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O processo de degradação do solo em sistemas agrícolas

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5. REVISÃO DE LITERATURA E FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

5.4. O processo de degradação do solo em sistemas agrícolas

A degradação das terras agrícolas pela intensificação dos cultivos, sem práticas conservacionistas em sistemas que utilizam monoculturas, desperta a preocupação com a qualidade do solo e a sustentabilidade dos sistemas de produção (OLIVEIRA et al., 2014).

Irradia-se pelo Bioma Caatinga o desmatamento decorrente da agricultura de subsistência, devido à abertura anual de novas áreas para formação de

48 lavouras. Este fenômeno ocorre porque este tipo de agricultura prevê o uso intensivo da mesma área de produção por um período três a quatro anos, permanecendo em pousio por sete a oito anos. Ao retirar a vegetação natural para instalação de um sistema agrícola, ocorre um desequilíbrio no teor de COS, pois se intensifica a mineralização da MOS, provocando inicialmente a liberação de alguns nutrientes, favorecendo a nutrição vegetal. E quando o processo de adição da MOS é inferior ao de decomposição, este sistema não atinge um novo equilíbrio, tornando-se exaurido e provocando a degradação do solo (MOREIRA, 2013).

No entanto, diferente dos demais biomas do país, a produção agrícola em áreas dependentes de chuva (agricultura de subsistência) não é responsável por frentes importantes de desmatamento no Bioma Caatinga (MMA, 2010).

A agricultura dependente da irrigação e de insumos externos, que se estrutura em torno da produção em larga escala, tem sido a grande vilã. A produção agrícola, nestas áreas irrigadas, pode implicar nos processos de fragmentação, remoção e conversão de uso de áreas naturais no semiárido (MOREIRA, 2013).

As alterações nos biomas modificam o ciclo do carbono, reduzindo seu estoque no solo, aumentando a emissão de CO2 para a atmosfera. No Brasil a agricultura e as mudanças de uso da terra são responsáveis por 80% das emissões de gases de efeito estufa (GEE) e aproximadamente 15% das emissões de CO2 no Brasil são oriundas do Bioma Caatinga (BRASIL, 2010).

Nas últimas décadas, as atividades antrópicas têm provocado uma série de alterações na paisagem terrestre e, mais recentemente, na atmosfera. O aumento da emissão de gases de efeito estufa (GEE) e o consequente aquecimento global do planeta vêm acarretando a busca por estratégias que visem à redução das fontes desses gases. Sabe-se que alguns sistemas agrícolas ou condições de manejos adotados podem potencializar ou mitigar a emissão de GEE para a atmosfera. As principais estratégias para mitigar a emissão de GEE resultantes de atividades antrópicas consistem na menor utilização de combustíveis fósseis, redução das taxas de desmatamento e de queima de material vegetal, uso inadequado do solo e, por fim, estratégias de maximização do sequestro de C no solo e na vegetação (CARVALHO et al., 2010).

49 O IPCC (2014) estimou a atenuação na agricultura de 5,5 a 6 Gt de CO2- equivalente ano-1 até 2030. A maior parte (89%) pode vir do sequestro de carbono em solos, armazenando carbono como matéria orgânica do solo, algo que pode ser feito através de sistemas agroecológicos (HOFFMANN, 2010).

Em ambientes tropicais, o processo de degradação dos solos encontra-se intimamente relacionado à dinâmica da MOS. A conversão da vegetação nativa em área de produção agrícola pode reduzir drasticamente os teores de MOS, devido ao menor suprimento de resíduos e ao aumento na taxa de decomposição, assim como a elevação nas perdas das camadas superficiais do solo por erosão. A perda de MOS retroalimenta o processo de degradação, promovendo a desorganização do sistema, resultando em menores produções de biomassa e maiores perdas de nutrientes, água e solo (MONTEIRO, 2012).

Os sistemas convencionais de cultivo, envolvendo aração e gradagem, são considerados os de maior poder de degradação, resultando na maioria das vezes na redução dos teores de MOS. As perdas da MOS são favorecidas, principalmente, pelo revolvimento do solo e consequente destruição da cobertura do solo, que resultam em alterações na temperatura, umidade e aeração do solo (VEZZANI & MIELNICZUK, 2011).

Em decorrência do grande impacto dos sistemas de uso do solo nas condições ambientais, sistemas conservacionistas têm sido propostos com o intuito de reduzir as modificações nos ambientes necessárias ao processo de produção de alimentos, fibras e energia (MOTA et al., 2013).

De acordo com Sarandón (2014) o uso do agroecossistema de forma inadequada proporciona a redução da fotossíntese e do aporte de carbono ao solo, resultando na perda de MOS e de cobertura do solo. O solo descoberto recebe a ação direta das gotas de chuva, desencadeando o processo de erosão e contribuindo para a perda de água e nutrientes. A redução da MOS afeta os processos de formação e estabilização de agregados do solo, atividade biológica e ciclo de nutrientes, contribuindo para a perda de nutrientes, solo e água. Essas perdas, por sua vez, retroalimenta o processo de degradação, reduzindo o potencial produtivo do agroecossistema.

50 A MOS desempenha diversas funções no ambiente, estando ligada a processos fundamentais como a ciclagem de nutrientes, agregação do solo e dinâmica da água, além de ser a fonte básica de energia para atividade biológica. Sua perda pode interferir drasticamente nesses processos, dificultando o desempenho das funções do solo, provocando desequilíbrios no sistema e, consequentemente, desencadeando o processo de degradação (ALTIERI, 2012).

As maiores taxas de decomposição da MOS observadas em áreas sob cultivo ocorrem em razão às perturbações físicas do solo, que implicam no rompimento dos macroagregados (reduz a proteção física da MOS), expondo a MOS protegida aos processos microbianos, contribuindo para aumentar as taxas de emissão de CO2 para atmosfera. Quando um solo é submetido a um intenso cultivo, os macroagregados são rompidos rapidamente, tornando a fração oclusa da matéria orgânica do solo (que está fisicamente protegida) mais vulnerável a decomposição e a mineralização (SIMANSKY et al., 2013).

O impacto dos sistemas de manejo do solo sobre a dinâmica da MOS ou sobre o ciclo do carbono nos agroecossistemas merece uma atenção especial. E quando falamos do Bioma Caatinga, essa atenção deve ser redobrada, pois este é um ecossistema que apresenta uma fragilidade natural, além dos inúmeros problemas de ordem socioambiental que são agravados pelas limitações impostas à escassez de água (MOREIRA, 2013).

Os sistemas agrícolas convencionais tendem a perder a sustentabilidade em razão de basearem em características que criam forte dependência externa. Isso ocorre devido à redução da teia alimentar, pela destruição da biodiversidade da vegetação nativa, do uso maciço de insumos externos e da redução drástica da diversidade genética dos organismos explorados. A substituição de uma comunidade vegetal complexa por uma monocultura resulta na abertura de ciclos biogeoquímicos responsáveis pela circulação de nutrientes e fluxo de energia, criando a necessidade de importação de insumos externos e práticas de controle (ARAÚJO FILHO, 2013).

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