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2.4. Representações sociais

2.4.2 O processo de formação das representações sociais

Para Moscovici (2003), a teoria das representações sociais busca compreender as representações dos sujeitos e grupos aos quais estão inseridos em relação a significados, simbologias e comportamentos. O autor relata, ainda, as etapas de construção do processo de representações sociais por meio da objetivação caracterizada pela concretização das representações emanadas nos espaços de interação social e na ancoragem, etapa que revela a construção das imagens das representações após a formação das identidades individuais e coletivas.

Portanto, os preceitos que norteiam a teoria das representações sociais objetivam compreender as representações sociais dos grupos que participam dos fenômenos analisados e dos membros dos grupos constituídos pelos indivíduos. Desse modo, as representações sociais não poderão ser analisadas partindo do aspecto individual, pois representam os processos sociais e interações construídas socialmente pelos seus posicionamentos a respeito de um aspecto em particular (JODELET, 2001). Assim sendo, o processo de construção das representações sociais é complexo, pois envolve a interação entre diversos atores e grupos sociais, a sociedade e os seus grupamentos.

As representações sociais exprimem os aspectos que possibilitam a compreensão da realidade social vivenciada por uma parcela da sociedade, extraída de acordo com a representação social a ser interpretada por meio de estudos e análise de um grupo específico da sociedade. O seu processo de construção e formação está relacionado às dinâmicas desenvolvidas entre os sujeitos, relações simbólicas e contextos sociais.

Jovchvitch (1995) discorre sobre as ideias de Jodelet, que descreve as características essenciais para o processo de construção das representações sociais. O autor esclarece que as representações estão intrínsecas no aspecto que será tomado como referência da representação, por ser utilizado como uma referência padrão para alguém acerca de algum determinado aspecto. Além disso, suas particularidades advêm dos elementos culturais compartilhados entre os grupos pela comunicação por meio das linguagens.

Para Moscovici (2003), o processo de construção das representações sociais pode ser subdividido por meio de duas etapas: objetivação e ancoragem. Na etapa da objetivação, ocorre a assimilação dos conhecimentos abstratos, imagens, símbolos e códigos que serão materializados na realidade concreta pela linguagem nos processos de interação e comunicação entre os grupos e indivíduos. Entretanto, a transformação do conhecimento em real e concreto só ocorrerá na etapa de ancoragem, na qual os conhecimentos serão compartilhados entre os diversos grupos e sistemas, adquirindo a familiarização e obtenção de um papel regulador e funcional da representação. Por fim, ocorre a ancoragem na realidade social a ser representada socialmente. Assim, quando se compreende a questão central que está sendo ancorada, tem-se o entendimento dos significados e dos conhecimentos gerais. Portanto, a ancoragem é uma etapa essencial para a consolidação de uma representação nos seus grupos e membros.

Em outra perspectiva relacionada como as concepções de mundo, a ancoragem influencia o processo de construção das representações sociais. Para Bezerra e Paz (2007), a perspectiva de construção social a respeito da ideia de visão de mundo gramsciana defenderá que a identidade de pertencimento é determinada por grupos que compartilham conosco o mesmo modo de refletir e executar ações a partir das relações sociais.

No entanto, Weber nos remete a refletir acerca da concepção de realidade social e das visões de mundo, reafirmando seu caráter hegemônico desenvolvido pelos grupos dominantes por meio das significações culturais, de tal modo que Durkheim estabelece que a sociedade é que consegue refletir e que o indivíduo não é consciente desse processo.

Entretanto, os indivíduos preservam marcas da realidade social da qual se originam e que, de forma independente, agregam outros aspectos que não estão intimamente ligados à estrutura social. Em suma, Weber e Durkeim remetem à importância da compreensão das ideias e de sua eficácia na constituição da sociedade, apelando ao estudo empírico do desenvolvimento histórico (MINAYO, 2007).

Partindo desses pressupostos, a teoria das representações sociais será utilizada como pano de fundo para compreender a percepção da relação entre mérito e educação por parte dos grupos de estudantes que ingressaram nas universidades federais pelo sistema de cotas sociais,

e para a percepção da maneira como esses conceitos são vistos pelos grupos de estudantes cotistas e não cotistas da Universidade Federal Rural do Semiárido, localizada no interior do Nordeste.

Cumpre destacar que outras pesquisas já se debruçaram sobre a temática de representações sociais e cotas, a exemplo de Pinho (2006) e Plá (2009), como Ferreira (2009) que retrata em seu estudo as representações dos estudantes cotistas acerca da identidade dos discentes que ingressaram na Universidade Federal de Brasília (UNB) por meio das cotas raciais, e Rodrigues(2004) que apresenta em seu trabalho uma discussão sobre as representações em torno das relações raciais e as políticas de ação afirmativa. No entanto, entre os estudos não foram ambientados na região Nordeste e investigam os sujeitos de forma isolada com ênfase na figura dos discentes cotistas. Optou-se por descrever de forma mais sucinta os estudos de Pinho(2006) e Plá(2009), por demonstrarem os diversos sujeitos a partir de perspectivas diferentes.

Em seu trabalho, Pinho (2006) optou por ter como escopo investigar se na universidade ocorreria o mesmo fenômeno em relação ao aluno que ingressou por meio de reserva de vagas (cotas). Para isso, a pesquisa procurou averiguar as representações sociais dos professores universitários sobre os alunos cotistas, partindo da perspectiva do docente como visão principal e obtendo como resultado a premissa de que o processo de construção da representação social está em pleno desenvolvimento e que a consolidação de processo de construção da representação dar-se-á ao longo da familiarização dos professores com os alunos cotistas.

Em outra perspectiva de análise, o estudo de Plá (2009) objetivou descrever as representações sociais dos alunos cotistas da cota 1 (Universal) e os alunos da cota 3 (negros) em relação às cotas para negros, além de analisar as relações que os estudantes negros estabelecem com os professores e colegas no cotidiano acadêmico. A perspectiva de estudo escolhida por Plá (2009) para estudar as representações sociais é associada à construção de um grupo específico de estudantes cotistas negros, porém é necessário compreender como os demais grupos se relacionam. Nos resultados do seu estudo, demostra que as diferentes posições sobre as cotas para negros podem ser consideradas representações sociais dos negros na sociedade que se chocam com novas representações construídas pelos que lutam pelos direitos dos negros.

Por fim, os estudos já realizados acerca da temática merecem destaque pelo seu caráter amplo e multidisciplinar, por meio de uma lente teórica que possibilite visualizar o mesmo fenômeno em torno de várias perspectivas e atores.

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Este capítulo abordará os procedimentos metodológicos que serão utilizados para que os objetivos propostos para a realização deste estudo sejam alcançados. A princípio, apresentam- se a abordagem e a estratégia de pesquisa adotada no tópico dedicado à tipologia de pesquisa. Em seguida, descreve-se o universo no qual os sujeitos da pesquisa estão inseridos, além dos seus perfis e peculiaridades que os tornam convenientes para este estudo. Posteriormente, discorre-se acerca do processo de coleta utilizado; e por fim, são descritos os procedimentos de análise de resultados que foram aplicados.