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O PROCESSO DE COLONIZAÇÃO E OS POVOS ÍNDIGENAS

―... até onde temos podido representar aquelas formas de comércio, instituições e ideias de que somos herdeiros?‖ Sérgio Buarque de Holanda

A história de formação do Brasil está ligada diretamente a Portugal, visto que o processo de colonização e toda a história consequente é fruto da chegada desse reino em solo brasileiro e da ambição que aqui se instalou por terras e mão de obra para levar riquezas a Portugal.

Saber como aconteceram o contato com os índicos, o processo de sua colonização e a exploração deles e dos negros africanos pelo regime de sesmarias é fundamental para se entender as origens do regime de terras do Brasil e como ele impactou e ainda impacta os povos tradicionais. A maioria dos índios perdeu seus territórios tradicionais já habitados, e aos negros não foi permitido nem pensar em direitos à terra naquela época.

João Pacheco de Oliveira (2016) fala sobre esta situação na história do Brasil:

As populações indígenas, por sua origem autóctone e por serem antes inteiramente ignoradas pelos europeus, foram tomadas como casos extremos de tais diferenças, e transformadas em seus verdadeiros ícones. As diferenças raciais, tão destacadas no evolucionismo do século XIX, foram, ainda nos primórdios da história brasileira, reinscritas em outros moldes, incorporando-se às diferenças culturais e religiosas registradas entre europeus e autóctones. O tutor, católico e civilizado, supostamente europeizado, e o tutelado, índio, negro ou notoriamente mestiço, presumidamente primitivo e selvagem, foram os componentes essenciais da sociedade brasileira (OLIVEIRA, 2016, p. 312).

Por isso, faz-se necessário compreender que o regime de sesmarias implantado no Brasil para fazer a colonização ocorreu de forma distinta da que ocorria em Portugal. Apesar de o nome ser o mesmo, os objetivos neste país foram bem diferentes e mudaram, assim, a vida dos índios e negros africanos.

Para se entender como a mudança do regime de sesmarias foi extrema ao ser implantado no Brasil, dados os contextos e objetivos diversos, é preciso saber como ele funcionava em Portugal.

A Europa estava em transição: o período era de construção de seu Estado Nacional, da contrarreforma religiosa diante do avanço do Islã, do protestantismo e de alteração de economia causada pelo mercantilismo.

A partir do século XI, começou a Guerra da Reconquista por Portugal para recuperar o território invadido e conquistado anteriormente pelos estrangeiros. O êxito dos portugueses se manteve até o século XV e quem mais se beneficiou dele foram os cristãos.

Portugal reconquistou seu território em 1297 com Dom Dinis e estava se reerguendo, pois tinha expulsado os mouros da região, mas precisava produzir nessas terras reconquistadas, principalmente no campo (LINI, 2015, p.19). Contudo, as batalhas para conquistar terras escassearam a mão de obra para trabalho no campo no país, seja pela demanda de soldados, seja pelas mortes ou porque houve o deslocamento populacional para fugir dos conflitos para a cidade.

Com isso, vastas extensões do território outrora explorado ficaram abandonadas. A essas áreas se agregaram aquelas que nunca tiveram explorador. Por isso, era hora de aproveitar as terras reconquistadas e as livres para exercer o domínio português sobre elas, assim como gerar lucros com seu cultivo.

A presúria era um instituto jurídico concedido por uma autorização do rei para ocupar as terras que houvessem sido conquistadas pela expulsão dos mouros. Ou seja, decorriam do reconhecimento do direito de conquista, possuindo a dupla finalidade de promover a ocupação do território – e assim assegurar o domínio sobre ele, inclusive sob o aspecto militar – e de garantir a produção agrícola (RAU, 1982).

Houve a possibilidade de que se buscasse uma organização oficial da ocupação do território por meio da divisão de terras e estipulação da necessidade de produção. Com isso, surgiram as presúrias, e com elas as pessoas puderam acessar essas terras, sobre as quais alcançavam o domínio pleno por meio do cultivo (RAU, 1982).

O objetivo principal desse instituto era o povoamento. Ou seja, firmar as pessoas na terra, além de promover a defesa do lugar para possíveis invasões que pudessem ocorrer novamente. Conforme ensina Rau:

(...) foram as necessidades de defesa e de povoamento, e consequente aproveitamento agrário que, durante a Reconquista, fizeram surgir a presúria. Donde é lícito pensar que qualquer instituição deste período contém sempre em si o duplo objectivo do povoamento e do arroteamento (RAU, 1982, p. 36).

As presúrias deixaram de existir no século XIII, uma vez que, “fixado o limite territorial de um Estado, à medida que este se fortalece e se organiza, tal processo de obtenção de bens imóveis desaparece inelutavelmente” (RAU,

1982). Conforme se consolidava a ocupação nas terras, não existia mais a necessidade de aplicar as presúrias, mas permaneceria a necessidade do cultivo como meio de aquisição da terra, como se verificaria com as sesmarias, que estavam por surgir (RAU, 1982).

Com a organização do reino, foram delimitados os concelhos – pequenas áreas que buscam o ordenamento territorial de domínio. Verificou-se distribuição pouco equitativa das terras em decorrência do processo tumultuado que ensejou a apropriação pelas presúrias, sendo que também havia significativas áreas incultas (RAU, 1982).

Com o objetivo de criar condições para o estabelecimento das pessoas nos concelhos demarcados unidade, o seu ordenamento inicial, que necessitava dispor das terras de forma equânime, foi realizado por sesmeiros. Esse era um cargo exercido em situações eventuais de divisão e demarcação de terras.

Rau (1982) contextualiza:

os sesmeiros apareceram fruto da necessidade de dividir e distribuir terrenos aos povoadores nas regiões onde se reorganizava a propriedade rural – quer a terra pertencesse ao rei, quer aos grandes senhores, às ordens militares e monásticas. A sua aparição deu-se a partir do momento em que a divisão tumultuária pela presúria e a apropriação pelo cultivo não logravam garantir a colonização e as arroteias das províncias conquistadas e em que a ordem social já não tolerava tal sistema‖ (RAU, 1982, p. 57).

O nome advém de sesmo, que é a sexta parte de qualquer coisa, sendo que havia um sesmeiro para cada um dos seis dias de trabalho da semana, cabendo a cada um deles a sexta parte desse território distribuível do concelho.

Rau explica melhor qual a função do sesmo:

os sesmos eram os locais destinados a prover cada povoador de uma quota-parte de propriedade territorial. Esgotados, eles pela vinda de novos moradores ou pela multiplicação das famílias dos primeiros, só por compra, doação, ou outro qualquer título legítimo, ou cerceando os baldios comunais, se poderia prover aos problemas dos Joões-sem-terra (RAU, 1982, p. 55)

Esses sesmeiros eram dois ―homens-bons‖, funcionários nomeados pelo rei ou, por delegação, pelos concelhos. Em alguns casos, eram nomeados os próprios juízes das vilas, o que não era a prática (RAU, 1982).

Inicialmente os concelhos se insurgiram contra as terras da Igreja, que recebiam grande quantidade de pessoas que haviam morrido. E, devido à extensão de suas propriedades, a Igreja não tinha condições de aproveitá-las adequadamente, deixando-as abandonadas (RAU, 1982).

Diniz explica como se deu a presença da Igreja nessas terras:

A Ordem de Cristo foi herdeira da Ordem dos Templários, uma organização formada por pessoas que eram monges e guerreiros ao mesmo tempo. De caráter religioso e militar, criada na Idade Média, esse grupo tinha o objetivo de defender os cristãos dos ataques muçulmanos. Como monges, os templários faziam voto de pobreza, obediência e castidade; como guerreiros, defendiam a fé cristã. Essa ordem surgiu no ano de 1113 e foi extinta em 1312, mas como ela vivia de vultosas doações de terras e dinheiro concedidos pelos reis, acabou prosperando muito; de tal forma que, em Portugal, o rei D. Dinis não permitiu sua extinção. Assim, a Ordem assumiu outro nome – a Ordem de Cristo– e ajudou na consolidação da formação do território português com a expulsão dos mouros e também nas navegações. (DINIZ, 2005, p. 1)

Juntamente com a insuficiente exploração de terras, havia a escassez de trabalhadores rurais, em razão de outras oportunidades que estes encontravam como meio de vida. Assim, eram necessárias medidas que estimulassem o trabalho rural para o melhor aproveitamento das terras (RAU, 1982).

À época, Portugal, sobretudo o sul do país, passou a ter uma orientação econômica para o comércio centralizado na cidade. Apesar de não haver mais guerras que reduzissem a mão de obra disponível, outras oportunidades de trabalho e mesmo a vadiagem nas cidades se tornaram mais atraentes do que o labor rural. Com a diminuição da oferta de trabalhadores, o valor dos salários

subiu e os proprietários preferiram transformar lavouras em pastos para reduzir despesas, o que também levou à concentração de terras (RAU, 1982).

Estava insustentável manter o trabalho no campo com tal falta de mão de obra e os altos custos que estavam sendo gerados para se produzir o suficiente.

A essa altura, a peste negra já havia caído sobre a Europa, ampliando a situação dramática que se via. Os preços dos produtos eram altos, o custo do trabalho, também, e a quantidade de trabalhadores era reduzida (RAU, 1982).

Conforme Fourquin, ela surgiu ainda em 1348 e trouxe uma série de prejuízos, inclusive a morte de muitos trabalhadores, agravando os problemas de mão de obra no campo:

Aparentemente proveniente das feitorias italianas da Crimeia, a Grande Peste atingiu, em condições aterradoras, quase todo o Ocidente, mais ou menos entre 1348 e 1350. Esta peste bubônica era em si uma doença mais grave do que a maior parte das ―pestes‖ já conhecidas, não só porque provocava problemas pulmonares, mas também devido à subalimentação dos pobres de muitas regiões. Os numerosos testemunhos contemporâneos denotam o pavor que se apoderou dos homens. (FOURQUIN, 2000, p. 333).

Com da diminuição da população, estabeleceu-se uma crise de mão de obra que agravou o desenvolvimento da produção europeia. A consciência da brevidade da vida levava os indivíduos a buscar os prazeres da existência humana, afastando-os da rotina do trabalho e comprometendo a evolução dos países, já que ―a ociosidade do trabalhador era um crime contra a sociedade, pois o sistema medieval baseava-se na sua obrigação de trabalhar‖ (TUCHMAN, 1999).

Sobre essa crise, entende Wolff:

Assim, um efeito lógico da peste foi a crise de mão de obra: de maneira incontestável, com a fuga completando a obra da morte, faltavam braços para o trabalho – e tanto mais que, com a ameaça da morte tornando vão o entesouramento, muitos compradores apressaram-se em gozar a curta vida que, pensavam eles, restava para viver. (WOLFF, 1988, p. 22).

Para superar a crise, buscou-se tornar obrigatório o trabalho rural para determinadas pessoas, além de se ter fixado o valor máximo do salário. Nesse caso, deve-se destacar que se distinguiu o homem trabalhando por conta própria do assalariado. E, mesmo, libertou-se da obrigatoriedade de trabalho

aquele que tivesse propriedades e trabalhadores suficientes para exploração de sua gleba (RAU, 1982).

Wolff discorre sobre essa obrigação de trabalho, da qual não havia saída:

Por toda parte foram tomadas medidas de precaução. Mas em nenhum lugar, parece, foram concebidas e aplicadas de modo tão sistemático quanto na Inglaterra. Desde 18 de junho de 1349, enquanto a peste estava no auge em seu reino, Eduardo III enviou ao xerife dos condados uma ordem, observando que ―alguns, ao verificarem as necessidades dos senhores e a falta de criados, só querem servir sob a condição de receber salários excessivos, e outros preferem permanecer ociosos e mendigar do que ganhar a vida trabalhando‖. Em seguida, todos os homens e mulheres válidos, com idade abaixo de sessenta anos, deveriam aceitar o trabalho que poderiam ser requisitados a oferecer. (...). Essa obrigação do trabalho era completada pelo congelamento dos salários, a referência foi fornecida para o ano de 1346 e para os anos precedentes: ninguém podia exigir, ninguém podia oferecer ou pagar soldadas ou ordenados superiores aos que eram então costumeiros na localidade ou na região. (WOLFF, 1988. p. 23).

Outra medida adotada foi a restrição do pastoreio, determinando-se que a área destinada a tal atividade deveria se restringir àquela necessária para manutenção do gado utilizado no trabalho agrícola (RAU, 1982).

Por volta de 1375, Portugal já estava na mais absoluta miséria. A fome já havia se instalado por todos os sítios, quando o rei D. Fernando mandou contar todas as terras de semeadura do reino, chegando à conclusão de que, se as terras fossem lavradas, não faltaria o que comer para todos. Além disso, havia muita mão de obra, porém com fome e sem trabalho.

No contexto mais trágico possível, em que se incluem guerra, depreciação de moeda, baixo valor da produção agrícola, tributação elevada e estiagem prolongada, surgiu a Lei de Sesmarias. Ela se caracterizava pela obrigatoriedade de cultivo e pela possibilidade de expropriação da terra abandonada. Mas a lei também se referiu a uma série de outras situações com o nítido objetivo de resolver a complexa situação econômica e social de Portugal (RAU, 1982).

A Lei de Sesmarias foi a solução encontrada por D. Fernando I para o problema da falta de exploração da terra e de necessidade de lucro para o reino:

Coube a D. Fernando I (1367-1383) encontrar uma saída para atenuar os efeitos da crise econômica vivida por Portugal. Sua principal medida, e a que nos interessa, foi a elaboração de uma legislação que visava o completo reaproveitamento das terras abandonadas, como forma de amenizar os efeitos da crise de abastecimento no país. A chamada Lei de Sesmarias de 1375 pretendia promover a reorganização da estrutura fundiária do Reino, na medida em que estabelecia a retomada das atividades agrícolas (PEREIRA, 2011, p. 81).

Por isso, a Lei de Sesmarias nasceu da necessidade do reino de adotar medidas que possibilitassem sua reestruturação após um longo período de conflitos e crise. Essa crise foi resultado da ausência de uma política voltada para o atendimento dos interesses e necessidades internas do país, somada às conjunturas externas que envolveram a Europa ao longo do século XIV. Foi um quadro de desestabilização e desestruturação das nações, que se viram obrigado a criar medidas que amenizassem o impacto das situações que modificaram suas estruturas (LE GOFF, 2007).

Ruy Cirne Lima (1990) traz que a inspiração para a criação da Lei de Sesmaria teve origem no costume medieval.

Entrelaça-se, em suas origens, o regime jurídico das sesmarias com o das terras comunais do município medievo, desfrutadas uti singuli pelos minícipes, ou seja, com regime jurídico dos assim chamados communalia. Antiquíssimo costume, nalgumas regiões da península, prescrevia fossem as terras de lavrar da comuna, divididas segundo número dos munícipes, e sorteadas entre estes para serem cultivadas desfrutadas, ad tempus, por aqueles aos quais tocassem. À área dividida ou a cada uma dessas partes, chamava-se sexmo.(...) (LIMA, 1990).

A Lei de Sesmarias foi além da mera distribuição de terras. Ela foi concebida como um instrumento para regular a vida social, inclusive no aspecto econômico, no modo de vida rural diante da crise na Europa causada também pela peste negra (PRIOSTE, 2018, p. 40).

Assim, pela Lei de Sesmarias, os concelhos iniciaram representações em áreas abandonadas, com a finalidade de distribuí-las a quem quisesse torná-las produtivas. O reino, ao concordar, autorizava a distribuição da terra livre e desembaraçada, com a condição de que os beneficiários nela morassem e produzissem (RAU, 1982).

Havia um procedimento para a retomada da terra: o proprietário era notificado para que a explorasse, sob pena de perdê-la. Porém, nem tudo ocorreu de forma adequada: houve excessos e desvios, além da utilização das

sesmarias para benefícios dos próprios sesmeiros. Em alguns casos, os beneficiários recebiam as terras, mas não as exploravam, desejando cobrar de outras pessoas que pretendessem explorar aquele espaço (RAU, 1982).

Diante disso, sendo o objetivo de D. Fernando I incentivar um retorno às raízes agrícolas do país, tornava-se necessário criar mecanismos para driblar a dificuldade de aproveitamento de grandes propriedades por um único indivíduo. Nesse sentido, a obrigação de, em caso de proprietários com grandes domínios incapazes de serem cultivados por uma só pessoa, dividir esses domínios entre outros lavradores a fim de que nenhum pedaço de terra do Reino fique sem ser aproveitado, atribui um caráter emergencial à sua implantação e apresentava ao proprietário uma solução para possíveis problemas de cultivo de propriedades extensas (PEREIRA, 2011, p.11).

Um dos objetivos da lei era constranger os proprietários a cultivar suas terras. Caso isto não se observasse, a Coroa teria o direito de revogar a concessão e doar a terra em sesmaria a outra pessoa que se comprometesse a cultivá-la no tempo estipulado pela lei.

A obrigação do serviço na lavoura não durou até o fim da existência da Lei de 1375. Esse aspecto da lei foi abolido quando esta foi novamente publicada nas Ordenações Manuelinas no século XVI, junto com algumas outras modificações no texto original (LIMA, 1990).

Além da ocupação territorial e da produção agrícola, as sesmarias tinham a função de ampliar a receita fiscal, uma vez que eram cobrados tributos sobre a exploração da área (RAU, 1982).

Merece destaque, também, o fato de que a lei não teve aplicação geral e irrestrita. Houve locais em que, demonstrado o costume de não se dar terras em sesmarias, pediu-se ao rei que não as concedesse, o que foi acatado (RAU, 1982).

A Lei de Sesmarias teve a divisão de terras como meio, porém seu maior objetivo era regular a vida social em Portugal, assim como incentivar a produção e girar o mercado para desenvolver o local.

Com isso, esse instituto foi extremamente importante, pois tirou o povo da miséria e da fome, assim como transformou Portugal em uma grande potência da economia mundial, que conquistou novas terras e as cultivou no decorrer do século XVI.

Apesar de todo o esforço do Estado para resolver os problemas sociais e econômicos por meio da Lei de Sesmarias, a norma restou infrutífera no que

tange ao seu objetivo final em virtude dos desvios que sofreu e da própria estrutura produtiva que se formava. Por fim, foram o comércio marítimo e a expansão do território os responsáveis pelo equilíbrio do país (RAU, 1982).

Sérgio discorre a este respeito:

Se as leis agrárias de D. Fernando não deram resultados apreciáveis, porque muitas causas as contrariavam (entre as quais o caráter da fidalguia [cuja triste situação econômica, e consequente dependência em relação aos monarcas, já encontramos documentada nas canções de escárnio dos cancioneiros]), as do comércio marítimo, pelo contrário, garantem a vitória do Transporte, que deu em resultado a descoberta do globo, a moderna sociedade capitalista, a realização progressiva do mercado mundial. (SÉRGIO, 1972, p. 30)

O instituto das sesmarias teve várias alterações durante sua vigência até o século XIX, quando deixou de existir completamente em Portugal, porém seu declínio ocorreu paulatinamente. Ele se deu até sua total inaplicabilidade porque o racionalismo iluminista começou a ver a propriedade da terra como garantia dos negócios e bem de mercado.

A Lei de Sesmarias teve grande importância histórica, pois foi determinada diante da necessidade de regulação das terras em Portugal, assim como a vida e a economia do campo.

É possível perceber que a mera distribuição de terras não foi suficiente para alterar a realidade social como se pretendia inicialmente. Desse modo, a Lei de Sesmarias não resolveu todos os problemas fundiários de Portugal, já que o país possuía uma nobreza ociosa e parasitária. Além disso, não havia total comprometimento dos portugueses com os objetivos propostos pela Coroa, situação que agravou o problema na agricultura do país, além da falta de mão de obra, e que contribui para o desenvolvimento das atividades mercantis em Portugal e, consequentemente, para o desenvolvimento da navegação no país, dando início, assim, ao processo que levaria ao ―descobrimento‖ do Brasil em 1500.

1.2. A chegada/invasão de Portugal no Brasil

Com o declínio das sesmarias e como o comércio com o Oriente agora havia sido tomado por Constantinopla, fez-se necessária a descoberta de rotas alternativas para as Índias (LINI, 2015, p. 19).

No período de equilíbrio e estabilidade em Portugal, vigorou o mercantilismo, já que as sesmarias não trouxeram resultados significativos para a economia do reino como se esperava. Esse mercantilismo era dado pelo avanço nas navegações em busca de produtos para acumular metais para o comércio, principalmente os metais preciosos ouro e prata.

Além disso, outra preocupação era manter o capital equilibrado, o que

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