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O professor frente à sociedade globalizada e do conhecimento

4. A FORMAÇÃO DOCENTE E O PROFESSOR FORMADOR

4.1. O professor frente à sociedade globalizada e do conhecimento

Se o contexto atual exige novas formas de ensino para crianças e jovens, isso implica pensar nas formas de aprendizagem e de formação docentes na sociedade do conhecimento e da informação. Essa sociedade obriga-nos a estar em constante aprendizado, pois as respostas são cobradas de forma rápida e cabe ao professor o domínio não somente do conhecimento como também da tecnologia.

Mas qual seria essa formação frente à sociedade da informação e globalizada? Como afirma Gimeno Sacristán (2003, p.50), a globalização é

um conceito utilizado para caracterizar a peculiaridade do tempo presente, reconhecido como a segunda modernidade, que começou a se forjar nas duas últimas décadas do século XX. A globalização é uma forma de nos representar e de explicar em que consiste essa nova condição; um termo que se entrelaça com outros conceitos e expressões igualmente manejados em profusão: o neoliberalismo, as novas tecnologias da comunicação e o mundo da informação.

Ainda, segundo o autor Gimeno Sacristán (2003,p.65), “os processos de globalização afetam a educação porque incidem sobre os sujeitos, os conteúdos do currículo e as formas de aprender”. Nesse sentido, a educação pode intervir nessa sociedade globalizada por meio da:

Importância das atitudes críticas para navegar em um mundo de informação dispersa e variada, sem “hierarquizar”. Capacidade para se orientar, analisar e optar. [...] Fomentar a aprendizagem interdisciplinar necessária para fundamentar a “inteligência geral” capaz de compreender e atuar no mundo complexo. (GIMENO SACRISTÁN, 2003, p. 77)

Nessa sociedade globalizada, em que a informação é gerada rapidamente, a educação precisa ser repensada. Castells (apud HARGREAVES, 2001, p.7) defende que “a educação é a qualidade chave do trabalho; os novos produtores do capitalismo informacional são aqueles geradores do conhecimento e processadores da informação cuja contribuição é mais valiosa para a empresa, a região e a economia nacional”.

Como já discutido anteriormente, a Educação Estatística constitui-se em ferramenta fundamental nesse processo. Para isso, há que se colocar a escola como essencial e o professor como figura central das mudanças curriculares e educacionais nessa sociedade globalizada denominada “sociedade da informação” e/ou “sociedade do conhecimento”. Além disso, o professor de Matemática que ensina Estatística nas suas aulas necessita de conhecimentos específicos e pedagógicos sobre a disciplina, além de uma proposta adequada aos conteúdos a serem desenvolvidos.

O professor, sem dúvida, será o responsável pelo bom, ou não tão bom, desempenho de seus alunos. Como afirma Hargreaves (2001, p. 1): “Importância sem paralelo está agora sendo atribuída à docência como uma profissão que pode trazer prosperidade econômica e progresso, ao mesmo tempo em que também pode reduzir a diferença de rendimento escolar entre as crianças de famílias pobres e ricas”. Talvez, por isso, a formação docente esteja tão presente nas pautas de reformas educacionais.

No entanto, esse mesmo autor considera que, nessa sociedade, a profissão docente vive um momento paradoxal e que o professor se encontra preso em um triângulo de interesses competitivos. De um lado, espera-se que ele seja o catalisador dessa sociedade do conhecimento, ensinando de forma que não aprendeu, automonitorando sua própria aprendizagem e seu desenvolvimento profissional; que saiba trabalhar em grupo, resolver problemas e assumir riscos; ou seja, “professores na sociedade do conhecimento devem desenvolver capacidade para assumirem riscos,

lidarem com mudanças, e conduzirem investigações quando novas demandas e novos problemas são confrontados a eles” (p.9).

No entanto, espera-se também desse professor que ele seja capaz de amenizar os efeitos perversos da globalização, ou seja, espera-se que ele seja o contraponto dessa sociedade do conhecimento.

Ser um professor que é um contraponto à sociedade do conhecimento significa estar preocupado com a aprendizagem social e emocional assim como com a aprendizagem cognitiva, desenvolvimento pessoal e profissional bem como aprendizagem profissional, vida grupal como também trabalho de grupo, cuidado assim como cognição e preservando continuidade e segurança e ao mesmo tempo promovendo risco e mudança. (Ibidem, p. 13)

Mas como ser um catalisador e um contraponto dessa sociedade do conhecimento, se o professor tem sido uma vítima dessa mesma sociedade?

Embora professores e escolas sejam os catalisadores e contrapontos para mudança na sociedade informacional, eles são também vítimas – vítimas do enfraquecimento da rede do bem estar da sociedade, do gasto reduzido para o bem público, de famílias dos estudantes estarem em reviravolta social e do descomprometimento geral para a vida pública. (Ibidem, p. 13).

Assim, levando em consideração esse triângulo em que o professor se encontra preso – catalisador, contraponto e vítima –, é necessário que se repensem os modelos de formação docente propostos pelas atuais políticas públicas.

Os cursos de licenciatura em Matemática vêm sendo reformulados nos últimos anos, mas, em decorrência da fixação da carga horária de 2.800 horas, a maioria vem se organizando em três anos – tempo, no nosso entender, insuficiente para proporcionar ao professor uma formação adequada para o enfrentamento das complexidades postas pela prática docente nessa sociedade do conhecimento.

Outro aspecto que vem sendo destacado com certa ênfase pelas pesquisas diz respeito ao repertório de saberes que o professor precisa mobilizar no contexto de sala de aula. Esse repertório é constituído ao longo de toda a formação e inclui: saberes

específicos do conteúdo, saberes pedagógicos do conteúdo, saberes curriculares, saberes das ciências da educação, saberes da tradição pedagógica, saberes da ação pedagógica e saberes da experiência. Embora não seja nosso objetivo estender-nos nas diferentes tipologias (BORGES, 2001) envolvidas nessa discussão teórica, nosso propósito é destacar a compreensão que temos desses diferentes saberes.

4.2. Repertório de saberes que os professores constituem ao longo da formação