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O Plano de Gestão e a Proposta Pedagógica da escola

No documento Democracia no cotidiano escolar (páginas 117-120)

8. ANÁLISE DO COTIDIANO ESCOLAR

8.4 O CONTROLE IDEOLÓGICO NA ORGANIZAÇÃO INSTITUCIONAL

8.4.1 O Plano de Gestão e a Proposta Pedagógica da escola

De acordo com o Parecer CEE n. 67/1998, o Plano de Gestão “é o documento que traça o perfil da escola, conferindo-lhe identidade própria, na medida em que contempla as intenções comuns de todos os envolvidos, norteia o gerenciamento das ações intra-escolares e operacionaliza a proposta pedagógica” (SÃO PAULO, 1998, art. 29). O Plano de Gestão compõe o Regimento Escolar, mais abrangente, que deve seguir as Normas Básicas estabelecidas no referido Parecer. Anteriormente, as escolas precisavam seguir um “Regimento padrão”, mecanismo que não obteve êxito, segundo relata o Parecer, em estimular as escolas a elaborarem seus próprios regimentos. De acordo com a legislação, portanto, a Proposta Pedagógica não aparece como um item autônomo no Regimento, devendo ser operacionalizada quando da elaboração do Plano de Gestão. Como não é mencionado o Projeto Político-Pedagógico, supõe-se que a nomenclatura Plano de Gestão venha a substituí-lo, o que fica claro na explicitação do seu conteúdo: I- identificação e caracterização da unidade escolar, de sua clientela, de seus recursos físicos, materiais e humanos, bem como dos recursos disponíveis na comunidade local; II- objetivos da escola; III- definição das metas a serem atingidas e das ações a serem desencadeadas; IV- planos dos cursos mantidos pela escola; V- planos de trabalho dos diferentes núcleos que compõem a organização técnico- administrativa da escola. Além desses itens, outros deverão ser anexados anualmente ao Plano: I- agrupamento de alunos e sua distribuição por turno, curso, série e turma; II- quadro curricular por curso e série; III- organização das horas de trabalho pedagógico coletivo, explicitando o temário e o cronograma; IV- calendário escolar e demais eventos da escola; V- horário de trabalho e escala de férias dos funcionários; VI- plano de aplicação dos recursos financeiros; VII- projetos especiais.

Em função de suas características, é possível constatar as semelhanças do Plano de Gestão com o Projeto Político-Pedagógico, ressaltando que o conteúdo político passa a ter um papel secundário, ficando restrito à elaboração de objetivos e metas. Isso confirma em larga medida a tendência do governo estadual em atribuir à administração escolar um caráter gerencialista, baseado essencialmente nos aspectos técnicos.

A escola pesquisada possui um Plano de Gestão, aprovado em meados de 2008, com duração até 2011. Constam anexos a ele atas de posse da Associação de Pais e Mestres (APM), do Grêmio Estudantil e do Conselho de Escola, ocorridas

nos meses de fevereiro e março de 2008. Entretanto, não está anexa a ata de aprovação do documento pelo Conselho de Escola, apenas constam as homologações da supervisão e da Diretoria Regional de Ensino.

Em relação ao conteúdo do Plano de Gestão, este apresenta a seguinte “Missão”: “O aprimoramento do educando como pessoa humana, incluindo a formação ética e desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico”. O item “Visão” apenas enuncia os artigos 35 e 36 da Lei 9394/96 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação).

A Proposta Pedagógica é concebida pela norma legal de maneira ampla, ou seja, é constituída pelas diversas ações expressas no Plano de Gestão e no Regimento Escolar. Contudo, no documento da escola pesquisada ela aparece também como item autônomo, sintetizando as bases legais e os objetivos e metas da escola (ver Anexo A). No trecho a seguir, fica explícita a noção de democracia e de participação como exercício da cidadania, ou seja, a apropriação das objetivações necessárias à sociabilidade democrática burguesa:

A Escola se propõe a estimular a politização dos educandos, conscientizando-os quanto aos seus direitos e deveres, a exercerem a cidadania com respeito à ordem democrática e com visão crítica acentuada, com autonomia e respeito ao bem comum, além de desenvolver a sensibilidade e o apreço pelas manifestações artísticas e culturais, preparando-os tanto para o mercado de trabalho como para enfrentarem o vestibular, bem como para conquistarem a sua autonomia intelectual e moral.19

No que diz respeito à participação dos pais e da comunidade, a Proposta dispõe-se a envolvê-los nas atividades realizadas na escola, com as finalidades de melhorar o rendimento escolar e de garantir a qualidade do ensino. Além disso, a família é considerada “coadjuvante importante no processo de escolarização” dos alunos.

A participação de todos os segmentos escolares, segundo o documento, está relacionada à consecução dos objetivos do ensino e deve ser pautada nos princípios

democráticos. Ainda assim, os objetivos da escola devem seguir as orientações

contidas na Nova Proposta Curricular.20 Isso implica em restrições à liberdade de

cátedra, ainda que este seja um princípio proclamado no Plano Gestor, como um

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19Anexo A, p. 132.

20A partir de 2009, a Nova Proposta Curricular passa a ser denominada Currículo Oficial do Estado

dos elementos de valorização profissional e de construção de um ambiente livre. Tais elementos reforçam a ideia de participação, de liberdade e de democracia dentro dos parâmetros hegemônicos dominantes.

No início do ano letivo de 2009, principalmente em função da implantação do Currículo Oficial do Estado de São Paulo (antiga Proposta Curricular do Estado de São Paulo), a coordenação reuniu-se com os professores para reelaborar a Proposta Pedagógica da escola. Segundo Dinaelza, o Currículo Oficial do Estado de São Paulo deveria ser obrigatoriamente contemplado na Proposta Pedagógica. Então, no dia 12 de fevereiro de 2009, os professores dão continuidade às discussões relacionadas à atualização deste documento. O corpo docente fora dividido em grupos, encarregados de alterar cada qual uma parte do documento da escola. Nesta ocasião, ao ler a Proposta Pedagógica, uma professora ressalta a liberdade de cátedra. O grupo, então, concorda que o Currículo Oficial viria a interferir neste princípio. O professor David comenta: “No ano passado era uma proposta, agora já é Currículo Oficial do Estado”. Em seguida, ao tentar responder às questões formuladas pela coordenação para os trabalhos dos grupos, a professora Anatália explica que suas respostas não correspondem efetivamente aos seus anseios: “A gente escreve o que eles querem”. A professora lamenta também não ter a liberdade de decidir pelo uso ou não do jornal21 ou do caderno (de atividades). Durante as discussões sobre os aspectos meramente formais da gestão democrática na rede estadual, o professor David utilizou o caso do Grêmio Estudantil como exemplo. Segundo ele, as escolas somente estão interessadas em montar os Grêmios por causa das metas de gestão, por isso, na maior parte das vezes são entidades pro

forma.

No documento Democracia no cotidiano escolar (páginas 117-120)