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CAPÍTULO 2 – CASO REFERÊNCIA – BUENOS AIRES

2.5 O problema da água e as respostas de gestão

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Ver relatório de gestão da ACUMAR disponível em <www.acumar.gov.ar>. 44

Na Argentina, a gestão pelo Comite Interjurisdicional Cuenca del Río Colorado (COIRCO) é apresentada como exitosa na resolução de problemas entre as Províncias da bacia, nas questões ambientais, hidroenergia, controle das inundações, entre outros.

2.5.1 Quilmes

O município de Quilmes, cravado na região costeira, banhada pelo rio da Plata e próximo da Cidade de Buenos Aires, pois está há apenas 17 km da capital, sétima maior cidade da Argentina, com quase 600 mil habitantes, possui Índice de Desenvolvimento Humano de 0,847. A economia é basicamente industrial. Possui uma das estações de captação e tratamento de água do Rio da Plata.

Na visita técnica a Quilmes foi possível identificar modelo de gestão bem estruturada que permite a sua plena participação na Comissão Assessora da APLA e no Comitê da Cuenca Hídrica Vertiente Río de la Plata Superior. Dotada de Secretarias especializadas, como a Secretaria de Relaciones Institucionais, Regionais e Internacionais, o município possui interlocução com outras experiências nacionais e internacionais, inclusive com participação importante no Mercocidades, órgão no qual exerceu a Secretaria Executiva (2012/2013), assim como no Mercosul; e Secretaria de Obras Públicas, em especial a Subsecretaria de Água, Esgoto e Saneamento Hídrico, dotada de especialistas capazes de realizar o diagnóstico dos problemas locais, planejar obras necessárias para a expansão do serviço e implementação das obras.

Embora postule mais autonomia financeira e administrativa, os entrevistados acreditam que o setor de saneamento exige maior infraestrutura na região metropolitana, o que demanda obras de grande porte, para as quais a presença do ente federal é fundamental. Assim, quando questionado sobre qual sistema traz maior resultado, o do comitê Cuenca Hídrica Vertiente Río de la Plata Superior ou da ACUMAR, afirmaram que pela magnitude das obras necessárias na bacia a força orçamentária do governo federal é fundamental. Apesar disso, Quilmes projeta-se na liderança do Comité, sendo eleito para estudo de obra de infraestrutura de toda a bacia, incluindo quatro municípios. Assim, o envolvimento com os projetos e comprometimento com sua execução são evidentes. Essa participação efetiva dos municípios é modelo a ser seguido.

Quilmes participa ativamente em todo o ciclo de políticas públicas de gestão dos recursos hídricos. Na visita técnica, verificou-se que a partir do diagnóstico social, com o cidadão na centralidade do planejamento, são elaborados projetos para a expansão do serviço de água e esgoto, a fim de que seja inserido no Plano Estratégico

da APLA, após deliberação do conselho, o que é registrado em atas. Depois de decidido no conselho, vincula a atuação da Aysa. Nesse ciclo da política pública é fundamental o município ter interesse em propor e executar novas obras, ter, portanto, assegurada a participação, porém possui responsabilidade social pelo processo decisório. Daí porque o município de Quilmes possui equipe técnica especializada, secretarias que se reportam diretamente ao prefeito, e fortes relações internacionais a fim de compartilhar suas experiências e importar inovações.45 O entusiasmo da equipe com os projetos denota que o modelo de gestão permite o envolvimento dos atores e comprometimento com a estratégia traçada pelo corpo colegiado.

2.5.2 Esteban Echeverría

O município de Esteban Echeverría está no segundo cordão da RMBA, embora no ranking de população ocupe a 30o posição, é um dos municípios que mais cresceu da RMBA, com o 4o lugar em densidade demográfica, com mais de 300 mil habitantes. Possui Índice de Desenvolvimento Humano de 0,826. A economia é predominantemente industrial com certa presença do setor primário.

Como vimos, dos três municípios visitados, foi o que apresentava maior desafio para cobertura de água, saltando de 8% em 1991 para 51% em 2010; e de esgoto de 5% para 23%, com expectativa de chegar até o final de 2015 a 68%. Por isso, a análise da gestão nessa municipalidade foi interessante, para verificação da existência de mecanismo de participação plena dos municípios com menor renda no processo decisório das políticas públicas.

Em relação à gestão da bacia, o entrevistado afirmou que a ACUMAR tem um diálogo informal com os municípios. Foi apresentada uma dificuldade na governança, pois como os municípios executam os projetos, embora tenham tido pouca interferência no desenho das políticas públicas, acabam por ter que propor correção de rumo no curso da execução da política, o que provoca atrasos. Porém, o parecer é o de

que o balanço é muito bom, e “sem a ACUMAR a situação seria muito pior”. Foram

descritas diversas conquistas na bacia, inclusive para que surgisse a oportunidade de se criar uma reserva ambiental no município.

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Foi relatado na visita técnica que Quilmes participa do Observatório Internacional, como Canoas; Mercocidade; membros de rede FAO; participação em rede de participação popular, entre outras.

Houve destaque para a participação do município na definição das políticas da AySA, salientando que os municípios precisam manifestar interesse de executar obras. Como a província não tem condições de fazer o aporte necessário para as grandes obras, acaba ocorrendo uma relação direta com o governo federal.

2.5.3 Morón

Morón encontra-se no primeiro cordão do conurbano bonaerense, com quase 320 mil habitantes, com aumento populacional de apenas 3,8% no período de 2001/2010, apresenta Índice de Desenvolvimento Humano na ordem de 0,886. A economia é eminentemente industrial.

A visita técnica contribuiu na percepção do funcionamento dos comitês das bacias, sob gestão da Província, já que Morón integra o comitê da Cuenca Hídrica del Río Reconquista (COMIREC), e também da ACUMAR.

O COMIREC foi criado em 2008, com previsão de conselhos executivos municipais e participação popular. Também há um programa de gestão. Porém no site do comitê constam apenas duas atas, uma de 01/2002, que cuida da estrutura do comitê, e uma segunda de 06/2008, que embora estabeleça algumas ações, não é possível conhecer sua execução por falta de informação.46 Essa impressão foi confirmada na visita técnica, as reuniões não ocorrem, sendo que a única que se realizou foi para apresentação de projetos pelos municípios com ações específicas para receber recursos e execução de obras pelos municípios. No entanto, não houve continuidade da política. Morón apresentou projetos, mas até agora não foram aprovados, sendo que os municípios desconhecem o que está sendo realizado.

A ACUMAR, entretanto, foi apresentada como mais operativa, e tem executado obras importantes no município como uma grande reserva de recursos naturais. A possibilidade de financiamento pela ACUMAR para saneamento do rio também foi apresentado como ponto importante, pois para os munícipios executarem obras, falta-lhes fôlego orçamentário, já que as receitas são ínfimas, além do fato de ter uma atuação que abrange não apenas a bacia, mas saúde, indústrias, entre outras. As

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Disponível em <http://www.comirec.gba.gov.ar/programas/gestionurbano.php>. Acesso em 16.08.2015.

reuniões intergovernamentais são importantes, inclusive com participação dos municípios. Portanto, o modelo da ACUMAR foi destacado como exemplar.