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De acordo com Sadler (1996), para que a avaliação de impacto ambiental seja efetiva, deve estar embasada em um processo de scoping. Trata-se de um processo eficiente para identificar as questões e as respostas adequadas e necessárias aos tomadores de decisão.

Para Weston (2000), o scoping é, em essência, a identificação dos impactos significativos abordados na AIA. De acordo com Mulvihill e Jacobs (1998), o desafio de descrever e avaliar os impactos de uma forma que faça sentido para todas as perspectivas legítimas não pode ser realizada com sucesso sem um efetivo processo de scoping.

Na fase de scoping, questões são identificadas, pressupostos são examinados e problemas são definidos (MULVIHILL; BAKER, 2001).

Para ser efetivo em um cenário intercultural, o processo de scoping precisa ser amplamente acessível; claro ao proponente, mas sensível aos interventores; capaz de abordar visões competitivas mundiais; caracterizado por equidade e justiça, abrangência e eficiência; mais analítico do que enciclopédico; predisposto a acomodar uma adequada, mas não infinita, definição de problema; receptivo aos fatores qualitativos e quantitativos (MULVIHILL; JACOBS, 1998).

Os principais objetivos do scoping incluem (SADLER, 1996):

• Determinar o escopo do estudo de impacto ambiental, o que será abrangido e o nível de detalhamento;

• Garantir que problemas reais sejam identificados previamente e que não se perca tempo e esforços com questões de menor importância;

48 • Promover a preparação de um relatório de impacto ambiental adequado e

eficiente;

• Garantir que as pessoas e agentes afetados sejam envolvidos desde o início do processo.

Para Heinma e Põder (2010) um fator essencial para realizar uma avaliação de impacto ambiental de baixa qualidade é não conter informações importantes para os tomadores de decisão devido ao escopo inadequado ou à previsão inadequada de impactos.

Apesar do consenso geral sobre a definição de scoping, há considerável discussão entre profissionais sobre seus propósitos, usos apropriados e limites. Como resultado de tais tensões, o scoping é altamente sujeito a incoerências e incertezas na sua aplicação (MULVIHILL, 2003).

Há duas opiniões divergentes sobre o scoping entre os profissionais que participam de processos de AIA. Alguns defendem que o escopo possa ser limitado a identificar, listar e categorizar questões relevantes. Para outros, o scoping pode ser um processo de elaboração, que visa fornecer orientação metodológica detalhada para aqueles que preparam o EIA. Como resultado desta tensão sobre a proposta do scoping, sua relação com outras fases da AIA é inconsistente (MULVIHILL, 2003).

A interpretação e avaliação do conceito de impactos ambientais significativos exercem grande influência sobre os tomadores de decisão durante o scoping. O significado de impactos ambientais significativos representa um julgamento subjetivo e antropocêntrico sobre a importância de um impacto ambiental potencial sobre os valores ambientais socialmente criados, que, por sua vez, dependem do contexto ambiental e da comunidade específica. No entanto, a forma como tais valores são aceitos dependerá o grau em que o scoping será realizado como um processo aberto envolvendo diálogo e trocas de ideias entre os envolvidos ou se é um exercício fechado no qual os proponentes dominam a elaboração da avaliação ambiental (WOOD; GLASSON; BECKER, 2006).

A avaliação ambiental deve refletir os valores de grupos e culturas diferentes que estão envolvidos no contexto de determinado projeto, particularmente, onde existirem divergências entre o conhecimento e o modo de descrever os componentes e impactos ambientais. Como o scoping define os passos subsequentes na avaliação ambiental, esta etapa precisa ser suficientemente ampla para acomodar diversas abordagens para o problema colocado e resolução do mesmo. Nos casos caracterizados com considerável pluralidade, pode haver, não somente um quadro analítico preferido para descrever e avaliar os impactos,

49 mas sim vários e, na prática, pode ser impossível integrar estes diferentes quadros (MULVIHILL; JACOBS, 1998).

Os tomadores de decisão podem, simplesmente, não desejar obter certos tipos de informação de populações potencialmente afetadas, e podem, também, criar contestação em relação a uma ampla gama de projetos e impactos esperados. Isso é essencialmente verdade considerando-se que os EIA/RIMA, que representam um insumo crítico para a tomada de decisão pública são, geralmente, preparados pelos proponentes ou seus consultores, os quais são longe de serem desinteressados em sua seleção, interpretação e apresentação da informação (O’FAIRCHEALLAIGH, 2010).

O controle de informações para a tomada de decisão pode influenciar a natureza e o resultado do processo e alguns grupos interessados são suscetíveis a terem mais poder de influenciar no processo do que outros. Assim, o contexto institucional da AIA define as regras e procedimentos formais ou informais em que a tomada de decisão sobre o scoping ocorre e isso deve determinar os direitos e responsabilidades dos grupos envolvidos que, por sua vez, define o grau de influência que cada parte pode exercer (WOOD; GLASSON; BECKER, 2006).

Para Peterson (2010), a informação ambiental deve ser avaliada por autoridades com responsabilidades ambientais, organizações e público em geral interessados em uma revisão prévia. Antes de consentir o desenvolvimento, os grupos interessados devem ter a oportunidade de apreciar e criticar o projeto e seus efeitos ambientais.

A participação pública e a consulta são importantes para o scoping e permitem àqueles com conhecimento local fornecer informações que podem auxiliar a identificar a significância dos impactos. A falta de tais informações significa que principais impactos não farão parte da AIA desde o início e, assim, a AIA não abordará as preocupações públicas (WOOD; GLASSON; BERCKER, 2006).

Em muitas jurisdições, o processo de scoping é considerado completo quando o Termo de Referência ou o documento equivalente é emitido. O processo de scoping, se bem realizado, poderá cobrir todas as eventualidades. Como os estudos continuam, novas questões e impactos podem aparecer, ou ideias sobre a profundidade das análises podem mudar. Quando aplicado adequadamente, o scoping auxilia a:

• Permite que o público afetado tenha suas preocupações levadas em consideração desde o início;

• Focar a avaliação de impacto ambiental em impactos e alternativas mais importantes;

50 • Permitir um processo eficiente;

• Reduzir a probabilidade de que o EIA seja deficiente;

• Garantir aos proponentes não desperdiçar tempo e dinheiro coletando informações desnecessárias,

• Fornecer, em tempo útil, informações importantes aos tomadores de decisão.

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