• Nenhum resultado encontrado

3 DAS TEORIAS ECONOMICO-SOCIAIS E SUAS IMPLICAÇÕES NO MUNDO DO

5.1 O POSICIONAMENTO DOS AUTORES CLÁSSICOS

5.1.5 O posicionamento de José Affonso Dallegrave Neto

José Affonso Dallegrave Neto é fortemente crítico do processo de globalização e

do avanço dos ideais neoliberais no mundo.Critica, também, a flexibilização dos direitos

trabalhistas. Nesse sentido,aponta que

231

:

O movimento de flexibilização do Direito do Trabalho deve ser visto com parcimônia e de forma pontual, jamais subvertendo a ordem de proteção e garantia mínima legal e constitucional do trabalhador. O legislador deve-se ater a pontos prioritários, v.g. combate à indústria da fraude à execução trabalhista e fiscalização da sonegação e aumento do Salário Mínimo. Não posso chamar de “moderno” este processo avassalador de aniquilamento de direitos sociais. Concordo com o Ministro Sussekind, quando diz ser “inconcebível, posto que socialmente inaceitável e politicamente perigoso, que o mundo seja impulsionado unicamente pelas leis de mercado”.

Como afirmado, e diferentemente da outrora mencionada Vólia Bomfim,

Dallegrave Neto é fortemente crítico do fenômeno da flexibilização como sendo mais

uma ofensiva do ideário neoliberal. Nesse sentido é que afirma

232

:

A flexibilização é um primeiro passo da trajetória que visa a desregulamentar o Direito do Trabalho. O fenômeno que já se inicia faz parte do receituário neoliberal que propugna pela diminuição do custo operacional e pela destruição dos direitos sociais como forma de combate ao desemprego. Somente nesta perspectiva interdisciplinar é que se pode compreendê-lo. Ocorre que o

231DALLEGRAVE NETO, José Affonso. Análise de Conjuntura Socioeconômica e o Impacto no Direito do Trabalho. In: Direito do Trabalho Contemporâneo – Flexibilização e Efetividade. São Paulo: Ed. LTr, 2003. p. 30

desemprego não pode ser visto de forma simplista – menor custo de trabalho, menor desemprego – pois que isso “representa um engodo, não elimina o problema e, por causa da precarização das relações de trabalho, gera outro problema, qual seja, o aumento do fosso entre ricos e pobres, aumentando a cada dia o número de pobres. [...] A verdade é que os direitos trabalhistas do empregado brasileiro estão em conformidade com as diretivas da OIT, de forma flexível e sem qualquer privilégio! Mais que isso: o favlor do Salário Mínimo brasileiro e o custo da mão-de-obra brasileira são um dos mais aviltantes do planeta, mesmo se computarmos os encargos sociais. Tais exemplos parecem suficientes para se concluir que a “suposta rigidez” da legislação trabalhista é apenas retórica, resultado de um discurso mitificado, usado repetidamente pela mídia, o que o fez ser admitido como verdadeiro por muitos, mesmo sem um efetivo apontamento específico de fundamentos que lhe dessem respaldo.

O autor é, também, crítico da globalização da mão-de-obra, fenômeno que

praticamente extirpou as barreiras geográficas antes existentes nas relações de

trabalho. Diz que

233

:

[...] a mão-de-obra também se tornou globalizada. Hoje já não há qualquer restrição em se utilizar o trabalho além-fronteira. A prioridade é a diminuição de custos sociais. Logo, quanto mais barata a mão-de-obra, melhor. Líderes de mercado como a Nike (indústria de artigos esportivos) ou a Martel (indústrial de brinquedos) já nem produzem por sua conta. Terceirizam a produção, habilitando fornecedores da Indonésia à Polônia, dependendo de onde encontrem os menores custos. Logo atrás da fronteira do México, empresas americanas empregam quase 1 milhão de criaturas por salários de fome, em torno de 5 dólares por dia ou 50 centavos a hora de trabalho, sem qualquer encargo social. Eis a terceirização globalizada que nivela por baixo o valor da mão-de-obra!.

Após fazer as críticas iniciais ao neoliberalismo e à globalização, Dallegrave Neto

aponta que existem três reflexos sensíveis nas relações de trabalho: “a) aumento do

desemprego mundial, antes pontual, agora estrutural; b) reetruturação do sistema

produtivo; c) precariedade nas condições de trabalho”

234

. Reconhece, assim, a

existência de uma crise do não só do Direito do Trabalho, mas do trabalho humano em

geral. É nesse sentido que cita o autor norte-americano Jeremy Rifkin, que prenunciou

o fim dos empregos

235

, apontando os argumentos de tal autor e de Domenico de Masi

no sentido de que a sociedade da informação possibilitará o fim dos empregos e um

“tempo sem trabalho”

236

. Essa ideia de que os empregos nos moldes estabelecidos pela

sociedade social-democrata estão perto do fim, sendo substituídos por uma sociedade

233Ibidem, p. 15. 234Ibidem, p. 17. 235Ibidem, p. 17. 236Ibidem, p. 18.

do ócio (na opinião de De Masi) ou por uma sociedade em que o trabalho será on

demand foi contestada por Ricardo Antunes, no livro Adeus ao Trabalho

237

.

Independentemente, Dallegrave Neto oferece alternativas ao problema do

desemprego estrutural, nos seguintes termos

238

:

Diante deste problema mundial, o desemprego, várias propostas exsurgem: 1) Da classe trabalhadora: redução da jornada de trabalho; política pública de geração de emprego; incentivo fiscal as microempresas, as quais, proporcionalmente, empregam mais que as grandes empresas. 2) Da classe patronal: sobreposição da solução negociada em relação à solução legislada e flexibilização de direitos trabalhistas: é preciso diminuir o custo social para diminuir a informalidade que já alcança 55% do mercado de trabalho. Acerca dessa discussão, importante registrar a observação de analistas franceses. Segundo Jean Boissonat, deixar o sistema produtivo desregulamentado, ao arbítrio da competição internacional, com sindicatos cada vez mais enfraquecidos, fará com que a França se aproxime do modelo norte-americano: recua-se o desemprego, porém as desigualdades, a precariedade e a pobreza aumentam ou não diminuem.

Assim, compreende-se que a análise do autor vai no sentido de exortar a

sociedade em geral (e não apenas a classe trabalhadora) a buscar alternativas para o

desemprego estrutural. É exatamente por isso que as alternativas acima mencionadas

estão em aberto, cabendo aos interlocutores sociais decidirem exatamente qual

caminho tomar.

No que concerne às tecnologias de compartilhamento em si, tem-se que o autor

não menciona diretamente os profissionais que atuam na área informacional, apesar de

criticar o avanço tecnológico e a extinção de vagas de emprego como fenômenos

característicos do avanço da globalização neoliberal.

Finda-se, assim, a análise do posicionamento dos autores clássicos. Como se

depreende da análise, a doutrina jurídica clássica busca maneiras de adequar as novas

formas de trabalho humano ao Direito do Trabalho dogmaticamente estabelecido –

direito este que, como afirmado, é característico do período social-democrata,

padecendo de grandes dificuldades na atualidade com o avanço do neoliberalismo.

Esta perspectiva, apesar de resolver problemas pontuais, não basta para a manutenção

das garantias sociais dos trabalhadores no longo prazo.

237ANTUNES, Ricardo. Adeus ao Trabalho? Ensaio sobre as Metamorfoses e a Centralidade do Mundo do Trabalho. 16.ed. São Paulo: Cortez Editora, 2000.

5.2 AS ALTERNATIVAS APONTADAS PELA DOUTRINA TRABALHISTA CLÁSSICA