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Capítulo II: A PSP perante o bullying escolar

2.2. O Programa Escola Segura

Com o agravamento das notícias relativas a atos de vandalismo e de delinquência juvenil nos finais dos anos 80 (Silva, 2008) e consequente aumento da pressão sobre o poder político, surgiu em 1984, o Gabinete de Segurança do Ministério da Educação, passando-se a atribuir mais atenção aos problemas de violência nas escolas (Salgado, 2016).

Em 1992, o Ministério da Administração Interna (MAI) e o ME estabeleceram um Protocolo que permitiu aumentar as medidas de segurança junto das escolas onde se verificavam mais problemas, mas limitadas à presença de um Agente da PSP ou Militar da Guarda Nacional Republicana (GNR) na porta principal do estabelecimento de ensino. Esta medida foi acompanhada do recrutamento de vigilantes (muitos deles ex-funcionários da PSP ou da GNR) para o interior dos estabelecimentos escolares.

Com o decorrer dos anos o número de escolas sinalizadas e os recursos policiais empregues foram aumentando (Salgado, 2016) e assim, aquele que começou por ser um projeto-piloto, passou a ter uma abrangência cada vez maior, mas com resultados limitados em face dos problemas de segurança da comunidade, muitos deles traduzidos em ocorrências na periferia dos estabelecimentos escolares e, em particular, nos trajetos utilizados pelos alunos para chegarem até à escola (David, 2014). Em 1996, surge formalmente o PES como instrumento de promoção de uma cultura de segurança em contexto escolar, através do Despacho do MAI n.º 54/96, de 21 de outubro.

Dez anos depois, após serem detetadas fragilidades na operacionalização do Programa (Salgado, 2016), foi publicado o Despacho n.º 25650/2006, de 19 dezembro, atualmente revogado pelo Despacho nº. 8927/2017, de 10 de outubro, que aprova o Regulamento do Programa Escola Segura. Segundo o art.º 2.º do referido Despacho “o Programa visa garantir a segurança no meio escolar e no meio envolvente, através da prevenção de comportamentos de risco e da redução de atos geradores de insegurança em meio escolar”.

A Diretiva Estratégica n.º 10/2006, de 15 de maio da DNPSP, cria o PIPP na PSP, como forma de integrar diversos programas que até à data haviam sido estabelecidos, mas que se encontravam de forma espartilhada (Elias, 2007). É também através desta Diretiva que são concebidas as EPES e traçados diversos objetivos estratégicos, dos quais se destacam a monitorização dos fenómenos de violência, de comportamentos de risco e de incivilidades nas escolas.

25 Passadas duas décadas desde a criação do PES, “as questões de violência escolar têm sido objeto de crescente visibilidade social e mediática” (Sebastião et al. cit. in Salgado, 2016, p. 2), sendo o PES “uma iniciativa de sucesso que se encontra institucionalizada junto das forças de segurança e da sociedade civil” (Oliveira, 2006, p. 300) que permite maior proximidade e visibilidade junto das populações (Ochoa, 2016).

2.3. A PSP PERANTE O BULLYING ESCOLAR

Apesar de reconhecermos que para atuar perante o bullying escolar é necessário um esforço conjunto por parte de diferentes membros, que atuam a diferentes níveis (Fernandes & Seixas, 2012), na pesente investigação focar-nos-emos no papel da PSP. O plano “Escola Sem Bullying. Escola Sem Violência.” contém um organigrama (Anexo A), que atribui um papel interventivo aos polícias afetos ao PES, quer seja através da realização de ações de sensibilização, quer seja quando o fenómeno já se consumou.

Regra geral, o contacto que a PSP tem com o aluno em contexto escolar resulta da implementação do PES, não se encontrando por isso na primeira linha de contacto diário. Muitas vezes as EPES têm conhecimento que alguma criança está envolvida numa situação de bullying por intermédio de outros membros da comunidade escolar (e.g., professores, auxiliares, alunos), não obstante os polícias do PES também se encontram a um nível muito próximo, constituindo-se, similarmente, como entidades capazes de detetar a situação.

Figura 4 - Níveis de contacto com a criança. Elaboração própria.

Membros da família Criança ou Jovem Colegas e amigos Membros da comunidade escolar (e.g. Professores) Polícias do PES Serviços de saúde CPCJ Governo Assembleia da República Tribunal Criança Profissionais que trabalham na escola (e.g. professores) Polícias do PES Colegas e amigos Membros da família

26 A Figura 4 permite perceber que a interação entre a criança, colocada ao centro, é direta com os seus colegas e amigos, membros da família e profissionais que trabalham na escola, sendo que estas relações existentes são vivenciadas a um nível imediato. Por outro lado, percebe-se que os polícias afetos ao PES (que se identifica aqui como um recurso mesossistémico) se encontram a um outro nível, mais afastado da criança, pois o contacto existente é menor, contudo mais próximo quando comparado com outras entidades (e.g. CPCJ; Serviços de Saúde, ambos recursos exossistémicos). Esta figura foi inspirada no modelo de Bronfenbrenner (1979), de forma a perceber os atores sociais que atuam a um nível micro, meso, exo e macro.

Quando a PSP tem conhecimento que um aluno menor está envolvido num caso de

bullying, considera-se que está numa situação de perigo, podendo-se verifica o disposto nas

alíneas f) ou g) do art.º 3, n.º 2, alínea f) da Lei de Proteção de Crianças e Jovens em Perigo (LPCJP), conforme o papel que desempenham no fenómeno.

A PSP assume duas funções essenciais na aplicação da LPCJP - a função social e a função jurídica (Paulo, 2010). No que respeita à sua função social, esta constitui-se como Entidade com Competência em Matéria de Infância e Juventude (ECMIJ), segundo o art.º 7.º da LPCJP. No que concerne à função jurídica, a PSP é um Órgão de Polícia Criminal (OPC) que, de acordo com o art.º 11.º, n.º 1, alínea a) da LOPSP, tem o dever de informar e coadjuvar as autoridades judiciárias sobre os crimes que conhece e estejam associados a situações de perigo.

O art.º 6.º da LPCJP, em conformidade com o princípio da subsidiariedade, define que a intervenção deve ser efetuada primeiramente ao nível das ECMIJ, apenas passando para o nível seguinte (e.g, CPCJ e/ou Tribunais) quando existe incapacidade destas em solucionar a situação. Todavia, o art.º 71.º da LPCJP dispõe que “as comunicações previstas nos artigos anteriores não determinam a cessação da intervenção das entidades e instituições”. Segundo Paulo (2010), para garantir que nenhuma entidade considera que a sua intervenção se esgota com a mera comunicação da situação, estas devem acompanhar o caso a posteriori, recolhendo informações para confirmar ou não a situação de perigo.

A atuação da PSP perante o fenómeno deve acontecer com a maior brevidade possível, pois segundo Fante (2008) a gravidade do bullying está relacionada com a sua continuidade, causando às vítimas sensações de abandono e aos agressores um sentimento de impunidade e poder.

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