• Nenhum resultado encontrado

2.1 O PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO COMO INSTRUMENTO DE GESTÃO

2.1.3 O PPP como instrumento de mudança organizacional

Falar do PPP em relação às mudanças na organização de uma escola nos remete primeiramente à LDB de 1996, que em seu Artigo 15 dispõe que “os sistemas de ensino assegurarão às unidades escolares públicas de educação básica que os integram progressivos graus de autonomia pedagógica e administrativa e de gestão financeira, observadas as normas gerais de direito financeiro público (BRASIL, 1996, p. 7). Neste sentido, a escola ganhou apoio na lei para discutir seus objetivos educacionais sem ou com pouca intervenção de órgãos superiores como secretarias, unidades educacionais e coordenadorias de ensino.

Segundo Gadotti (1994), um PPP de uma escola apoia-se em quatro vertentes que justificam uma gestão autônoma na escola. Primeiramente, o documento deve propor um desenvolvimento, tanto nos alunos quanto nos professores e gestão escolar, de uma consciência crítica; o envolvimento das pessoas no processo de elaboração do PPP é outra questão de suma importância para esse autor que inclui a comunidade interna e externa da escola neste processo de construção. Outro tópico apontado por ele diz respeito ao envolvimento das esferas governamentais no processo, aqui se entendendo como Conselhos, Secretarias e Coordenadorias; ele cita a responsabilidade e criatividade como processo e como produto do PPP, o que condiz com uma realidade de mudança administrativa da escola, tão necessária para acompanhar o processo de democratização da gestão escolar.

Enfim, o PPP de uma escola apoia-se, segundo Gadotti (1994, p. 3):

a) no desenvolvimento de uma consciência crítica;

b) no envolvimento das pessoas: a comunidade interna e externa à escola; c) na participação e na cooperação das várias esferas de governo;

d) na autonomia, responsabilidade e criatividade como processo e como produto do projeto.

Neste sentido, o PPP de uma escola necessita ser construído de forma participativa e não basta trocar as teorias no documento como se pudesse salvar a escola, pois o PPP precisa ser construído de forma interdisciplinar. Sendo assim, a escola precisa provocar mudanças na sua organização a partir da conscientização de que as discussões em torno do PPP são um processo importante para a renovação dos objetivos da escola, pois um projeto político-pedagógico não nega o instituído da escola que é a sua história, que é o conjunto dos seus currículos, dos seus métodos, o conjunto dos seus atores internos e externos e o seu

modo de vida (GADOTTI, 1994, p. 4). Assim, o PPP, quando reestruturado, não pode esquecer as origens da escola e da sua comunidade, aperfeiçoando as discussões em torno de resoluções dos problemas enfrentados pela escola ao longo de sua história. Além disso, a escola se confronta todos os dias com novas exigências de uma sociedade cada vez mais pluralista, e, portanto, há uma necessidade de se construir novas possibilidades em comparação com o que já foi construído.

Gadotti ainda propõe que o PPP da escola:

está hoje inserido num cenário marcado pela diversidade. Cada escola é resultado de um processo de desenvolvimento de suas próprias contradições. Não existem duas escolas iguais. Diante disso, desaparece aquela arrogante pretensão de saber de antemão quais serão os resultados do projeto. A arrogância do dono da verdade dá lugar à criatividade e ao diálogo. A pluralidade de projetos pedagógicos faz parte da história da educação da nossa época. (1994, p. 2)

Por isso, o PPP não deve ser um documento único para todas as escolas, um documento padrão de orientação que sirva para todas as escolas, pois “não se entende, portanto, uma escola sem autonomia, autonomia para estabelecer o seu projeto e autonomia para executá-lo e avaliá-lo” (GADOTTI, 1994, p. 2).

Aqui, entendemos autonomia em conformidade com as ideias de Monfredini (1999), isto é, como um processo que não anula as intervenções externas, mas pondera o que é relevante para a escola e para a sua comunidade e que devem ser elencadas em seu PPP, ultrapassando limites de uma escola apenas executora de políticas educacionais para uma escola que interfere e compactua com a realidade na qual está inserida.

Assim, Monfredini propõe que a escola crie seu PPP com autonomia para executá-lo e avaliá-lo, assumindo uma postura de reflexão sobre seus objetivos, considerando os aspectos sociopolíticos e culturais, perfazendo uma integração entre os órgãos coordenadores do sistema educacional, a escola e a comunidade, pois, segundo Rios (1982, p. 77), mesmo a escola tendo uma autonomia relativa, esta deve ser encarada como uma prática social, com articulações de limites e possibilidades.

Portanto, podemos relatar que a autonomia e a gestão democrática da escola fazem parte do fazer pedagógico, sendo necessário que estejam citadas no PPP de forma clara para serem adotadas por todos que fazem parte do processo educacional da escola.

Com intenção ainda de discutir e compreender o PPP da escola estudada e se teve alguma mudança na administração da escola a partir da implantação do PPP, nos

apoiaremos nas ideias de Santos (2009), que elaborou sua dissertação de mestrado pesquisando sobre o PPP como um instrumento de mudança na organização escolar, apontando que, “apesar da marcante necessidade de planificação do processo educativo, instrumentos de planejamento coletivo como o Planejamento Político Pedagógico (PPP) não conseguem se consolidar no interior escolar” (SANTOS, 2009, p. 15), pois seria necessário:

consolidar no interior da escola espaços de debates e construções coletivas, onde o universo de profissionais de educação envolvidos em cada unidade escolar possa definir a cultura escolar por meio da construção da identidade, necessidades e possibilidades de cada espaço educativo. Nesse sentido, são necessários estudos pesquisas debates, que deem conta de desvelar a realidade educacional e as demandas a serem perseguidas por todos. (SANTOS, 2009, p. 61)

Sendo assim, a pesquisa de Santos nos auxiliará na compreensão da cultura organizacional da escola e de como o processo de discussão coletiva funciona. Levaremos em consideraçãotambém em nossa pesquisa o que Santos (2009) chamou de necessidade de mudança, quando afirma que:

As estratégias de melhora da escola passam pelas dimensões pessoais, sociais e institucionais sobre as quais se constroem os processos de mudança, favorecendo que a mudança seja definida como aprendizado pessoal, realizado em primeiro lugar no indivíduo (SANTOS, 2009, p. 197).

Assim, a nossa compreensão das mudanças organizacionais na escola estudada a partir da implantação do PPP passa pela quebra de paradigmas de uma cultura enraizada na escola. No entanto, Santos (2009) nos mostra que existe possibilidades de mudanças quando a escola se mostra interessada em discutir seus problemas e sua realidade, interagindo com a comunidade escolar e propondo objetivos alcançáveis em seu PPP. Sendo assim, procuraremos entender se houve mudanças administrativas na escola e de que forma foram encaradas pela sociedade escolar.