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Parte I – Enquadramento Teórico

6.2. O processo de newsmaking

Se os dados relativos à selecção estão na sua maioria apresentados, abordemos agora a prática construtiva das notícias em rádio.

Embora a Antena 1 não possua livro de estilo, ao contrário por exemplo da TSF, ela procura seguir um jornalismo semelhante ao da BBC, com notícias com o máximo de 1 minuto e meio, exceptuando acontecimentos que, pela sua carga de importância, necessitem de um pouco mais. As notícias devem apresentar a informação desenvolvida e no pivô do editor deve estar apenas um breve resumo e não toda a informação; a notícia deve ser curta, concisa e clara. Como não existe um livro de estilo cabe aos jornalistas, com base na sua experiência, construir as peças; no entanto, todos eles se preocupam em escrever de forma fácil e perceptível e da que forma como gostariam de ouvir a informação, se fossem eles próprios os ouvintes.

A rádio, que sempre foi um meio único e o meio privilegiado da informação - por ser imediata, instantânea e para todos -, vê-se agora assemelhada com a Internet, que através da ubiquidade consegue alcançar um grande número de pessoas e consegue ser imediata na difusão da informação. À custa de viver do dia-a-dia, a rádio necessita de pesar a importância dos temas a cada hora ou mesmo a cada meia hora, no caso de termos sínteses noticiosas de meia em meia hora - e, como os ouvintes só prestam atenção aos primeiros 45 segundos de cada notícia, as notícias são curtas; se forem maiores, aí terão de seguir a via de uma reportagem e serem sonorizadas.

O vocabulário e a linguagem na Antena 1 acabam por ir de encontro ao estilo das rádios, como o caso da TSF apresentado pelo João Paulo Meneses (2003). Assim, a linguagem deve evitar chavões e vocábulos que não sejam conhecidos dos ouvintes; o jornalista deve enveredar sempre por uma linguagem simples, mas não pobre, atractiva através da criatividade, mas concisa e rigorosa. Só assim a rádio consegue manter os seus índices de credibilidade e confiança junto dos ouvintes.

Estas são as características da informação no seu cômputo geral. No entanto, informações sobre cultura, como a estreia de peças, a edição de álbuns musicais, etc., devem ser seguidas de sonorização, tal como as reportagens. Aquilo que se procura na construção de uma notícia,

para além de informar, é, sobretudo, captar o interesse do ouvinte; é ao captar o interesse do ouvinte e ao informá-lo, simultaneamente, que o jornalista pode sentir-se realizado. Se na Antena 1 as notícias devem ter no máximo um minuto e meio, o tempo dos noticiários, como poderemos ver abaixo, é em média de 12 minutos, podendo, no entanto, situar-se entre os 10 e os 15 minutos. Já durante a madrugada o tempo dos noticiários é reduzido para 7 minutos, para se ir actualizando a informação que haja de madrugada – que, geralmente, a não ser em situações excepcionais, é pouca, como referiu, na sua entrevista, a Sub-Directora de informação. Aos fins-de-semana os horários são mais reduzidos devido à existência de programas de autores e têm em média 7 minutos.

Quadro 1. Horários da Informação - Antena 1*

Horário Tempo: Informação/ Notícias

1:00 12m/1`30`` 2:00 7m/1`30`` 3:00 7m/1`30`` 4:00 7m/1`30`` 5:00 7m/1`30`` 6:00 7m/1`30`` 7:00 12m/1`30`` 8:00 12m/1`30`` 9:00 12m/1`30`` 10:00 12m/1`30`` 11:00 12m/1`30`` 12:00 12m/1`30`` 13:00 12m/1`30`` 14:00 12m/1`30`` 15:00 12m/1`30`` 16:00 12m/1`30`` 17:00 12m/1`30`` 18:00 12m/1`30`` 19:00 12m/1`30`` 20:00 12m/1`30`` 21:00 12m/1`30`` 22:00 12m/1`30`` 23:00 12m/1`30`` 0:00 12m/1`30``

*De segunda a sexta-feira, exceptuando casos em que haja debates na Assembleia da República ou jogos de futebol entre os principais clubes portugueses.

Relativamente a outro espaço informativo da Antena 1, temos as sínteses de meia em meia hora entre as 7 e as 10 da manhã e entre as 16 e as 20 da tarde, que têm uma duração de dois

a três minutos e geralmente não possuem som, só os lançamentos dos pivôs (exceptuando situações editoriais que pretendam incluir sons). Estas sínteses obrigam a medir a importância de cada tema de meia em meia hora. As sínteses ocorrem nos períodos horários apresentados no Quadro 2, pois são os momentos mais importantes de informação – o início da manhã e o final da tarde -, em que geralmente a rádio é escutada: ou em casa, enquanto as pessoas fazem outras actividades, preparando-se, por exemplo para ir trabalhar; ou no trabalho, enquanto estão a trabalhar; ou no percurso para o trabalho nos carros e vice-versa.

Quadro 2. Sínteses Informativas - Antena 1

Horário Tempo de Informação

7:30 2/3m 8:30 2/3m 9:30 2/3m 16:30 2/3m 17:30 2/3m 18:30 2/3m 19:30 2/3m

Ao nível da informação existem duas grandes áreas em rádio: a informação geral, onde se encaixam os campos económico, político, cultural, etc.; e o desporto, fundamentalmente o futebol. Neste sentido apresentamos, a seguir, um quadro com o horário da informação desportiva diária na Antena 1, sendo que se a informação desportiva for relevante ela aparece também nos noticiários nacionais de informação geral.

Quadro 3. Desporto - Antena 1

Horário 7:30 8:30 9:30 12:32 16:35 17:32 18:32 19:32 22:32

Se estas são as características da Antena 1, apresentemos agora as características de informação das outras estações da rádio pública.

A Antena 2 possui horários em menor número, comparativamente com a Antena 1, no entanto o critério de construção de uma notícia é mais largo, há uma outra forma de construir as notícias. Na Antena 2 podem-se utilizar outras palavras, outras construções narrativas, e sons com maior espaço de respiração. As peças são maiores, não para encher mas porque o próprio andamento da antena o permite e, se calhar, até o pede; as coisas são mais desenvolvidas, feitas mais a fundo e mais trabalhadas sonoramente e do ponto de vista da escrita, como referiu Nuno Moura Brás na entrevista. A Antena 2 é uma rádio tida como sendo para gente de elite em termos culturais, mais formal, mais clássica, mais intelectual - como tal, a linguagem exige-se mais rica, não só ao nível da escrita mas também ao nível da oralidade. Os critérios utilizados para a Antena 2 são os critérios exigidos para o “Portugal em Directo”, um programa regional com, aproximadamente, 45 minutos de informação regional diária – exige- se desenvolvimento e apresentação do conteúdo, da informação na sua essência, as peças têm que ser mais tratadas, mais cuidadas, mais apelativas - não se dá só a notícia pura e dura mas também com outro tipo de ingredientes, que a possam tornar ainda mais sustentada ao ouvido de quem está em casa. O Quadro 4 apresenta os horários da informação na Antena 2, o tempo médio do serviço noticioso e os limites de tempo da notícia.

Quadro 4. Horários da Informação - Antena 2

Quanto às notícias na Antena 3, elas devem ser ainda mais curtas. Como as três estações da rádio pública utilizam as mesmas notícias, na Antena 3 elas são muitas vezes retalhadas, cortadas para reduzir o seu tamanho - e o que geralmente acontece, nessas notícias, é que elas perdem o seu conteúdo, a linha seguida pelo jornalista para contar a estória, o acontecimento. A Antena 3 tem, então, critérios mais apertados, porque os seus noticiários são mais curtos; o tipo de informação que se faz é muito mais directo, mais coloquial, não há tanta preocupação em explicar, em contar todos os dados, é mais dar o headline e acrescentar dois ou três elementos de conteúdo, tudo porque o seu público-alvo é um público mais jovem, daí também a procura em aproximar a linguagem do jornalista da dos seus ouvintes.

Horário Tempo: Informação/notícias

8:00 20m/2-3m 9:00 20m/2-3m 10:00 20m/2-3m 13:00 20m/2-3m 17:00 20m/2-3m 20:00 20m/2-3m

Quadro 5. Horários da Informação - Antena 3

Horário Tempo: Informação/notícias

7:00 5m/45s 8:00 5m/45s 9:00 5m/45s 10:00 5m/45s 11:00 5m/45s-1m 12:00 5m/45s-1m 13:00 5m/45s-1m 14:00 5m/45s-1m 15:00 5m/45s-1m 16:00 5m/45s-1m 17:00 5m/45s-1m 18:00 5m/45s-1m 19:00 5m/45s-1m

Apresentadas as características informativas de cada estação de rádio pública, cabe agora apresentar as fontes utilizadas pela Antena 1.

As fontes são, desde logo, as clássicas, nomeadamente as agências, Lusa, France Press, Reuters, os jornais online e os órgãos de comunicação nacionais e internacionais. Na realidade, as fontes não variam muito entre as rádios, o que pode variar são as fontes que cada jornalista cultiva ao longo da sua vida de trabalho como jornalista.

As assessorias de comunicação das instituições, como universidades, e os próprios ouvintes, que podem sugerir uma notícia, são as principais fontes da Antena 1. No entanto, importa falar de outras fontes, porque muitas das notícias da Antena 1 passam pelas agências de comunicação, sobretudo no que se refere à sua selecção. Assim, no dia 3 de Dezembro de 2010, a Antena 1 esteve numa conferência sobre violência doméstica em que apenas estava presente outro órgão de comunicação, a Agência Lusa. Muitas das notícias que a direcção da Antena 1 selecciona para objecto de reportagem são também acompanhadas pela Lusa. No entanto, a Lusa não pode ser um modelo a seguir, como o mostram os dois exemplos que passo a descrever. Primeiro exemplo: no dia 16 de Dezembro houve uma concentração de trabalhadores promovida pela União de Sindicatos do Porto. O acontecimento foi coberto pela Antena 1 – única rádio presente – e, quando a jornalista da Lusa apareceu, a manifestação já tinha acabado, aliás ela só apareceu porque estava a entrar ao serviço e não tinha nada marcado. Ou seja: ou a Lusa não estava informada, ou não seleccionou aquele acontecimento para ser coberto. Outro exemplo deu-se no dia 13 de Novembro, com a morte de um bombeiro ao combater um incêndio no Porto durante a noite. A Lusa não enviou nenhum telex, logo desconhecia a situação, e em Lisboa ninguém se preocupou em pesquisar notícias durante a noite, nomeadamente em outros meios de comunicação, televisão, rádio ou jornais online. Se não tivesse acontecido a jornalista que estava de piquete na Antena 1 fazer zapping na televisão, a estação tinha perdido uma grande notícia. No entanto, a jornalista

teve que telefonar para Lisboa a perguntar se queriam a notícia, tendo-lhe sido respondido que som; e, embora a jornalista morasse a 1,5Km do local, acabou por ser a última a chegar ao acontecimento.

Resumindo o que vimos até aqui, podemos dizer que – e como seria de esperar - as bases teóricas do jornalismo aplicam-se no jornalismo radiofónico. No entanto, existem especificidades da rádio que implicam uma selecção e uma detecção da informação essencial de uma forma mais rápida. Quanto à construção das notícias, é aí que residem as maiores diferenças em relação ao jornalismo impresso, pois na rádio existe um limite de tempo muito mais curto e a linguagem deve ser o mais clara, sucinta e simples possível, para atingir todos os ouvintes, sejam alfabetizados ou não. As rádios informativas, ao publicarem informações verdadeiras, criam nos ouvintes uma grande confiança e fiabilidade, que procuram aumentar agora com os podcasts.