado em que a criança investe toda sua libido em si mesma. A criança vai poder reconhecer-se. Quando se constrói essa imagem de si mesmo, vai ser defendida como uma necessidade de satisfação narcísica, que se transformará na demanda de ser objeto do amor de um outro. O falo3 da mãe é completado com o nascimento do filho, pois ela deseja ter um filho, reconhece que seu filho é um ser humano e este chora porque está com fome e lhe dá o seio para a satisfação do bebê. A mãe supõe que o filho precisa dela e supõe que ela tem o que o filho precisa. Neste sentido, a relação edípica entre mãe e filho é estruturante, através da identificação com um outro semelhante, na relação amorosa que aí se constitui, pela demanda do Outro materno de que este filho seja o falo, sendo desejado pela mãe desta forma. Isto permite que o filho possa desejar, deseja o desejo da mãe, o que viria significar que, já que ela o convoca a ser o falo que lhe

3

O falo segundo Lacan, a imagem do falo representa no começo o que polariza o desejo da mãe para além do bebê; de modo que se instaura um triângulo imaginário(pré- edipiano: mãe-falo-criança. Esta última esforça-se inicialmente por ser aí o falo para a mãe, até essa mutação capital pela qual, de uma imagem estática de completude e de suficiência, o falo passa a representar o desejo da mãe e, portanto, a sua falta.

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preenche a falta, o filho responde afirmativamente, deseja ver sua mãe como não faltante, pois desta forma ele de fato seria o falo. O que ele deseja é a si próprio na mãe, deseja a imagem de falo que a mãe lhe devolve. Se a mãe estiver completa ele também está. A ilusão de completude precisa cair, tanto para a mãe quanto para o filho, pois se a mãe desejar outro objeto, o filho a percebe como faltante, e se ela é faltante é também submetida à castração, com isso ele não pode ser o falo.

As experiências fundamentais se estabelecem pela ruptura e pela falta, como a separação ao nascer, o momento do desmame, o afastamento materno pelo corte paterno, que possibilita ao sujeito a elaboração de sua subjetividade. Neste conjunto de fatores da posição da mulher enquanto mãe, e do homem enquanto pai, que existe para a criança a possibilidade de se tornar um sujeito desejante ou pairar na posição de objeto ou sujeito sem desejo – um nada.

Lacan (1955) nos diz que no Complexo de Édipo o pai é uma metáfora, ele usa como metáfora porque o pai é um significante que substitui outro significante, ou seja, o pai é um significante que substitui, para o sujeito (criança), o significante da mãe. A primeira relação é entre mãe e filho, e é aí que a criança experimenta as primeiras realidades de seu contato com o meio vivo. Para Lacan (1956,p.63) “o Outro é aquilo diante do que vocês se fazem reconhecer. Mas vocês só podem se fazer reconhecer por ele porque ele é em primeiro lugar reconhecido.” Lacan (1988) nos fala a respeito da demanda, que é sempre demanda de presença e de ausência, sendo assim, demanda de amor, sendo sempre um apelo dirigido ao Outro. Nas primeiras relações do sujeito com o Outro, quando a criança chora a mãe interpreta o choro da criança, introduzindo a criança no seu discurso. Assim, nem sempre a mãe está onde a criança quer, o que se torna fundamental para criar a ausência-presença, instaurando a demanda da mãe. Com isso, tem um momento que a criança chora e nem tudo que a mãe faz dá conta do que vem da criança, ficando um resto, não só uma necessidade, que Lacan chama de desejo. A mãe coloca a castração dela quando não sabe o que tem a criança. A partir do desejo do Outro é que o meu se abre, se repetindo toda nossa vida. O mais profundo desejo, aquele que permanece suspenso no inconsciente é o desejo do Outro materno.

Ainda segundo o autor:

A possibilidade da ausência, eis a segurança da presença. O que há de mais angustiante para a criança é, justamente, quando a relação com base na qual essa possibilidade se institui, pela falta que transforma em

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desejo, é perturbada, e ela fica perturbada ao máximo quando não há possibilidade de falta, quando a mãe está o tempo todo nas costas dela (LACAN,1956, p. 64).

Winnicott (apud NASIO,1995) nos traz a importância do meio ambiente no desenvolvimento psíquico do ser humano. Segundo o autor “[...] o ser humano traz em si uma tendência inata a se desenvolver e a se unificar” (p.183). Enfatiza que “[...] é o ambiente, inicialmente representado pela mãe ou por um dos seus substitutos, que permite ou entrava o livre desenrolar desses processos (p.183)” Temos duas primeiras fases na nossa vida, sendo primeiramente a fase inicial que é

[...] desde o nascimento até os seis meses, em que a criança pequena acha-se num estado de dependência absoluta em relação ao meio, isto é, à mãe. Depois, a segunda fase, dos 6 meses aos 2 anos, em que a criança se encontra, ao contrário, num estado de dependência relativa (p. 183)

Na fase da dependência absoluta, diz Winnicot (apud NASIO,1995), o bebê é totalmente dependente da mãe ou do meio que é representado.Segundo o autor( ) o bebê depende inteiramente do mundo que lhe é oferecido pela mãe, pois para ele, ele e a mãe são um corpo só. Para o autor, a mãe deve exercer três funções: apresentação do objeto, holding e handling. Na apresentação do objeto,tem-se a apresentação do seio, da mamadeira.

Ao oferecer o seio mais ou menos no momento certo, ela dá ao bebê a ilusão de que ele mesmo criou o objeto do qual sente confusamente a necessidade. Ao lhe dar a ilusão dessa criação, a mãe permite que o bebê tenha uma experiência de onipotência, isto é, que o objeto adquira existência real no momento em que é esperado. Durante esse período de dependência absoluta, a mãe, que age de maneira a estar disponível diante de uma excitação potencial do bebê, permite que este adquira, no correr das mamadas, a capacidade de assumir relações estimulantes com as coisas ou as outras pessoas (apud NASIO,1995, p. 185).

A segunda função, diz Winnicott (apud NASIO,1995) diz respeito ao holding, que se refere a sustentação. Com essa função, o autor nos traz que através dos cuidados cotidianos é instaurado uma rotina. Além disso, [...] enfatiza o modo de segurar a criança, a princípio fisicamente, mas também psiquicamente” (p. 185). Sobre este aspecto, acrescenta:

A sustentação psíquica consiste em dar esteio ao eu do bebê em seu desenvolvimento, isto é, em colocá-lo em contato com uma realidade

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externa simplificada, repetitiva, que permita ao eu nascente encontrar pontos de referência simples e estáveis, necessários para que ele leve a cabo seu trabalho de integração no tempo e no espaço (apud NASIO, 1995, p. 185).

O holding é necessário desde a dependência absoluta até a autonomia do bebé, ou seja, quando os espaços psíquicos entre este e sua mãe já estão perfeitamente distintos.

A terceira função é remetida na função que a mãe exerce através do handling, da

[...] manipulação do bebê enquanto ele é cuidado. A mãe troca a roupa do bebê, dá-lhe banho, embala-o. O emprego dessa terceira função materna é necessário para o bem estar físico do bebê, que aos poucos se experimenta como vivendo dentro de um corpo e, com isso, realiza uma união entre sua vida psíquica e seu corpo (apud NASIO,1995,p. 185).

Como Winnicott (apud NASIO,1995) nos diz, a fase da dependência absoluta é quando o bebê depende totalmente da mãe.Depois, tem-se o período da dependência relativa, onde o bebê já consegue separar ele com a mãe, podendo seguir em seu amadurecimento.

Winnicott (apud NASIO,1995) introduz o conceito de mãe suficientemente boa, onde coloca que para a mãe ser entendida como tal, precisa ser “(..)boa o bastante para que o bebê possa conviver com ela sem prejuízo para sua saúde psíquica. Essa mãe representa o ambiente suficientemente bom, cuja importância é vital para a saúde psíquica do ser humano em devir (p. 186). Ao contrário disto, o

autor aborda o conceito de mãe insuficientemente boa que “[...] ao invés de

responder aos gestos espontâneos e às necessidades do bebê, ela os substitui pelos seus (p. 187). Ainda complementa:

[...] a pior das mães é a que, “logo de início, não consegue impedir-se de atormentar, ou seja, de ser imprevisível, de passar, por exemplo, de uma adaptação perfeita para uma adaptação falha, ou de passar subitamente da intromissão para a negligência, de tal modo que o bebê não pode confiar nela, nem prever nenhuma de suas condutas (apud NASIO,1995, p.187).

Ainda a respeito disso:

[...] a mãe insuficientemente boa não designa o comportamento de uma mãe real, porém uma situação em que os cuidados são prodigalizados à criança por diversas pessoas. A criança depara então com uma mãe

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dividida em pedaços e tem a experiência da complexidade dos cuidados que lhe são prestados, e não da simplicidade que seria desejável [...] a mãe suficientemente boa é representada por uma pessoa ou por uma situação, não a uma pessoa, mas à ausência de alguém cujo apego à criança seja simplesmente comum (apud NASIO,1995, p.187).

Segundo o autor, somente na presença de uma mãe suficientemente boa é que a criança poderá iniciar o processo de desenvolvimento pessoal. Assim, a mãe precisa ser flexível para poder acompanhar o filho em suas necessidades, as quais oscilam e evoluem no percurso para a maturidade e autonomia. Com isso, não somente a mãe precisa ser suficientemente boa, mas o ambiente também, para que

haja no bebê uma formação emocional saudável. Winnicott (apud NASIO,1995)

ainda fala que a mãe pode vir a falhar em satisfazer as exigências instintivas, mas pode ser perfeitamente bem sucedida em jamais deixar que o bebê se sinta desamparado, provendo as suas necessidades egóicas até o momento em que ele já possua introjetada uma mãe que apóia o ego e que tenha idade suficiente para manter essa introjeção apesar das falhas do ambiente a esse respeito. O bebê bem cuidado rapidamente estabelece-se como pessoa ao passo que o bebê que recebe apoio egóico inadequado ou patológico tende a apresentar padrões de comportamento caracterizados por inquietude, estranhamento, apatia, inibição e complacência

A partir das considerações propostas pelo autor acima, destacamos o quanto a amamentação é importante, tanto como fonte de nutrição para o bebê, quanto pela transferência de imunidade que a mãe oferece a partir do aleitamento. Os aspectos psíquicos e emocionais do binômio também recebem ênfase especial, pois durante o aleitamento materno se estabelece a cumplicidade e o vínculo afetivo entre ambos. Apesar de a criança sentir necessidade física de leite, sua necessidade emocional é igualmente forte, por isso precisa do contato com a mãe, de tranquilidade e de amor, recebidos enquanto mama. Do ponto de vista emocional, amamentar traz inúmeras vantagens, pois a interação entre mãe e filho proporciona uma mútua satisfação. A ligação forte entre ambos, o contato íntimo da pele e o olhar permitem que sintam um enorme prazer neste ato. Este contato possibilita que o amor vá aumentando a cada mamada, construindo uma base sólida, vinculando para sempre mãe e filho.(trazer no final)

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Winnicott (1978) dirá mais tarde que o meio ambiente apresenta o mundo para o bebê. O desenvolvimento do ser humano é um processo contínuo, sendo assim, nenhuma fase pode ser suprimida ou impedida sem gerar consequências.

Continua Winnicott:

Os bebês são realmente muito sensíveis à maneira como são segurados, o que os leva a chorar com algumas pessoas e a ficar calmos e satisfeitos quando no colo de outras, mesmo quando ainda novinhos. [...] A mãe que for sábia se lembrará de não atribuir à criança toda a responsabilidade,e permanecerá por perto o tempo todo, caso a deixe segurar o bebê, pronta para trazê-lo de volta à segurança de seu colo (WINNICOTT, 1985, p.15).

“Desta forma, as mães conseguem agir de forma natural, devido à sua dedicação aos seus bebês” (1985, p.15). Elas conseguem se colocar no lugar do bebê, onde desenvolvem uma capacidade de identificação, possibilitando atender as

necessidades do bebê de forma natural (p. 30). Assim “o bebê sente a sua

respiração, e do seu hálito e da sua pele irradia-se um calor que leva o bebê a sentir que é agradável estar em seu colo” (WINNICOTT, 1985).

A amamentação é uma das primeiras formas do bebê ter contato com sua mãe, mas temos muitos casos de pessoas que se desenvolveram normalmente sem a amamentação do seio materno, podendo assim existir outras formas de criar essa intimidade com a mãe. Winnicott nos traz que a amamentação tem um valor muito positivo, mas que não se deve forçar a mãe à essa atitude, pois pode existir muitas

dificuldades pessoas aí inscritas. Ainda segundo o autor “a maior parte das

dificuldades em alimentar o bebê não decorre de infecções ou impropriedades bioquímicas do leite, mas sim do enorme problema que toda mãe tem em adaptar-se às necessidades de um novo bebê” (1985, p. 52). O autor traz alguns exemplos de atitudes que também possibilitam a intimidade entre mãe e filho, como “o fato de a mãe e seu bebê olharem-se nos olhos, que é uma característica do estágio inicial, é algo que absolutamente não depende do uso do verdadeiro seio” (WINNICOTT, 1985, p.24-25). Ainda segundo ele, “o ato de segurar o seio é mais importante, em termos vitais, do que a experiência concreta da amamentação”.

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A saúde mental do indivíduo está sendo construída desde o início pela mãe, que oferece o que chamei de ambiente facilitador, isto é, um ambiente em que os processos evolutivos e as interações naturais do bebê com o meio podem desenvolver-se de acordo com o padrão hereditário do indivíduo. A mãe está assentando, sem que o saiba, as bases da saúde mental do indivíduo (WINNICOTT, 2006, p. 20).

O autor acima afirma que a mãe se agir de forma adequada vai estar “criando os fundamentos da força de caráter e da riqueza de personalidade do indivíduo” (WINNICOTT, 2006). Complementando a respeito da amamentação, o autor nos traz que:

Quando a mãe e o seu bebê chegam a um acordo na situação de alimentação, estão lançadas as bases de um relacionamento humano. É a partir dai que se estabelece o padrão da capacidade da criança de relacionar-se com os objetos e com o mundo (WINNICOTT, 2006, p. 55).

Para o autor citado, o bebê é um ser imaturo, que está armazenando experiências, assim alguns deles demoram para achar o seio da mãe. “Eles querem explorá-lo com as mãos e a boca, e talvez com a gengiva [..] Este é o início não só da alimentação, é o início da relação objetal” (1985, p. 56). Desta forma:

A totalidade do relacionamento deste novo indivíduo com o mundo real tem que se basear na forma como as coisas se iniciam e no padrão que se desenvolve gradualmente, de acordo com a experiência que faz parte deste relacionamento humano entre o bebê e a mãe (WINNICOTT, 1985, p. 56).

2.1. O PIM E O VÍNCULO

Sabemos que o ambiente em que o bebê está inserido é fundamental para o

seu desenvolvimento. Segundo Winnicott (1999)o ambiente que a mãe fornece para

seu filho é ela com todas as características envolvidas nesse processo, desde o lar que ele será apresentado até o homem que resulta ser o pai do bebê. Sendo assim, “temos duas coisas distintas: as tendências inatas do bebê o lar que você lhe proporciona. A vida consiste na interação dessas duas coisas” (1999, p.144).

Ainda segundo o autor(1999), o que é inato do ser humano é do crescimento

e a maturação, presente no nascimento e se traduz nos processos mentais inferiores. Os processos mentais inferiores se transformam em processos mentais superiores pela interação com os outros e pela apropriação e construção de

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ferramentas de mediação. A linha cultural envolve esta apropriação de várias ferramentas de mediação ou meios culturais, possibilitando a própria interação e a transformação qualitativa da linha natural.

Para sustentar seu referencial, o programa PIM traz Lev Semenovich Vigotski, psicólogo bielo-russo, que trabalhou a respeito do desenvolvimento mental da criança, como sendo um processo contínuo de aquisição de controle ativo sobre funções inicialmente passivas. Além disso, o autor trabalhou a respeito da Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP). Sendo o PIM um programa que traz a importância do outro no desenvolvimento da criança, torna-se necessário trazer algumas considerações a respeito de Vigotski a respeito do meio em que se vive. Não só a mãe, os pais, mas sim o contexto social que a criança está envolvida é de extrema importância. As visitas domiciliares, tirar um tempo para brincar com seu filho, estimular algumas dimensões, conversar com ele, ter um contato com toda a família são alguns dos momentos proporcionados pelo programa. Vygotski afirma que é na presença do outro que o homem se constitui, que formam seu EU (UNESCO, 2005)

As expressões das crianças só adquirem significado quando seus cuidadores dão um significado à elas. Desta forma, o convívio com outras pessoas é de suma importância para o desenvolvimento integral da criança. Os autores que falam a respeito do desenvolvimento infantil trazem os primeiros anos como os mais importantes no que diz respeito ao desenvolvimento. Portanto, o PIM é uma política pública, que busca garantir as crianças seus direitos básicos de cidadania, constituição física e psíquica.

Para Vigotski (1996), desde o instante em que o sujeito nasce, passa a fazer parte de um mundo que foi histórica e culturalmente construído e organizado pelas gerações que o precederam e, assim, partilha e incorpora modos de agir, sentir e pensar próprios desta cultura. Deste modo, o sujeito se apropria desses elementos aos quais está ligado, utilizando instrumentos que possam lhe ajudar a conviver com o mundo ao qual está inserido. Desta forma, orientado e regulado pelo outro, o sujeito investe esforços na tarefa de entender e dar sentido a objetos e fatos da sua realidade e, a partir desta dinâmica, passa a se auto-regular, a ter domínio sobre suas ações e escolhas. O processo de interação e de mediação assume, nesta perspectiva, papel e função primordial no desenvolvimento dos indivíduos e na organização da vida em sociedade. Assim sendo, o sujeito utiliza suas ferramentas

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intelectuais, interagindo com outros com mais experiência no uso dessas ferramentas, para assim obter o desenvolvimento.

Vigotski desenvolveu o conceito de Zona de Desenvolvimento Proximal para discutir e explicar a relação existente entre desenvolvimento e aprendizagem. Para ele, as situações de aprendizagem vividas pelo sujeito e mediadas por sujeitos mais experientes geram mudanças qualitativas e impulsionam o processo de desenvolvimento do indivíduo.

Para Vigotski (1991) a aprendizagem começa muito antes da criança ir na escola, pois com qualquer acontecimento que envolva aprendizado na escola , já houve algum aprendizado antes disso. O autor compreende que o aprendizado deve condizer com o estado de desenvolvimento da criança, mostrando que é necessário considerar dois níveis distintos. Dessa forma, primeiro seria aquele considerando as atividades que a criança consegue realizar sozinha, sem ajuda de ninguém. Por outro lado, por meio da imitação, a criança é capaz de ultrapassar os limites da sua capacidade atual.

No que se refere a Zona de Desenvolvimento Proximal:

[...] é a distância entre o nivel de desenvolvimento real, que se costuma determinar através da solução independente de problemas, e o nível de desenvolvimento potencial, determinado através da solução de problemas sob a orientaçâo de um adulto ou em colaboração com companheiros mais capazes (VIGOTSKI, 1991, p. 57).

Sobre este aspecto, acrescenta:

A zona de desenvolvimento proximal define aquelas funções que ainda não amadureceram, mas que estão em processo de maturação, funções que amadurecerão, mas que estão presentemente em estado embrionário. Essas funções poderiam ser chamadas de "brotos" ou "flores" do desenvolvimento, ao invés de "frutos" do desenvolvimento (VIGOTSKI, 1991, p. 57).

Na perspectiva deste autor, desde o nascimento a linha de desenvolvimento natural não funciona isolada e independentemente da cultural. Um processo ao mesmo tempo natural e cultural de desenvolvimento, necessita estar em ação para que se desenvolvam instrumentos (por exemplo, a linguagem, inicialmente oral, ao mesmo tempo instrumento e processo mental superior) que permitirão o desenvolvimento dos processos mentais superiores.

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A zona de desenvolvimento proximal permite nos delinear o futuro imediato da criança e seu estado dinâmico de desenvolvimento, propiciando o acesso não somente ao que já foi atingido através do desenvolvimento, como também àquilo que está em processo de maturação (VIGOTSKI, 1991, p. 58).

O conceito de interação social é um dos temas da obra de Vigotski, nos trazendo o efeito da interação social sobre o processo de aprendizagem. Para o autor:

A criança nasce em um mundo preestruturado. A influência do grupo sobre a criança começa muito antes do nascimento, tanto nas circunstância implícitas, históricas e socioculturais herdadas pelos indivíduos como nos preparos explícitos, físicos e sociais mais óbvios que os grupos fazem antecipando o indivíduo. Tudo isso exerce sua força até mesmo em tarefas cotidianas simples que requerem o gerenciamento e o emprego da ação individual (VIGOTSKI, 1998, p. 91).

Desta forma, a criança precisa de alguém que faça o papel de mediador para suas atividades. A criança e o ambiente estão sempre em processo de transformação, onde se influenciam mutuamente. Cada criança se desenvolve de uma forma diferente, mas quanto mais a criança tiver possibilidades de estabelecer relações com o outro, melhor será seu potencial de desenvolvimento e aprendizagem.

Referências

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