• Nenhum resultado encontrado

O Programa de Investimentos em Logística (PIL) e o setor de ferrovias

4. O ESTADO PLANEJADOR: O PROGRAMA DE ACELERAÇÃO DO

5.1. O Programa de Investimentos em Logística (PIL) e o setor de ferrovias

“Não adianta sofisticar os diagnósticos e as receitas que eles sugerem. Com a enorme desconfiança recíproca entre o governo e o setor privado empresarial, existente até há pouco, não havia política econômica que funcionasse. Felizmente ‘caiu a ficha’: a Casa Civil e os ministérios da Fazenda e dos Transportes, que ‘escutavam, mas não ouviam’, passaram a ‘ouvir’. E o setor privado, por sua vez, entendeu que ‘modicidade tarifária’ não era ‘socialismo’”149. Com essas palavras, o ex-ministro Delfim

Netto definiu, em recente artigo, o que se passou no Brasil, nos últimos três anos, em matéria de condução da política de infraestrutura logística.

O Programa de Investimentos em Logística (PIL) foi lançado pela presidente Dilma Rousseff no dia 15 de agosto de 2012 e rapidamente passou a ser chamado pela mídia de o “PAC das concessões”150. Na ocasião, a presidente afirmou a necessidade

de recuperar a capacidade de planejamento em infraestrutura no Brasil. Neste novo papel de planejador, o Estado se dispunha a colocar como indutor do crescimento econômico e parceiro do setor privado no avanço dos modais: “compartilharemos com o setor privado a execução do investimento e a prestação dos serviços”, destacou a presidente na cerimônia de lançamento do programa (PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA, 2012).

Como dito anteriormente, pelo conjunto de medidas do PAC percebe-se que os objetivos do governo federal com o programa eram de três ordens: (1) expandir a malha ferroviária; (2) realizar estudos e projetos para integração multimodal e (3) revisar o modelo regulatório. Com isto se teria ao mesmo tempo, em tese, a expansão da malha, de maneira integrada e competitiva. A realização dos investimentos, no

149 Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/antoniodelfim/2014/01/1394636-caiu-a- ficha.shtml [8/1/2013].

150 É possível encontrar na literatura acadêmica e na mídia menções a este programa como “Plano

Nacional de Integração em Logística (PNLI)”. No entanto, segundo entrevista concedida por Sérgio Passos, presidente da Empresa de Planejamento e Logística S.A. (EPL), o PNLI é um documento distinto do PIL que está sendo elaborado pela EPL e estará pronto em 2015. Diponível em:

http://agenciat1.com.br/plano-nacional-de-logistica-integrada-ficara-pronto-em-2015-diz-presidente-da- epl/ [12/12/2013].

80 entanto, veio a um ritmo muito aquém do esperado, o que contribuiu para amadurecer a proposta de um grande pacote que concessões.

Segundo a então Ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffman, o PIL é a integração de duas ações de planejamento do Governo Federal, o Plano Nacional de Logística de Transportes (PNLT), lançado em 2007 e revisado em 2009 e em 2012 e o Plano Nacional de Logística Portuária (PNLP), lançado em 2009 e revisado em 2010 e 2012151. Além disso, o PIL seria complementar ao PAC (2007-2011), na medida em

que busca a elevação do nível de investimentos da economia e o estímulo ao investimento privado.

O PIL também se destacou por suas medidas institucionais. Na mesma data em que se lançou o programa foi criada a Empresa de Planejamento e Logística S.A. (EPL), responsável pelo monitoramento das ações do PIL. Inicialmente, a empresa teve suas competências circunscritas à implementação do trem de alta velocidade e serviu para abrigar Bernando Figueiredo, figura-chave do governo federal na área de transportes e que não teve seu nome reconduzido pelo Senado Federal para continuar na direção da ANTT, episódio inédito na história brasileira; com a MP nº 576 a Empresa de Transporte Ferroviário de Alta Velocidade S.A. (ETAV) passou a ser denominada Empresa de Planejamento e Logística S.A. (EPL), tendo suas competências ampliadas. Além disso, com a edição do Decreto nº 7.789, alterou-se a estrutura do CONIT, delegando à EPL a função de coordenar o andamento e a implementação das proposições do conselho, na condição de Secretaria Executiva152.

No entendimento da equipe econômica do governo Dilma, desde a extinção do GEIPOT, os transportes ficaram sem um órgão de planejamento intermodal, o que justificava a promulgação de uma lei (a Lei no 12.743/2012), que criasse a EPL e a

151 Disponível em: http://www.casacivil.gov.br/noticias/2013/10/apresentacao-comissao-de-servicos-de- infraestrutura-do-senado-federal.pptx [10/01/2014]

152 Desde a edição do Decreto nº 6.550/2008, de lavra do presidente Lula o CONIT passou a ser

vinculado diretamente à Presidência da República, sendo tratado não mais como uma estrutura concorrente ao próprio Ministério dos Transportes, mas como um colegiado de assessoramento técnico- político, com atribuição de propor políticas nacionais de integração dos diferentes modos de transporte de pessoas e bens; ou seja, pela formulação da política de transportes no plano estratégico.

81 dotasse de semelhantes competências, e para edição do Decreto no 7.789/2012, que

previu a EPL como responsável pelo exercício das funções de Secretaria Executiva do CONIT. Deste modo, com a criação da EPL, houve a nova reconfiguração do arranjo institucional do setor ferroviário, que passou a ser a seguinte:

Figura 8 - Arranjo institucional do setor ferroviário

Fonte: o autor com base em MT (2014)

De acordo com o Ministério dos Transportes (2014), os objetivos do PIL são153:

(1) elevar a escala dos investimentos em infraestrutura de transporte, dotando o país de uma rede ampla, moderna e com tarifas módicas; (2) reforçar a capacidade de planejamento do Estado e promover a integração entre rodovias, ferrovias, hidrovias, portos e aeroportos em articulação com as cadeias produtivas; (3) criar as bases para o crescimento sustentável do Brasil nos próximos 50 anos, dando início a um processo contínuo de planejamento e desenvolvimento de sua infraestrutura logística e (4)

153 Apresentação disponível em: http://www.epl.gov.br/programa-de-investimentos-em-ferrovias.

82 reduzir custos e ampliar a capacidade de transporte do País, resultando na promoção da eficiência e elevação da competitividade154.

Para tingir seus objetivos, o Programa prevê a realização de investimentos da ordem de R$ 144 bilhões em até 30 anos, sendo R$ 99,6 bilhões direcionados à construção e/ou melhoramentos dos doze trechos ferroviários indicados na tabela abaixo, totalizando 11 mil km de novas linhas férreas.

Tabela 8- Trechos ferroviários do PIL

FERROVIAS DO PIL UF

Açailândia – Porto de Vila do Conde (Barcarena) MA/PA Anápolis - Estrela d’Oeste - Panorama - Dourados GO/MG/SP/MS Lucas do Rio Verde - Campinorte - Palmas - Anápolis MT/GO/TO

Rio de Janeiro - Campos - Vitória ES/RJ

Feira de Santana - Suape BA/PE

Salvador - Recife BA/SE/AL/PE

Uruaçu - Corinto - Campos GO/MG/RJ

São Paulo - Rio Grande SP/PR/SC/RS

Belo Horizonte - Salvador MG/BA

Maracaju - Eng Bley - Paranaguá MS/PR

Ferroanel de São Paulo SP

Feira de Santana - Parnamirim BA/PE

Fonte: EPL (2013)

O PIL, vale observar, é apenas uma ideia. Mesmo os trechos ferroviários já estudados ainda não iniciaram suas obras, pois ainda pairam dúvidas sobre muitos aspectos técnicos dos contratos que serão celebrados futuramente, caso o modelo prossiga. Além disso, trata-se, como dito, de uma iniciativa complementar ao PAC, já que o objetivo final é alavancar investimentos. No entanto, com base nos anúncios de cada programa e em seus estágios de desenvolvimento, é possível visualizar para fins didáticos a malha prevista por cada um dos programas, conforme a figura a seguir.

83 Figura 9 - Empreendimentos ferroviários do PAC e do PIL

Fonte: Casa Civil (2013)