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2.2 O Estado e as compras

2.2.1 O poder de compra do Estado

Os novos desafios que o Estado vem enfrentando - por conta da integração econômica mundial, a redefinição da visão e concepção de Estado, o avanço das tecnologias da informação, e os problemas ambientais – vem fazendo com que o mesmo repense as prioridades e formas de ações das políticas públicas, e assim vêm incorporando em seus processos de compras novas concepções frente a estas perspectivas.

Neste sentido, e ainda considerando o poder legitimado para as suas ações em prol do beneficio da nação e da coletividade, o Estado vem utilizando o ato de comprar como uma forma de poder. O ato de comprar é um grande potencial, considerando que o poder do consumidor define seu perfil, suas condições e anseios, tornando as compras um incitante de qualidade, produtividade e inovação, sejam em entidades privadas, públicas ou pessoa física contribuindo para a competitividade e desenvolvimento do país (BRASIL, 2007).

A expressão “uso do poder de compra” tem em si uma idéia de capacidade de influência, que se apresenta como um “poder” a partir do momento em que a disponibilidade de recursos de uma determinada instituição lhe confere a possibilidade de induzir

comportamentos em terceiros, buscando quase sempre a obtenção de resultados paralelos e, conseqüentemente, uma maior eficiência de suas ações, à semelhança dos conceitos de poder e influência já colocados anteriormente (SILVA, 2008, p.61).

Assim, as nações vêm utilizando desse poder de compra para alcançar objetivos secundários por meio de suas compras, fomentando e direcionando estratégicas das políticas públicas e do mercado. O termo ‘uso do poder de compra’ é definido em Silva (2008, p.66 apud MPOG/SLTI, 2007) que relaciona com:

O direcionamento da demanda por bens e serviços do Estado para desenvolver a economia local, micros e pequenas empresas e setores sensíveis da economia ou de interesse estratégico, gerando emprego e renda e primando pelo desenvolvimento econômico sustentável.

Na perspectiva de Moreira e Morais (2003), ao decidir utilizar o poder de compra do Estado, como instrumento de desenvolvimento ou estimulo a produção de bens ou serviços, a sociedade manifesta concordância de, fortuitamente, assumir sobrepreços em beneficio das políticas de fomento a economia e ao desenvolvimento do país. Desta lógica, em que o Estado representa um importante agente econômico por prover e consumir bens e serviços, bem como por ser um agente econômico capaz de induzir e fomentar o mercado, algumas nações reunidas em uma organização vêm utilizando esta força em prol do desenvolvimento e das questões sócio-econômicas e ambientais trata-se da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OECD)15.

A OECD vem definindo e adotando medidas para a melhoria e convergência das políticas governamentais, objetivando conservar a estabilidade financeira, elevar o nível da qualidade de vida, desenvolver a economia através da geração de emprego, apoiar outros países no desenvolvimento econômico, contribuir para o crescimento do comércio mundial e nas questões econômico-ambientais. Em 1996, os Ministros dos Estados-Membros do Conselho da OECD, aceitaram a recomendação de adoção ao programa ‘Improving the Environmental Performance of Government’ (em português: Melhoria do Desempenho Ambiental do Governo), que não se tratava apenas de uma instrumentação legal, mas de um compromisso entre governos membros objetiva a diminuição e eliminação de impactos ambientais,

15

resultando num conjunto de orientações que visa às mudanças nos padrões de produção e consumo (OECD, 1997).

Para quantificar o real poder de compra dos Estados, a OECD em 1997 solicitou dados referentes às questões econômicas e ambientais de cada país- membro. Diante dos dados apresentados a OECD organizou e analisou, resultando em um relatório final apresentado durante uma reunião do conselho no ano de 1999. Este relatório demonstra que o poder de compra dos governos gira entre 8% a 30% da movimentação financeira dos países, demonstrando percentuais representativos em relação ao Produto Interno Bruto - PIB (OECD, 1999).

Os percentuais descritos no quadro 01 fazem referência ao montante de recursos financeiros que os governos utilizam nas aquisições governamentais em relação ao seu PIB. No ano de 2014, o PIB do Canadá girou em torno de aproximadamente 1,786 trilhões de dólares, aplicando o percentual de aquisições governamentais indicado pelo relatório da OECD, chega-se ao valor aproximado de 303 bilhões de dólares em compras realizadas pelas entidades públicas deste país. Estes dados retratam que os governos possuem um grande recurso financeiro para estimular induzir critérios sustentáveis no mercado, representando um dos mais importantes instrumentos de fomento do desenvolvimento sustentável.

Quadro 01 – Percentual de compras públicas em relação ao PIB País membro da OECD % de compras públicas

em relação ao PIB

PIB no ano de 2014 (em trilhões de USD)

Canadá 17 1,786 Inglaterra 17 2,941 França 15 2,829 Estados Unidos 14 17,419 Alemanha 13 3,852 Itália 13 2,144 Japão 7 4,601

Fonte: Elaborado pelo autor / adaptado de Machado (2002) e www.worldbank.org.

No Brasil, o poder de compra do Estado já vem sendo utilizado de forma pontual, como destaca-se o caso da Lei 8.248/1991 que dispõe sobre a aquisição de bens e serviços de informática e automação por parte dos órgãos da administração

pública direta ou indireta, as fundações instituídas e mantidas pelo Poder Público e as demais organizações sob o controle direto ou indireto da União, darão preferência a bens e serviços com tecnologia desenvolvida no País. O Produto Interno Bruto do Brasil, no ano de 2014, alcançou o montante de 2,346 trilhões de dólares, correspondendo a 5,513 trilhões de reais16. No Brasil, o Governo Federal realizou em 2014, a compras de bens e contratação de serviços no valor de 34 bilhões de reais, Esta receita pode orientar e fomentar o mercado de acordo com as perspectivas das políticas públicas e diretrizes governamentais, assim a utilização do ‘poder de compra do Estado’ tem um caráter estratégico no direcionamento das compras governamentais.

Quadro 02 – Aquisição de Bens e Serviços do Governo Federal – 2014

Elemento de Despesa Valores (R$)

52 - Equipamentos e Material Permanente 11.717.881.403,03

37 - Locação de Mão-de-Obra 18.487.688,82

30 - Material de Consumo 672.876.551,48

51 - Obras e Instalações 14.016.191.988,44

39 - Outros Serviços de Terceiros - PJ 7.682.021.788,58

33 - Passagens e Despesas com Locomoção 14.368.636,47

35 - Serviços de Consultoria 164.343.322,60

36 - Outros Serviços de Terceiros – PF 3.354.301,73

Total 34.289.525.681,15

Fonte: Elaborado pelo autor / Portal da Transparência do Governo Federal