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4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.7 O Problema do Agente Principal

Como foi dito nos capítulos 1 e 2 dessa dissertação, o problema do controle cria condições para ações negativas do agente principal, qual impacta negativamente na gestão e no capital social da cooperativa. Para analisar a existência da ação do agente principal na COOPERCUC, buscou-se analisar aspectos do estatuto que propiciasse ou limitasse esse problema, bem como tentou- se pegar através do histórico da gestão a repetição de dirigentes ao longo dos anos. Do ponto de vista da gestão ainda investigou-se através das entrevistas com as famílias cooperadas o grau de transparência dessa. Junto às famílias também foi investigado a motivação dessas para participar dos espaços de gestão da COOPERCUC.

Analisando o Estatuto atual não há uma cláusula que iniba o surgimento da ação oportunista implícita à teoria do agente principal. Contudo, segundo a atual gestão, na assembleia extraordinária que ocorreu no ano de 2015, foi discutida a reforma do Estatuto, na qual o capitulo que trata da eleição do conselho administrativo, foi aprovado que os cooperados não devam ser reconduzidos ao cargo de presidente por mais de duas vezes seguidas, objetivando assim oportunizar que outros cooperados possam participar efetivamente do processo.

Embora seja essa uma regra nova, em consolidação no novo estatuto, em fase de elaboração, essa regra vem sendo aplicada na prática. Desde a criação da COOPERCUC todo presidente só permaneceu na função no máximo por duas vezes. Neste caso, foram duas vezes seguidas. O quadro 5 apresenta as diferentes composições do Conselho de Administração ao longo dos anos de sua existência.

Dentre os cooperados que participaram do Conselho de Administração, apenas duas pessoas ocuparam cargos em três gestões, sendo que uma destas pessoas ocupou duas vezes a presidência e uma vez a tesouraria, e a outra pessoa foi em duas gestões tesoureira e em outra foi secretária. Outras quatro pessoas

110 ocuparam cargos em duas gestões diferentes e as demais ocuparam cargos apenas uma vez.

Quadro 5

Composição histórica da estrutura administrativa da COOPERCUC/BA – 2004 a 2016

PERÍODO NOME CARGO

2004 – 2007

Jussemar Cordeiro da Silva Presidente Joseleyde de Cliveira Almeide Castro 1º Secretário

Adailton Costa de Matos Tesoureiro

Edmilso Alves dos Santos Diretor de Educação, Formação e Comunicação Sanaria Dantas de Souza Diretora de Produção

Josefa Elenice Conceiçao Santos Diretora de Comercialização

2007 – 2010

Jussemar Cordeiro da Silva Presidente Benedita Varjão Barbosa 1ª Secretária Adilson Ribeiro dos Santos Tesoureiro

Domigas Cardoso da Silva Diretor de Educação, Formação e Comunicação Juvina Vieira de Almeida Diretora de Produção

Sanaria Dantas de Souza Diretora de Comercialização

2010 – 2013

Adilson Ribeiro dos Santos Presidente Domigas da Silva Cardoso Vice presidente Maria Elita Almeida de Santano 1ª Secretária

Claudia Cardoso Vieira 2ª Secretária

Benedita Varjão Barbosa 1ª Tesoureira Eliane Ferreira dos Santos 2ª Tesoureira

2013 – 2016

Adilson Ribeiro dos Santos Presidente Carla Pereira da Silva Vice presidente Simaria Cardoso dos Santos 1ª Secretário Maria Elenice Ferreira dos Santos 2ª Secretária Benedita Varjão Barbosa 1ª Tesoureira Maria Emilia Gonsalves da Silva 2ª Tesoureira Fonte: Pesquisa de campo, 2015

O quadro 5 apresenta uma informação relevante que demonstra não haver a incidência do problema da delegação para a dimensão gênero presente nos objetivos sociais da COOPERCUC. Atenta-se que, embora nenhuma mulher tenha assumido a presidência da COOPERCUC, dentre as pessoas que ocuparam cargo no Conselho de Administração desde 2004, 70,83% são do sexo feminino.

Isso sugere que, do ponto de vista da ocupação dos espaços de poder e do exercício da influência para obtenção e benefícios pessoais, a COOPERCUC não enfrenta esse problema. Além da rotatividade nos cargos, conforme o quadro

111 anterior evidencia, ainda é possível perceber que de um ano para o outro há uma renovação considerável dos quadros da gestão, conforme a tabela 10 demonstra.

Tabela 10

Taxa de renovação de dirigentes no Conselho de Administração

PERÍODO TAXA DE RENOVAÇÃO (%)

Gestão "2004 – 2007" para gestão "2007 - 2010" 83,33 Gestão "2007 - 2010" para gestão "2010 - 2013" 50,00 Gestão "2010 - 2013" para gestão "2013 - 2016" 66,66

Fonte: Pesquisa de campo, 2015.

Uma das alternativas para eliminar os custos do agente principal é a transparência das informações e com ela a redução da assimetria de informação entre o conselho administrativo e os cooperados. Para 100% dos entrevistados, a gestão da Cooperativa passa informações claras e transparentes, em especial sobre as decisões de gestão e sobre as finanças da COOPERCUC.

No início de 2015, foi implantado um sistema chamado COOLPNET, cuja finalidade é facilitar a consulta mensal do Conselho Fiscal às contas da Cooperativa, mas também, garantir facilidade para que os cooperados possam realizar qualquer consulta sobre as movimentações financeiras da COOPERCUC a qualquer momento que houver interesse, sem maiores embargos.

A implantação desse sistema aproxima os cooperados da gestão, munindo- os de informação sobre as receitas e despesas da COOPERCUC. Isso antecipa para os cooperados as informações financeiras e de gestão que seriam passadas apenas na assembleia anual.

Outra maneira de motivar a participação e coesão dos cooperados é a descentralização das decisões do Conselho de Administração para a Assembleia, para além daquelas de obrigação estatutária. A gestão da COOPERCUC vem ao longo da história buscando agir desta maneira. A gestão relatou que busca tomar decisões estratégicas junto aos cooperados, através da assembleia, inclusive aquelas que podem comprometer o próprio funcionamento da gestão. A título de exemplificação, recentemente foi discutida e aprovado em assembleia o pro labore dos diretores.

112 Uma consequência negativa da ação do agente principal que acaba por aprofundar o problema aqui tratado é a desmotivação dos cooperados para participar de assembleias e atividades realizadas pela cooperativa. Pelo fato de os cooperados se sentirem lesados ante a assimetria de informação e da perpetuação de pessoas nos espaços de poder estratégicos. Neste caso, não foi identificada ações que gerassem custos ao capital social da Cooperativa advinda a ação do agente principal. Ao contrário, percebeu-se uma motivação dos cooperados com relação à participação nos espaços da cooperativa e nas atividades que esta desenvolve.

O resultado apresentado na tabela 11 evidencia a importância atribuída pelos entrevistados à participação nas assembleias. Atenta-se que 85% dos entrevistados participam rigorosamente das assembleias e 15% só não participam quando há algum impedimento de ordem maior.

Tabela 11

Participação dos entrevistados em Assembleias

Nível de participação Percentual

Sim, sempre 85,00

Sempre que pode 15,00

Fonte: Pesquisa de campo, 2015.

Não foi encontrado na pesquisa nenhum entrevistado que revelasse descaso com a assembleia, desmotivação ou que dissesse não participar em momento algum. Ao contrário, percebeu-se um elevado compromisso e motivação dos cooperados para com a participação nas assembleias, no dia a dia da COOPERCUC e nas atividades promovidas pelo Conselho de Administração.

Do exposto, pode-se afirmar que, se houver a ação negativa do agente principal na COOPERCUC que a pesquisa de campo não conseguiu identificar, este não tem impactado negativamente na gestão, nem tampouco na motivação dos cooperados perante a cooperativa.

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